Ó sábado, sábado
querido sábado, dia do não à escolinha, dia da liberdade, não da libertinagem,
é bem diferente apesar de soar parecido, dia 22 de Julho; como se de dois
patinhos (22) apaixonados nadassem lado a lado de asa dada, se tratasse - olhem
só para eles tão juntinhos, tão amorosos, que atenção não vem de amora, o que
borrava tudo, mas sim de amor, o que torna tudo maravilhosamente “glicodoce”.
Estou em apuros,
acho que estou meio esquecida, tal não foi a emoção e o rebuliço.
- Paiiiii…,
paiiiiizinhooooo…, vem cá para junto da tua filha querida que tanto está a
precisar de ti.
- Vou já filha.
Com essa vozinha melosa deves ter feito ou estás para fazer alguma patifaria. Bem,
diz-me lá o que se passa.
- Ó paizinho,
preciso da tua ajuda. Não só para escreveres as minhas Crónicas FDS, como
também para me ajudares a recordar de algumas coisas, pormenores, que se me
varreram completamente da memória. Está bem? Pode ser? Pode ser agora?...
- Okey filha “deslembrada”! Vamo-nos a
elas! Olha, posso inventar um bocadinho?...
- Não pai! Nem
pensar! Ia perder todos os meus créditos de narradora fidedigna, bem como, de
estilete incisivo e interventivo no quadro do comentário e do relato. Ora vamos
lá. Levantas um fiapo de véu de memória que eu depois trato de reavivar a
minha. Certo?
- Certíssimo!
Vamo-nos a elas ferinha.
Olha filha! No
sábado de manhã demos um saltinho à praia de Vale do Lobo dos Pobres…
- Espera, espera
já estou a entrar na cena… aquela que ainda não é Vale do Lobo nem deixa de o ser…
que fica situada entre as falésias de saibro de Loulé Velho e as de Vale do
Lobo Velho, aquelas que se estão a derramar pela praia e têm a casa a cair e o
resto… e que é um sarilho infernal para estacionar o carro; foi um milagre papá,
a sorte bafejou-te. Logo aquele senhor aselha foi sair. Estavas mesmo com o
cuzinho virado para a lua, e que depois tem aquela arriba perigosa para descer,
que cheira mal e é perigosa. Sim! Já me estou a recordar de algo mais….
Recordo-me que te
levantaste meio cedo, rabugento, porque te deitaste tarde. Por falar nisso,
onde foste tu para chegar aquelas horas? Às
lupas não? Só pode, não é?...
Não me levem a
mal o palavreado, e perdão pelo juízo de valor, pois eu que sou uma menina
pequenina e não digo palavras feias, socorri-me de certos artifícios
provenientes do latim, a língua mater,
que por ser uma língua à muito considerada morta, não pode, nem deve, ofender ninguém.
Como também achei que seria deselegante, que a uma menina da minha idade usasse
nominativos qualificativos de outra ordem ou qualidade. Enfim pressupostos de
assunção ou presunção, a não ter em conta por falta de prova, inserta a este
processo literário.
Bem como que
conta é o que fica escrito e descrito e que foi uma chegada à praia a uma hora semi-decente,
e que assentámos o “pangaio” todinho e sem restrição de espaço como acontece na
praia “da” Quarteira; como dizem aqueles que vivem acima do das serras do
Caldeirão e do Espinhaço de Cão que, para todos os efeitos, já não são “mouros”
mas sim “bimbos”, onde desagua caçador, cão e lebre. Porém reservo esta
história para um período posterior, vai ficar para depois ou até talvez para as
calendas.
Revoltando ao
passado ou será melhor tornando a voltar, que achais?...
Montado o acampamento
e havendo espaço livre à nossa volta, claro está que não me fiz rogada e uma
loucura momentânea apossou-se de mim. Nem imaginam como é boa a sensação de
espaço livre na praia; a areia, o mar, o ar e um “pequeno riacho” consequência
de uma não menos “pequena laguna” a menos de 100.00 metros de nós
ou, será melhor eu não me sujeitar a eufemismos e dizer o seguinte: A bacia de
retenção dos efluentes da E.T.A.R. (Estação de Tratamento de Águas Residuais) de
Vale do Lobo e o seu lançamento “controlado” por gravidade, quando a água da
bacia de retenção atinge cota suficiente para o efeito, para o mar, essa fonte
altamente depuradora, onde eu estive a tomar banho, a brincar e a engolir de
vez em quando um pirolito e também, talvez, consequência de uma praia livre e
quiçá do odor que detectámos ao descer da arriba ou ainda a razão pela qual não
foi atribuída a bandeira azul à praia de Vale do Lobo. Deixo aqui estes
considerandos que ouvi da boca do meu pai e a nota que: A água tudo lava
excepto a má-língua, e eu não quero passar por alcoviteira nem quadrilheira.
Depois de uma
“banhoca” refrescante – a água estava excelente – encetámos uma passeata pela
beira de água. Primeiro no sentido da praia rica de Vale do Lobo, não entendi
porque rica, será porque tem meia dúzia de semi-cubatas de colmo, e um montão
de pedras a proteger as pessoas da arriba ou por causa dos passadiços de
madeira de acesso à mesma? Esqueçam que eu também não me quero lembrar. Depois
voltámos e seguimos no sentido contrário e, aí, tivemos que ultrapassar o
“pequeno riacho”, ainda pretendi molhar os pés e dar duas de brincadeira; as
margens em barreira de areia convidavam a um “escorreganço”, mas o meu pai,
criterioso, não deixou, ponto parágrafo. Volta na volta e chegámos ao posto de acolhimento
e abastecimento e voltámos a dar mais um banhito e toalha com a cambada, estava
na hora da secagem do bacalhau.
Fazendo preguiça
ao sol, assim meio cá meio lá da consciência ou da inconsciência, e o estúpido
do telefone do meu pai acordou para a vida e sobressaltou o nosso estado de
entorpecimento.
Meio por meio o
meu pai semi-embrutecido buscava de onde vinha tal vilão do “trim-trim” gritava
que queria atenção. Encontrado o meliante, aconchegado ao ouvido após premir a
tecla verde, o meu pai ruge: Sim, quem fala?... silêncio deste lado da linha…
seguido de um: Okey! Vamos lá ter,
acrescentado de um: Onde é que isso fica?... silêncio outra vez… e um: Então
até já, que pôs términos à conversa, bem como à manhã de praia.
- Quem era
perguntou a minha mãe.
- O Tony
respondeu o meu pai. Acrescendo ordem de retirada pois íamos almoçar uma
sardinhada a casa de uns amigos.
- Mas não íamos
almoçar à da tua mãe, retrucou, por sua vez, a mamã.
- Temos que
cancelar o almoço. Fomos convidados para uma sardinhada na casa do Carlos
Mendes e da Sandra. Olha Maria! Liga para a minha mãe a cancelar o almoço e
diz-lhe que vamos jantar.
- Mas a esta
hora? A tua mãe vai ficar contente.
- Paciência!
E, assim,
terminou o diálogo e começou e o “arrumanço” das trapalhadas de praia, bem
como, o inverso do percurso; a volta. Chegados ao carro e trouxa arrumada, a
minha surgiu-lhe mais uma pergunta.
- É tardíssimo.
Ainda temos que ir a casa tomar banho de água doce. A que horas iremos chegar,
nem sabes bem onde fica a casa? E, mais, não sei se têm sopa para a miúda. Achas
uma boa ideia deixar o pessoal pendurado à nossa espera?
- Vamos directos
daqui para lá e paramos algures para comprar uma sopa para a Laura e está
feito.
- Mas estamos
cheios de sal, não me sinto bem assim. Tenho que me passar por água doce. E a
criança?
- O Carlos tem
piscina e deve ter, por princípio, duche para pré-lavagem, passamo-nos lá por
água e roupa seca também tens que mais queres? Tens sempre a opção de tomarmos
um duche na cascata da rotunda à entrada de Vale de Lobo.
Riu-se,
furiosamente, estava bem disposto e acrescentou: Estamos a falar de uma
sardinhada e não de um baile de gala. Vá “bora” nessa.
Assunto resolvido.
Malta embarcada. Cintos apertados. E foi seguir viagem.
Sem muita
confusão decidimos ou decidiram, estou a incluir-me porque estava lá e, acho,
que também devo fazer parte das decisões sejam elas quais forem, mais quando
elas a mim dizem respeito, ir buscar a sopa ao restaurante “ Retiro do
Camponês” em Vale-Judeu, pois ficava de caminho. Apesar do meu pai como se veio
a verificar não saber bem o caminho, mas disso já falaremos. Quero deixar aqui patente
um agradecimento muito sentido em nosso nome, pela simpatia, amabilidade,
carinho com que fomos recebidos e aos esforços envidados no processo de
acondicionamento da sopa, como também pela isenção de cobrança, à Sra. de que
agora não me consigo recordar do nome - a mulher do Sr. João e mãe do João -
bem como ao Sr. João e ao João. O nosso bem hajam e já agora, porque não, a
sopinha de legumes estava excelente. Parabéns!...
E, a saga começa
aqui. Dava um filme: “Os perdidos no Sítio da Pedra de Água” ou mais ou menos
por aí.
Não é que
andássemos longe, porque não! Sabem quando temos algo que procuramos mesmo por
baixo do nariz ou de outra forma se fosse um cão mordia-nos? Pois foi isso
mesmo. Estava sempre a faltar o quase. Vejam bem que até fomos escorraçados por
indecente e má figura da casa de um inglês estúpido, mais estúpido que uma
carroça sem mula, não querendo generalizar mas os ingleses são todos estúpidos
e snobs, digo eu porque nunca conheci
doutros. Sempre pode haver uma excepção ou duas, vou deixar aqui o benefício da
dúvida, pois diz o Zé Pagode que a excepção é que confirma a regra.
Benditos
telemóveis! Não fossem eles ainda agora estávamos procurando a casa. E olhem
que, em salmoura, sem água e com o calor que fazia estávamos feitos em três
bacalhaus, estiraçados no banco do carro, aguardando batatas, grãos,
couve-flor, o ensalsado e os indispensáveis alhos e azeite, porque cozidos e
desidratados já nós estávamos.
Alfim, chegámos!
Os últimos mas… chegámos sãos e salvos, desta aventura no Sítio da Pedra de
Água.
O Carlos já
estava na dolorosa tarefa de assar as sardinhas e os carapaus, também havia
carapaus para os paladares mais requintados e os biquinhos mais esquisitos.
Olhem, quer
queiram quer não foi chegar e aviar. Nem a mãe se lembrou mais de banhos de
água doce ou outras mariquices do género e ainda bem.
A casa do Carlos
e da Sandra e das suas duas filhotas, elas são lindas mas mais velhas do que
eu, é um espectáculo. Fantástica em todos os seus contornos; de bom gosto,
funcional, bem decorada e muito acolhedora. E a piscina?... Uáuuuu,
perdem-se-me as palavras para a descrever, para além de ter umas vistas de
extasiar. Fiquei deveras impressionada mas pela positiva das positivas, ainda
iremos falar disso. Agora reportemo-nos ao almoço.
O almoço… humm…
para além da sopa de legumes ainda comi um carapau e uma sobremesa
absolutamente genial.
Os amigos do meu
pai, esses, comeram sardinhas e carapaus grelhados, acompanhados com uma salada
de tomate e regados em abundância com um vinho branco de excelente aparência e,
pelos vistos, melhor sabor; choviam garrafas logo não poderia ser qualquer
zurrapa. As senhoras, essas, mais delicadas e discretas, fizeram o seu papel
com menos estrídulo, mas não deixaram passar em branco a sua parte ou o seu
bocado, principalmente nas sobremesas, onde as mulheres, nem sei porque falam
sempre das mulheres, cumprem um papel capital, muitas vezes não comem para
capitalizar na sobremesa.
A conversa foi
sempre abundante e acesa e, os temas, dos mais variados: Do isto ao aquilo
passando por aqueloutro, falaram de tudo, fartaram-se de dar à “estramela”, o que tornou assaz interessante o convívio no
entorno da mesa; acho que o branquinho ajudou um pouco a desenferrujar o
“linguete”.
Na maioria das
vezes não entendi patavina, mas eu não passo de um “berganhoto” insolente e
metediço, que quero aprender tudo ao mesmo tempo e meto o nariz onde não devo e
depois quem paga a despesa são as orelhas. A minha curiosidade não tem limites,
raia o infinito dos infinitos mais infinitos, percebem, ou precisa um
desenho?... Bem me parecia que não!…
A seguir ao
almoço andámos e, quando digo andámos, significa que foram todos aqueles que
pertenciam “à malta do meu tempo” ou como dizem os velhos “os moços do meu
tempo” a explorar o espaço, dando-lhe utilizações de que os adultos nunca se
iriam lembrar a dar-lhes, mas que estavam na cara que eram as mais adequadas e que
melhor cumpriam os propósitos da sua criação. Contudo, só crianças evoluídas
como nós se apercebem destes pequenos detalhes, destes pormenores.
O tempo é amigo
das crianças. Passa rápido. E com ele chegou a autorização para a utilização da
piscina. Uáuuuu… (não me poupei, acreditem!...) mas que piscina maravilhosa e que
maravilhosas e simpáticas que são as filhas do Carlos e da Sandra, umas meninas
mais que baris: supimpas! Simplesmente, adorei-as!...
Vou aqui
preservar o nome delas, as meninas, pois tenho que respeitar o estatuído pela
Comissão Nacional de Protecção de Dados, para evitar entrar pelos mesmos
atropelos à liberdade e à privacidade de cada um, como certas instituições o fazem
em prol, dizem eles, do bem comum. Erguendo a falsa bandeira da “segurança e da
protecção de cidadãos e bens em locais públicos e privados” alegando, e jogando
mão aos artifícios, da instabilidade e da criminalidade crescente que alastra, alegadamente,
pelo nosso país e que, tal como a crise, entrou em espiral só que desta vez não
é descendente ou recessiva mas sim ascendente ou progressiva.
O Carlos tem uma
espécie de aprisco, redil ou talvez uma capoeira ao ar livre onde tem galinhas,
galinhas de Angola ou fracas. Eu e bicharada somos unha e carne. Ah! E, também,
tem um cão chamado Boris como o cão do meu pai… ai, ai que o raio do português
é traiçoeiro que se farta, temos que ter um cuidado redobrado, queria eu dizer
que o meu pai também tem um cão chamado Boris. Atenção! Não façam confusão, okey?...
Registada que
está a imprecisão de semântica passo, passe a expressão, a relatar a minha
visita à cave onde o papá mais os amigos “machos” estavam a jogar um jogo que
eu ouvi chamar de snooker; jogo muito
estranho e grande. Constituído por uma mesa com vários buracos, coberta com uma
toalha vermelha, com várias bolas de variegadas cores vestidas – umas em traje
de gala e outras de pijama e uma apenas e uma só, trajando um smoking branco e que parecia o mestre de
cerimónias – e paus com a cabecinha pintada de azul, que de quando em vez os
jogadores esfregavam, docemente, num cubinho revestido de papel, com motivos
policromáticos, em todos os lados excepto num, aquele onde eles esfregavam, onde
existia um buraquinho em forma de concha e de um azul sulfato de cobre, antes
de arremeterem contra o mestre de cerimónias que, seguramente, irritado embatia,
umas vezes bruto outras mais meigamente, nos seus súbdito coloridos que por sua
vez se guerreavam entre si e, de vez em quando, um deles, “acagufado” por certo,
escondia-se no buraquinho da mesa, e ao mesmo tempo iam refrescando as
gargantas, cansadas de tanto martelarem no verbo que deu a inspiração a Camões,
em néctares para mim desconhecidos, todavia com um dourado aliciante. Para
dizer a verdade não achei grande piada àquele do snooker, até porque não fui autorizada a experimentar, nem o jogo,
nem as bebidas. Pafeeeee…
Subi as escadas e
fui ter com os meus amigos que conviviam alegremente no amplo salão. Juntei-me
a eles na devassa geral do espaço e na arrumação do mesmo à nossa maneira e não
“à minha maneira” como aquela música marada dos Xutos&Pontapés, só pode com um símbolo destes, não é?...
As mamãs, estavam
menos vigilantes do que é normal e mais descontraídas, aparentemente. Menos
exaltadas do que eles os “machos”. Falavam, comentavam e diziam de sua justiça,
de uma forma meiga e terna, como só elas, as “fêmeas”, têm de dizer e fazer; a
água lava tudo excepto a má-língua, tenho por aí ouvido dizer… apesar de não
compreender bem o alcance da menção.
Calmamente a
tarde foi-se deitando ou tentando deitar em cima da noite, insinuante, porém o crepúsculo,
impondo-se, vigorosamente, disse que a corte a ele lhe pertencia, pelo que
melhor seria a noite aguardar pela sua vez…
Face a esta
tomada de posição do crepúsculo e, tomando consciência do avançado da hora, os
comparsas, acharam que o que é demais não presta e tudo tem uma conta, aquela
conta. Assim, e sem mais delongas entraram em debandada geral, tal e qual como
um bando de estorninhos, assim que o primeiro levanta voo os outros seguem-lhe
o exemplo.
Despedida em despedida. Aperto
de mão em aperto de mão. Beijinho em beijinho. Partida
em partida. Restaram,
alfim, apenas restaram os anfitriões.
Nós, como é bom
de ver, rumámos a Vale da Rosa e o jantar na casa da avó Aurita, ficou adiado
para o almoço do dia que se segue o domingo.
No domingo de
manhã, apesar de não nos termos levantado muito cedo, demos um saltinho até à
praia mais próxima; Quarteira, mais precisamente à denominada Praia dos Pescadores,
localizada na zona poente do molhe de bombordo – vermelho e branco - do Porto
de Pescas, a praia de todos os labregos, assim lhe chamam os empertigados de
Vilamoura: Esqueçam-nos!... Depois de estacionarmos, não literalmente, o guarda-sol
na praia e despejarmos, não como se despeja lixo ou outros produtos
indesejáveis ou até mesmos desejáveis, todos os instrumentos auxiliares à
manobra de ir e estar na praia, o que é uma canseira e exige uma mão-de-obra
especializada e demorada, mas que acabou por ficar “comme il faut”, dirigimo-nos os três, tal e qual um trio, estão a
ver? Para a beira-mar, onde se encontrava escavada uma piscina em termos latos
e/ou uma poça em termos estritos, cheia de água, diz a boa vontade mas não a
razão, escavada por alguém, todavia abandonada, a qual resolvi tomar de assalto
e à má fila e, onde logo encetei um sem número de acrobacias aquáticas, sem tão
pouco pensar que o anterior dono ou mesmo o escavador de serviço possa ter lá
aliviado, abundantemente a bexiga antes de compulsivamente ou por nojo ter
levantado ferro e zarpado por a maré lhe ser favorável a ele ou a outro quem, o
que depende das conveniências de outrem e que, aqui e agora, não estou em
posição nem em condição de avalizar, por falta de prova do móbil do crime, isto
se o houve, é bem certo.
Da piscina/poça
ao mar os caminhos, todos eles mais ou menos inclinados ou oblíquos, eram rectos
e a distância curta, um ai meio suspirado. Obstáculos nem vê-los, para quê se
era gente que tinham olhos para ver e pernas para se desviarem… e, de turbo
ligado, zum lá fui eu zunindo. Ó mar, ó mar como eu gosto de ti quer manso,
quer agitado, quer ainda bravo pouco importa com o meu pai por perto, muito
perto, e as minhas braçadeiras cor-de-rosa, ele é meu, todo meu, muito meu.
A água, do mar
claro, estava quentinha – está quase sempre, para mim – todavia um tudo ou nada
agitada e muito suja ou melhor tinha algas a dar por um sarilho. O que para mim
não passa de adereço o importante afinal está lá: O mar!...
E, como o mar
estava agitado, como já tive a oportunidade de vos informar, eu e o meu pai
resolvemos ensaiar uma nova dança aquática que denominamos de: salto de doble,
que consta de saltar quando vêm as ondas e rodopiar no intervalo entre elas.
Adorei e diverti-me montes só em risota eu gastei uma “descomunabilidade” de
decibéis.
E, o que é bom
dura bem pouco, e como o pouco é relativo no conceito, neste caso entre o meu e
o dos meus pais, tive que sujeitar-me à lei do mais forte e arrumar a trouxa.
Era hora de almoço. Era hora de rumar a Loulé a casa da avó Aurita. E, era hora
de ir comer o almoço que já tinha sido almoço, que passou a ser jantar e que
final mente ia ser almoço novamente e efectivamente, por fim ou finalmente;
Salsichas embrulhadas em couve lombarda feitas no forno, não vou ensinar a
receita.
O almoço é uma
refeição. Serve para reparar e retemperar forças e conviver. Pode ser
requintado ou a trouxe-mouxe, pode ainda ser pesado ou leve. Só, em família,
com amigos ou em grupo diferenciado ou indiferenciado. Pode ser uma caterva de
coisas mas a essência é sempre a mesma: comer e beber.
E, assim, sem
requintes se comeu e bebeu em família na casa da avó Aurita.
Terminado o
repasto houve que tratar da logística pós repasto que coube essencialmente à mãe,
à avó e qualquer coisita sobrou para o pai, sobra sempre. Eu excluo-me por não
ter tido grande préstimo e por me ter dedicado em exclusive à tarefa árdua,
pois a televisão da avó é bem mais pequena que a nossa, de ver os bonecos.
Tarefa que durou a tarde quase toda, pois a minha mãe foi às compras ao minipreço,
o meu pai enrolou-se com o sofá ou no sofá, não se percebia bem quem era o quê,
a descansar os olhos, enquanto a avó andou às voltas com os tarecos, até que
acabou, derreada e desancada, a fazer-me companhia no sofá, a ver os bonecos,
claro!...
O regresso a
nossa casa era e foi coisa inevitável, aí não houve margem para dúvidas ou
enganos. As tarefas de obrigação também foram inextrincavelmente cumpridas.
Novidade,
novidade traduziu-se na ajuda, de má vontade, óbvio, que o pai deu à mãe na
confecção de um bolo na Bimbi, duas
coisas de que o pai não é amante, nem pouco mais ou menos. Ora digam lá que
isto não é novidade e digno de registo?...
Redundâncias
atrás de redundâncias seriam as notações daqui em diante, assim guardo-os ou
poupo-vos a essa maçadoria.
Ah! Acho que esta
vai ser a minha última crónica. Afinal para o ano já vou para a escola dos
grandes, pois também já o sou; Grande! Daí vou deixar esta escolinha dos
pequeninos, como muitos de vocês também o farão. Espero que não nos perca-mos
por este mundo “imérrimo” que é Loulé, a vila que quis ser cidade e que até o
conseguiu, porém nunca perdendo o espírito tacanho e mesquinho de um aglomerado
fechado em torno da sua eterna vaidade, presunção e de avareza até de vistas,
míope e enviusada. Torpe no trato dos seus filhos e generosa para com os seus
“enteados” ou como por cá se conta: Loulé
é má mãe mas boa madrasta, e se o povo o diz é porque é verdade; povo que é
povo não mente! Não tem necessidade disso…
Vou dormir que já
chega de má-língua.
Beijinhos e, até
mais escrever ou ver.
A terrível de
língua.
Laura Solange.
tÓ mAnÉ
(in Laura Solange dixit) -
2012.07.(22,23)