sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Gritos!... Suspiros!... e Lamurias de amor...

Gritos!... Suspiros!... e Lamurias de amor...
Introdução... Introspecção...

Tó!

Este desenho, é aquele que sempre te fez sonhar... pegar na caneta e escrever.
Escrever aquilo que sentes e que não sabes dizer, mostrar ou dar aos outros.
Vai Tó, sonha ao longo das páginas deste meu livro; vai e sonha, sonha...




Loulé, 01 de Julho de 1988

tÓ mAnÉ

Viver


A sombra é a imagem perfeita,
A morte a sombra da vida,
A vida é uma folha,
Abana ao vento e à poesia.
Navegando o rio da vida,
Chega-se à felicidade... à agonia;
Roça-se as margens do amor
E, por fim,
Desagua-se na sombra da vida.

tÓ mAnÉ

Vivências

Num abrir e fechar de olhos,
Vê-se tudo ou não se vê nada!
Abrindo o coração abre-se a alma
Vive-se!... sofrendo... mas vive-se!
Ao fechar o coração, fecha-se a porta
Morre-se!... vivendo...
Num abrir e fechar de olhos
Somos nós quem decidimos;
Um amigo... um sol... uma vida plena e vívida
Um nada… sozinho... uma morte em vida.

tÓ mAnÉ

Um dia quem sabe…

Sonho sobre ti a vontade do meu querer
Derramo no lençol, insensível, o mel do meu desejo
Acordo sentindo em mim teu cheiro
Latente no pano manchado
Que de longínquo não se quedou
Em mim esquecido.
Impregnado, bem fundo, no meu ser,
Clama pela chama que das cinzas se erga
Em desiderato de mim,
Esse teu ardor há tanto adormecido.
Sonho esse teu perfume
Que me embriaga os sentidos
Sonho esse teu corpo
Que solta a minha ternura
Oiço a tua voz, doce, rouca e serena,
Chamando no fundo do meu coração
Quase dizendo que me ama,
Mas sempre dizendo que não!...
Sinto a tua pele macia
Roçando o teu santuário
Rezando, dia a dia, uma oração de anseios
Que de tanto à virgem pedirem
E, por de ouvidos não serem
Ao ostracismo se entregam
Almejando vindouro dia
Que a chegar se nega
Em seu egocentrismo se apega
Esquecendo, relegando, o sentimento
Que na entrega voluntária, emana
Por si e em si se eleva
Em superior dádiva
Que, mais que dar, se oferece
Concedendo a plena entrega.
Sabor de querer, tão intenso assim,
Nem, a Deus se nega. 

tÓ mAnÉ

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Transeunte

Uma praça, desolada, vazia de gente
Um automóvel, indolente, que passa
Um banco, solitário, de jardim
Uma sombra, triste, de plátano.
Meio-dia; uma hora da tarde?...
Que importa...
Nada altera, nada muda
Nem tão só um grão de plia
Na verdade o que impera
É a inclemência da acalmia.
Cidade morta, sob o sol implacável
Queimando a vontade de quem passa
Quebrando a quietude da praça.
Enquanto a cidade dorme
De passos indolentes
Dirigidos a lado nenhum
Tomba, vacilante, na vontade
O transeunte.

tÓ mAnÉ

Tormenta


Tormenta!...
Tempestade!...
Rio sem esperança,
Sem esperança do mar alcançar.
Deserto! Rio de areia,
Areia árida e cálida,
Água, ondulante, sem mar.
Céu cinzento, vento, álgido, a uivar,
Chuva cuspida, despudoradamente, no chão,
Rolando; imunda, surda, em turbilhão
Gorgolejando! engolida na sarjeta,
Gemendo em súplica última: “mar, mar...
Tempestade!...
Tormenta!...
Água em contestação, revolta…
Propósito; o mar alcançar
Aí, em remanso, repousa   
Água livre de sonhar...

tÓ mAnÉ

Sou...


Sou...
Sou... sozinho,
Sozinho sou...
Desespero, ilusão,
Ilusão de ser quem sou,
Sem saber se...
Sou ou não sou...
Porque... o ser que sou...
Já foi!...

tÓ mAnÉ

Só nós


Há um cantinho,
Um cantinho, que é só nosso,
Ninguém pode lá entrar.
Só nós o conhecemos,
Apenas nós lá cabemos,
É o nosso cantinho.
É lá que te digo “amo-te”
E, lá, que tu me amas.
Traz-me o pedacinho
Do teu cantinho
Para juntar ao meu bocadinho
E... nós murmurar-mos “amo-te”
Entre dois beijinhos...

tÓ mAnÉ

Saudade


Onde estão os dias de verdura?
Os olhos em fogo
Do corcel cor de sol?
Derramando vontades e ternura,
Sobre corpos sem face, sem alma
Apenas e tão-só corpos, nada mais!
Urdindo teia sobre teia
Ilusão sobre ilusão
Rasgando velas ao vento forte,
Desbravando veredas sinuosas
Quer nas portelas quer nos pontais.
Tempos áureos sem marcas nem máculas
Marcas e máculas, trá-las o tempo!
E, hoje, desses tempos,
Nada é concreto, nada é real
Excepto,
Os corpos sem face e sem alma.

tÓ mAnÉ

Salvem “Aquilo”

Salvem a vida de um político,
Tirem-lhe o pé que pressiona o pescoço,
Talvez, só talvez...
Se escape de morrer afogado
Em merda, mentira e prepotência...
Ontem, eras ninguém
Hoje, já sabes tudo!
E, achas isso possível, acreditas piamente!...
Parabéns!...
Para génio apenas falta-te...
Tudo aquilo que não sabes,
O que, ao cabo e ao resto,
Não tem importância, é irrelevante,
Pois, tu, já sabes tudo!...
És Deus!... um deus menor...
O deus das coisas comezinhas, miudinhas e mesquinhas.
Ah, como és ridículo Homenzinho…
E,
Mais ridículo é não te aperceberes disso,
É acreditares que de facto tudo sabes…
És tu onde quer que estejas e Deus no céu.

tÓ mAnÉ

Ria de lágrimas


Ainda é cedo, mas já é tarde,
A luz não traz a vista,
Porém, na ria e no mar,
As águas correm ou batem;
O salgado é igual em qualquer lugar,
Na ria, no mar ou numa lágrima.
Corre a ria para o mar
Corre a lágrima pela face.
Mudam os cursos mudam os rostos
Mas...
O mar é o mar,
Uma ria é uma ria,
Uma lágrima uma lágrima;
Quando rolam
Nos seus leitos ou nas faces.

tÓ mAnÉ

Reconhecimento

 Sobra tempo
 Quando a vontade prevalece
 Até o tempo que é o tempo
 Parece que adormece.
 Com amor
 O respeito semeia-se
 Sendo,
 Em apreço,
 Que se paga
 Aquilo, que é facto,
 Não tem preço.
 Deixando em nós
 Um desconcerto
 Que no fundo
 Reconheço,
 Com palavra única:
 Obrigado!

tÓ mAnÉ


Quem vem lá?...

Lama; imensidão nua e fria...
Poça; charco e medo...
Solidão do tempo passado...
Deserto; quente e implacável...
Mar de sal; sapal...
Corda de roupa branca,
Estendida no chão.
Sufoco, inferno e escuridão...
Loucura, provinda do nada
Punhado de ilusões
Mortas precocemente
Esperança de hoje
Descrença de amanhã...
Quem são eles?...
De onde vêm e para que vêm?... e porquê?...
Não sei, cogito e não escrutino,
Mas uma coisa eu sei, sei que não vêm por bem!...
Vêm por mal, sinto-o...
Mas... porquê?...

tÓ mAnÉ

Quando só

Sinto-me só!
Muito só...
Quando estou longe de ti
Meu amor,
Meu sol,
Sol do meio-dia solar
Queimando o meu peito,
Incendiando a minha paixão.
Longe de ti,
Muito, muito longe...
Sinto-me só!
Muito só...

tÓ mAnÉ

Quando eu...

Quando eu morrer,
Rasguem-me o ventre!
Arranquem-me as entranhas,
Atirem-nas aos lobos!...
Saciem a eterna fome dos animais
E, quando o festim acabar,
Abatam-nos!... um a um,
Com respeito, com dignidade,
Os animais, mais que o Homem, merecem!...
Abram covas...
Uma por cada animal abatido.
Esquartejem-me! Sem dó nem piedade
Tantas partes quantos os animais,
Abram-lhes o peito voluntarioso e altaneiro,
Embutam cada uma das peças,
Tornem a fechar.
Enterrem-nos!... um a um,
Com carinho, com amor
(Lembrem-se que são meu sepulcro,
Minha morada final)
Derramem uma lágrima,
Uma só e só uma, em cada cova
De onde brotará um lírio roxo,
Que ano após ano florescerá,
De um espinho, em cada pétala, dotados virão 
Todavia,
Por cada espinho, um grito da minha dor,
Um uivo, ao céu elevar-se-á
Este, de uma vida, o legado será.
Triste,
Dissabor de um amor que não voltará.

tÓ mAnÉ

Propositum


Neva!... o frio corta,
O vento trespassa
E,
No coração da noite,
Um rosto, traz a candeia.
Ilumina!
Todavia não há trilho
Porém no andar, titubeante, indefinido,
Vê-se e lê-se a esperança de chegar.
O frio e o vento não vão parar!
Passo a passo a morte aquece,
Vivendo no espaço... contudo, não vence
Um coração com um fim, com um fito:
O de encontrar aquele lugar; aconchego
Está perto... um passo...
Aquele abraço de vento frio,
Um laço... apertado ao pescoço,
Finalmente,
Um beijo... aquele abraço.

tÓ mAnÉ

Poderia

Poderia dizer que te amo; mentiria por certo
E tu… rir-te-ias de mim; correcto!
Assim, digo que te quero; sincero e aberto
E tu que farias?... de mim…; incerto.   

tÓ mAnÉ

Passagem

Vive em mim doce ilusão do tempo,
Tempo que passou num ápice
Sem olhar para traz.
Sei que errei! Não me arrependo!
Voltarei a errar, se necessário, assim o for.
Mas... será que...
Nova alma me fala; chama…
Doce e mansa, terna manha;
Serpente venenosa e peçonhenta,
Matas se mordes; morro do teu veneno.
Parto desiludido, na esperança
De novo sonho
De nova passagem
Ínfima fenda
Que luz emane…

tÓ mAnÉ

Paragem/Bloqueio

Estou parado de um todo,
O meu cérebro não quer funcionar,
Um “estou em off” perfeito
Recusa-se terminantemente a pensar,
(Pensar é uma recusa em si)
Gira sobre si mesmo; enclausurado
Divaga sobre tudo,
Não obedecendo ao meu comando
Como se dono de vontade própria,
É um barco desgovernado, à deriva
Em mar tempestuoso,
É luz de sua vontade
É impiedoso e cruel
É cio liberto ao vento
É cavalo galopando as nuvens
É fuga de mim,
É um milagre que não nasce,
É revolta,
Sou eu!...

tÓ mAnÉ

Pára um pouco e... pensa...

É urgente...
Urgente que se faça
E que não se faça.
É urgente...
Urgente que se discuta
E que não se discuta.
É urgente...
Que se cale e se fale
Que não se cale nem se fale.
É urgente...
Que se oiça e se seja surdo
Que não se oiça nem se seja surdo.
É urgente...
Que se ame e se odeie
Que não se ame nem se odeie.
É urgente...
Que se trabalhe e se descanse
Que não se trabalhe nem se descanse.
É urgente...
Que se viva e se morra
Que não se viva nem se morra.
É urgente...
Que se pense
E que não se pense.
É urgente...
Parar, reflectir e concluir.
Só o tempo tem urgência,
Urgência em passar,
Tudo e resto pode esperar,
Não tem urgência.
Urgente! é sim, parar e pensar...
Pois,
Urgente, urgente é, se possível, não errar!...

tÓ mAnÉ

Outra realidade

É imprevisível o que pode acontecer
Quando a vivência do dia a dia
Derrete, inadvertidamente, sobre nós
Um “floco de neve”; a vida!
Que ergue um imaginário, passo a passo,
Levando-nos, de mão dada, a caminhos
Que nunca nos atrevemos a palmilhar.
Luta, desigual, que em nós grassa,
Conflitos, ilusões e desilusões
Afectos, amores e paixões
Meros flirts ocasionais
Que, de mais, não passam.
Levando-nos ao erro, ao engano
Sugerindo que, na realidade, até vivemos.
Só e tão-só, a vida,
Ri de nós, escarnece!
Pois, de velha, muito velha, sabe
Que por ela não passa
Quem não souber viver
(amor e desdita)
O pouco da vida que nos abraça.
Vivendo outros não aprendemos a viver
Vivemos vida que não é nossa;
Outra realidade, outra dimensão...
Farsa!
E, o “floco de neve”, que em nós subsiste,
Perde luz e graça
Derrete! Definha!
Esfuma-se na sombra de uma existência diáfana.

tÓ mAnÉ

Orgulho da força

Abrem portas gradeadas,
Forjam espadas e lanças nas bigornas,
Alimentam cavalos nas estrebarias,
Vestem trajes bélicos,
Ecoam cânticos em uníssono,
Levantam nas almas o ânimo,
Derramando rios de vinho
Entre os rebanhos.
Gritam: ”Morte! Morte!...”
Com o freio nos dentes,
Açaimados, amordaçados e...
Ainda assim; gritam:
“Morte! Morte!...”
Violam lares e mulheres,
Pilham bens e haveres,
Matam velhos e crianças.
Trazem no sangue e no peito
Azedume, destruição e vingança.
Olham, cegos e sedentos
O resultado da chacina e...
Desfigurados de ganância e ódio
Gritam: ”Morte! Morte!...”

tÓ mAnÉ

Olhai


Rasgos profundos; sangue!
Garrotes, torniquetes,
Laços impiedosos; apertados!
Sufocam, a verdade, às gargantas,
Gritos arrepiantes; surdos!
Brotando do peito aberto; raiva!
Risos escarninhos; mudos!
Desaferrolhados ao silêncio; noite!
Olhos, cegos, em frente olhando
Sem nada ver e nada para ver
Olhos esbugalhados; espanto, dor!
Contudo, ainda sobra o lamento; espaço!
Pinga, na poça, uma lágrima; lamacenta!
E, ao lado do suor, ainda quente,
Mancha rubra a terra cobre
Tragando-a, digerindo-a!
Sem remorso ou contrição.  

tÓ mAnÉ

O sonho

É tudo tão difícil,
Quando permanecemos de olhos abertos,
Tudo é mais fácil,
Quando fechamos os olhos ao mundo.
Os problemas!...
Resolvem-se ou solvem-se,
Num fechar de olhos;
Passam por nós, como se de outrem se tratassem.
A realidade dura e crua
Enche-nos de dúvidas materiais,
Tantas vezes sintéticas e obsoletas,
Fazendo-nos sofrer e chorar.
Fechando os olhos; sonha-se acordado
É tudo mais fácil, mais directo.
O sonho é lindo mas...
Acordar desperta em nós
A realidade dura, perversa e concreta.
Abre-se o leito, vem a cheia,
A grande enxurrada aproxima-se,
Não há força que a sustenha.
O grito é inevitável, a queda está ali.
Agora, há que levantar, recuperar
E esperar a época das chuvas,
Da limpeza e da clarificação do espírito.
Sim! agora é esperar,
Esperar o amanhã, o depois...
E que, dias melhores nos encham os olhos
De uma esperança nova.
Há que libertar os sentimentos,
Aprender a dizer o que se sente,
Sem receios nem freios;
Abraça este defeito,
Ama-o! como se virtude fosse
E projecta-te no mundo gritando:
Viver é bom!... é fácil,
Basta abrir os olhos e sorrir”.

tÓ mAnÉ