segunda-feira, 24 de março de 2014

Crónicas FDS da Laura - Registo XXII

As evidências são como o algodão, não mentem! Apenas aparentam ou distorcem as realidades à medida de cada um e para própria conveniência. Dito isto, e como em princípio este vai ser o último registo, redigido pelo meu pai, das minhas crónicas de FDS, encontro-me em posse plena da pena que irá desenhar e riscar as palavras deste FDS, tal como sucedeu em todos os outros. Deixo ainda um obrigado ao meu papá pelo tudo a que teve que resistir e de alguma forma aturar, nestas minhas “ditaduras”; de ditar, claro está, ao longo destes dois longos anos de loucas aventuras. Ora bem, pronto papá?... Okey! Vamo-nos ao que conta e o que conta é o que eu conto e eu conto que este FDS começou mais cedo. A aventura de FDS começou, gosto de assim pensar, na noite de sexta-feira. E, como é do vosso conhecimento, só retrocedo no tempo quando algo de relevante o justifica, o que de facto foi o caso. Senão vejamos: Para além da Noite Mágica, organizada pela escolinha e, cujo palco, foi a escolinha, e na qual, por muito pesar meu não me foi possível estar presente, o que a seu tempo, e aqui, levantarei o véu ao mistério e revelarei os porquês da minha ausência, outro evento, não de somenos importância, ocorreu em paralelo no espaço mas dessincronizado no tempo, estou a referir-me à Feira Popular de Loulé, onde marquei presença efectiva, a todo o gás e empenhando toda a minha alma luzente. Bem, sem mais delongas e deixando-me de palhas e maravalhas, passo ao efectivo dos porquês da minha forçada ausência na Noite Mágica e esses foram, em primeira instância, o meu pai, e em segunda, o seu trabalho. Passo a explicar: O meu pai é engenheiro civil e trabalha na Câmara Municipal da Santa Parvónia que é a cidade, por imposição regulamentar, senão nunca o era, de Loulé, na Reabilitação Urbana; acho que já vos tinha contado?!... Bem, senão, também não é relevante! Relevante foi, pelos incómodos que causou nos meus planos e no que goro das minhas expectativas, a ida – logo neste dia, bem que poderia ter sido noutro – ao Seminário ReabilitAlgarve, na UAlg – Campus da Penha, em Faro, que todavia deve ter sido muito importante para as coisas lá do trabalho – é do trabalho do papá e da mamã que vem o dinheirinho para as coisas importantes lá de casa; inclusive os meus brinquedos – apesar de não entender nada do assunto mas, só pelo título pomposo, dá para perceber, entender e atestar da importância da bendita coisa e porque demorou tanto assim maior deve ter sido a relevância do evento. Doutra maneira: O meu pai chegou mais que tardíssimo! Daí, toda a logística da casa se ter atrasado, tornando num impossível a minha presença na Noite Mágica, facto que mereceu todo o meu pesar pois tenho cá para mim que iria simplesmente adorar. Assim, e penso, que para me compensarem da fífia, levaram-me à Feira Popular que, como atrás referi e face à dessincronia temporal, foi possível visitar e usufruir. Cabe-me aqui referir que de popular a feira tudo tem, inclusive concerto do tipo “Pimba”, haviam de ter visto? Sim porque só mesmo visto… Para além do concerto do tipo “Pimba”, abrilhantado por um brasileiro “Pimba”, das baiucas dos comes e bebes, ainda haviam uma pletora de barracas e barraquinhas apetrechadas com os mais diversos produtos e artefactos. Um mundo sem par inundado de todas as mundialidades. No meio deste mundo emergente de outro mundo qualquer, a gulosa da minha mãe logrou vislumbrar um tugúrio onde alardeavam: Folhados de Loulé, e logo demonstrou, à pessoa do meu pai, a sua delicada e requintada vontade de se abotoar com um. O folhado de Loulé não passa de uma massa folhada, que se vende morna, gordurenta e recheada com um creme amarelado e pastoso. Enfim, o que seria do amarelo se toda a gente o odiasse?... Nestas festas populares ocorrem sempre coisas engraçadas por incoerentes ou por as pensarmos desadequadas ao painel de fundo e, até no capítulo humano, essas alegadas incoerências, se materializam enquanto coerências afirmadas de incontornabilidade. Neste contexto surgem pessoas que quer pelo seu perfil, quer pelo seu modus vivendi se poderia à partida julgar como indiferentes ao conceito e ao modus operandi arreigado à típica menção. Insere-se nesta elite, enquanto modus tollens, a Cláudia. A Cláudia é uma colega que partilha a sala de trabalho e uma amizade com a mamã e que, para além disso, tem dois pimpolhos, a Sofia e o Afonso, de quem eu gosto muito, principalmente do Afonso. Ora bem, andando nós rolando-nos aqui e roçando-nos ali pela vasta mole humana, sem direcção ou orientação específica, vai de lá senão quando, mesmo junto ao carrinho do vendedor de algodão doce, deu-se o arroste. Entre olás, beijinhos e os estúpidos “estás por aqui? ou o que fazes aqui?” e os curiosos e medicinais “estão bons? ou está tudo bem?”, a Cláudia, que é sempre uma querida, obsequiou-me com um fenomenal pauzinho repleto de algodão doce cor-de-rosa, o que para mim era um experiência novinha em folha, nem sabia como trincá-lo. Valeu, nesta parte, o conhecimento sobejo da minha mãe e do meu primo André. Conhecimento adquirido e boca e mãos à tarefa. Entre dentadas cirúrgicas e assaltos manuais precisos que de imediato colocava na boca – o algodão doce é daquela classe de doces e coisas que se come sem que na realidade se coma, simplesmente liquefaz-se antes que tenhamos o ensejo de o trincar – lá fui, como podia, “comendo” qualquer coisinha, se assim o posso afirmar. Porém, depressa fiquei enjoada, mesmo antes de alcançar meio do rolinho hiper doce e cor-de-rosa, pelo que passei o testemunho ao primo e assunto resolvido. Antes de terminar e, não poderia terminar sem… sem que tentasse explicar o modo como se fabrica o algodão doce que é giríssimo: O vendedor, que é sempre ambulante, coloca o açúcar colorido e aromatizado dentro de um buraquinho que está no meio de uma malga muito maior. O buraquinho anda à roda que é um verdadeiro sarilho, nem vos passa… e espraia para dentro da malga grande fiapos de açúcar que o vendedor recolhe com um pauzinho de madeira que detém na sua mão, que por sua vez, ele faz girar em torno da malga e de si próprio; é mais ou menos como a Terra em consonância consigo própria e com o Sistema Solar, processo que termina quando o vendedor acha que chegou ao tamanho por ele definido como razoável ao lucro devido e procede à sua entrega ao guloso do cliente. Encontro terminado. Reiniciámos o ande e desande pelo perímetro da feira com o escopo de efectuar um reconhecimento mais apurado e detalhado do evento nas vertentes da diversão e do populacho. Volta aqui, volta ali, palavra aqui, conversa ali e assim fomos cumprindo e reconhecendo o recinto na sua totalidade. Na verdade o que mais me interessou foi aquilo que aos meus pais menos agradou, convenhamos. O carrossel e o insuflável prenderam de imediato a minha atenção e não só, também a minha vontade de experimentar as reais capacidades dos equipamentos, ao que, condescendentemente e dentro das normas do razoável, os meus paizinhos acederam. Já no que concerniu a um apetrecho, muito peculiar e giro, também, que vos passo a descrever: A geringonça era constituída por três esferas insufláveis, enormes e ocas, com um orifício considerável no meio, onde se instalava o condutor do veículo que caminhava lá dentro tal qual um rato hamster na roda da sua gaiola, só que aqui o ambiente de locomoção não era o ar mas sim a água, um tanque de água gigante, também insuflável; este mundo começa a estar insuflado a todos os níveis, apre!... onde os ocupantes das esferas arremetiam uns contra os outros num jogo de guerra ficcional, qualquer coisa como os carrinhos de choque, todavia muito mais silencioso, os meus país cortaram-me logo as asas dizendo: Esquece lá isso que é só para meninos grandes, e a negociação nem sequer chegou à mesa de negociações, nem tão pouco ao patamar dos refilanços. E, para me calarem, por certo, abriram a abébia a mais uma incursão ao insuflável, onde dei azo à minha fértil imaginação e, ela foi tanta, que depois de tanto saltar, rebolar e cabriolar algo haveria de correr mal e, de facto, correu. Quando a paciência do meu pai alcançou ao nível zero, chegou a hora do bate asas e o destino foi casa, qual mais poderia ser?... E, foi em casa que o caldo entornou. Aí o cocktail explosivo detonou: Um jantar abusado, o pastel de Loulé, o algodão doce e, cereja no topo do bolo, o retouçar no insuflável, e o copo virou. Vomitei pouco depois de me deitar (acordei tão mal disposta), é a vida! Temos que vivê-la para aprendê-la e contá-la. Vomitada que estava. Passada a agonia, o mal-estar e a aflição: foi dormir à barba longa ou à tripa-forra, qual anjinho… Crime e Castigo, foi o título de Fiódor Dostoievski, que a minha mãe escolheu para iniciar a manhã de sábado e me compensar das leviandades da véspera: Quien todo lo quiere todo lo perde! Sábado. No sábado estava planeada uma deslocação à praia. Pois é sábado, apesar da injustiça, nada pudemos fazer querido sábado. Praia já era ou já se foi. A mãe estava inflexível e irredutível, apesar do meu pai estar pelos ajustes. E, ao simples, como é hoje, lançado ao ar pelo pai, a mãe demolidora retrucou: A miúda ontem esteve mal disposta e até vomitou e tu agora queres ir para a praia, achas? Era o que mais faltava. Perante o cenário quase apocalíptico e as palavras ferinas proferidas pela progenitora “galinha”, recolhemos as unhas e o resto botámos ao cesto. A mãe quando fica brava é brava mesmo, uma verdadeira gata assanhada! E quando quer criar enguiço “sai de ao pé José”… Fujamos que aí vem vendaval total. Moral da história de sábado ou parte dela: Fiquei encarcerada em casa com a mãe, afinal acabou por sobrar para ela também, pois o pai está-se marimbando para castigos e o primo segue-lhe o exemplo. Pegaram no material da pesca e vamos que se faz tarde; Ilha de Tavira com eles, na boa, à pesca. À pesca?... Isso é obra para o meu pai, pois para o primo não passa de uma forma simpática de dizer: Rebolar-se na areia, banhar-se no mar, dormir uma folga sob o chapéu-de-sol e deitar um rabo de olho às bonitonas, areadas e boiadoras. Tudo uma questão de retórica e semântica ou as duas faces da moeda, como queiram!... E para rematar este assunto, no fundo, no fundo, por culpa da mãe, ficámos sitiadas em casa, e essa é que é essa, a feia e atroz realidade atrás da verdade. A mãe às voltas com as tranquibérnias da casa, as elementares e as objecto das suas fúrias de sabor momentâneo. Vejam bem que até arranjou ou melhor inventou, suponho eu, “pechavelhices” para fazer. Enquanto este regabofe geracional de actividade e desgaste de humores decorria, eu, deitada, beberricava pequenos goles de chá de hortelã-pimenta, via os bonecos e, sempre que me comprazia, infernizava-lhe a existência com as minhas insatisfações fugazes e os meus problemas de índole existencial: Que vida boa era a de Lisboa! Não contente com tudo o que aprontei durante a manhã, ainda à tarde, à laia de vendetta, arranquei a mim mesma uma valente sorna. Fiz uma folga e peras. Faço fé de que a mãe deve ter tido um excelente e prolongado momento de paz e sossego, pois não tinha a quem manifestar o seu descontentamento e a sua já mais que domada fúria. Quando o pai e o primo chegaram da pesca já estava mais que acordada, apesar da folga ter sido ultra longa, pudera chegaram quase às nove da noite, que nesta altura do ano ainda é bem de dia, e até já tinha jantado, a fome apertou. Há coisas de que não abdico, uma delas é ver os peixinhos que o pai traz da pesca, não há volta a dar-lhe, quero ver o que vem no balde. E, no balde, vinha uma bela de uma pescaria: Três douradas grandes e outra mais maneirinha e dois peixes-aranha; atenção que o peixe-aranha é muito perigoso, afinfa cada picada que até temos que ir para o hospital, se não houver tratamento por perto. Cuidado com os peixes-aranha pessoal!... Depois da inspecção ao balde da pescaria e da lavagem do material da pesca, o pai lava sempre com água doce as coisas da pesca – as canas, os carretos, o xalavar, o pano e o balde - mandei a canalha toda para o banho, pois cheiravam que tresandavam, a peixe, claro está! O peixe já vem arranjado. O pai tem o cuidado de tratar dessa tarefa no local do crime, ou seja, no mar junto ao sítio onde esteve a pescar, evitando deste modo toda a porcaria inerente ao amanho, as moscas e as vespas e o trabalho inseparável da limpeza do cenário. Ele ainda afirma que as mãos não ficam a cheirar a peixe quando este é lavado na água do mar. Talvez… Após a barrela, veio a hora do jantar que mais hora de ceia se tratava face ao adiantado da mesma. Ainda assim, não prescindiram de coisa fina: Dourada e peixe-aranha, acabadinhos de pescar, grelhados na brasa. Não prestam. Estão estragados. Dá ao gato… miáuuuuu… assim usa dizer o meu pai, numa forma de gozo irónico. No acompanhamento não faltaram as batatinhas cozidas com pele e salada de tomate cor-de-rosa e, para molharem o bico, o pai fez estalar uma Bairrada (Método Clássico) Brut. Ena bem, olha os finórios!... Depois do jantar, e como tinha folgado bem, ainda me atrevi a fazer umas bilharetas conjuntamente com o paizinho que estava já de olho pisco, mas ainda arranjou coragem para me aturar. Todavia, entre duas de brincadeira e uma de bonecos foram-se-me acabando as pilhas e zarpámos todos para a cama, pois o pai amanhã quer levantar-se cedo para preparar as artes para mais um dia de pesca. O domingo começou mentindo para todos nós. Isto porque a ideia do pai se levantar cedo deu em ideia apenas, pois quando nos levantámos para o mundo já o sol ia alto. E, tal como ontem, a pesca foi relegada para a vazante, o meu pai costuma dizer que pescar deve ser de estofo a estofo da maré, ou seja, para os menos entendidos na matéria como eu, do topo (estofo) da maré alta ou preia-mar até ao pé (estofo) da maré baixa ou baixa-mar. Resumindo e baralhando o estofo da maré não é nem mais nem ontem que o ponto em que a maré pára; ou deixa de encher ou deixa de vazar. Hoje, e recorrendo à redundância, tal como ontem, foi o pai que preparou o pequeno-almoço, à excepção do sumo natural que foi obra da mãe e da Bimby. Três ovos mexidos com salsichas às rodelas, muito importante que sejam às rodelas, pão torrado com manteiga da vaquinha açoriana ou azoriana, não uma mixórdia qualquer de margarina vegetal, e sumo natural de laranja e maçã. Eis a constituição do pequeno-almoço. Que para mim ainda teve o reforço da já celebérrima, incontornável e inseparável sopa de legumes. Tudo em seu lugar, verificação da check list, tudo okey e hora do bute, do vamos embora e agora: Here we go Tavira Island. Adoro a viagem para a Ilha. Música alta e todos na chinfrineira dentro do carro, uma algazarra sem par, ninguém se entende nem dá mão a ninguém. É o máximo! À chegada fomos bafejados pela sorte, o Deus Menino estava sentado no banco da frente e providenciou um lugar, fácil, de estacionamento e à sombra. Àquela hora (treze e trinta e picos), só mesmo Ele. E, a isto, se chama de milagre e milagres são a Sua especialidade. E, para ser franca os milagres não acabaram aqui, pois embarcámos logo no primeiro barco que atracou, o que é um verdadeiro milagre (estamos em Julho, não é?... Daaaaa…), o que quer dizer que Ele deveria estar à proa a bronzear-se. Como podem ver mais um milagre ou por contraponto um golpe de sorte e, assim, lá fomos todos contentinhos da vida. Já na ilha seguimos caminhos divergentes. Eu, a mãe e o primo fomos para o parque infantil, pois por um lado estava muito calor mas por um outro para dar tempo a “desmoer” o almoço. Só depois rumámos à praia da ria junto ao cais. A água estava óptima e fiz bem proveito dela. Aliás, com dois cães de guarda, não poderia ter sido melhor. O meu pai rumou direitinho à cabeça do molhe, já nem vos digo qual por tanto redundante. Rumou para o seu lugar predilecto de pesca. Ia a tarde caminhando mais para o seu, delicado, cair que para o seu, aconchegante, meio, quando resolvemos levantar o acampamento - falando assim até parece que éramos uma trupe de ciganos, mas não! Talvez mais um bando de saltimbancos controlados - e ir ter com o meu pai à sua inseparável e adorada pesca. Na bolsa para além do dever moral de alimentar o pobre ainda acrescentámos uma piedosa cervejinha bem fresquinha, a estalar. Justo já não era o tempo e o pobre deveria estar desfalecido pela míngua a que foi votado e relegado. Atenção que não foi por esquecimento, foi por mera falta de lembrança. E não é que eu estava gafa de razão! Não é que o pobre estava mesmo para o desfalecido e pior que desfalecido, desiludido com a pescaria rasca que tinha feito até ao momento, ou seja, não estava a correr mal, estava a correr péssima a pescaria, assim o vim a constatar mais tarde. Todavia, naquele altura, e assim que o vi, em pé, imperial, olhando para as canas e o mar, senti um ímpeto de felicidade a crescer no coração que almejava vivamente por liberdade, liberdade para desatar a correr em direcção ao meu pai e abraçá-lo. Era o meu “eu” que já não cabia nele próprio de tão contente que estava, mais contente que uma pega sem rabo diz o povo – eu é que não vejo motivo para que a pega sem rabo esteja contente, mas isso sou eu e, o povo é que na sua quase eterna sabedoria, sabe-lo bem! - porém refém da mão da minha mãe que agrilhoava a minha. Logo que me libertei do jugo, corri para o meu pai e abracei-o, beijei-o e disse-lhe que o adorava. Como tinha saudades dele e como orgulhosa fiquei ao contemplá-lo. Enchi-o de perguntas, mais do que as necessárias, às quais, pacientemente, me respondeu, também mais do que as vezes necessárias. Cirandei à sua volta, numa gritaria surda por atenção. Atenção que obtive, entre um rabo de olho ao mar que estava batido e, como é bom de ver, perigoso e uns miminhos e umas explicações de ocasião sobre iscos, pesca e material de pesca. Não há mal que sempre dure nem bem que não acabe! Quero eu dizer que fui expulsa por excessos de atrevimento e desobediência, ou melhor por indecente e má figura. Como tal fui recambiada para junto da mãe e do primo que estavam na praia do mar, mesmo ali ao lado, para que para e próxima pudesse cavar ilações e aprender a ser “mais bem” comportada em zonas de risco. Ao fim da tarde e com o voltar da maré um vento desagradável de oeste começou a soprar, aliado a uma densa maresia e a um frio fininho e cortante que antevendo o pôr-do-sol e a consequente perda do seu vigor, se instalaram. Este cenário que aos poucos se foi incrustando em nós, não demorou muito tempo para que explodisse na boca da minha mamã, em forma de ordem de regresso, e por esta ordem, um: Já está frio; Faz-se tarde; Vamo-nos embora. Depois do adeus o meu pai ficou sozinho com as suas pescarias e, este sozinho é literal pois não estava lá mais uma só alma que fosse. Até senti o coração pequenino, quando, ao longe, voltei a cabeça e o vi tão sozinho contemplando absorto o mar; o meu pai nunca desiste, pensei ufana por ele, e de mim por o ter como o meu paizinho querido. Regressámos às Quatro Águas pelo caminho da praia, mais longo todavia mais acolhedor e seguro; panlatim sed firmiter (devagar, mas com segurança), pois a alternativa, o caminho do molhe ou das rochas, apesar de mais curto, é mais conturbado e perigoso, pois é “bajolo” atrás de “bajolo”, desencontrados e desalinhados em mais de metade do percurso. Neste vai e vem de cumprir o longo, e cheio de atractivos, trajecto entre a praia do mar e o cais, a espera pela vez do embarque, o desembarque, o vai e não vai buscar o carro ao estacionamento, o cumprir do lapso de espaço do estacionamento à rotunda fictícia de paralelepípedos de calcário e o carrega a tralha e eis que aparece o meu pai carregado com os múltiplos artefactos da pesca e sobretudo sobrecarregado com a medíocre pescaria do dia, um robalete miserável e três peixes-aranha, vinha desolado da vida, era demasiada carga para tamanha desilusão. Alfim, após cumpridos os requisitos de carregamento do carro e pai carregado, só restava mesmo o regresso, inglório a casa e sem jantar, pois peixe é no mar e há que pescá-lo, o que não foi o caso. No retorno ao sacro santo lar e para que a fome que já abunda não fique por mitigar, pois em casa restam apenas algumas vitualhas, encomendámos uma pizza familiar Quattro Estaciones na pizzaria Olé Pizza. Ou caminho foi curto, o que não é de todo fiável, ou a perspectiva da pizza grande ou ainda a brincadeira com a mãe apetitosa. Qual delas não sei, o que sei certamente é que o celebérrimo “apagão” de viajem não teve lugar. Na pizzaria foi chegar e embarcar e aproveitando o mesmo barco zarpámos para casa. Já em casa a rotina costumeira, e de vós mais que conhecida pelo que vos poupo a detalhes. O jantar, um leve deambular pelas brincadeiras do costume e xelindró pois o dia apesar de não tão longo quanto isso não foi curto no cansaço. Beijinhos da terrível da caneta. Pax vobiscum! O mesmo é dizer: A paz esteja convosco! tÓ mAnÉ (in Laura Solange dixit) - 2013.07.(19,20,21)

O relevante do irrelevante

Esforço-me arduamente para compreender a atitude humana e a importância que encerra arreigadamente na posse de toda a espécie de canecos e trabecos, em suma na detenção de irrelevâncias supérfluas, todas elas fruto da ganância e da vaidade que a assoberba. Se por acaso eu achasse uma lâmpada de Aladino ou outro génio qualquer e a esfregasse, exaustivamente, no ar defronte a mim, até que lograsse obter a libertação do génio que, magnanimamente, me concederia três desejos eu não quereria nada de material e tangível, queria: Saúde, amor e respeito. Nunca o infame e nefasto poder. Nunca a riqueza avara e egocentrista. Nunca a guerra cruel e sangrenta. Apesar da vereda ser estreita eu gosto de caminhar o bem. tÓ mAnÉ Editions

Pinceladas de vida

Escrever é uma forma de desenhar a vida de outra cor, de fazer dela objecto de um trato, de um cunho muito próprio: O enfeitar da albarda que o burro carrega, o fardo aliviado pela imaginação. Primeiro inicia-se um esboço rudimentar, desgarrado, da tela final que, pincelada a pincelada, cobrimos com palavras de sonhos, ilusões e actos mímicos, por fim e, completamente esborratados, olhamos de longe para o resultado de tanta arranhadela cromática; as palavras e as frases enchem a vida que não temos de cores, umas vivas, outras mortas e outras ainda esbatidas, damos por concluída a obra sem arte e imperfeita por génesis inerente ao género e condição humana; o cair das cortinas, o apagar das velas ou das luzes – the last final scene - a entrega, a rendição ao palco maior: A própria morte – essa que não cabe nas palavras e não se lavra nas frases, apenas está lá, inexoravelmente lá, no fundo negro da tela descrita sob um acto único e irrevogável. Será?... tÓ mAnÉ Editions

Crónicas FDS da Laura - Registo XXI

A minha manhã de sábado não diferiu grandemente da do sábado anterior, nem sempre é fácil fazer diferente daquilo que é quase igual, quase mecânico e puramente funcional – uma rotina quase obrigatória; no coments. Apenas apareceu por aqui o primo André, que anda cada vez mais monco ou macambúzio, preparado para asilar por cá durante o fim-de-semana. Topa-se à légua, acho que até cheira, mas isso é o que eu acho. No período da tarde, enquanto o meu papá lindo, ficou a dormir furiosamente ou a fazer de que. Eu e a mamã fomos ajudar a avó Ilda a fazer a limpeza anual da casa, que ocorre sempre nos finais do mês corrente; já cheira a tia Aida, ao tio Fausto e cambada a fim. Depois das limpezas, e a sugestão do meu pai, a mãe encheu a piscina insuflável de água quente, aproveitando a água que se encontra ao sol no interior das longas mangueiras que se destinam à rega de uns escassos metros quadrados de um semi-jardim e a uma mão cheia de árvores. O que foi o máximo como devem calcular. Na noite fomos jantar a Salir a casa da tia Rosário. Claro está, que levámos a avó Aurita, nem poderia deixar de ser! E o emplastro e ou pendura do primo André. Depois do jantar eles foram ao Restaurante Churrasqueira o Papagaio Dourado beber café, descafeinado, etc… e eu que fui a reboque, aproveitei a onda e bebi uma aguinha fresquinha. Seguidamente; estava a decorrer uma festa em Salir – Salir do Tempo 2013 – Festival de Artes Medievais - razão pela qual a tia nos convidou para jantar, é uma forreta de jantares e almoços, fomos comprar os bilhetes para entrar na festa, coisa que achei assim meio parva senão parva de um todo mesmo. Homessa ter que pagar para ir a umas lojas que nem lojas eram e onde se tinha que comprar tudo a peso de ouro, acham que isto faz sentido? Pois eu não achei nada bem! Para provar o crime fiquei com o bilhete do meu pai, pois eu ainda não pago, menos-mal! E que rezava mais ou menos assim: Salir do Tempo 2013 – Festival de Artes Medievais; 14 de Junho; 3 euros; n.º 0250.
Já na festa; para festa aquilo era tudo muito tosco, mas eu achei o máximo. O pai comprou-me uma flauta de madeira, genuína, colorida e que até permite afinação, coisa que não sei o que é mas por certo irei aprender, tal como aprenderei a tocar o instrumento. A flauta veio a revelar-se uma compra fantástica, uma vez que serviu de elemento aglutinador da família, pois eu não parava de tirar notas estridentes, fífias, do já mais que cansado instrumento, não só ele, o instrumento, como todas as outras pessoas que me rodeavam e também das cercanias. Acontece que sou persistente e não queria que ninguém se perdesse. Ficar sozinha naquele mar de gente era das últimas coisas que eu desejaria. Para além da flauta o pai comprou umas gomas caseiras de tamanho XXL, tal como o vendedor, e dos mais variegados sabores. Eram sublimes ou até mais que isso: Idílicas. Rua a rua, tendinha em tendinha; agora já sei que se chamavam tendinhas às benditas das lojas que nem lojas eram, olho nisto e naquilo e entre abundantes sopradelas na flauta, acabámos por desembocar num terreiro onde eu descobri, sabem o quê?... Sim, eu sou boazinha e conto-vos: Primeiramente uns burricos de ar triste, e por certo fartos de ali estarem presos e sem privacidade alguma, que, e não era eu se assim não fosse, quis alimentar com umas folhas de amendoeira que, compulsivamente, obriguei o meu pai a apanhar ali próximo. Depois e farta de burros; quer duns quer doutros, fui ver os cavalos, bem mais inteligentes e vistosos, aqui limitei-me a uma tímida festinha no focinho – só para agradar ao meu pai; o bicho não me parecia de confiança. Dos cavalos passámos para as aves de rapina ou rapaces onde vi falcões, águias, corujas e até um bufo real. No trajecto entre as rapaces e o já almejado camelo, encontrei alguns dos futuros candidatos a executivos municipais, com os quais o pai e a mãe perderam alguns preciosos minutos, não me deixando espaço para observar convenientemente o nobre animal, pois o cansaço começou a apossar-se de mim ao ponto de eu já não fazer grande discernimento entre as coisas. Assim, cai no embrutecimento do corpo e no regozijo de alma. O colo da mãe foi o meu leito até à chegada ao carro. Sendo que a abertura da pestana só ocorreu na manhã seguinte. Olhem só como eu estava cansada… Ufa!... Mas não pensem vocês que a noite se ficou ou findou pela minha entrada em inconsciência e entrega denegada ao marafado do João-Pestana pois muito vos tenho ainda para relatar, por ouvir dizer e por um sem número e um sem calar de protestos, entre os mais mansos, outros mais veementes e outros ainda a roçar a obscenidade, de tudo rebolou pelos meus ouvidos ou melhor dizendo pelas minhas delicadas e lindas orelhinhas. Ora então vamos lá ao que interessa. Quando os meus papás chegaram ao carro bonito, que ficou estacionado; bem estacionado, nisso o meu pai é muito cuidadoso e refere sempre, com uma certa graça, que cada vez que faz asneira parece que anda com um policia ou um GNR às costas, catrapus ou “catrapumba” nunca falha é multa certa, quando não mais qualquer coisita a compor o ramalhete, no parque de estacionamento particular da tia Rosário e dos outros moradores, repararam logo que o acesso ao parque estava semi-bloqueado, aliás a tia, ela teve que regressar a casa, já tinha dito ao meu pai que não ia ser fácil sair pois estava um SUV a estorvar a saída, só que aqui estorvar era um realíssimo eufemismo, de facto o que tínhamos era um OB ou um TAMPAX, tamanho Max, a obstruir a saída. Era meia-noite e picos quando chegámos, a tia tinha feito a incursão a casa pelas vinte e duas e tal e o “estrabeco” ou o empecilho já lá estava: Preto em sua cor, pomposo na matricula 49-EF-27, majestoso de nome Hyundai e no modelo orgulhoso SantaFe; deveria antes o modelo se designar de BoaFe ou Respecter ou de um nome nesta linha, poderia ser que o comportamento do dono fosse na linha da designação do modelo, pois sendo SantaFe, o dono teve uma fezada santa ou, quiçá, uma santa fezada de que chegaria primeiro e, em tempo, de não bloquear uma mão cheia e mais alguns veículos que estavam, devidamente, estacionados no parque de estacionamento interior. Enfim de boas intenções está o inferno cheio ou mesmo a abarrotar, pois parece que não houve lugar para este senhor, pois se Deus é grande o Diabo, esse, consegue ser ainda maior, acho eu… mas a isto já lá iremos ou chegaremos. Puxando do maço ou da garrafa da paciência; o meu pai que não é muito pródigo neste capítulo, o pai (que não fuma e pouco bebe) acendeu ou bebeu uns bons e longos tragos de tão preciosa virtude, mas tudo tem limite e, os limites do meu pai, apesar de largamente alongados, esticados e até espremidos, atingiram o seu ponto de rotura; paciência também tem paciência, não acham?... Ainda de humor brando mas já sem paciência, o meu pai contactou a GNR solicitando os bons ofícios da autoridade no sentido de obviarem a situação. Situação, esta, que ocorreu pela uma e pouco da manhã – já era domingo e eu dormia no colinho da mamã, isto podia lá ser. O tempo corria pela noite. O bendito do SantaFe, arrogante, não se mexia um centímetro que fosse, apesar da vizinhança que ia chegando da festa, fosse ficando por ali a mandar “bitaites” e “cuscando” e, até, mesmo aguardando pelo desenrolar da situação. Cada um tinha o seu palpite e havia até quem conhecesse o “charuto”. Segundo telefonema para a GNR, já passava da uma e meia da madrugada. A boa fé do meu pai estava mesmo naquela linha que separa o tolerável do intolerável. Reiterou o pedido de auxilio, explicou que eu estava mal deitada e que havia hora que meia que ali estava sitiado. A resposta foi a mesma da primeira vez ou seja que estavam muito ocupados mas que já estavam ao corrente da situação. Um obrigado sem mais foi a resposta do meu pai. Traduzindo: Mal vai a pata. A tia Rosário, que tinha ficado na festa com a prima Sofia, pois nós só não ficámos por causa da minha queda “no embrutecimento do corpo e no regozijo de alma”, regressou a casa às duas e tal da manhã. Assim que chegou, perguntou de imediato: Ainda estão aí? Como se não fosse mais que óbvio, daaaaa… e continuou… Passei agora pela GNR, estão na entrada ou saída, pois tinha ambas as funções, mesmo junto às tasquinhas… Entretanto, já o meu pai tinha efectuado o terceiro telefonema para o posto da GNR, de onde o informaram que a informação que tinham era que a situação se encontrava resolvida. Resposta que deixou o meu pai de cabeça perdida, de estribeiras desconcertadas e o resto que lhe restava aquela hora já tardia e, que respondeu o que devia e o que e não deveria. Enfim se eu estivesse acordada não tinha permitido semelhante desacato. Perante semelhante informação montou-se nas sapatilhas e foi acarear os GNRs de serviço. E, aqui sim, pelo que ouvi e não se esqueçam que estou a contar por ouvir dizer, a situação mudou de figura e começou a desembrulhar-se, após alguns contactos via rádio da GNR. Alguns minutos depois chegou uma senhora “dona do carro”, escoltada no Land Rover da GNR. Pediu algumas, tímidas, desculpas e deu poucas justificações, assim como: Que estavam nas tasquinhas e que o tempo voa, lá-la-rá-lá-lá… Calculo que o meu pai e o resto da assistência, que metendo a GNR, já era mais que muita, não fizeram juízo de valores alguns… calculo… eu estava a dormir não se esqueçam. Inobstante a chegada da senhora o problema permaneceu, porém o ângulo de abordagem ao mesmo era outro: A senhora não estava apta a retirar o SantaFe do local onde supostamente ou alegadamente o colocou. Sei lá é como se o raio do “animal” tivesse vida própria e se tivesse alojado num outro sítio que não o de origem contra tudo e todos, inclusive a vontade da sua “dona” e agora esta tivesse perdido o controlo da “besta” e, dali, nem para a frente nem para trás. Estávamos num obstinado impasse. Obra de Deus ou do Sátiro, vá-se lá a saber. Enquanto o Land Rover de patrulha da GNR abandonava o local, solícito e bastante prestativo, anuiu ao pedido de socorro da senhora “dona” do “animal indomável” um elemento da GNR, o que é caso nunca visto pois se algo corre mal é sempre o elemento das forças da ordem a assumir a responsabilidade pelo ocorrido, normal sim é chamarem o reboque e rebocarem quem mal “poisou”, que chamando a si as rédeas de bicho tão rebelde, o acabou por domar, deitando mão a uma ajudinha preciosa do meu pai, que à custa de uma manobra de marcha a trás arriscada; se fosse eu não tinha facilitado nada, depois de tanto esperar mais um pouco já não era relevante, lá facilitou a colocação do cabresto no Minotauro e a respectiva manobra de “desentope” o que não deveria ter entupido, colocando a “cavalgadura mitológica” na via principal e em posição de investida. Nem combinado diz o povo. Manobra feita, agente fora do monstro horrendo, e eis que chega de novo o Land Rover de patrulha da GNR. Desta vez o escoltado era outro, o marido da senhora; deve ter mandado a guarda avançada para caso a coisa estivesse muito azeda, que saiu do Land Rover e enfiou-se, altivo mas depressinha e de fininho, no SUV preto e ala que se faz tarde. Desculpas, viram-nas? Assim nós. E, assim, o Minotauro, investiu bufando, para lugar incerto. Retaliação por parte da autoridade, o que era natural, em casos similares, ninguém as viu. Acham isto normal?... ou será compadrio ou conhecimento? ou foi para não atrasar mais o meu sono que não chegou a ser perturbado no meio deste reboliço todo. Os factos ficaram por apurar, apesar de o assunto merecer mais um pouco de atenção ou mesmo a sua denúncia. Passou por esta graças à cobardia do homem que despiu as calças e vestiu a saia e que mandou a mulher de calças vestida, no papel de batedora ou observadora avançada. Apesar de tudo e, graças à perspicácia e memória da minha prima, que nada lhe escapa, nem nada lhe passa ao lado e, logo reconheceu o meliante das tascas quando este abandonou o veículo da patrulha, exclamando: É o dono da loja FOKUS FASHION STORE em Loulé! Facto comprovado na segunda-feira posterior pelo meu pai: Apesar de poupar aqui as identidades dos “senhores” deixo o endereço e nome da loja que é, por mero acaso, a representante da marca TIFFOSI: A FOKUS FASHION STORE, Loja 1, Edifício Central, LJ2, AV.ª José da Costa Mealha, 8100-501 Loulé. Neste anda que desanda e não anda mas acabou por desandar eram duas horas, trinta e cinco minutos e uns pozinhos de segundos da manhã quando abandonámos o palco desta trágico comédia e tirámos o azimute de Loulé, onde deixámos a avó Aurita, e seguidamente de Vale da Rosa onde finalmente os meus pais, o primo André e eu, é bem certo, tivemos o direito ao mais que merecido descanso. Domingo. Abençoado domingo. Todos dormimos até tarde, até eu a madrugadora nata, cedi aos encantos de Morfeu. Entre isto e aquilo foi fogo em pasto seco enquanto a manhã ardeu, foi um vento que a soprou forte para longe… O meu pai foi ao Modelo às compras, sempre as compras, começo a achar que isto é uma vida de compras. Teremos que comprar tudo? Acho que sim!... Na volta engajou a avó Aurita, para ajudar a fazer umas cavalinhas limadas; o pai adora peixinho limado, da sardinha ao carapau, passando pela boga e até a cavala, nada lhe escapa neste apetite sui generis. Para além das cavalinhas, feitas primorosamente pela avozinha, ainda a minha mãe fez umas sardinhas albardadas. Muitos eram os comensais e os últimos acabavam de chegar: A tia Rosário e a prima Sofia, e foi aqui que começou toda a história que atrás vos disse que ouvi contar ou falar acerca de… Após o almoço, houve tempo para a brincadeira e ver uns bonequinhos, antes de me arranjar ou pôr bonita para ir ver o recital onde a prima actuou, e que por isso foi logo de rota batida para Loulé assim que terminou de almoçar, e que teve lugar no Cineteatro Louletano e, onde participaram os alunos da escola onde ela está a estudar música a ENSINARTE, que fica na Rua Geraldino Brites, na Expansão Sul; o papá e a mamã, antes de eu nascer, faz muitos anos, já lá moraram e a escolinha fica mesmo ao lado do prédio onde eles viveram. Logo que a prima actuou foi um ai até o Morfeu me embalar de novo em seus longos, fortes e doces braços. Foi um sono curto mas retemperador, apenas durou até ao final do evento. Após a audição, tive direito a prémio. Um prémio de bom comportamento. Fui comer com a mamã; o meu pai não quis ir ao recital apanhar seca; palavras dele não minhas, um geladinho à Flor de Loulé. Porém, aí, entornei o caldo todo ou pior deixei o caldo azedar e como, pois o meu comportamento tornou-se inaceitável e voltei a ter direito a prémio. Desta vez, o prémio, veio sob uma forma mais amarga, sob a forma de castigo: Interdição dos bonecos para o resto do dia. E, o cura castigos, foi o cair no sono; dormir para esquecer. Sem mais. A marafada da pena. tÓ mAnÉ (in Laura Solange dixit) - 2013.07.(13,14)

Crónicas FDS da Laura - Registo XX

Se pensam que fiquei miserável da minha vidinha por não me terem levado convosco, tirem o cavalinho da chuva. E bem que podem estar roidinhos de remorsos que eu não dou meio tostão furado por isso. A resposta ao vosso dilema é: Não! Não me importei nada, pevide, que me tivessem abandonado em casa com a avó Ilda. Fiquem desde já avisados que até gostei!... Bem-feita! Lá-la-rá-lá,… brrrrr… (mostro-vos a língua só porque é feio, tal como vocês dizem…). Afinal porque carga de água haveria eu de querer ir a Quarteira? O que iria eu fazer ao dentista; à da Dra. Patsy Del Gatto, se os meus dentinhos estão impecáveis, não me dizem?... Querem mesmo que eu vá apanhar uma valente seca e passar o tempo todo a ouvir: Está quieta Laura, porta-te bem Laura Solange e recriminações quejandas, enquanto a minha mãe está escarrapachada, de boca aberta, fazendo higiene oral, mudando bráquetes ortodônticos, colocando arames e elásticos ou então, por opção (im)própria, ir com o meu pai beber um cafezinho de água, enquanto ele bebe um café verdadeiro, ao Snack Bar Kapa Negra e ficar ali especada a vê-lo escrever no bloco preto de bolso umas “diarreias mentais”, enquanto o tempo, que desta vez teimaria em não passar, desse tempo ao regresso da minha mãe, para que depois fosse-mos ao mercado comprar umas sardinhas, pois estamos no tempo delas, para assar – eu até não sou fã de sardinhas assadas – para logo depois rumarmos à Dona Ana shop, para comprarmos tomates cor-de-rosa e similares? Não, não estava nessa decididamente. Quando eles chegaram, e digo eles pois estou de mau feitio, com eles, cada um no seu veículo, ela no Nissan Patrol GR e ele no Peugeot 308 SW, pois assim, também, o foram, já eu tinha almoçado. Ahah, safei-me das sardinhas assadas! Mas confesso que foi por um triz. Ao vê-los chegar, um a um, fui adoçando o meu mau feitio de acordo com os regressos. Primeiro chegou a minha mãe que trouxe a avó Aurita a reboque, tal como um brinde. Veio almoçar connosco – os meus pais fazem o que podem para lhe quebrar e aliviar a monotonia da solidão, inerente a quem vive só, que a assola desde que o avô Monteiro foi murar para a estrelinha. Pouco depois foi a vez do meu paizinho chegar. Todavia a visita foi de médico. Foi chegar e abalar, quase acto contínuo, não fora a mudança de roupa relâmpago que efectuou e ala que se faz tarde. Facto que me deixou curiosa por tão despropositado, (in)corrente, incomum e quase nunca visto. Assim, e para matar esta danada da curiosidade que não é fatal apenas para o gato, a gazela, etc… recorri aos doutos saberes da mãezinha, indagando: Onde vai o papá? Ao que a minha mãe, fazendo um gesto de livre assentimento, respondeu: Vai almoçar com os amigos da tertúlia de sexta-feira e o Sr. Dr. Mendes Bota, ilustre deputado da Assembleia da República e ao serviço da nação, que é um amigo do papá da política e desde sempre. Vão falar de política pela certa. Não perdes nada, deixa lá!... A minha tarde foi um pouco para o poucochinho. Limitei-me a cirandar por casa e a ver, ocasionalmente, os meus bonecos – já repararam que evolui? Já não digo “menecos”. Pois é, cresci!... Enrolo, traz enrolo e, no meio de tanto enrolo, o dia foi escorrendo de um vaso para o outro na ampulheta, esgotando-se sem que nada de excepcional e notável fosse condigno de aqui assinalar que não a informação extemporânea de que a avó Aurita iria ser nossa hóspede por mais um dia, pois o dia treze espreitava e com ele as saudades, a solidão e o desespero da dor e lembrança, cavam-lhe a alma mais profundamente e com mais veemência; o avô Monteiro foi morar para a estrelinha no dia treze de Dezembro de 2011, partiu logo pela manhã sem dizer adeus a ninguém. Não foi culpa do avozinho, mas sim do raio de luz que o transportou. Até parece que estava cheio de pressa. Quando tenho saudades do avô vou até à vastidão do meu pátio, à noite, olho para a estrelinha onde ele mora e, na quietude e no silêncio parece que o ouço dizer que me adora. O avô Monteiro gosta muito de mim e, eu também, gosto muito dele. Perdida nestes pensamentos deixo que a hora de planar no mundo dos sonhos se entranhe de mansinho. Levito em torno de mim e de uma orbe ficcional até cair no mais profundo dos abismos siderais, o sono dos meus sonhos. Acordei estremunhada e ainda semi pairando entre os dois mundos e acreditem ou não o domingo entrava soalheiro e convidativo através das janelas do meu quarto. Reabri os olhos, encarei-o de frente, sorri e gritei: Bom dia domingo. Escarranchados na cela de domingo, houve que planear como iríamos domar o bicho. Acontece que as ideias sobre como domar tão ilustre animal eram quase nulas e a inspiração não estava a ajudar népia. Reduzidos ao nosso parco leque de ideias, tivemo-nos que nos contentar com uma mais que rotineira ida a Quarteira beatch. Esporámos o bicho e eis-nos, num ápice, puxando as rédeas ao animal e gritando ióooooo para que este parqueasse sem causar danos na cocheira privada do apartamento da avó Aurita mesmo junto à praia. Desmontámos. E, sem mais delongas rumámos ao apartamento, a avó Aurita estava deserta para ver o estado geral, bem como, os mais que prováveis danos causados pelo mano Pedro e os seus capangas. Porém, contrariando tudo e todos, tudo estava menos-mal, excepto uma ou outra mais abusada, em termos de arrumação e limpeza, o que era mais que espectável – a idade não perdoa e a do mano não é excepção!... Depois de recomendarmos veemente à avó que não se metesse em trabalhos de arrumação e limpezas. Nós, os três mosqueteiros, fomos abancar na praia de Loulé mesmo defronte à casa da avó. O vento levante teima em perdurar, nem sei como o pai não quis ir à pesca, até estou a estranhar, mas ainda bem. Adoro praia com o meu pai. É sempre uma aventura nova. A temperatura rondava os 40ºC e o mar não estava para afoitezas, parecia um urso bravo, bruto e enraivecido. Razão pela qual o meu banho se limitou pela babuja da rebentação das ondas, mas ainda assim foi óptimo. A água estava excelente; quentinha, quentinha, um verdadeiro caldinho. Que mais poderia eu querer se querer tudo é imoral. Na hora do calor infernal, no pino do sol, demos por terminada a estadia na praia e dirigimo-nos para o chuveiro, na parte exterior do prédio onde a avó o AP, numa de retirar o sal às carcaças e na pré preparação para o almoço no restaurante. Fomos todos em carreirinha, tipo formigas, a passo lentíssimo – a avó não pode andar nem muito, nem depressa - pela marginal fora até à Taberna do Peixe, local onde decorreu o repasto. Ao meu pai não lhe agradou de todo o almoço. Reclamou que se fartou com o dono do restaurante, até já metia miséria. Quando fica mal servido ou acha que fica o meu pai não facilita e diz-me sempre: Filha! Quando pagamos temos o direito e o dever de exigir, sempre que as coisas não estão do nosso agrado. Após o almoço e as reclamações a avó demonstrou vontade de ir conhecer o Sr. Lidl de Quarteira que numa primeira impressão julguei que era um fulano qualquer mas que ao cabo e ao resto não passava de um Continente pequenino, um supermercado de quase tudo. Visitado que foi o Sr. Lidl seguimos directamente para Vilamoura. Até parece que tirámos o dia para uma visita ao património da avó. Pois é, a avó é detentora de um AP nos Apartamentos Turísticos Mar-Bel Sol, um condomínio fechado que tem duas piscinas, uma para os grandes e outra para os pequenos – contrariamente à casa da Joana – e um apoio de churrasqueira mini. Para além disso, ainda tem um relvado fantástico, um jardim à volta e vários pinheiros mansos muito altos que fazem uma sombra maravilhosa, até apetece nos dias de calor abrasador. Feito o reconhecimento exterior passámos ao interior. Elevador. Botão do 3º piso. Afloramento ao piso. Chave à porta e, irritação das irritações, a chave não cumpriu a sua função primordial: Abrir a porta do apartamento. Mas que grande melão este. Face aos percalços tivemos que nos cingir ao perímetro exterior e à zona das piscinas que tinha os portões abertos. Não sei se por estar a decorrer a festa de aniversário de uma menina chamada Beatriz, a quem todos chamavam de Bea, se por efectivamente sempre o estar. A Bea é neta do Sr. Ribeiro e da Dona Rosa, casal “amigo” do meu pai e da avó. Foi graças ao Sr. Ribeiro, que gere o condomínio e é detentor de uma chave mestra, que amavelmente cedeu ao meu pai, que conheci o AP da avó. Um AP é um AP e o que eu queria mesmo era ir para a piscina e, assim foi. Concedi a mim própria, com o consentimento dos papás, uma tal sova de piscina que fiquei de rastos, de quatro, assim por dizer… Comemos e bebemos à pala ou à conta ou à “borlix”, do aniversário da Bea; nós e os outros todos que lá estavam e olhem que eram bem muitos. Findo o lanche, fui de imediato tomar uma “chuveirada” de água quentinha ali mesmo ao lado nos balneários das piscinas. Vesti uns trapitos e rumámos ao Sítio de Vale da Rosa, home sweet home. Foi algures entre Vilamoura e casa, mais próximo de Vilamoura que de casa, que o fenómeno do “apagão” teve lugar. Tudo se turvou e para dizer a verdade só voltou a clarear na manhã seguinte; foi dormir a sono solto, pudera estava estafadíssima: Praia e piscina, imaginem… tÓ mAnÉ (in Laura Solange dixit) - 2013.07.(07,08)

Ele há coisas…

Ele há coisas que… Não lembram a Deus nem ao Diabo! Porém, ao Homem, sempre atento, nada lhe escapa no seu entorno. Tudo sente! Tudo presente! Nem Deus, nem o Diabo lobrigaram inventar a política Tão pouco a liberdade ou mesmo a democracia Uma vez, que estes conceitos estavam subjacentes à Sua condição divina; Eram endógenos, intrínsecos à criação do Universo, Pelo que não careciam de criação, já eram, Já existiam por inerência aquando do fenómeno da própria criação; Faziam parte integrante do pacote entregue chave na mão. Contudo, o Homem engendrou novos conceitos, Conceitos que entraram em conflito com a harmonia vigente, Com os princípios basilares do próprio Génesis: A escravatura, a subjugação, a tirania, a ditadura, a divindade e o facciosismo, Que o Homem exerce sobre o Homem ou do Poder Divino sobre o Homem, Onde outro Homem executa a intermediação divina sobre o Homem; O exercício “divino” do poder do Homem sobre o Homem. Deus e o Diabo não tinham conceitos! Apenas partilhavam e dividiam três locais cósmicos, chamados: A Justiça; O Julgamento; A Condenação. Localizados em locais incertos, longe do conhecimento do Homem, E, onde, efectuavam, consoante a particularidade, a selecção das Almas, Depondo-as, uma a uma, na sua morada eterna. Não só do Homem, como também, de todos os Seres Vivos. Todavia, o Homem descontente com o processo instituído, Que não lhe conferia pequenos poderes ou relevância, Resolveu adequar o meio à sua ínfima medida. Então, desenhou palavras novas como “política”, “religião, “economia” e “futebol” Todas com o mesmo objectivo: A subjugação do Homem sobre o Homem. Deixando, no entanto, o odioso da questão a Deus e ao Diabo Que, deixaram de ser meros conceitos abstractos para passarem a ser, Sob a mão pérfida do Homem, objectos de regulação e culto, Da vontade arbitrária do Homem. Aí, Deus e o Diabo, conferenciaram e, condescenderam, Caindo no logro deste ser aberrante, usurpador, oportunista e arrogante, Ao qual, sabe Deus e o Diabo, se acaso o sabem!? Dotaram ou conferiram a poderosa arma do livre arbítrio (não se sabe por quem, nem porquê, mas desconfia-se; por ele! O avisado Homem) Do qual, o Homem, faz uso e abuso sempre que lhe apraz Ou serve os seus variegados e megalómanos interesses. Todos os Seres Vivos, exclusive o Homem; por, a si, assim o exigir Nascem, crescem, vivem e morrem em liberdade, em democracia E, no pleno exercício do seu livre arbítrio, cada um dentro das suas condições Livres de jugos, sem peias, cumprindo apenas Leis Universais. Acontece que o Homem veio adulterar os conceitos ancestrais do Universo E, no exercício do seu livre arbítrio, conferiu-lhes um nome pomposo: Leis da Natureza. Das quais logo se desobrigou como se delas estivesse exonerado Por fundamentos de “política”, “religião, “economia” e “futebol”. O Homem, não satisfeito, com a elaboração do conceito, Ainda desenvolveu um efeito de estigma “o medo do conceito”, Por lhe dar muito jeito à modelação do mundo à sua corcunda maneira. A política serve! A religião pune! A economia gere! O futebol congrega! E, o Homem, que não lhes é temente, excepto os ministros dos conceitos, Que estão impunes e ou isentos a seu bel-prazer, Pagando os seus excessos com bulas ou sangue, (minudências para quem visa a subjugação de outrem) Serão condenados por Deus, por o Diabo e pelo Homem, Enquanto sacrílegos e desalinhados de uma alma geracional global. No panorama da política, enquanto o conceito geracional de todos os outros, E que visa exclusivamente a contenção de uma massa ou turba, que não pensa, Ou ainda que pensando, vive à custa das migalhas que rolam, Cuidadosa e criteriosamente, do prato, farto em iguarias, da “política”, Logrando, ainda que, numa reles minoria, reger a grande maioria. E que se movem como um bando de pombos que sobrevive numa praça pública. Assim, funcionam determinados cérebros humanos, tal e qual os pombos: Gerando apenas penas e merda! Ou, visto o caso, palavras e merda! Os conceitos agregam a eles mais conceitos e preconceitos, tais como: A guerra, A fome; A doença; A iniquidade; A desintegração; A desigualdade; A perseguição; A reclusão; A indiferença;… E, por muitos, ficam estes por mau exemplo. Na verdade, o Homem, por sua total conveniência “Criou” ou “Inventou”, Também, Deus e o Diabo. A criatura tem génio! Cria! Inventa! Implementa! Logo, enquanto filho privilegiado do Universo, Alardeou-se de “Ser Inteligente” de “Ser Humano” e, Apossou-se do aquém e além Universo, Apelidando-se a si próprio de Universal. Apre! Chega e basta! O Sátiro, ou outro engenho da sua arte geradora, que o carregue. tÓ mAnÉ Style

Palavras sussurradas

Sussurro, quentes, palavras Coladas ao teu ouvido Palavras de ocasião Cálidas na paixão. Oiço, na resposta, o rubor Que as palavras provocam Vejo, na satisfação, o brilho Das, apenas, palavras Que o coração amolecem. E, sílaba, a sílaba Conjugo, sibilando, da sedução os verbos Em todos os seus tempos. Vergando-te a vontade Abrindo-te dos lábios o sim Que, meloso, franqueia a porta ao desejo Encerrando, timidamente, a fortaleza do não. Quebra-se, finalmente, a muralha, Um espaço fictício, imaterial, Reflexo de um conceito surreal O grande e temível Deus O Deus do Bem e do Mal. tÓ mAnÉ Style

Apupos

Rolam, lentos, os automóveis da comitiva, Pretos, topo de gama. Imobilizam-se! Abrem-se e abrem portas. Delas, imponentes, saem, primeiro: Seguranças e motoristas Para só depois, verificado o perímetro, Os ilustres assomarem, Ostentando seus cínicos sorrisos Que banham seus fatos escuros Ornados de gravatas berrantes; Línguas que vomitam, mentiras (inverdades muito agora na gíria) Que os escuros fatos ocultam. Cáusticos, brilhantes e negros, os sapatos, Cospem promessas vazias, falsas, A cada passo e passo a passo. Imaculadas, as camisas, no seu preceito, Cobrem-lhes as verdades, bem escondidas, Atrás dos seus insidiosos peitos. Tudo é farsa! Contudo tudo emana respeito! E, ainda assim, e a cada momento que passa O povo, que espera, grita, assobia, pateia. Aproximam-se! A segurança aperta, contudo estreia o espaço Alguém escarra no chão o desagrado, Invocando, também, o vernáculo palavreado. O alarido aumenta, num crescente contínuo incontido. Temo pela miúda. Pois este vómito, incessante, e peçonhento Há muito ninguém tolera Há muito ninguém aguenta. Agarro-lhe a mão fortemente Puxo-a com dificuldade da multidão tumultuosa Que se comprime, que se agiganta Na fúria, no asco e no temor. Fúria das “inverdades” Asco das imprecisões Temor das indecisões. Desta mole massiva, mutante, ululante e enfurecida A menina, desesperadamente, procuro libertar Puxo, estrebucho e esbracejo, Mas não tem o como nem como, Ergo-a aos ombros! O alarido, agora ensurdecedor, cresce desmesuradamente. Oiço um estampido seco e surdo, retumbando no ar Seguido de um silêncio amargo e plúmbeo. Para logo, nas minhas costas, a multidão, inquieta, ressoar, De tal forma que, por momentos, céu e terra se fracturaram, Num só medo, num só pavor, num só pânico. E, o risco ténue, entre a paz e a guerra, dissipou-se num nada. Nada este que confundiu Deus, Diabo e o Homem, E, por um momento, Terra e Céu eclipsaram-se. Dezassete de Agosto, dezassete horas, dezassete minutos, dezassete segundos, Do ano da graça de dois mil e dezassete, o mundo fundiu, o mundo parou… Silenciou!... Tão longe de mim, não fosse tão perto, Um sussurro, ininterrupto, ouvi: Pai, pai… que barulhos foram estes?... Foram apupos, foram apupos minha filha, respondi. Silêncio… Acatou. Na sua inocência acreditou! Inapropriadamente o bem julguei fazer. Mas, de sus, ouvi, histérica de indignação, a voz surda do meu “eu”, Troar na cabeça: Trajaste-te de fato, camisa, gravata e sapatos?!... Envergonhado, encarei a gaiata, forcei o destino e, De olhos pregados no chão, baixinho, muito baixinho Deixei que a verdade soprasse de mim, dura contudo livre… É a guerra, é a guerra… minha querida filha é a guerra que vem aí. Pai! Porque mentiste?... Silêncio, novamente o silêncio, (tão pesado quanto o remorso da falta) Entre nós e o mundo em convulsão, Só nós e o silêncio, residiram. Porque te amo filha minha, porque te amo!... Não voltará a acontecer. tÓ mAnÉ Style

Crónicas FDS da Laura - Registo XIX

Erguer e despachar vite vite foi o lema desta manhã de sábado. Soprava, abafado, de sueste o vento. Vento levante, como frequentemente o povo lhe chama, tal como, o mesmo povo, também diz que de Espanha nem bom vento nem bom casamento. E, quando sopra de levante, o vento, o meu pai não condescende. Pesca e Ilha de Tavira são as pérolas dos seus olhos, as meninas das suas vistas, é como que uma paixão celeste, uma ordem de Deus, um desprendimento geral provocado pelo calor intenso e abafado, quase sufocante que o insufla deste desejo insano, deixando-o prenhe de um desconcerto abissal. Fica impermeável a palavras e actos, a tudo e todos, apenas luzem fulgurantemente os dois buracos da alma todo o resto é infernalmente maquinal parece regido pela robótica e por aqueles dois faróis, intensos, virados ao mundo. Não há termos para discussão ou negociação, sua mente entrou em falência plena de democracia e, nestes três ou quatro dias, graças a Deus e não aos espanhóis ou magrebinos, quem manda em nostra casa, indiscutivelmente, é o pai. Como ele afirma, com ou sem graça: São os dias da minha democracia pois, quem manda sou eu! Nesses dias a monotonia instala-se e os trajectos são sempre os mesmos: A ida: Vale da Rosa – Patacão - Tavira- Quatro Águas - Ilha de Tavira. No cais a família fissura, eu e a mãe vamos direitinhas para a praia do cais, a sul, na praia do mar, este revolto e bravio atira-se como um cão raivoso a quem quer que lhe faça face, a bandeira está vermelha e, na água ou melhor nas ondas, só os surfistas e os “muribuggers” ou patos como vulgo são designados, se atrevem e com a devida autorização pois, o perigo espreita a cada lambidela de onda. O meu pai segue para o lado oposto do cais, para nascente, dando-nos as costas depois de nos beijar e aconselhar cuidado. Ainda lhe gritamos boa pesca e cuidado com o mar mas, acho que já não nos ouve pois, nem se volta para trás. Vai, como que hipnotizado pelo grande mago Levante, de mochila às costas, canas de pesca e xalavar ao ombro, e dependurado na mão direita o balde. Segue directamente para a testa do molhe de estibordo, aquele do farol vermelho, que separa a praia da boca da barra. Segue para a sua pesca. Não vos vou cansar com a descrição exaustiva dos meus mergulhos e peripécias de praia. Apenas, e por ser merecedor de registo, vos vou dar um lamiré de como a água estava quentinha, óptima mesmo, e do calor que fazia, um calor digno de qualquer inferno, seja ele onde for. Na minha boa fé, pois ainda sou criança, pensei que ainda teria oportunidade de dizer adeus até que agente se veja ao meu tio padrinho Miguel e à tia Bleca, porém, quando cheguei já eles tinham deixado o adeus à Ilha para trás e rumado à sua casinha, lá na linha, a poente da capital das sete colinas. Foi por uma questão de minutos ou meias hora, quiçá, que o encontro se desencontrou, o que me deixou muito triste… por minutos também. Contrariamente ao meu pai que comeu uma bucha constituída pelo produto interno da celebérrima lata de conserva de atum em posta e em azeite, pois não quer em óleo vegetal, dividida por dois pães de água, incluindo o azeite que, no acto da dentada, solenemente deixa que lhe escorra pelo queixo e limpa na parte inferior da Tshirt e, não vale a pena chamar-lhe à atenção pela falta de asseio da atitude pois ele logo retruca: Estou na pesca, não estou num hotel cinco estrelas ou menos! Nós, as meninas lindas, fomos almoçar ao restaurante, e para não quebrar o feitiço, voltámos ao Pavilhão da Ilha. Comemos moderadamente, não que estivéssemos tristes pela refeição simplória do pai mas sim para que a digestão fosse leve pois o calor e a água tipo”sopa” esperavam-nos. Assim, uma qualquer sopinha de vegetais e uns bifezinhos de peru grelhados, a dividir por duas marmanjas, fizeram a vaza. Tenho uma surpresa para vos contar. Adivinhem quem apareceu, já no final da parca refeição, no restaurante?... Vá lá um esforcinho mais… puxem lá por essas tolinhas… conseguiram?... Pelas vossas carinhas já vi que não. Vou-vos revelar então o mistério, tararammmmm… O Martim Cabaço e os seus papás! Ora, esta agradável, ocasional e surpreendente ocorrência, teve que culminar em brincadeira. É que nem poderia deixar de ser. Se não, incorreríamos em sacrilégio. Enquanto trocava umas breves e circunstanciais palavras com os pais do Martim, a mamã, pediu e pagou a conta. Assim, leve de bolso, depois de pagar o leve repasto, encaminhámo-nos todos para o parque defronte ao parque de campismo onde, claro está, iniciámos, ao de leve, o leve processo digestivo, pois ainda que leve tivesse sido o repasto, convinha guardar as devidas precauções. Findou a brincadeira e com ela a digestão. Juntámos a trupe e, pelo passadiço de betão, dirigimo-nos em direcção à praia do mar. Na segunda bifurcação do passadiço as famílias separaram-se, nós para poente eles para nascente, conforme as predilecções e necessidades de cada uma; as famílias são mesmo assim, senão não o eram, famílias. Depois dos goodbyes até mais ver, cada agregado seguiu o seu caminho. Nós fomos para junto do molhe onde o meu pai estava à pesca – estávamos mesmo achegar e, acto contínuo, até pareceu propositado, ele estava a pescar um belo dum peixe – e o Martim e os pais, ficaram mesmo em frente do passadiço de madeira. Assentámos os arraiais e fomos de imediato ver o meu pai e mais importante, de momento, a pescaria, é bem certo, para que se diga a verdade ou não se falte à mentira. Ó pá! A coisa estava a correr bem, o balde estava cheio de peixe e, mediante semelhante aparato quase, digo quase entenda-se, delirei e extasiei ao ver tantos, variados e grandes peixes. Decidi ali e logo que queria ser pescadora! Não foi muito o tempo que estivemos sobre o paredão da barra. O meu pai correu-nos à má fila, e com razão, dizendo: Isto aqui está muito perigoso. Está muito mar, não tarda as ondas estão a lamber o cimento que reveste o paredão. De facto ele estava pleno de razão. Ainda não tínhamos posto o pé na areia da praia e já uma onda varria o chão de cimento do molhe. Haviam de ver como o mar estava bravo e bruto, contudo muito bonito, e como cheirava a maresia, hummmmm… Ah! Mais uma coisa que quase me esquecia. O pai caiu e fez um dói-dói na nádega direita ou no pouco que lhe resta de glúteo. Eu aconselhei-o a ter mais cuidado, não acham que fiz bem?... Na praia, já com um pezinho na areia macia e quente, deram-me os ardores e a ideia, irreprimível e irresistível, de uma banhoca assaltou-me avassaladoramente, não tinha como a afrentar, as minhas armas eram demasiado ligeiras e de curto alcance para fazerem face ao apelo da água do mar tipo “caldo” e ao calor abrasador que se fazia sentir. Vencida e rendida às evidências e à minha insistência a minha mãe acedeu na condição da banhoca se realizar na babuja das ondas e sob apertada vigilância que para mim soube a apertada e pegajosa vigilância tão curta era a rédea concedida aos meus rebolanços e tentativas de mergulhos. Assim estive até começar a bater castanholas com os dentes. Aí a minha mãe pôs termo à aventura com um simples mas autoritário: Laura Solange já chega. Mesmo ao cair do pano e numa operação rotineira, todavia impulsiva; a lavagem do meu baldinho de fazer castelos na areia, a mãe, incauta, deixou encharcar as nossas farpelinhas e bugigangas de praia. Uma onda mais atrevida resolveu extravasar os limites, alambazar-se no comprimento de expansão e, zás-catrapaz, aliviou os seus maus féis sobre o local onde serenos jaziam, semi arrumados, os nossos haveres; menos-mal que eu já tinha envergado a minha Tshirt ou, como queiram, a tee shirt – obras do acaso e dos imprevistos. Resolvidas as imprevisibilidades e eis que aparece o meu pai, nem combinado, sorridente da silva, de túrgia de pesca às costas e, mais importante ainda, o peixinho todo amanhado como é seu apanágio. Nem parou. Limitou-se a um aceno de cabeça de “está no ir” e, sem termo para desobediência, botámos os pés ao caminho. Durante este fizemos, de vez em quando, umas paragens técnicas para alívio das costas do papá que como ele vai frisando “já não tenho, nem idade, nem costas, nem força para isto”, sendo que a última foi por minha imposição e exigência. Apeteceu-me desmedidamente comer um gelado, só que isto dos apetites fulgurantes e os gelados tem mais que se lhe diga, às vezes tornam-se voláteis, uma vez que o requisito de escolha não coincide com o sonho da vontade ou a vontade sonhada. Daí o ter que limitar o sabor pretendido ao stock disponível ao momento da vontade e, o que começa num gosto, num ápice passa a desgosto, chocolate não seria a minha primeira escolha bagth… mas era o que estava disponível. Chocolate?! Pois que seja… e hallelujah, poderia não haver nenhum depois daquele, que ainda o é, dia infernal. O meu pai vinha carregado que nem um jerico; quem é que o mandou pescar tantos peixes e grandes, e já não tinha paciência para tanta paragem nem tão pouco exigências requintadas. Não vejo a hora de chegar ao cais e o gafanhoto, que era eu, ainda saltando sabor acima sabor abaixo, dizia o meu pai meio para o alterado para a minha mãe. A volta: Ilha de Tavira - Quatro Águas - Tavira - Vale da Rosa. Quando chegámos ao cais estava uma fila, uma bicha – é assim que o meu pai diz – enorme, porém a espera não foi muita, o trajecto é curto e andam dois barcos água acima água abaixo, independe da maré depende apenas do barco que cumpre o trajecto. Atraca um, zarpa outro e assim sucessivamente numa sucessão sucessiva de atracagens e zarpadas. E, assim, logo embarcámos e desembarcámos, no meio de um mar de gente e de uma panóplia interminável e indescritível de bagunças consumíveis e não consumíveis, provenientes de uma ilha. Chegada à carrinha, alterei os meus apetites fisiológicos. Apeteceu-me fazer um xixi de cadeirinha, aquele que, neste caso a minha mãe – poderia ter sido o meu pai - depois de me retirar o fato-de-banho, nos segura pela dobra das pernas e tchhhhh… cá vai disto e, uma cascata, uma estradinha, sinuosa, de xixi escorrendo pela ladeirinha… é tão giro! No caminho para casa abri um parêntesis na realidade e coloquei-me do lado de dentro… foi uma soneca e peras. Retemperante. Cumpri a viagem a de fio a pavio sem descolar do mundo da fantasia, foi como um holograma de mim viajando dentro de um eu presente, contudo ausente da dimensão vívida. Claro que tive que cair no mundo, tal como uma mosca cai no prato da sopa, inconveniente mas inevitável, o jantar estava quase pronto e a hora do banho era já! Jantámos, como não poderia deixar de ser, peixinho grelhado no carvão só para desobedecer aos gajos da A.S.A.E., como diz o meu pai desatando às gargalhadas. Graças ao meu anterior estado de imortalidade irreal retemperante, ainda tive coragem para ver um “chochezito” dos meus incontornáveis bonecos. Todavia estava mesmo rotinha do estrafego do dia e, sem mais delongas, enfiei o trombil na cama e… Óooooo… Não quero finalizar o dia sem fazer uma pequena ressalva, um retorno no tempo, um voltar ao passado. Assim, façamos um flash back até à praia do mar, até à altura que eu questionei a minha mãe sobre um assunto que já à algum tempo me andava a atormentar as ideias. - Mãe, quem é a mãe do mano Pedro? E quem é o pai? - A mãe do teu irmão chama-se Beldora Segundo e o pai, filha, é o teu papá. Quanto à mãe fiquei esclarecida, apesar de não conhecer a senhora mas… que o pai do mano seja o meu papá é que fez com que a porca torcesse o rabo ou o mesmo é dizer: revoltou-me o miolinho todo. Fiquei baralhada… Como é que pode ser, como é que é possível que o meu paizinho querido seja também o pai do mano?... Bem, acho que são coisas de adultos e acho também que as vou deixar para outras núpcias. Assunto morto, assunto enterrado. O dia do Senhor teria sido muito atípico não fora: O acaso da minha prima Sofia, a tia Rosário, o primo André e as avós Aurita e Ilda terem dado uma de aparição inesperada e espontânea, por convite expresso, para o almoço, que, inesperadamente, consistiu numa valente assada de peixe, apanhado pelo meu pai na véspera, acompanhado por sopas de água ou gaspacho à algarvia. E o acaso da queda do vento levante que reteve o meu pai em casa, caso contrário: Eu quero ir para a ilha. Pela manhã é que canta o galo, assim o povo o diz, neste caso outro galo ou melhor outra galinha cantou, mas foi a meio da manhã. A minha mãe mandou, quer dizer, ordenou, na sua voz de general sem estrelas, ao meu pai que fosse ao Continente fazer compras de última hora para um almoço combinado em cima da hora. O que, estranhamente, ele acatou de bom feitio e sem resmungar nem resfolegar, assim numa de “é só pedires que aqui se satisfazem todos os teus desejos”. Demorou que demorou e quando por fim chegou, cerca da 1:00 p.m., trazia naquela carinha laroca um sorriso de “manhoso satisfeito” e dependurados nas mãos meia dúzia, bem contada, de sacos bem recheados; não sei por que caminhos enviesados e azinhagas andou, mas que chegou contentinho e tarde chegou. E, assim, aos poucos e atrasados, foram chegando os comensais. Após o meu pai chegar, foi a vez da minha tia Rosário, a prima Sofia e a avó Aurita terem arribado – as mulheres são como as rolas, andam sempre aos bandos. Estava eu a ver os meus bonecos muito descansada quando a minha mãe aparece, disparada, sala adentro, remordendo entre dentes. Olhou para mim com um olhar vazio de quem não sabe bem o que quer ou procura. Fixou o olhar no telefone fixo mas que é móvel e, ainda remordendo, um a um foi introduzindo os números desejados, soprando entre dentes: Que a avó Ilda é uma “deslembrada”, sabe que preciso de ajuda e ainda não apareceu, bolas que até parece que não sabe das horas. - Está… Dona Ilda, onde é que você anda? Não sabe que eu preciso de ajuda?... - … Vá lá, venha para cá, estão as sopas de água para fazer. Você não vê as horas?... - … E, tal como ligou assim cortou a ligação à máquina infernal. Deu-me as costas e saiu sem me ligar corneta. O que será que avó disse, cogitei... Deixei os meus bonequinhos e segui na sua peugada. É que, para além de estar curiosa para saber da avó, ainda estava com uma larica daquelas e interessava-me saber se o almoço estava atrasado. E, foi deste modo, que descobri que a mamã estava derredor do barbecue na tentativa, acho que bem sucedida, de o acender. Fiquei basbaque pois era coisa nunca vista nesta casa; assar peixe no artefacto pirotécnico. Pelos vistos o evento era importante ou ia haver festa grossa. Só assim se justificava a inauguração daquilo que até ao momento não passava de um mono apanhador de lixo. Emmeios o meu pai seleccionava, escalava e salgava o peixe que iria ser objecto de submissão ao carvão incandescente e à subsequente degustação e deglutição. Valeu a pena a espera, pois foi uma almoçarada e uma festança à antiga portuguesa. Uáuuuuu… Depois de almoço, e cumprindo uma boa parte da tarde e para gáudio de todos, cada um fez o que lhe aprouve ou melhor dizendo o que na real gana lhe deu ou mesmo na veneta de cada qual, excepto na minha que, de uma maneira ou de outra, alguém está sempre de olho em mim condicionando-me a liberdade total. Não que eu pretenda a licenciosidade mas um pouco menos de trela era bem vinda. Assim, e sem seguir uma linha ordeira de pensamento, começo pela minha priminha, o meu priminho, a minha tiazinha e “euînha” que estivemos entretidos, numa promiscuidade de roça roça e do esfrega esfrega dedos, com o novo brinquedo da mãe, o “Tablet”, que o meu pai lhe ofereceu, acho que para ver se se livra da lufa-lufa do Tó “prá qui” e Tó “pra li”, pelo aniversário – quadragésimo sexto (digo isto assim para que não se assemelhe a um número e não deixe de ser um pseudo eufemismo). Ela, a Sra. minha mãe, não que quer eu bufe isto, portanto shuiiiii… O meu pai foi descansar, se não me falha a minha tenra memória, parece-me tê-lo ouvido dizer que passou mal a noite e o resto da trupe, que se resumiu à avó Aurita e a mãe, pois a avó Ilda que deu “às de Vila Diogo” para a sua casinha, com o escopo de em pleno, sem interrupções nem atropelões, se dedicar à sua folga de sempre (não pode passar sem… ai tenho um “carregum” na minha cabeça, diz ela, quando não…), dedicou-se a variadas, por muitas, tarefas domésticas. Ao cair da tarde… aiiiii uiaaaaa… este é o grito supremo da tarde a cair, a minha mãe decidiu encher a minha piscina de bolas, insuflável, de água quente que o sol aqueceu, e bem, no interior da mangueira e, aí começou o estardalhaço. Prima dentro e eu fora, eu dentro e prima fora, ambas dentro, ambas fora, a água a já mais fora do que dentro e, assim uma hora e tal passou quase num ingente minuto irreal. Enregeladas, fomos compungidas a mudar de pego e da piscina, fria, na rua passámos para o jacúzi, quente, em casa, para um exuberante, fantástico e aconchegante banho de espuma, com reportagem quer fotográfica quer vídeo documental. Vou adicionar a reportagem fotográfica para melhor ilustrar as palavras pois estas não chegam para descrever as nossas aventuras. No interlúdio piscina - jacuzzi – posso escrever de duas maneiras mas apenas se pronuncia de uma, não é giro?... – chegou o tio Mário, sabe Deus de onde, mas não se juntou à pandilha, foi directamente para a sala, onde estava o meu pai – levantou-se da cama e deitou-se no sofá para descansar da folga. Isto é que é qualidade de vida! – e ali ficaram, os marmanjos , a ver os “futebóis”. E, assim, neste escarcéu monumental para não dizer descomunal, se foi deixando cair, aos tropeções, a cortina ao dia e erguendo, aos solavancos, o véu da noite e, quando no céu já algumas estrelas tremeluziam, tocou a sineta para a “lambeta”. E, por que sou umas mãos largas, vou-vos dar um cheirinho da ementa: Franguinho, da nossa colheita, em molho de tomate, executado de forma magistral pela avó Aurita. Peixe “à moda do meu pai” que é óptimo – uma espécie de caldeirada sem tomate e feito em cru, isto é, sem estrugido (refogado, aqui à moda da parvónia); o meu tio é alérgico a tudo o que tem pena, incluindo espanador. A avó Ilda cozinhou uns belos duns caracolitos que a outra avó, a Aurita, tinha trazido já limpinhos e lavadinhos. Iniciámos o repasto pelos caracóis com pão torrado com manteiga e, só depois vieram, em simultâneo, para a mesa o frango e o peixe. Aí, cada qual safou-se como pode ou lhe apeteceu, excepto a avó Ilda, que de “embirrão”, não quis jantar connosco – ela e a avó Aurita fazem faísca e até curto-circuito no tocante aos cozinhados, é caso para se dizer: Parecem duas crianças. Neste embrulho foi um ai até que o jantar tocasse à porta. Tempo quente. Vento ausente. Jantar na rua à luz das estrelas e outras, claro! Tinha-mos que ver algo por pouco que fosse. Quer o jantar, quer a noite, quer o ambience da envolvente, estavam mágicos, fantásticos, o que fez as delícias dos mais reticentes e dos mais exigentes. Foi de arromba! Aos poucos a turba foi dando à sola, não sem antes dar o seu patrocínio à arrumação global. Até que chegou o momento do “só nós”, da solidão a três partilhada e, com ele a fase de reflexão, curta, do ante Vale de Lençóis. Alguém um dia falou assim: “Um sorriso enriquece quem o recebe, sem empobrecer quem o oferece” e, um outro alguém, mencionou: “ Um minuto de tristeza, são 60 segundos de alegria perdida…”, e foi com um sorriso estampado nos rostos que desejámos boa noite a cada um de nós e a cada um dos outros. E, sorrindo ainda, desejo-vos uma boa noite a todos. Agora um pouco de surf fora da onda… Como é do conhecimento geral, este fim-de-semana foi palco de um evento que já vem fazendo parte das celebrações festivas do nosso amado concelho: O Festival Med ou o Festival do Fumo como algumas más-línguas já o vêm a apelidar. Gostaria imenso de vos poder fazer um relato da efeméride mas infelizmente, mas que chatice, pode ser que para o ano e já mais entradota na idade, não posso. Não fui lá!... Todavia, e face à reprogramação temporal do referido festival, posso-vos dar um cheirinho, excepto dos concertos, de ante Med, ou seja, da quinta-feira à noite, incorrendo em falta no contexto destes FDSs. Ora então vamo-nos a ele, ao cheirinho. Na quinta-feira à noite fui jantar ao restaurante “O Pescador”, acompanhada dos meus pais e de uns primos distantes e digo distantes por dois motivos: O geracional e o geográfico, pois ambos são afastados (primeiro porque o grau de parentesco anda no quarto grau, segundo porque vivem no Brasil). Passo às apresentações: O Manolito, como é conhecido, a Cristina, sua mulher e o Vítor, filho de ambos. São todos muito simpáticos e afáveis. Gostei deles! O jantar foi muito animado e, para meu contentamento adicional, teve lugar na esplanada, a noite estava magnifica, para satisfação minha, pois pude andar de perna solta por ali a cabriolar. O Manolito fez questão em pagar o jantar e ainda nos ofereceram uma prendinha a cada um de nós. No final do jantar fomos para o interior do Mercado Municipal onde ia ocorrer a apresentação, seguida de actuação, do rancho folclórico de São Sebastião, bem como, um concerto dado pela Banda Filarmónica “Os Artistas de Minerva”. O ambiente estava pesado, o calor era muito, as cadeiras não tinham grande qualidade, o pessoal tinha jantado e estavam pesados e as cadeiras cederam nas pernas e rabo no chão com grande aparato seguido de uma galhofa geral imensa, nem sei porquê alguém poder-se-ia aleijar… Findas as actuações, seguimos rumo à zona histórica e suas ruas e travessas onde estavam, desde já, montadas as “barraquinhas” dos vendedores ambulantes e as portas abertas dos bares e restaurantes improvisados para o evento. Pelo que vi o Festival Med 2013 vai ser pleno de música, cores e sabores. Achei o máximo. Os primos seguiam viagem para Lisboa no dia seguinte logo pela madrugada, pelo que demos por encerrado o passeio com o giro pelo hiper cromático centro histórico. Na sexta-feira, após o jantar, ainda nos atrevemos a dar um saltito até Loulé para matar a curiosidade e dar um rabo de olho às modas pois o adiantado da hora não se compadecia com uma entrada no Med; €12.50 (doze euros e meio) pax era muito pilim para eu ir exercer o meu direito ao sono… Ainda assim diverti-me imenso. Poderei mesmo dizer, sem faltar à verdade, que enchi a pancinha de brincar com a Catarina. Quem é a Catarina? Bem, a Catarina é uma menina, levada da breca de travessa, que eu conheci nos bancos novos em frente à Câmara Municipal. Ela era totalmente atrevidota o que dizia tudo comigo, fizemos imediatamente pendant em francês e pandã em português. Bom, acho que já estou a abusar da vossa caganita, por isso vou fechar a enciclopédia deste FDS. Tchau, boa noite e beijinhos muito docinhos. A “estramela” tagarela. Reportagem fotográfica:
A piscina, a prima, o Goya e eu… “começou a loucura…” Continuação da loucura…
O jacúzi, eu e a prima… banho de espuma com máscara desta… e a loucura continuou…
Eu, a pose e o início do descanso… tÓ mAnÉ (in Laura Solange dixit) - 2013.06.(29,30)

Crónicas FDS da Laura - Registo XVIII

Vou iniciar o relato do meu FDS, por achar de facto relevante e atípico, pelo fim de tarde de sexta-feira e, claro é, tem um propósito e um porquê do propósito. Então qual vem a ser o porquê do propósito, perguntam, e bem, vocês? Pois bem, aqui vai do mistério ao desvendar: Porque fomos jantar fora, a Quarteira, à Pizzaria Mamamia. O que também tem porquê e é ele: A mamã não fez jantar porque planeou ir passar o fim-de-semana a casa da avó Aurita em Quarteira, pois claro. Acontece que ficou por aí, pelo planear, pois a intenção “borregou” falando em termos aeronáuticos. O jantar, na sua substância, contou de sopa de legumes, pão de alho e pizza, na modalidade, quatro estações, acompanho por umas imperiais, ice tea e uns descafeinados para rematar as hostilidades… Et voilá!... Jantar mamado e fomos dar uma voltinha higiénica pelo calçadão; foi óptimo. O papá estava bem disposto e entre piruetas e bilharetas foi espectáculo. Divertimo-nos e brincámos montes. Neste cortejo quase que alegórico, decidimos dar uma saltadela a casa da avó Aurita, já que, tão perto, ali estávamos aproveitámos o ensejo para prestar uma visita surpresa ao mano Pedro que está lá asilado, ele e mais meia dúzia de mânfios. Agora, o gajinho, é nadador salvador na praia do Cavalo Preto, ele é bem claro e mais a meia dúzia de gandulos. O Sr. Pedro e a sua trupe não estava em casa mas a casa estava uma autêntica pocilga. Após uma verificação cuidada dos danos, quer no capítulo da higiene quer noutros de índole mais material, a conclusão ficou dois graus acima de cão e três abaixo de polícia. Pois é caros ouvintes a visita não teve nada de inocente mas sim tudo de propositado, tendo como escopo a verificação in situ do controlo descontrolado e o rumo desarrumado das coisas. Finda a visita, com pontuação abaixo de zero em termos apreciativos, o azimute foi o Sítio de Vale da Rosa, certinho direitinho, como diria o Camilo de Oliveira. O resto? Bem o resto deixo ao vosso critério e imaginação… Exactamente, acertaram na muge, boa!... E, desta forma espantosa, eis-nos chegados às 07:30 a.m. do dia que vem imediatamente a seguir a sexta-feira, o fantástico sábado, ele que é o primeiro dia a sério do fim-de-semana e, há que aproveitá-lo ao máximo. Assim sendo, e aproveitando a segunda metade da máxima “deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer”, apesar do meu pai, com quem dormi hoje, não estar muito de acordo com ela pois, para ele seria mais assim: Deitar tarde e tarde erguer e à hora que lhe apetecer, pois diz ele que crescer já não cresce, ainda que para a frente e para os lados, e que a saúde já não é lá muito famosa, mais vale rebolar o lombo na cama e fazer preguiça à bruta. Todavia eu, quando quero, sei ser muito persuasiva e assim que acordei tratei de fazer-lhe o mesmo, a ele e à minha mãe que foi dormir para a minha caminha querida. Era o que mais faltava ficarem ali a sovar o lombo na cama enquanto eu queria era brincadeira e passeio. E, assim, a tom de repique de Laura e não de sinos a procissão de sábado teve o seu início. Vou deixar aqui uma ressalva, por hoje ter sido excepção, que é a seguinte: Só o meu paizinho querido é que goza da regalia e do privilégio, benesse minha, claro!... de ficar repimpado na cama após a libertação, portentosa, do meu grito de “alvorada”. Enquanto via a minha bonecada a minha mãe aproveitou para pintar as unhas todas que tem, com um verniz da moda de cor esquisitóide ao qual ainda juntou uns pozinhos prilim-pim-pim dourados. Sabem? Quem não tem nada para fazer ou nada lhe apetece fazer, sacode as moscas com as orelhas, não sendo estas as palavras de Camilo José Cela, servem muito bem para relatar o evento e desmistificar o discurso. Enquanto isto se desenrolava no palco principal, ali ao lado no palco secundário, o meu pai já ia numa de contar carneirinhos. Ai ele é isso! Espera aí que eu já te amolo… E, assim, fizemos um pacto de gajas e deixámos o sornador na cama contando lá o que lhe apetecesse e num “vaipe”, quase irracional, decidimos ir para Loulé, beber o cafezinho matinal e fazer as compras semanais. Partida, largada, fugida e aqui vamos nós, as gajas, sem via verde activa, directas para Loulé City. Estacionar. Beber o cafezinho da praxe. E Dona Ana shop, num shoping cheio de speed. Seguidamente fomos dar uma de “na boa vão elas”, apesar de não abandonar-mos as cercanias a passeata foi bem fixe. Senão, topem só: Fomos visitar a escola da prima Sofia Miguel que, se Deus assim o quiser, vai também ser a minha escola dos grandes grandes e, aproveitando a deixa, e por ser ali bem perto, demos um saltito à minha velha escolinha, a escolinha da Mónica. Na verdade senti um ratinho de saudade, contudo gosto mais da escolinha da Telma e da Lena, é outro aconchego, percebem?... Cansadas de laurear a pevide e o queijo voltámos para casa. Quando chegámos tivemos logo uma surpresa. Imaginem que quando a minha mãe chamou pelo meu pai para ajudar com o transporte das compras a resposta que obteve foi um silêncio. Será que ainda está a dormir? Ó meu Deus do céu haja paciência, refilou a minha mãe, voltando à carga e a carga também o silêncio voltou. Onde se meteu o raio do homem? O carro está aqui, homessa onde estará metido? Quase gritou a minha mãe. Depois de vasculhar, infrutiferamente, a casa toda e a zona do canil, espanto, dos espantos o meu pai havia abandonado os aposentos reais. Levantou âncora sabe Deus para onde. Ou seja, deu aos “calcantis” o “marau”. Só muito mais tarde, por portas transversas ou travessas, sei lá eu… vim a saber que deu corda às botas e foi beber café ao Trincas e dar uma de leitura, mas isto pode lá ser?... Ai. ai, ai senhor pai, mau, mau Maria… E, pior, como foi a pé para Loulé a mãe teve que ir buscá-lo, deixando-me em casa com a avó Ilda a almoçar; salsichas às rodelas com batatinhas fritas, feitas no novo brinquedo de cozinha da mamã, a Actifry, e sopa de cenoura com fiapos de ovo cozido. Na verdade eram mais que horas para uma menina decente como eu almoçar e, para mais, esta tarde temos um compromisso: A festinha de aniversário da Joana Virote, que vai ter lugar no Sítio de Vale Verde (shuiiiii… a casa dela tem uma piscina grande e, parece que logo a calhar, está um belo dia de sol… vai haver rega bofe pela certa!...). O meu pai foi “agorinha” mesmo tratar dos cães, coisa quase nunca vista, contudo com um significado implícito muito específico: Vamos voltar muito tarde da festinha de aniversário da Joana. Sei que é assim porque o papá quando chega muito tarde a casa, desata logo a reclamar que ainda tem os cães para tratar. Andavam para bater as 03:00 p.m. mas as quinze ainda não ressoavam no campanário, quando de armas e bagagens, abandonámos a residência Figueiras Baptista, o “ montinho da casa amarela” que de amarela nada tem pois está pintada de cor de tijolo ou brick para as almas mais requintadas, mas tinha e continua a ter a ruína que deu origem ao apodo, que também carinhosamente lhe chamo de “a nossa casinha”, com destino mais que traçado: Sítio de Vale Verde, casa da Joana. Logo que cheguei ou melhor chegámos, porque não fui sozinha, comecei de imediato a entabular convivência com todas as meninas que por ali esvoaçavam semi livres como um bando de estorninhos que deambula pelos céus preso por um fio imaginário que lhes torna o movimento aleatório, todavia contido num espaço limitado pelo alcance do invisível fio. Não, não falei de meninos mas vou falar. Apenas um vagabundeava por entre este mar de fêmeas. Bolas tanta gajinha junta, isto é que vai ser uma concorrência no futuro próximo… Elas muitas, eles, poucos, ai, ai, ai… Andei saltaricando por aqui, por ali e por acolá deixando o tempo passar e a digestão concluir, o tempo e a digestão são assim como primos afastados, apesar de aparentemente afastados estão dependentes e gostam muito um do outro, passa o tempo e a digestão vai ficando mais leve até o processo dar em vontade de comer. Já perceberam não é? Espertinhos! É que sem digestão feita não há banho na piscina. Mas, lá iremos, até porque ainda não acabei de digerir. Vamos falar um pouco da casa da Joana que, para além da piscina, ainda tem outros pólos de atracção que fascinam uma criança como eu. A casa da Joana tem: Um lindo jardim, com muitos pinheiros, lindas plantas e flores, um relvado imenso e espectacular, um rock garden, uma cascata com um lago que tem peixes e uma cobra de água e, vejam lá se não é o máximo, um insuflável, ou seja, tem tudo o que faz as delícias de uma menina bem comportada quanto eu. Perambulando enganei o tempo e com ele a digestão e, piscina espera aí que aí vou eu… mãeeeee onde estão as braçadeiras cor-de-rosa? - Aqui filha, aqui. Anda cá… E, eu fui logo a correr. Desobediente num momento destes? Não, nunca!... - Põe-mas mãe, põe-mas! Depressaaaaa… vá, vá,… Com mais ou menos atrapalhação e no meio de um “quieta senão não vai ser fácil” e lá foram as braçadeiras, que previamente e adivinhando a afogadilho, a minha mãe tinha enchido de ar, para o seu devido lugar e começou o “fandolírio”, la fiesta, como diriam as herramientas do Manny Mãozinhas. Gostava ainda de partilhar convosco uma coisita que me melindrou bastante assim que cheguei. Vejam só que até me fez chorar e tudo. Oh pá! Não é que quando cheguei me deparei com o seguinte: Em cima da mesa, soberbo e lindo, estava o bolo de aniversário da Joana, até aqui tudo bem mas, tinha logo que ser igualzinho ao do meu aniversário? Cores e tudo. Acham isto bem?... Pois eu não! E digo-vos mais, não gostei nada das atitudes quer da Joana que copiou o meu bolo, quer da Suzi que o concebeu exactamente igual ao meu. Na verdade quem teve a ideia original fui eu. Bolas haveriam de haver direitos de autor de ideias de bolos de aniversário. Acho que vou tratar desse assunto! Bem, agora que já desopilei e desabafei, vamos ao que conta, ao importante, pois isto são coisas passageiras. Na festinha fiz uma amiga do coração, a Beatriz, ela é muito querida e docinha e nós sentimos logo uma empatia natural uma pela outra, é assim como um amor à primeira vista do ponto de vista da amizade, o que foi tão bom, uma vez que brincámos mais que muito, um verdadeiro pandemónio. Todo este granel sob o olhar rapace, tipo “Essilor”, multiluminoso, da minha mãezinha. Estão a topar o esquema?... Pois, neste capítulo o processo observatório do meu paizinho foi muito reduzido, quase nulo atrevo-me a dizer. Preferiu passar o seu precioso tempo a comer e a beber, bem como, a dar à “estramela” ou “linguete” e na galhofa com os amigos e as amigas, do que a brincar comigo. Mas deixem que não espera pela demora. Aqui não por não apropriado mas em casa vai ouvi-las e das boas. Ora onde é que isto já se viu?... Acho que tem que começar a andar de trela como o Mister Goya, hummmmm. E nesta loucura, neste vai e não vai, o tempo foi-se gastando e o final da tarde começou a fazer a sua aparição e com ele um senhor que, feito macaco, subiu a um pinheiro, com uma pinhata em forma de matrafona que lá dependurou bem amarradinha a um dos troncos. Depois dele descer, foi distribuído um pau de vassoura, um e um só para evitar percalços indesejáveis, e começou a cacetada e a paulada à matrafona, primeiramente mais timidamente mas, depois de vários incitamentos, do género: Dá-lhe com força ou força nisso, etc…, a violência dos baques aumentou até que rebentámos com a pança da matrafona e a chuva de guloseimas começou: Rebuçados, caramelos, sugos de fruta, chupa-chupas, etc e tal… Aí, nós, as crianças, iniciámos uma guerra feroz, sem quartel, para arrebanhar tudo o que pudéssemos daquilo que a matrafona vomitou. Até houve “berranço” e “choraminganço”, vejam só!... Com o entardecer, para além do senhor da pinhata, também apareceram outros visitantes, estes, indesejáveis e esfaimados, eram às centenas para não dizer números maiores que desconheço, ainda. Chegaram para vencer, desprovidos de escrúpulos, os mosquitos e melgas atacaram massivamente toda a gente, ninguém logrou escapar, o que obrigou a malta a bater em retirada de bandeira branca erguida. No momento exactamente antes do “obrigada estava tudo óptimo” e dos beijinhos da praxe, fui agraciada pela mãe da Joana, a Fatinha, com um presentinho que adorei: Uma Tshirt branca, com um estampado de fundo da Mia e dos seus amiguinhos Elfos. Daí até à carrinha foi um ápice e também num ápice o bzzzzz atacou. Bzzzzz… Eu não acredito nisto o meu bzzzzz prolongou-se, em directa, até quase às 10:30 a.m., ou de outra forma, meia manhã desperdiçada no bzzzzz. E, assim, desta maneira inglória, desperdicei meia manhã de domingo, o que considero uma fatia demasiado grossa do meu bolo de domingo, usada única e exclusivamente no capricho do: dormir, sornar, “xonar” e por aí… não sendo por isso considerada como pechincha. Enfim… Este percalço fortuito, graças a Deus, fez do restante do meu domingo um corrupio. Resumindo: Ele foi pequeno-almoço, um instantinho para a bonecada da ordem, vestir o fato de banho no “cem à hora clube”, após uma higiene matinal menorítica, o envergar de um vestido (vestido é uma daquelas coisas que antes de ser já o era tal como pescada) fresquinho para compor o ramalhete, o arrumar a tralha de praia e, lá fomos nós em tom de risota e numa de “na boa vão eles” para a Ilha de Tavira; O meu pai tem uma paixão assolapada pela formosa Ilha e, quando o meu tio padrinho Miguel lá está então nem dá para falar noutro destino, senão aqui D’el Rei, pois tudo é sacrílego. Mal desembarquei ou melhor que pus o pé no cais do outro lado da ria, marchei a ritmo acelerado para a praia mesmo ali à direita do ancoradouro dos vaporettes e mesmo coladinha ao cais. Foi ali que montámos arraiais e demos o primeiro banho do dia com sabor a cloreto der sódio e outros tipos de iões positivos, negativos ou neutros quem afinal se quer importar com isso, nesta situação e, mais importante, na minha idade; Salvé Deus que inventaste a água salgada. E, bem-dito sejas nessa Tua magnificência. Facto: Com estas manobras todas já passavam das 13:00 horas. Assim, e para não atrasarmos nem o padres nem a procissão, demos mais uns “mergulhaços” rapidinhos pois a água estava de partir ossos: Gelada, geladinha o que não foi impedimento de maior no que concerne a minha excelsa pessoa. Tremuras colmatadas pelo rigor da acalmia vigente àquela hora do dia e pelo embrulho “atoscalhado” na toalha de praia e o posterior estiramento ao sol, começou, atabalhoadamente, a tarefa do “arruma o estojo” e do “toca a andar que se faz tarde”. Arrastando o passo, penosamente, pelo passadiço de betão que irradiava um calor sufocante, e debaixo de um calor inclemente, cumpriu-se, a custo elevado, o espaço entre a praia do cais e o restaurante Pavilhão da Ilha, onde se iria processar o almoço e, onde trabalha o Filipe Cuco, amigo do meus pai das pescarias e outras cenas e aventuras carnavalescas de outros tempos que não o meu, graças a Deus! Arrumadinhos, comme il faut, na mesa, cardápio decidido e de gargantas refrescadas; um par de imperiais e um meio litro de água fresquinha, aguardámos pacientemente, haja paciência nesta Ilha que Deus criou para desobedecer ao stress ou quebrar as leis do mesmo, pelos pratos escolhidos saírem da ditosa cozinha ou um similar a isso mesmo que para o caso se torna irrelevante e com que só se importa a A.S.A.E, pormenores, não acham?... Eis que chega a minha sopinha de legumes e o sargo escalado, grelhado na brasa, acompanhado por uma espécie de batatas a murro e salada mista, não montanheira. Comi, vorazmente, a minha sopa que, digasse, estava deliciosa e ajudei os meus papás com a dura tarefa de rapinar o sargo até à espinha que, regado com uma sangria de vinho branco, finórios os meninos, e um ice tee de manga para o Je, não se revelou uma tarefa árdua. Sobremesa, ninguém quis. Assim, dois cafés e a conta deram conta do que restou do almoço. Alfim, eu e a mãe ou a mãe e eu, seguimos caminho para a casa, arrendada, da tia Bleca e do tio padrinho Miguel, para um ratito de descanso e aguardar pela lenta digestão do repasto, isto sob o meu ponto de vista, está bem claro, não é?... Duas horas e meia… Valha-me o santo… O meu pai não quis saber de descanso. Do restaurante meteu a primeira e todas as outras e fez uma directa à cabeça do molhe onde, alegadamente, o meu tio padrinho Miguel estaria a pescar – fala-se de pescar e o pai perde o trambelho. Seguimos caminho disse eu mas… bem, mas temos que introduzir uma leve correcção ao seguimos pois não se processou bem assim ou pelo menos tão direitinho assim. Parámos. Óooooo aonde é que está a admiração? Não quis fugir ao rigor da verdade até que o rigor dela depende muito do ponto de vista de quem a chama a si, de quem dela se quer fazer dono e senhor. Sim! Parámos no parque em frente ao Parque de Campismo, onde dei umas escorregadelas no escorrega e algumas mais cabriolas inofensivas; ajuda no processo digestivo, e só depois, aí sim! Seguimos caminho para o destino final. A tia Bleca estava ausente e, logo a brincadeira continuou. Porém, com a chegada da tia logo outro galo cantou – ela quando quer sabe ser severa e autoritária, nem precisa falar, um olhar basta. Logo, tive que sossegar e descansar. Finda a hora do repouso, regressámos à praia do cais, na praia do mar as ondas estavam enormes; segundo a tia, onde tomei mais umas banhocas, quer de água quer de sol. Distraídas e entretidas não demos pelo senhor tempo “o inclemente” passar. Foi preciso aparecerem os pescadores, o meu tio e o meu pai, acompanhados pela ordem de retirada para que caíssemos em nós. Arrumar, barco, carrinha, casa e prontos… Zzzzzz (estava podre de cansada e nem sabia)… tÓ mAnÉ (in Laura Solange dixit) - 2013.06.(22,23)

Embargo

Encheram-me, de tinto, a taça, Quando o branco é sonho teu. Ao palheto não lhe acho graça Tão pouco ao carrascão. Porém, Brut, gelado, (tinto, rosé ou branco) Do champagne, ao espumante, Passando pelo cava também, Todos, alegremente, marcham, Nesta parada sem fim, Onde, ao rosé, junto o suchi e o shashimi E, a todos eles, sempre junto um pouco de ti. No capítulo dos generosos e doces Elejo o porto, o madeira e o moscatel Não recusando contudo, Toda a colheita de um late harvest. E, assim, neste deguste, perdido Ergo por ti o cálice meio cheio E, a ti, o néctar dedico. Todavia, ainda que almeje, O néctar teu Em paladar meu É furtivo. tÓ mAnÉ Style

Na gaveta

Quando, nua, sobre a cama, a contemplei Voluptuosa, voluntariosa, Insinuava-se!... Olhei-a, lascivo, e, Desnudei-me, também. Dei-lhe as costas Abri a gaveta da cómoda E, de um canto, escondidas na vergonha, Retirei a venda e as luvas de cetim, negro, Como a recôndita escuridão, Do profundo dos meus desejos Que, há muito, adormecidos, Aguardavam ocasião. Entreguei-lhas e, Submisso, entreguei-me, Cedi-me, libertei-me! … À sua mais oculta, mais perversa, Imaginação. tÓ mAnÉ Style