segunda-feira, 24 de março de 2014

Crónicas FDS da Laura - Registo XXII

As evidências são como o algodão, não mentem! Apenas aparentam ou distorcem as realidades à medida de cada um e para própria conveniência. Dito isto, e como em princípio este vai ser o último registo, redigido pelo meu pai, das minhas crónicas de FDS, encontro-me em posse plena da pena que irá desenhar e riscar as palavras deste FDS, tal como sucedeu em todos os outros. Deixo ainda um obrigado ao meu papá pelo tudo a que teve que resistir e de alguma forma aturar, nestas minhas “ditaduras”; de ditar, claro está, ao longo destes dois longos anos de loucas aventuras. Ora bem, pronto papá?... Okey! Vamo-nos ao que conta e o que conta é o que eu conto e eu conto que este FDS começou mais cedo. A aventura de FDS começou, gosto de assim pensar, na noite de sexta-feira. E, como é do vosso conhecimento, só retrocedo no tempo quando algo de relevante o justifica, o que de facto foi o caso. Senão vejamos: Para além da Noite Mágica, organizada pela escolinha e, cujo palco, foi a escolinha, e na qual, por muito pesar meu não me foi possível estar presente, o que a seu tempo, e aqui, levantarei o véu ao mistério e revelarei os porquês da minha ausência, outro evento, não de somenos importância, ocorreu em paralelo no espaço mas dessincronizado no tempo, estou a referir-me à Feira Popular de Loulé, onde marquei presença efectiva, a todo o gás e empenhando toda a minha alma luzente. Bem, sem mais delongas e deixando-me de palhas e maravalhas, passo ao efectivo dos porquês da minha forçada ausência na Noite Mágica e esses foram, em primeira instância, o meu pai, e em segunda, o seu trabalho. Passo a explicar: O meu pai é engenheiro civil e trabalha na Câmara Municipal da Santa Parvónia que é a cidade, por imposição regulamentar, senão nunca o era, de Loulé, na Reabilitação Urbana; acho que já vos tinha contado?!... Bem, senão, também não é relevante! Relevante foi, pelos incómodos que causou nos meus planos e no que goro das minhas expectativas, a ida – logo neste dia, bem que poderia ter sido noutro – ao Seminário ReabilitAlgarve, na UAlg – Campus da Penha, em Faro, que todavia deve ter sido muito importante para as coisas lá do trabalho – é do trabalho do papá e da mamã que vem o dinheirinho para as coisas importantes lá de casa; inclusive os meus brinquedos – apesar de não entender nada do assunto mas, só pelo título pomposo, dá para perceber, entender e atestar da importância da bendita coisa e porque demorou tanto assim maior deve ter sido a relevância do evento. Doutra maneira: O meu pai chegou mais que tardíssimo! Daí, toda a logística da casa se ter atrasado, tornando num impossível a minha presença na Noite Mágica, facto que mereceu todo o meu pesar pois tenho cá para mim que iria simplesmente adorar. Assim, e penso, que para me compensarem da fífia, levaram-me à Feira Popular que, como atrás referi e face à dessincronia temporal, foi possível visitar e usufruir. Cabe-me aqui referir que de popular a feira tudo tem, inclusive concerto do tipo “Pimba”, haviam de ter visto? Sim porque só mesmo visto… Para além do concerto do tipo “Pimba”, abrilhantado por um brasileiro “Pimba”, das baiucas dos comes e bebes, ainda haviam uma pletora de barracas e barraquinhas apetrechadas com os mais diversos produtos e artefactos. Um mundo sem par inundado de todas as mundialidades. No meio deste mundo emergente de outro mundo qualquer, a gulosa da minha mãe logrou vislumbrar um tugúrio onde alardeavam: Folhados de Loulé, e logo demonstrou, à pessoa do meu pai, a sua delicada e requintada vontade de se abotoar com um. O folhado de Loulé não passa de uma massa folhada, que se vende morna, gordurenta e recheada com um creme amarelado e pastoso. Enfim, o que seria do amarelo se toda a gente o odiasse?... Nestas festas populares ocorrem sempre coisas engraçadas por incoerentes ou por as pensarmos desadequadas ao painel de fundo e, até no capítulo humano, essas alegadas incoerências, se materializam enquanto coerências afirmadas de incontornabilidade. Neste contexto surgem pessoas que quer pelo seu perfil, quer pelo seu modus vivendi se poderia à partida julgar como indiferentes ao conceito e ao modus operandi arreigado à típica menção. Insere-se nesta elite, enquanto modus tollens, a Cláudia. A Cláudia é uma colega que partilha a sala de trabalho e uma amizade com a mamã e que, para além disso, tem dois pimpolhos, a Sofia e o Afonso, de quem eu gosto muito, principalmente do Afonso. Ora bem, andando nós rolando-nos aqui e roçando-nos ali pela vasta mole humana, sem direcção ou orientação específica, vai de lá senão quando, mesmo junto ao carrinho do vendedor de algodão doce, deu-se o arroste. Entre olás, beijinhos e os estúpidos “estás por aqui? ou o que fazes aqui?” e os curiosos e medicinais “estão bons? ou está tudo bem?”, a Cláudia, que é sempre uma querida, obsequiou-me com um fenomenal pauzinho repleto de algodão doce cor-de-rosa, o que para mim era um experiência novinha em folha, nem sabia como trincá-lo. Valeu, nesta parte, o conhecimento sobejo da minha mãe e do meu primo André. Conhecimento adquirido e boca e mãos à tarefa. Entre dentadas cirúrgicas e assaltos manuais precisos que de imediato colocava na boca – o algodão doce é daquela classe de doces e coisas que se come sem que na realidade se coma, simplesmente liquefaz-se antes que tenhamos o ensejo de o trincar – lá fui, como podia, “comendo” qualquer coisinha, se assim o posso afirmar. Porém, depressa fiquei enjoada, mesmo antes de alcançar meio do rolinho hiper doce e cor-de-rosa, pelo que passei o testemunho ao primo e assunto resolvido. Antes de terminar e, não poderia terminar sem… sem que tentasse explicar o modo como se fabrica o algodão doce que é giríssimo: O vendedor, que é sempre ambulante, coloca o açúcar colorido e aromatizado dentro de um buraquinho que está no meio de uma malga muito maior. O buraquinho anda à roda que é um verdadeiro sarilho, nem vos passa… e espraia para dentro da malga grande fiapos de açúcar que o vendedor recolhe com um pauzinho de madeira que detém na sua mão, que por sua vez, ele faz girar em torno da malga e de si próprio; é mais ou menos como a Terra em consonância consigo própria e com o Sistema Solar, processo que termina quando o vendedor acha que chegou ao tamanho por ele definido como razoável ao lucro devido e procede à sua entrega ao guloso do cliente. Encontro terminado. Reiniciámos o ande e desande pelo perímetro da feira com o escopo de efectuar um reconhecimento mais apurado e detalhado do evento nas vertentes da diversão e do populacho. Volta aqui, volta ali, palavra aqui, conversa ali e assim fomos cumprindo e reconhecendo o recinto na sua totalidade. Na verdade o que mais me interessou foi aquilo que aos meus pais menos agradou, convenhamos. O carrossel e o insuflável prenderam de imediato a minha atenção e não só, também a minha vontade de experimentar as reais capacidades dos equipamentos, ao que, condescendentemente e dentro das normas do razoável, os meus paizinhos acederam. Já no que concerniu a um apetrecho, muito peculiar e giro, também, que vos passo a descrever: A geringonça era constituída por três esferas insufláveis, enormes e ocas, com um orifício considerável no meio, onde se instalava o condutor do veículo que caminhava lá dentro tal qual um rato hamster na roda da sua gaiola, só que aqui o ambiente de locomoção não era o ar mas sim a água, um tanque de água gigante, também insuflável; este mundo começa a estar insuflado a todos os níveis, apre!... onde os ocupantes das esferas arremetiam uns contra os outros num jogo de guerra ficcional, qualquer coisa como os carrinhos de choque, todavia muito mais silencioso, os meus país cortaram-me logo as asas dizendo: Esquece lá isso que é só para meninos grandes, e a negociação nem sequer chegou à mesa de negociações, nem tão pouco ao patamar dos refilanços. E, para me calarem, por certo, abriram a abébia a mais uma incursão ao insuflável, onde dei azo à minha fértil imaginação e, ela foi tanta, que depois de tanto saltar, rebolar e cabriolar algo haveria de correr mal e, de facto, correu. Quando a paciência do meu pai alcançou ao nível zero, chegou a hora do bate asas e o destino foi casa, qual mais poderia ser?... E, foi em casa que o caldo entornou. Aí o cocktail explosivo detonou: Um jantar abusado, o pastel de Loulé, o algodão doce e, cereja no topo do bolo, o retouçar no insuflável, e o copo virou. Vomitei pouco depois de me deitar (acordei tão mal disposta), é a vida! Temos que vivê-la para aprendê-la e contá-la. Vomitada que estava. Passada a agonia, o mal-estar e a aflição: foi dormir à barba longa ou à tripa-forra, qual anjinho… Crime e Castigo, foi o título de Fiódor Dostoievski, que a minha mãe escolheu para iniciar a manhã de sábado e me compensar das leviandades da véspera: Quien todo lo quiere todo lo perde! Sábado. No sábado estava planeada uma deslocação à praia. Pois é sábado, apesar da injustiça, nada pudemos fazer querido sábado. Praia já era ou já se foi. A mãe estava inflexível e irredutível, apesar do meu pai estar pelos ajustes. E, ao simples, como é hoje, lançado ao ar pelo pai, a mãe demolidora retrucou: A miúda ontem esteve mal disposta e até vomitou e tu agora queres ir para a praia, achas? Era o que mais faltava. Perante o cenário quase apocalíptico e as palavras ferinas proferidas pela progenitora “galinha”, recolhemos as unhas e o resto botámos ao cesto. A mãe quando fica brava é brava mesmo, uma verdadeira gata assanhada! E quando quer criar enguiço “sai de ao pé José”… Fujamos que aí vem vendaval total. Moral da história de sábado ou parte dela: Fiquei encarcerada em casa com a mãe, afinal acabou por sobrar para ela também, pois o pai está-se marimbando para castigos e o primo segue-lhe o exemplo. Pegaram no material da pesca e vamos que se faz tarde; Ilha de Tavira com eles, na boa, à pesca. À pesca?... Isso é obra para o meu pai, pois para o primo não passa de uma forma simpática de dizer: Rebolar-se na areia, banhar-se no mar, dormir uma folga sob o chapéu-de-sol e deitar um rabo de olho às bonitonas, areadas e boiadoras. Tudo uma questão de retórica e semântica ou as duas faces da moeda, como queiram!... E para rematar este assunto, no fundo, no fundo, por culpa da mãe, ficámos sitiadas em casa, e essa é que é essa, a feia e atroz realidade atrás da verdade. A mãe às voltas com as tranquibérnias da casa, as elementares e as objecto das suas fúrias de sabor momentâneo. Vejam bem que até arranjou ou melhor inventou, suponho eu, “pechavelhices” para fazer. Enquanto este regabofe geracional de actividade e desgaste de humores decorria, eu, deitada, beberricava pequenos goles de chá de hortelã-pimenta, via os bonecos e, sempre que me comprazia, infernizava-lhe a existência com as minhas insatisfações fugazes e os meus problemas de índole existencial: Que vida boa era a de Lisboa! Não contente com tudo o que aprontei durante a manhã, ainda à tarde, à laia de vendetta, arranquei a mim mesma uma valente sorna. Fiz uma folga e peras. Faço fé de que a mãe deve ter tido um excelente e prolongado momento de paz e sossego, pois não tinha a quem manifestar o seu descontentamento e a sua já mais que domada fúria. Quando o pai e o primo chegaram da pesca já estava mais que acordada, apesar da folga ter sido ultra longa, pudera chegaram quase às nove da noite, que nesta altura do ano ainda é bem de dia, e até já tinha jantado, a fome apertou. Há coisas de que não abdico, uma delas é ver os peixinhos que o pai traz da pesca, não há volta a dar-lhe, quero ver o que vem no balde. E, no balde, vinha uma bela de uma pescaria: Três douradas grandes e outra mais maneirinha e dois peixes-aranha; atenção que o peixe-aranha é muito perigoso, afinfa cada picada que até temos que ir para o hospital, se não houver tratamento por perto. Cuidado com os peixes-aranha pessoal!... Depois da inspecção ao balde da pescaria e da lavagem do material da pesca, o pai lava sempre com água doce as coisas da pesca – as canas, os carretos, o xalavar, o pano e o balde - mandei a canalha toda para o banho, pois cheiravam que tresandavam, a peixe, claro está! O peixe já vem arranjado. O pai tem o cuidado de tratar dessa tarefa no local do crime, ou seja, no mar junto ao sítio onde esteve a pescar, evitando deste modo toda a porcaria inerente ao amanho, as moscas e as vespas e o trabalho inseparável da limpeza do cenário. Ele ainda afirma que as mãos não ficam a cheirar a peixe quando este é lavado na água do mar. Talvez… Após a barrela, veio a hora do jantar que mais hora de ceia se tratava face ao adiantado da mesma. Ainda assim, não prescindiram de coisa fina: Dourada e peixe-aranha, acabadinhos de pescar, grelhados na brasa. Não prestam. Estão estragados. Dá ao gato… miáuuuuu… assim usa dizer o meu pai, numa forma de gozo irónico. No acompanhamento não faltaram as batatinhas cozidas com pele e salada de tomate cor-de-rosa e, para molharem o bico, o pai fez estalar uma Bairrada (Método Clássico) Brut. Ena bem, olha os finórios!... Depois do jantar, e como tinha folgado bem, ainda me atrevi a fazer umas bilharetas conjuntamente com o paizinho que estava já de olho pisco, mas ainda arranjou coragem para me aturar. Todavia, entre duas de brincadeira e uma de bonecos foram-se-me acabando as pilhas e zarpámos todos para a cama, pois o pai amanhã quer levantar-se cedo para preparar as artes para mais um dia de pesca. O domingo começou mentindo para todos nós. Isto porque a ideia do pai se levantar cedo deu em ideia apenas, pois quando nos levantámos para o mundo já o sol ia alto. E, tal como ontem, a pesca foi relegada para a vazante, o meu pai costuma dizer que pescar deve ser de estofo a estofo da maré, ou seja, para os menos entendidos na matéria como eu, do topo (estofo) da maré alta ou preia-mar até ao pé (estofo) da maré baixa ou baixa-mar. Resumindo e baralhando o estofo da maré não é nem mais nem ontem que o ponto em que a maré pára; ou deixa de encher ou deixa de vazar. Hoje, e recorrendo à redundância, tal como ontem, foi o pai que preparou o pequeno-almoço, à excepção do sumo natural que foi obra da mãe e da Bimby. Três ovos mexidos com salsichas às rodelas, muito importante que sejam às rodelas, pão torrado com manteiga da vaquinha açoriana ou azoriana, não uma mixórdia qualquer de margarina vegetal, e sumo natural de laranja e maçã. Eis a constituição do pequeno-almoço. Que para mim ainda teve o reforço da já celebérrima, incontornável e inseparável sopa de legumes. Tudo em seu lugar, verificação da check list, tudo okey e hora do bute, do vamos embora e agora: Here we go Tavira Island. Adoro a viagem para a Ilha. Música alta e todos na chinfrineira dentro do carro, uma algazarra sem par, ninguém se entende nem dá mão a ninguém. É o máximo! À chegada fomos bafejados pela sorte, o Deus Menino estava sentado no banco da frente e providenciou um lugar, fácil, de estacionamento e à sombra. Àquela hora (treze e trinta e picos), só mesmo Ele. E, a isto, se chama de milagre e milagres são a Sua especialidade. E, para ser franca os milagres não acabaram aqui, pois embarcámos logo no primeiro barco que atracou, o que é um verdadeiro milagre (estamos em Julho, não é?... Daaaaa…), o que quer dizer que Ele deveria estar à proa a bronzear-se. Como podem ver mais um milagre ou por contraponto um golpe de sorte e, assim, lá fomos todos contentinhos da vida. Já na ilha seguimos caminhos divergentes. Eu, a mãe e o primo fomos para o parque infantil, pois por um lado estava muito calor mas por um outro para dar tempo a “desmoer” o almoço. Só depois rumámos à praia da ria junto ao cais. A água estava óptima e fiz bem proveito dela. Aliás, com dois cães de guarda, não poderia ter sido melhor. O meu pai rumou direitinho à cabeça do molhe, já nem vos digo qual por tanto redundante. Rumou para o seu lugar predilecto de pesca. Ia a tarde caminhando mais para o seu, delicado, cair que para o seu, aconchegante, meio, quando resolvemos levantar o acampamento - falando assim até parece que éramos uma trupe de ciganos, mas não! Talvez mais um bando de saltimbancos controlados - e ir ter com o meu pai à sua inseparável e adorada pesca. Na bolsa para além do dever moral de alimentar o pobre ainda acrescentámos uma piedosa cervejinha bem fresquinha, a estalar. Justo já não era o tempo e o pobre deveria estar desfalecido pela míngua a que foi votado e relegado. Atenção que não foi por esquecimento, foi por mera falta de lembrança. E não é que eu estava gafa de razão! Não é que o pobre estava mesmo para o desfalecido e pior que desfalecido, desiludido com a pescaria rasca que tinha feito até ao momento, ou seja, não estava a correr mal, estava a correr péssima a pescaria, assim o vim a constatar mais tarde. Todavia, naquele altura, e assim que o vi, em pé, imperial, olhando para as canas e o mar, senti um ímpeto de felicidade a crescer no coração que almejava vivamente por liberdade, liberdade para desatar a correr em direcção ao meu pai e abraçá-lo. Era o meu “eu” que já não cabia nele próprio de tão contente que estava, mais contente que uma pega sem rabo diz o povo – eu é que não vejo motivo para que a pega sem rabo esteja contente, mas isso sou eu e, o povo é que na sua quase eterna sabedoria, sabe-lo bem! - porém refém da mão da minha mãe que agrilhoava a minha. Logo que me libertei do jugo, corri para o meu pai e abracei-o, beijei-o e disse-lhe que o adorava. Como tinha saudades dele e como orgulhosa fiquei ao contemplá-lo. Enchi-o de perguntas, mais do que as necessárias, às quais, pacientemente, me respondeu, também mais do que as vezes necessárias. Cirandei à sua volta, numa gritaria surda por atenção. Atenção que obtive, entre um rabo de olho ao mar que estava batido e, como é bom de ver, perigoso e uns miminhos e umas explicações de ocasião sobre iscos, pesca e material de pesca. Não há mal que sempre dure nem bem que não acabe! Quero eu dizer que fui expulsa por excessos de atrevimento e desobediência, ou melhor por indecente e má figura. Como tal fui recambiada para junto da mãe e do primo que estavam na praia do mar, mesmo ali ao lado, para que para e próxima pudesse cavar ilações e aprender a ser “mais bem” comportada em zonas de risco. Ao fim da tarde e com o voltar da maré um vento desagradável de oeste começou a soprar, aliado a uma densa maresia e a um frio fininho e cortante que antevendo o pôr-do-sol e a consequente perda do seu vigor, se instalaram. Este cenário que aos poucos se foi incrustando em nós, não demorou muito tempo para que explodisse na boca da minha mamã, em forma de ordem de regresso, e por esta ordem, um: Já está frio; Faz-se tarde; Vamo-nos embora. Depois do adeus o meu pai ficou sozinho com as suas pescarias e, este sozinho é literal pois não estava lá mais uma só alma que fosse. Até senti o coração pequenino, quando, ao longe, voltei a cabeça e o vi tão sozinho contemplando absorto o mar; o meu pai nunca desiste, pensei ufana por ele, e de mim por o ter como o meu paizinho querido. Regressámos às Quatro Águas pelo caminho da praia, mais longo todavia mais acolhedor e seguro; panlatim sed firmiter (devagar, mas com segurança), pois a alternativa, o caminho do molhe ou das rochas, apesar de mais curto, é mais conturbado e perigoso, pois é “bajolo” atrás de “bajolo”, desencontrados e desalinhados em mais de metade do percurso. Neste vai e vem de cumprir o longo, e cheio de atractivos, trajecto entre a praia do mar e o cais, a espera pela vez do embarque, o desembarque, o vai e não vai buscar o carro ao estacionamento, o cumprir do lapso de espaço do estacionamento à rotunda fictícia de paralelepípedos de calcário e o carrega a tralha e eis que aparece o meu pai carregado com os múltiplos artefactos da pesca e sobretudo sobrecarregado com a medíocre pescaria do dia, um robalete miserável e três peixes-aranha, vinha desolado da vida, era demasiada carga para tamanha desilusão. Alfim, após cumpridos os requisitos de carregamento do carro e pai carregado, só restava mesmo o regresso, inglório a casa e sem jantar, pois peixe é no mar e há que pescá-lo, o que não foi o caso. No retorno ao sacro santo lar e para que a fome que já abunda não fique por mitigar, pois em casa restam apenas algumas vitualhas, encomendámos uma pizza familiar Quattro Estaciones na pizzaria Olé Pizza. Ou caminho foi curto, o que não é de todo fiável, ou a perspectiva da pizza grande ou ainda a brincadeira com a mãe apetitosa. Qual delas não sei, o que sei certamente é que o celebérrimo “apagão” de viajem não teve lugar. Na pizzaria foi chegar e embarcar e aproveitando o mesmo barco zarpámos para casa. Já em casa a rotina costumeira, e de vós mais que conhecida pelo que vos poupo a detalhes. O jantar, um leve deambular pelas brincadeiras do costume e xelindró pois o dia apesar de não tão longo quanto isso não foi curto no cansaço. Beijinhos da terrível da caneta. Pax vobiscum! O mesmo é dizer: A paz esteja convosco! tÓ mAnÉ (in Laura Solange dixit) - 2013.07.(19,20,21)

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