segunda-feira, 24 de março de 2014

O meu mundo tem dois sóis

O meu mundo tem dois sóis… Um que brilha esplendorosamente para os afortunados e outro que tremeluz, esbatidamente, para os esquecidos. Um que não consente que a noite acenda os seus medos e outro que oculta os dias cintilantes enchendo-os de terrores múltiplos. No meu mundo, que tem dois sóis, nada está correcto e harmónico. Morrem os obesos e os famintos e os outros também. Porque um sol, para realmente o ser, tem que ser fonte de vida. E, no meu mundo, assim o não é. Todavia, no meu mundo, há um sol que cria, enquanto outro há que mata. Há o sol da paz, da harmonia e da prosperidade e, em contraponto, há o sol da guerra, da miséria, da fome e da destruição. Sóis diferentes para gentes diferentes: O sol dos ilustres e o sol das plebes. Há o sol dos brancos e dos negros que é diferente do sol dos amarelos e dos vermelhos. Poderíamos misturar de outra forma as cores, pois esta foi aleatória, que os sóis não mudariam, ambos continuariam muito iguais a eles próprios. Face a este problema incontornável e dualista e, como o mundo é meu, vou dar-me ao luxo de desenhar um sol, um sol que banhe todos de igual forma, mas que consinta o respeito pelas suas diferenças e pelas suas culturas. Não sou Deus mas Este deu-me o aval de criar, o livre arbítrio de consciência e o dom da imaginação. Recorrendo a eles vou conceber um terceiro sol: O sol da igualdade, da justiça e da solidariedade. Um sol mais abrangente quer no âmbito quer no conceito. Um sol raiz de todas as coisas. Um sol para todos e não só para alguns. Um sol piedoso e misericordioso. Um sol pleno de abundância e destituído de mínguas. Um sol que ri e chora quando a isso é compelido. Um sol mais humano quanto toca tudo e todos. Um sol que acarinha e alimente a diferença, donde floresce o fundamento do mais profundo saber. Um sol que admita a noite e a lua, como seus pares, não lhes restringindo quer direitos, quer deveres. Um sol que brilha intenso, mas que se sabe ocultar quando é necessário que chova. Um sol que deixe viver e morrer com a dignidade inerente ao ser e ao saber. Em suma um verdadeiro sol. Regente e magnânimo para todos os seres vivos e matéria morta. Nasce sol meu.
tÓ mAnÉ Editions

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