sexta-feira, 26 de julho de 2013

Interlúdio (entre o chegar e o partir)



De pára-quedas, stratus, de seda pura, anil, pousei delicadamente aqui, no teu quintal. Espero, sinceramente, não ter danificado o teu relvado, aveludado, viçoso e muito bem acarinhado. Vou limitar-me a dar uma vista de olhos de pura e crua curiosidade e deixar uma leve pegada na tua vereda de saibro, recoberta com um lencinho de seda animal, vermelho, pois visto de preto, levemente, discretamente, perfumado com uma gota, subtil da mais rara fragrância do mundo. O meu perfume; odor corporal, só para te dizer que aterrei aqui, no teu quintal. Agora, desfeita que está a curiosidade, vou pedir ao vento que sopre, encha, insufle o meu pára-quedas, stratus, de ar e me impulsione no espaço. E, em voo ascendente para o mundo. Aí, já lá do alto, deixo cair uma braçada de beijos sobre o teu quintal, são todos para te agradecer a hospitalidade; podes-lhe dar um cheiro diferente, não é, nem será grave. Volto a cabeça, sigo o meu caminho mas, contudo, deixo a minha porta, feita de nada e em lugar nenhum, entreaberta, quiçá te lembres ou sintas vontade de me visitar... já vou... e agora que dum pontinho no espaço não passo digo-te adeus e desejo-te muitas felicidades, todas as do universo que percorro de lés a lés, procurando, avidamente, pelo o que a ti te desejo, que, inexplicavelmente, quando chego já, inexoravelmente, partiu... deixando a reminiscência, ténue, desse olor que, freneticamente, procuro mas todavia não logro alcançar.
Não desisto! E, procuro, procuro e procuro.

tÓ mAnÉ  Editions  (Al Andaluz) 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Crónicas FDS da Laura – Registo VI


Olá! Olá sem mais… mais nada. Apenas olá!...
Sem mais delongas vou iniciar este meu FDS pelo fim de tarde de sexta-feira. Atribulado é a palavra exacta para o descrever, não fosse ele sexta-feira 13, aliada à palavra pressa. Pressa na ida ao parque infantil, pressa em ir para casa, pressa para tratar dos cães, pressa para tomar o banho, pressa para vestir e arranjar e por fim pressa para sair de casa; como podem ver ou ler pressa em tudo e para tudo, arre!... Odeio pressas que não as minhas, claro está.
E, tudo isto porque íamos jantar a Quarteira à Taberna do Peixe com o amigalhaço e colega do meu pai e família: O Bernardo conhecido por Bernas, o seu irmão o Guilherme cognominado de Gui – que andam lá na escolinha - e os pais deles o Tony e a Susana. Combinações de adultos e em cujas negociações eu não tive palavra ou melhor, à boa maneira portuguesa, nem fui tida nem achada.
Todavia não deixou de ser muito agradável, apesar da birra que o Gui fez, porém na idade dele; ele é criança mas uma criança ainda muito pequenina, ainda está no carrinho e não corre nem salta connosco, o que é uma chatice pois sempre era mais um para o desassossego e ajudar no granel.
Quando nós chegámos já a família Salvador tinha assentado arraias; eles são a família Salvador da mesma forma que a minha é a família Baptista, estão fundadas em cima do último nome dos pais machos, coisa que eu não entendi ainda muito bem o porquê, mas deixem que eu vou perguntar ao meu pai. Ai vou, vou.
Olhem para eles todos quietinhos e aprumadinhos, sentados na esplanada da Taberna do Peixe. Esperem que eu já vou tratar de resolver o assunto. Ora isto pode lá ser?... Vou abrir a minha bolsa exclusiva onde guardo os pozitos da desinquietação e o soluto do irrequietismo que vou lançar sobre este ambiente morno e parado, até porque o entorno é excelente para o efeito; uma rua inteira sem trânsito e montes de esplanadas e elementos de configuração similar. Uáuuuuu… cheguei e vummmmm… lança, lança pozinhos e soluto e está criado o ambiente que resvala para o descambe total, apesar de não poder cair em, ou atingir limites ou contornos de abuso generalizado. Senão a mão pesada da justiça ou aquilo que os adultos concebem enquanto tal vai-se derramar sobre nós e a brincadeira, retirando toda a graça ao requinte de um ambiente deveras favorável. À que fazer atenção à linha que separa o abuso da licenciosidade, pois à vontade não é seguramente à vontadinha, seguramente.
Neste espírito, estrito, a brincadeira cruzou a rua, os espaços, o interior do restaurante e até alguns forasteiros de ocasião que se juntaram a nós, ocasionalmente, nas indisciplinas disciplinadas ao rigor que a situação exigia, ao grau de “marauzada” admitido e de “mariolice” aceitável.
 Houve que interromper estas longas secções por algumas curtas-metragens. Entre elas destacam-se a hora do jantar em si, a hora da sobremesa ou melhor do gelado e a hora dos preparativos para a revoada geral; pequenos interlúdios de mansidão no meio de um oceano revolto e em permanente mutação; apesar das advertências pontuais e alguns “venham cá” ou “onde vão” mais ríspidos mas nada que assuste estes piratas destemidos e intrépitos.
A estafa foi de tal calibre que, até chegar a csa, foi um sacrifício. Valeu o colo do pai e da mãe, em alternância, pois já vou ficando pesadota. E, daqui a mais não me vejo obrigada…
Ainda não vos contei e isto sim é uma novidade das grandes, inédita mesmo: Fomos passar o fim-de-semana a casa da avó Aurita a Quarteira. E, o mais engraçado mas que não tem graça nenhuma é que eu só soube quando acordei no sábado, quase de madrugada. Ó pá! Até fiquei assustada, acordar assim num local desconhecido é uma sensação assustadora. E, Assim, o dia iniciou-se em gritaria e “choraminguice”; Ó mãeeeee…                 
- Sim filha! A mãe está aqui.
Corri para o outro quatro. Apesar da penumbra e da obscuridade logrei chegar sã e salva, sem acidentes de maior que não o derrube da flauta da tia Rosário, o que não é nada demais para quem tem um conhecimento muito reduzido do espaço onde voga meio à toa, que se acabou de levantar e, para quem, ainda está assim para o estremunhado e aturdido. Nota mais para esta minha acção e/ou incursão.
A manhã iniciou-se com um pequeno-almoço de mulheres; eu e a mãe. O pai ficou a fingir que roncava, o que de facto não era de todo a verdade e a realidade. O malandrão fica na cama a fazer preguiça. Acho que ele não tem disponibilidade psicológica ou pachorra para aturar mulheres, e a sua tagarelice, logo pela manhã e para não ser indelicado fica na cama fingindo que dorme ou melhor fica na cama a caçar ratos. Espera estrategicamente que abandonemos o acampamento e só depois abre as asas para o mundo, feito anjo negro ou cisne branco ou ainda pardal atrevido… Isto de homens só mesmo homens sabem… é para esquecer!... Todos os dias o filme é o mesmo, até a película, para mim que sou ainda pequenina, já está mais que gasta; colada, “recolada”, puída e queimada, qualquer dia já não passa na bobine da Super 8. 
Depois do pequeno-almoço a duas dedicámo-nos a vestir “a cueca de praia ou de banho” também conhecido como fato de banho que, depois, aparece sob a forma de variadíssimas variantes e cambiantes, aqui por casa usa-se o biquíni tradicional versão curta.
O segundo passo foi o “arrumanço” das várias componentes da “túrgia” de praia: Pára-sol, toalhas de praia, pareo (trapo de andar amarrado às mamas e também cumpre funções de toalha de praia e vá-se lá saber que mais…), cremes protectores e acessórios variegados que seria uma verdadeira seca estar aqui a enunciar semelhante panóplia.
O passo seguinte foi a excursão, de aproximadamente 100:00 metros, entre a casa da avozinha e a praia, o escolher do lugar de “estacionamento” mais propício e a montagens de arrais o que por vezes se torna numa tarefa árdua face à minha calma nervosa não me deixar estar um segundo só que seja meio quieta, o que se complica ainda mais quando se trata de me “barrar” o protector solar. Só depois ocorre a parte interessante. Aí a minha mãe passasse! A saga do creme protector, as correrias para a água e para todos os outros sítios possíveis, as construções e demolições na areia, os banhos, o não querer abandonar o recinto da “banhoca”, ainda que tremendo de frio e a bater os dentes que nem castanholas, em mãos de sevilhanas experientes, e mais um mundo de coisas que a mamã adora.     
Adentrada já ia a manhã quando o meu pai chegou todo gingão e sorridente. Pela certa já tinha bebido o seu cafezinho e, feito uma mão cheia de páginas de leitura e, mais importante sem ninguém a xingar-lhe a “bolinha”.
Estendeu calmamente a toalha na areia, despojou-se dos elementos supérfluos e, de cu para o ar, deitou-se, dizendo com um sorriso aberto, mais aberto que o pára-sol: Bom dia meus amores.   
E aí a coisa azedou.
Bom dia só se for para você, diz a mãe sarcástica e já impaciente com tantas e variadas iniciativas e intentos de eu me portar como uma linda menina mas ela assim o não entender. Quem percebe os adultos, digam-me lá?...
Sorte o meu pai estar bem disposto e lhe ter feito ouvidos de mercador. Mudou de assunto e já está.
- E que tal um banhinho filha?
Nem foi preciso dizer duas vezes, pois, não caiu em ouvidos alheios. Agarrei-me a ele aos beijinhos e lá fomos para o mar. Aí começaram as lições de natação, os mergulhos controlados, os remoinhos, os barcos a motor, as corridas e saltos nas ondas… A brincadeira estendeu-se até o meu pai achar que já estava a ficar com frio. Regressámos às toalhas. Secámo-nos. E de seguida fomos os três dar um passeio higiénico, como diz o meu pai, pela praia, quer ele dizer com isto ir ver os biquínis ou o conteúdo deles; as gajas.
Depois do agradável passeio ainda houve tempo para mais uma agradável “banhoca”, bem como uma agradável preguiça sobre a toalha para secar os bigodes à gatinha.
Concluída esta árdua, mesmo hercúlea, tarefa, levantámos “aquilo” que mais se assemelhava com um acampamento de ciganos que a uma ordinária “estação de equipamentos de apoio a banhos”, e, uma vez, que o sol já ia alto e o calor era desaconselhável para crianças da nossa idade, enviámos uns beijinhos ao mar e iniciámos o carrego do material, enfiámos as enfias e rumámos a casa.
O merecido descanso do guerreiro. Antes porém tomámos um banhito de água doce, para retirar o salgadinho e as areias remanescentes e, aí sim, jogámo-nos aos sofás como os pinguins às plataformas das massas polares.
O almoço estava preparado de véspera, salada de cantaril; o cantaril é um peixe vermelho que feito em salada parece lagosta, não é que eu tenha alguma vez comido lagosta, mas ouvi o pai dizer, bastava juntar azeite ou maionese; a gosto, acompanhado de umas cervejolas a estalar, como diz a mamã, e de aguinha fresca para mim. Uvas. Serviram de sobremesa. E desta forma findou o repasto.
Depois de almoço andei por ali a brincar mas, como na casa da avó Aurita de Quarteira não há bonecos, nem tem muitos pólos atractivos para crianças da minha idade, e como estava cansada da estafa da manhã, depressa começaram os ruidosos bocejos, porém tão depressa quanto chegaram assim se calaram quando cai no sono, aiiiii…; sou eu a cair no sono.
Quem disse que uma bela duma folguinha não faz milagres? Quem foi, quem foi?...
Acordei nova. Com uma nova energia, com uma nova vontade de ir para a praia, com uma nova vontade e um predisposição para a “gandaia”. A mesma coisa não puderam dizer os meus pais. Problema deles! Azar não dormiram a folga. Agora eu quero sair, eu quero ir para a praia brincar e tomar banho e, por enquanto quem manda aqui sou eu!
Carregados os tarecos e sob a minha liderança aqui vamos nós praia.
Já na praia o filme foi idêntico ao da manhã, com duas cambiantes: A maré estava baixa o que ajudou, em muito, a vigilância dos meus pais e as minhas brincadeiras de areia e pedras, assim como os banhos, pois o mar estava flat o que permitia que eu lá andasse sem problema de maior, apesar do meu pai estar sempre junto a mim.
Ao fim da tarde, o pai, foi comprar gelados de máquina, aqueles encaracoladinhos, de duas cores, que correspondem a dois sabores; eram de morango e chocolate e enormes, foram quase um jantar.    
Face ao ângulo de inclinação do sol no poente e à aragem fresquinha que se estava a instalar, o meu pai decidiu que já estava na hora do regresso e, sem delongas, assim foi.
Sem contestações de maior. Acho que aproveitaram o meu cansaço para me ludibriarem. Olha eu não reclamar, coisa nunca vista…
Arranjadinhos e cheirando bem, saímos de casa para jantar. A noite já caía quando entrámos no restaurante “Fernando’s Hidewayay”, uma steak house ou em português uma casa de bifes em Quarteira. O Fernando é amigo do pai e comemos uns belos duns bifes tenrinhos acompanhados de batatas fritas e arroz branco. Aqui também arranjei companhia para a “moina” só que ele caiu e aleijou-se e assim, abruptamente, como tinha começado acabou.
Sobrou tempo para uma voltinha pela Marginal de Quarteira ou Calçadão, termo importado do Brasil – Copacabana – tal como os brasileiros ou a música brasileira que animam os estabelecimentos de toda a Marginal, à excepção das barracas dos ciganos e tendeiros afins, órfãs de música mas cheias de pregões.    
Da Marginal a casa vai um salto de pardal; a casa da avozinha está separada desta pelo parque de estacionamento. O que a torna uma emoção quase toda a noite. Até porque o muro que separa o estacionamento da Marginal é denominado pelo muro das lamentações dos bêbedos, que tem como ex libris a seguinte citação: Inxignifincante parrede nã tens indeias pliticas nim coisínsima ninhuma; e lá vai mais uma na garrafa de “tintol”, seguida de novo desabafo…
Deitada sonho acordada com o dia de amanhã. Mas não por muito tempo, zzzzz…
Estava eu já escarrapachadíssima na praia, nesta linda manhã de domingo, quando apareceu a família Sebastião; mais uma vez os machos é que mandam nos nomes das famílias, no resto era o que mais faltava, ou seja, a prima Sofia, a tia Rosário e o tio Mário, facto inédito pois normalmente vai passear com a amante; a bike, por locais inefáveis e longe daqui de preferência; uma vez foi a Espanha e ganhou um presunto, a que se deverá a honra de tão insigne visita. Bem isso não interessa nada. O que interessa é que está aqui a prima e a loucura do dia a dia vai começar. Iáuuuu…
Este cenário só tem um problema: Os vigilantes aumentaram para cinco, a prima também conta, ou talvez quatro e meio, ela conta mas não tanto. Por vezes até alinha numa ou outra mais extravagante.
Fixe, fixe, fixe!... Baril, baril, baril!... Hoje tenho companhia e montes de atenção e, o tio Mário revelou-se num compincha supimpa, alinha em loucuras fixes e inventas outras ainda mais ousadas. Estou mesmo a gostar deste final de manhã na praia, tem sido um lufa-lufa e um “ufa-ufa” imparável. Mas a hora de almoço está por aí a aparecer, pelo menos assim a minha barriguinha o diz.  
E não é que eu estava gafa de razão! Curto foi o tempo entre o pensamento e a acção, um “puf”… Logo começou a arrumação em módulo de escape livre e a toda a mecha. Foi num ai que tudo ficou pronto para o pontapé de saída da zona balnear. O chuto foi dado pela prima e o resto da pandilha seguiu-a incondicionalmente.
O almoço foram os restos de ontem acrescidos de umas sobras do mesmo dia. Parece complicado mas é simples: Restos o que sobejou do almoço, todavia de uma refeição ainda não utilizada, nova, em 1.ª mão. Sobras o que havia para o almoço e não foi utilizado mas proveniente de uma refeição anterior, já utilizada, isto é em 2.ª mão. Perceberam?... Tanto faz. Associado a uma frutinha fresca.
E, não sei se por assolada pela fome, estava delicioso. Mnhã, mnhã, mnhã…
O obrigatório período de repouso, estava escondido, debaixo da toalha da mesa, que ao ser retirada me atingiu como se fosse uma lufada de ar quente, que de facto estava, e atirou comigo na cama para iniciar uma merecida siesta. Aos outros não sei o que aconteceu, pois nada me reportaram, mas o meu pai deitou-se comigo, quem vê a barba do vizinho a arder põe a dele de molho, e o ontem ainda estava bem presente, e caiu de imediato em inconsciência profunda e roncou, roncou abundantemente, literalmente falando.
Do castigo, que não o foi, à recompensa.
Após o descanso, cerrámos fileiras em direcção à praia de Loulé para mais um momento espectacular de bem estar e divertimento geral, que vou descrever em poucas palavras pois a palestra já vai longa e fastidiosa pela certa.
Eu e a prima andámos a brincar às piscinas e aos castelos de areia. A maré estava vazia e propiciava-se à constituição de matéria quer prima quer imaginativa. Também não faltaram os banhos e os mergulhos. Os adultos ajudaram nestas tarefas todas e ainda tiveram tempo para descansar e ler estendidos nas toalhas e à sombra do “sombrero”.
Passa tempo em passa tempo o tempo passou e com a sua passagem, chegou a hora de dizer o nosso adeus até à outra à praia e aos divertimentos a ela associados.
Banho para toda a gente. Banho de água quentinha e doce.
Toda a gente arranjadinha e bem cheirosa pois vamos jantar fora à Pizzaria Mamamia.
O caminho entre a casa da avozinha e a Pizzaria é sempre um mundo de aventuras e “cabriolices” e quando vem a prima… uáuuuu… é diabrura completa, nós as criancinhas somos mesmo assim e, até costumamos dizer: Brincam as crianças e os adultos assistem.
O jantar como se perspectivava foi pão de alho em massa de pizza e pizza com um apêndice de sopa de legumes para mim. Pssst… o meu pai é que teve que acabar a sopa. Ele disse que estava óptima. Regado com umas imperiais para eles, os adultos, uma Coca-Cola para a prima e um Lipton Ice Tea de manga para mim.
A noite findou com mais um passeio pelo “Calçadão”, que estava bastante animado, música, cor, um mundo de gente e rebuliço por todo o lado. E, eu ajudei na bagunça, mas com o meu toque pessoal e muito singular, que é muito meu e eu não vou aqui revelar, logo parem de “cuscar”, está bem?...
E, a bem dizer, seguiu-se a retirada estratégica para Vale da Rosa à qual apenas assisti à Parte I “ A fuga”.
A “rabalona” do lápis afiado.

tÓ mAnÉ   (in Laura Solange dixit) - 2012.07.(13,14 e 15)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Crónicas FDS da Laura – Registo V



Trim-trim, trim-trim…
- Está lá…
- Sim, é a Laura!...
- Eu sei claro…
- Não, não me esqueci, vou-a escrever!...
- Tchau.
Oops… Já começaram as reclamações por andar atrasada com as minhas crónicas. Não fazia ideia de ter tantos leitores. Obrigada!
Devo esclarecer que a culpa não é minha mas sim do meu papá que anda armado em calão e, também, porque tem andado atarefado lá com as coisas dele, que devem ser muito importantes, pois passa horas fechado no escritório às voltas com o computador.
Na verdade encontro-me ansiosa e também receosa por recomeçar, apesar de ter feito umas notitas ou cábulas, pois muita coisa irá por certo ficar esquecida ou por dizer ou menos bem relatada ou até mesmo ferida de algumas imprecisões. Todavia, e alfim, o importante mesmo é escrever ou descrever as coisas boas e más que me ou nos aconteceram.
Sexta-feira a minha mãe foi buscar-me à escolinha e depois fomos para o Parque Municipal brincar, quero dizer eu brinquei e a minha mãe andava atrás de mim, feita polícia (daqueles que põem as multas quando se não põe o “ticket” no tablier do carro) e, por acaso, até estava trajada de azul. Vigilante chamava-me, amiudamente, à atenção para certos perigos e pormenores, aliados àqueles “aparelhómetros” fixes: escorregas, baloiços, balancés de mola, cordas que mais parecem teias de aranha, passadiços, varões, etc…
Até existe, no parque infantil, um repuxo que hoje em dia todos chamam de bebedouro e que, antigamente era usado para dar água aos animais, enquanto o pastor bebia nas fontes, bicas, poços; acho que voltámos ao estatuto de animal mesmo, basta que vejamos o comportamento de quem nos manda ou diz que o faz.
Tem também um chão muito fixe e bonito, vermelho, molinho, porém quando caímos ficamos com a pele queimada e muitas tampas de caixas em ferro que quando caímos em cima delas podemos fazer um dói-dói na cabeça, é perigoso, não acham?
Outra coisa que não percebi é porquê que as casas de banho junto ao parque infantil não têm aparelhos sanitários para crianças, pelo menos uma sanita e um lavatório, quer para os meninos quer para as meninas. Será que os Srs. que fizeram os ”mnecos”, quero dizer os desenhos ou os projectos, só se lembraram dos grandes, porque são grandes, será, será?...
Constatei estes factos por experiência própria, o primeiro quando aterrei sobre o tapete de agregado emborrachado, queimando as minhas mãos, o outro quando inadvertidamente caí sobre uma tampa de ferro e esfolei o joelho, mas como sou uma menina muito forte não chorei nem nada, e por último quando, aflitinha, fui à casa de banho das meninas, e bolas! Não fora a minha querida mamã tinha feito um xixi nas cuecas, pois as sanitas eram desadequadas à minha condição de criança com três aninhos, o mesmo se poderá dizer dos lavatórios, ai, ai, ai,… vamos lá a mudar isto, afinal no parque infantil, e tal como refere o nome, existem muitas crianças, acompanhadas de adultos é certo mas crianças e nós crianças somos pequenas e pequeninas…   
Deixando para trás estes pequenos reparos devo dizer que: adoro parques infantis! São um mundo de diversão e descoberta, de erro e tentativa, de frustrações e vitórias, enfim um mundo que nos faz crescer mais saudáveis e criativos onde cada corrida é um amigo, onde cada escorregadela é um sorriso, onde cada baloiçada é um grito efusivo de alegria, onde cada pausa para descansar é um carinho, onde a rebeldia é premiada por mais uns longos minutos de permanência no campo de batalha, onde eu sou ao mesmo tempo a princesa e a guerreira, até que a mamã volte de novo à carga com o: vamos Laura que já se faz tarde.
Finalmente os argumentos acabam e o inevitável acontece, a mamã agarra-me ao colo e, sob contestação, eu ainda peço, esperançosa, uma vez mais: só mais um bocadinho, mas já não cola. E, aí, em desespero de causa lanço mão do meu último argumento do meu último recurso e choro. É sempre assim, irremediavelmente, que terminam as visitas ao parque infantil: em grossas lágrimas e veementes protestos.
Aqui vou eu direitinha ao carro, mais aborrecida que um peru em véspera de consoada, para logo de seguida ser presa à cadeirinha e a minha mãe tirar o azimute a casa. Não é justo eu queria ficar só mais um bocadinho ou melhor até ser noite, não era pedir muito para quem está a crescer como eu.
Chegada a casa, ainda amuada, mas já conformada, deu-se início ao ritual de fim de tarde, com uma ligeira diferença ou nuance, hoje é a mamã que está a tratar dos cães. Calçada de galochas e carregando o balde dos torrões lá vai a mamã em direcção ao canil… e eu, bem eu também quero ir, era o que mais faltava eu não ir, eu já sou grande e quero ver os meus cães; eles são lindos, não vou mais falar deles porque já conhecem as peças de artilharia aqui das minhas crónicas de FDS. Guerra armada, pois claro! A minha mãe não quer que eu vá. Tem medo que eu caia ou que os cães me façam cair. Que eu me aleije: já não chegou o parque, diz ela, com ar de poucos amigos. Por fim lá se salvou a honra do convento com a chegada da tia Vitalina que me pegou na mão e me livrou de todos os perigos do mundo e me consolou ou expiou a frustração que se acumulou com o crispar do diálogo. 
Esquecida; eu esqueço rapidamente, da situação e sem guardar qualquer tipo de rancor, desatei de novo na brincadeira e quando a mãezinha voltou atirei-me nos seus braços louca de contentamento e aos beijinhos. Adoro a minha mãezinha querida.
Enquanto a mãe estava no canil e os cães, loucos, corriam por todo o lado, felizes por uns momentos de liberdade ainda que efémera, aconteceu algo muito estranho e que eu não entendi muito bem apesar de ter provocado a risota geral. Foi assim: O Goya saltou para cima da Lucy a vá da dar ao rabo, “zunga, zunga, zunga”,… deitando para fora, assim como a mãe faz com o batom, uma enorme pilinha (a avó Ilda é que disse que era a pilinha dele) vermelha arroxeada. Estão a rir?... Haviam de ver. Aposto que também ficariam admirados. O Goya é pequenino e com aquela coisa enorme, pendente, a rojar pelo chão, arfando e babando, olhem que até fiquei a pensar que ele estava doente. Vejam bem que a Lucy até lhe rosnou, mordeu e fugiu. Pela certa a coisa era séria e perigosa ou pelo menos nessa qualidade o entendeu a cadelinha e ela não é parva nenhuma, não. 
Incidentes esquecidos e retoma da vida na sua plena normalidade: Banho, jantar, “mnecos” e compartimento da penumbra e esquecimento. Será que, como disse Shakespeare “Somos feitos da mesma matéria que os sonhos”?...  
A manhã de sábado foi madrugadora, nasceu cedo. Gosto de acordar cedinho, fica mais tempo para a brincadeira e para os “mnecos”. A mãe levanta-se sempre comigo, já do meu pai não posso dizer o mesmo. Mas hoje foi diferente. Não é que o maroto se levantou cedo outra vez. Mas eu sei porquê: Vai para as benditas aulas de pintura. Sempre quero ver se tem jeito para a arte dos pincéis e da tinta. Hoje supostamente vão acabar os garatujos. Aleluia! Estou farta de ficar os sábados de manhã em casa. A fazer de tudo e de nada e de tudo um pouco e a ver sobretudo “mnecos”. Quando o tempo já vai de praia, está um colorzinho fixe, isto é um desperdício, não acham?... Bem, vamos lá ver o que é que a fruta vai render, diz o povo.    
Não é que eu não aprecie ficar em casa com a minha mãe mas nem tanto ao mar nem tanto à terra. Variar é o conduto da vida, dá-lhe aquele gostinho a aventura e faz o coração bater mais forte e rápido.
Ora vamos lá ver o que nos reserva a tarde, até porque nesta lufa-lufa o tempo voou e o papá já apareceu por aqui ou seja chegou e a hora de almoço também. Hoje o almoço é fora, na casa da avó Aurita, eheheheheh… estavam a pensar que era nalgum restaurante fino?... Pois enganaram-se ou eu enganei-os. Vamos comer choupas grelhadas - choupa é um peixe, por sinal óptimo, para quem não souber -com os devidos acompanhamentos e a fatídica sopa, esta nunca ou quase nunca falha.
Para nos refazermos da trabalheira que é almoçar fomos fazer uma folguinha quase colectiva, quase porque a minha avó foi tratar dos destroços do almoço. É um trabalho sujo, eu sei, mas alguém teria que o fazer. Sobrou para a dona da casa.     
Descansados os guerreiros do “marfanço” e digerido o objecto do cansaço, urgia dar um destino à pandilha e este foi de consenso e unânime. Um saltinho à praia vinha mesmo a calhar. O tempo ajudava e pedia e o corpo exigia. Logo não houve como dizer que não, até se configuraria de apostasia.  
Na praia. Oh! Na praia. Mas que maravilha. Esplendorosa, fantástica, soberba, magnifica, etc e tal…
A água mais parecia sopa. O mar estava calmo e convidativo apesar da pequena ondulação que o animava de um movimento lento, harmónico e indolente e que compelia ao “splash”, a um par de braçadas e à brincadeira do chapinha-chapinha.
Construímos uma piscina gigante, fazendo um paredão em areia molhada e em forma de ferradura para possibilitar a entrada da água lateralmente, aproveitado o subir da maré, mas impedindo a sua saída. Foi mesmo divertido e bastante pedagógico. Aprendi geometria e estruturas, o funcionamento hidráulico do refluxo do mar e o estado da maré propício à construção e consequente enchimento do dique. Realizámos uma verdadeira obra de engenharia de barragens, onde executámos as mais finas e requintadas tropelias e brincadeiras.
Porém, ainda que muito bom, tudo tem um fim. O mar encheu em demasia, apossou-se da nossa represa e destruiu-a, acabando com o sonho e a brincadeira. Todavia, o final da tarde já se avizinhava, e com ele resolvemos recolher a trouxa, não sem antes “colher-mos” umas fotografias artísticas, de um ângulo absurdo, que o meu pai inventou, mas que se revelaram espectaculares. Não, não. Não vos vou contar o segredo. Talvez vos mostre, só talvez…
Deixámos a praia, com muito pesar meu, e parámos no apoio de praia poente, para refrescar ideias e garganta. Seguidamente fomos lavar o corpo e a alma à casa de Quarteira da avó Aurita, donde partimos para o jantar na Pizzaria Mammamia, na companhia da tia Rosário, da prima Sofia Miguel e do tio Mário que já estavam lá em casa quando chegámos. E como muitos fazem uma companhia lá fomos nós.
Não sou muito adepta de pizza pelo que comi uma sopa de legumes fabulosa, enquanto o resto da matula se repastou com pão de alho e pizza, intercalados por umas valentes imperiais e Coca-Cola para a prima. Eu bebi água.
Chegada a hora da conta e da divisão da mesma, foi pagar e cada um fez-se à vida. Em comum, restou, o espaço entre a Pizzaria e a casa da avó.        
Cansada. Adormeci quase de imediato. E, para dizer a verdade completa, foi uma directa.
O domingo revelou-se mais relaxado que o sábado. Todavia, a manhã já entradota na sua provecta idade, foi ocupada pela “cafézada” no Tertúlia Café e o irremediável momento de leitura do meu pai, este é quase como a Bíblia “sagrado”. Findo este fomos fazer uma quase também irrevogável visita aos cavalos, desta vez é o meu momento que, deslocados para estes lados, também se pode aferir enquanto “sagrado”.
O tempo é um comilão desmedido de segundos, de minutos e até de horas e aquele que passa já não volta para trás e corre inexoravelmente para a hora de dar ao corta palha ou ao serrote. Contudo, resta-nos uma incumbência a cumprir pelo caminho de regresso, nos entremeios. O primo André espera-nos, enquanto comensal, em sua casa. Nós somos a sua boleia para o almoço e o almoço é em “casa nostra”, é assim como “mi casa su casa” apesar do almoço ter um menu assim para o italiano: Sopa de abóbora com espinafres e massa fusilis de variegados sabores e cores acompanhada por peito de peru cortado aos bocadinhos-bocadinhos, isto é, mesmo pequeninos, com molho de natas. Como vêm coisa simples.
A restante tarde foi pacífica e descansada. Entre as brincadeiras com o primo e os meus país, restou tempo suficiente para uma bela duma folguinha, para descansar a beleza, e estragar o euromilhões do sono nocturno que teimava em não se conciliar com a minha electricidade acumulada, que só se dissipa sob a forma de energia despendida. Causando o desespero dos meus país que queriam descansar e bater com a pestana no mundo do faz de conta que conta mas afinal não conta porque geralmente ninguém se lembra ao acordar.   


tÓ mAnÉ   (in Laura Solange dixit) - 2012.07.(06,07 e 08)

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Sob "eu" a sorte e o destino

Sob a forma de tempo 
Encho-me de mim,
Só!
Neste caminho 
Que corre o meu destino
Sobranceiro!...
Altaneiro no seu desígnio.
Superlativo!...
Na essência do meu querer.
Insólito!...
Pela natureza do propósito.
Passo que predestino
Apesar de, em cada um e no qual,
Vislumbre que de destino
Destino
Não há!...
Apenas, um:
O momento!...

tÓ mAnÉ   Style

Carta rogativa



Mulher andas a perder o teu marido e, com ele, um pai para a tua filha. De ti não tenho pena mas da minha filha, da minha menina, já outro galo canta.
Mulher, tu, simplesmente, estás surda aos meus apelos, aos meus gritos de alerta, aos meus sinais e até aos meus avisos. Fechaste-te na tua teimosia, na tua obstinação, nessa tua postura compulsiva de eu quero posso e mando, no eu é que sei. Na inflexibilidade pura e dura.
Erro após erro, insistes em errar e a acumular nos mesmos erros de sempre. Erros gastos de tanto se repetirem, erros já puídos do tempo, erros mais que falados, erros mais que discutidos, no entanto, sempre, sempre reincidentes. Erros que paulatinamente, por ablepsia tua mulher, repetes e acumulas, ao meu já tão pequeno mundo, tão pequeno querer, pois eu nem quero muito; um café pela manhã a tempo e a horas, um pouco de atenção e carinho e uma vida sexual activa, e que a cada dia que passa, me trazem o afastamento de ti e me enchem a alma de solidão, tristeza e males de ela mesma, de alma.
Eu, mulher, não queria que assim fosse, e a minha irritabilidade é a prova, incontestável, de que luto ainda por ti, é a prova, irrefutável, de que ainda te amo.
Teme! Teme, mulher, se é que isso ainda te trará ou fará alguma mossa e esse, inclemente e empedernido, coração que mais parece morto para mim e essa boca que morde as palavras antes de as cuspir em cima de mim, da minha dignidade, acusando-me, injustamente, de não te entender ou de que as coisas não se fazem sozinhas ou, como ultimamente tão subtil, arguta e capciosamente aprendeste, a fazer: Que só abro a boca para te irritar ou tirar a boa disposição, ou desses teus ouvidos que só ouvem o que querem ou lhes aprouve e pior só transmitem ao teu cérebro uma versão, riscada pelo lápis azul da censura, apesar do ano que corre ser o de 2013.
Estava eu a dizer que: Teme mulher! Sim teme! Teme o dia em que eu deixar de me importar com o que tu denominas de “minhas miudezas”. Teme! Que esse “não me importar” será o dia em que eu deixei de lutar, deixei de me importar, que desisti de ti e pus um fim à minha miséria, por não ter mais vontade, nem me fazer mais sentido, mendigar!... Mendigar por uma migalha de atenção, mendigar por uma plia de carinho, mendigar por uma foda, até; perdão pelo palavrão ilustrativo ou pela versão mais vernácula de um fazer amor ou ter sexo! Teme!...
Estou a dizer-te isto, que já foi falado e discutido em demasia, chegando mesmo à exaustão, recorrendo ao artifício da escrita, pois, talvez e só talvez – desculpa o reiterado recurso à epizenxe mas é importante que dê ênfase às palavras chave desta homilia para que lhe atribuas de uma vez por todas o devido impacto no contexto geral, não as prejudicando com variantes semânticas ou descontextualizando-as, perdendo-se assim todo o seu real valor – esses teus olhos, que lêem, transmitam a esses teus neurónios, atrofiados para a minha peroração, a mensagem, límpida, que esses teus ouvidos não tiveram a chance de censurar, pois pelo que te conheço ou me é dado a conhecer, não tens o hábito de ler em voz alta e, isso minimiza os riscos de contágio e deturpação da mensagem em dois sentidos: Um. Não vás estar a contestar com essa tua boca, incauta, nas palavras, tendenciosa e facciosa na forma contumaz e repetida de dizer. Ou, se o estás, está-lo só. Dois. Não contestando, não criando ruído de fundo, nem ecos indesejáveis, talvez o teu nervo óptico te leve a mensagem directamente ao córtex cerebral, clara, límpida, cristalina, evidente, assertiva e pragmática, livre das poeiras contidas nas palavras faladas – verborreia poluída -, dos maus entendimentos ou dos entendimentos transversais e o que é absolutamente essencial plenas de solidão e silêncios.
Falei, no início, do pai da tua filha ou de um pai para a tua filha e não do teu marido, isso porque são coisas distintas, apesar da “união” que os une e dissocia também.
O teu marido é aquele a quem tu deves dar algumas sobras, alguns restos a babuja da tua vida. O pai da tua filha é aquele que deveria, se tu o deixasses, ter um peso significativo na educação da miúda. Ser um marco, um padrão e um farol na sua vida. Uma capa protectora fina, muito fina – tal e qual o Porco Fino, dos bonecos da televisão, que consegue, milagrosamente, face à sua finura adoptar as mais diversas formas e utilidades – que lhe permita uma percepção do ser e do estar e não um abafo que lhe retire as mais ínfimas capacidades de protecção imunitária a uma sociedade agreste que ela deverá estar capacitada de enfrentar com valentia, com intrepidez, com destreza e com valores fundamentais. Pois só assim poderá sobrelevar-se e vencer.
Com isto quero-te dizer que: Não quero da minha filha uma menina ou uma mulher mimada, quero uma guerreira, uma mulher talhada para vencer tudo e todos, todavia com valores e princípios.
Como já deves ter reparado ou deverias ter reparado ela já não é mais um bebé, ela já é uma pequena grande mulher. E, se não for agora, que lhe incutamos princípios e valores, dificilmente o é, ou já não o será! E quem somos nós para lhe negarmos esse futuro, ou melhor sonegarmos esse futuro, que é dela e só dela afinal?...
Não posso mais aceitar esse teu: Ser mãe galinha e piegas ainda por cima.
Se amas, como clamas, a tua filha; a Laura Solange. Muda! Dá-lhe a oportunidade de crescer sadia de corpo e alma e livre, solta, irreverente e mesmo um tudo ou nada insolente.
Amei-te desde que te conheci. E amo-te! Não duvides!
Respeitei-te sempre desde então. E respeito-te! 
Procurei dar-te uma vida diferente, com outros horizontes, com segurança e construída em cima de uma base sólida de amor, respeito, amizade, compreensão e solidariedade. Porém, estes alicerces não foram suficientemente sólidos, ou assim me parece; irónico, pois enquanto engenheiro, essa deveria ser a minha especialidade e deveria estar capacitado para isso; ter acautelado, pois parece que, apesar de tudo, tens conseguido minar, o que não deveria ter acontecido nem era desejável, ao longo destes últimos quatro anos e tal, este meu trabalho, com apenas dois ou três agentes perniciosos: A obsessão, o desapego e a falta de uma entrega genuína e espontânea, o que, também, não deixa de ser irónico, por serem justamente, para mim, os agentes reagentes com a minha estabilidade o meu equilíbrio quer físico quer emocional. Se não fosse tão triste e drástico seria um excelente motivo para edificação de uma, hilariante, anedota.  
Nota, mulher, que não falei em liberdade apesar de ser muito importante para mim, crucial mesmo, mas aqui não se pode mexer sem muitas vezes restringir ou ferir a liberdade dos outros – a minha liberdade acaba quando começa a interferir com a dos outros. E, porque, faça-se jus à verdade, não tenho razões para grandes queixas, pois quando ela me faltou, foi a minha consciência que a negou, sonegou ou a castrou e não tu, mulher.
Eu não queria escrever um discurso, apenas meia dúzia de palavras ilustrativas da situação que ando a viver, porém, as palavras para mim são como as cerejas, o mal é eu propor-me ou predispor-me a escrever a primeira.
Vou dar por concluída esta minha missiva dizendo-te duas coisitas: Uma. Luta por mim, tal como eu tenho vindo a lutar por ti, claro, se isso ainda te comprazer. Duas. Eu não sou perfeito, longe disso, mas ainda assim, na minha ou melhor na nossa imperfeição, amo-te!

tÓ mAnÉ   Editions

Um só um!

E por amor seremos sonho
E por sonho sentimento
E por sentimento seremos uno
E por uno seremos muito mais
E por sermos muito mais seremos tudo
E por sermos tudo seremos amor
E, por tudo isto e ainda muito mais
Seremos tu, eu e nós…
Um só um!

tÓ mAnÉ  Stlye

Trajecto de existência



Assim, neste vazio
Que eternizo, numa manta,
Cheia de palavras
Ditas, não escritas.
Faço soar o eterno sino
Que nas laudas
Chama à oração
Aqueles que no vazio
A alma deixam,
Por sorte do destino
Ou destreza da desgraça,
Descalços,
Percorrem o caminho de pedra fria
Cuja única luz é a vela que os alumia.
E, assim,
Nesta lúgubre procissão,
Do santo ao pecador,
Todos nela vão.
E eu, que em ti, um vazio deixo,
Vou na frente,
Firme a cada passo,
Pois sei, que de um valor vazio,
Não passo.
E assim vou marcando o passo,
Sincopado a compasso
Espaço a espaço,
Que da pessoa o vazio deixa,
No seu valor,
Que, como de bitola, o fosse,
Na vida e na morte,
Assim não o deixasse,
Patente e, em devassa, exposta,
A medida do seu trajecto;
Límpido ou abjecto...

tÓ mAnÉ  Style

O Largo da Igreja Matriz



O Largo da Igreja Matriz, na sua forma adâmica era constituído pelo terreiro ou largo da Igreja de São Clemente, adjunto ao limítrofe antigo cemitério da velha “Lauroé”, hoje ecumenicamente designada por Loulé, mutilada na sua génese através dos tempos por variegadas declinações latinas, quer por via popular ou erudita, quiçá; senão vejamos: reza a lenda que D. Fernando I de Castela cognominado o Grande, nas suas incursões pelo AL-FAGNAR, na companhia dos seus cabos de guerra, certo dia ao se acercarem de uma alcáçova moura, estes “travando-se de razões” quanto à natureza de uma certa e determinada árvore que encimava a muralha da mesma, retrucou: “Laurus ést”, o mote para o nome estava dado e a partir de então começaram as várias mutações ou transmutações; Laurus é, Lauroé, Laulé e por fim Loulé, assim de loureiro que era a Loulé passou.
Segundo os anais da estória, esta era uma área “tampão”, quer em termos militares, civis, sociais, comerciais e de distribuição do tráfego pedonal e de tracção animal, pois localizava-se num dos principais acessos à vila; porta sul, quando a guarda de armas franqueava a então denominada Porta de Faro, que rasgava a muralha em arco românico, ainda hoje patente, todavia “entaipado” na fachada norte da Ermida de Nossa Senhora do Pilar que foi construída a posteriori, tendo-se à altura rasgado novo arco atípico na muralha a poente do anterior e que ainda hoje cumpre funções de acesso ao, por contumácia, ainda designado Largo da Matriz. Até ao século XVI, este conjunto constituído por o Largo da Igreja Matriz e o Largo do Anjo, foi indubitavelmente, em termos de estratégia urbanística, o primacial centro irradiador e de penetração para e do interior da histórica e velha urbe, cujas origens remontam aos dias antes da luz de Cristo “A vila já existia antes de Cristo algumas centenas de anos, como atestam velhos alfarrábiosin Quadros de Loulé Antigo – A Alma de Loulé em Livro – (pág. 16) de Pedro de Freitas. Deste conjunto (Largos da Matriz e do Anjo), divergiam uma panóplia de vias que transpunham a vila nas várias direcções de uma forma, que remotamente se poderia classificar de tentacular; Rua Martim Farto, Rua da Cadeia, Rua da Matriz, Travessa dos Anjos e Calçada dos Sapateiros, e que forneciam a necessária “irrigação”; sistema de vasos sanguíneos transmissores do fluxo vital, aos mais dispares equipamentos (sociais, comerciais e industriais) e espaços públicos, da urbe, Alcaidaria, edifício da Vereação, Cadeia, Portas do Castelo, etcaetera.
Hoje, e assim, de estória em estória o velho Largo da Matriz transmudou o seu tonitruante nome e as suas funções primevas. Foi cindido, primeiramente, no Largo Batalhão dos Sapadores do Caminho de Ferro e Largo do Anjo, no dia 1º de Maio de 1937, aquando da visita, para realização da Festa Anual de Confraternização, relativa à comemoração do 19º aniversário do seu regresso a terras pátrias e ao sacrossanto seio familiar, às insignes terras louletanas dos antigos combatentes da Primeira Grande Guerra (1914 - 1918) “Batalhão dos Sapadores do Caminho de Ferro”, que tinham como gnoma “Sempre Fixe” e seu comandante General Raul Esteves, expedicionário a França em 1917, cujo grande impulsionador foi o também antigo combatente, soldado e clarim do Batalhão o Sr. Pedro de Freitas, nosso ilustre conterrâneo, que justiça lhe seja feita, moveu o Céu e a Terra, contrariando todas as contrariedades, passe a redundância, para que na suso referida data, que por ironia do destino ou força da casualidade coincidiu, nesse Ano da Graça, com a realização, anual, da Festa Grande da Padroeira da Vila Nossa Senhora da Piedade, outrossim conhecida por Mãe Soberana, com pompa e circunstância, fanfarra, discurso de ocasião, de oportunidade e de conveniência, de índole social e político; arrebatador, enfadonho, acendrado e circunstancial, entre vivas e cheiro a naftalina descerra-se a placa comemorativa da efeméride, onde se sepultava em campa rasa o Largo da Matriz e como Fénix renascia das suas cinzas o hodierno Largo Batalhão dos Sapadores do Caminho de Ferro, onde se podiam (e podem) ler as seguintes palavras:

LARGO
BATALHÃO SAPADORES DO CAMINHO DE FERRO
DISTINGUIU-SE NA GRANDE GUERRA
EM FRANÇA, PRESTIGIANDO O PAÍS
CONDECORADO COM A TORRE E ESPADA
E CITADO NOBREMENTE PELAS AUTORIDADES
INGLEZAS E FRANCEZAS
VISITOU ESTA VILA EM 1-5-1938

Sujeito às marés politicas, que vão e vêm e ademais, inverosímeis, impulsos e arrufos de ordem social e ímpeto individual, o vetusto Largo da Matriz alvo da impiedade dos Homens e dos tempos, lambendo as suas feridas mais ligeiras e aplicando esparadrapos nas mais profundas, retirou-se (no meio de tanta e sumptuosa pompa, solidariedade e honradez) discretamente e em estado de ataraxia, dando lugar ao novo e exuberante inquilino, sabendo, no entanto, no mais profundo, no mais intimo, no âmago e recôndito lugar da sua alma que o seu povo, ufano e concho, jamais o lograria olvidar; o puro atavismo venceria, e que o tempo faz justiça ao tempo, ainda que o Homem esqueça que ambas as premissas são pilares basilares das leis universais; ”Quem puder dominar os temores da morte, sairá do seio da terra e terá direito a ser iniciado nos grandes mistérios.”.
Assim, o início do seu destino foi traçado; pungente, o “coup de grace” foi desferido com a visita a Loulé, em 18 de Dezembro de 1937, da Comissão Executiva da Festa Anual de Festas dos antigos combatentes do Batalhão dos Sapadores do Caminho de Ferro e a reunião nos Passos do Concelho, mui dignamente presidido por Sr. José da Costa Guerreiro. O ponto sem retorno, o momento em que a história passou à estória; “consummatum est”, ocorreu no 20 de Abril de 1938 quando a Exma. Câmara deliberou, sem qualquer renitência, obliterar o Largo da Matriz, em prol, conforme comunicado à população em 28 de Abril de 1938, cita-se: “…, de forma que das manifestações produzidas resulte uma grande propaganda do Concelho, por todo o País.
Mudam os tempos, mudam os Homens e muda a vontade; o mundo parece que cresce quando no fundo é o Homem que o inverte e/ou subverte: O ínclito inquilino a 16 de Junho de 1938, foi decepado na sua toponímica; perdeu o verde da sua existência, o Jardim do Largo do Batalhão Sapadores do Caminho de Ferro (antigo cemitério), passou a ser denominado Jardim dos Amuados, novamente por deliberação camarária “dura lex, sed lex”; niilificação? não, tudo ficou no seu lugar! compulsiva vontade de mudança, inerente ao ser humano que por “arcanae obices” a julga intemporal, todavia na sua precariedade e transitoriedade, flutua ao sabor do tempo, de quem rege e à falência do seu reinado; rei morto rei posto diz o povo e o povo é sábio, porém, e infelizmente, na sua sabedoria não é rei é grei.
A 16 de Junho de 1938, por deliberação camarária foi criado o Jardim dos Amuados (diz a estória que o nome se deve à disposição espacial dos bancos do jardim – costas com costas) que renasceu do malogrado Jardim do Largo do Batalhão Sapadores do Caminho de Ferro, como suso referido, do alto destas muralhas, a poente expostas, gerações de louletanos, politicaram, socializaram, namoraram e entrementes aproveitando o emmeio contemplavam o pôr do sol, que os agraciava de matizes deslumbrantes na sua policromia e variância. Neste caso o nome não faz jus à estória, que não quando algum(a) indígena, por motivos inconfessáveis, ia prender a “burrinha” ao jardim. 
O percurso deste Jardim não pode ser dissociada da história do Largo da Igreja Matriz de São Clemente, mais precisamente ao terreiro/adro da parte correspondente ao antigo cemitério; senão vejamos: em 20 de Fevereiro de 1878 a Exma. Câmara deliberou o seguinte, sicLimpeza do Largo da Matriz, compreendendo o cemitério velho e terraplanagem do mesmo.”, a 20 de Junho de 1888, nova deliberação camarária exarava “A Câmara deliberou fazer um muro de 1 m de altura à frente do terreno que fora ocupado pelo cemitério velho, no terreiro em frente à Igreja Matriz, e colocar nele uma grade de ferro e portão a fim de fechar aquele espaço destinado a jardim.” e por fim em 29 de Janeiro de 1890 foi deliberada “Arborização da parte do largo ocupado pelo antigo cemitério.
Actualmente o Jardim dos Amuados sofreu sopro dos ares do tempo a da modernidade, no entanto, e apesar de ser um miradouro privilegiado sobre a cidade, abarcando e abraçando Loulé quase de sul a norte, na vertente poente, encontra-se subaproveitado e desadequado, pese embora as vãs tentativas de remodelações ocorridas.
O Largo do Anjo era terreiro que constituía parte do adro lateral da Igreja Matriz de São Clemente e que se assumia como um espaço estratégico entre a Igreja Matriz e a Porta de Faro. Vai de lá senão quando “mutantis mutatis” o Largo do Anjo (ecos ancestrais, muito ténues, reverberam no ar, trazendo-nos um ligeiro arrepiar de pele como que provocado por uma suave brisa outonal, são ecos muito distantes, quase inaudíveis, falam-nos dos infantes e/ou anjinhos, eufemismo muitas vezes usado quando o ultimo estertor saía da boca de uma criança de tenra idade; cemitério de anjos e/ou crianças) “puff” foi um ar que lhe deu ou quiçá uma falta de ar, finou-se para nascer o Largo Professor Cabrita da Silva. João Cabrita da Silva, de sua graça, foi professor do ensino primário, instruiu os louletanos durante quase cinco décadas. Veio a falecer em Lisboa em 05 de Maio de 1936. Postumamente a Câmara Municipal de Loulé, em apreço ao seu trabalho e dedicação, prestou-lhe homenagem pública através da toponímia e com a criação de um prémio escolar com o seu nome.
Hoje, apesar da toponímica existente: Largo Batalhão dos Sapadores do Caminho de Ferro, Jardim dos Amuados e Largo Professor Cabrita da Silva (que se localizam centralmente relativamente à malha da velha urbe na freguesia de São Clemente; Santo que lhe é padroeiro, local onde convergem e/ou divergem as seguintes artérias: Rua da Cadeia ulterior Rua Almeida Garrett, Rua Martim Farto; Calçada dos Sapateiros; Rua da Matriz; Travessa dos Anjos; e Travessa da Nossa Senhora do Pilar, continua a ser conhecido e designado por Largo da Matriz, é como se tivesse redivivo, recalcitrantemente, na boca do povo; uma mão lava a outra e as duas lavam a cara.
A Igreja Matriz, outrora, como anteriormente referenciado, Igreja de São Clemente, com a sua fálica e ingente Torre Sineira, onde, no seu términos, se encontra alcandorado um cupulim, que, no cumprimento do seu munús, ao longo de gerações de egrégios louletanos, chamou a grei à oração; crentes e incréus, às festividades, às celebrações fúnebres e quando assim se justificou a rebate; alma de muitas almas, “Agnus Dei”, rua de muitas lágrimas, agonias e alegrias, quis Deus, e assim o Homem dispôs, que a imponência e magnificência da forma, corpo e santidade, rivaliza-se com a sua altivez terrena, embora consciente do seu papel monumental e impar no desenvolvimento – profano e religioso – da alma de um povo ufano de si próprio e da sua cepa ancestral, forjada em bigornas de ferro, fornos e tinas de água, dando origem às mais dissemelhantes matizes e gradações de ser e estar; do tudo ao nada - sopro que eleva a pluma ou  bota cardada que esmaga insecto incauto – lobrigar lapidar semelhante pedra preciosa ainda em bruto era e é, cada vez mais o é, no sistema esofágico da ecúmena, em que o predador e vitima se confundem numa camuflada cortesia de quem vai abocanhar quem e quando, numa ablepsia e/ou prosopagnosia compulsiva colectiva, ablegando e obliterando a razão, traduz-se numa tarefa hercúlea cooptar vontades marginais e singulares em torno de um ideal; o fazer o bem e o bem-fazer e estar, desiderato acerbo, mas outrossim sublime “Dei gratia”.  
“…a Igreja Matriz é o principal monumento religioso, a Casa de Deus, a Catedral de Loulé,…”, Pedro de Freitas dixit, as origens desta igreja remontam à segunda metade do século XIII, provavelmente encomendada pelo arcebispo de Braga D. João Viegas que, em 1251, incumbiu os frades dominicanos de construir vários templos no Algarve. No século XVI foram acrescentadas algumas capelas laterais e construídos cinco retábulos, destacando-se o da capela das Almas. Os terramotos de 1775, de 1856 e de 1969 danificaram bastante esta igreja. A intervenção no edifício após este último terramoto valorizou alguns elementos medievais adulterados na reconstrução oitocentista. Foi classificada como Monumento Nacional em 1924; Diário do Governo n.º 137, de 20 de Junho de 1924.
Presta-se aqui, por relevante, uma homenagem a quem muito fez pela igreja, pelo povo e pela terra que o albergou o viu viver e falecer, ao dilecto padre João Coelho Cabanita, homem de grande devoção e saber, também conhecido, carinhosa e respeitosamente, entre as gentes da terra e arrabaldes, como também fora da zona de influência do município, por “prior Cabanita”, a quem todos muito devemos enquanto homem e condutor de rebanhos abnegado e arreigado à sua comunidade. O seu sentido de dever, lealdade e responsabilidade foi irrepreensível, a sua missão sempre renovada em cada desafio da vida e das vidas, a sua demanda da senda da fé, o seu julgamento misericordioso e compassivo, a sua vontade e disponibilidade de ajudar o próximo, enfim um sem número de atributos morais e humanos ímpares que nos escusamos, por amplo conhecimento de vida e obra, de enumerar, relembrando contudo e tão somente um estrato de texto que nos deixou o Sr. Pedro de Freitas, sic…, sacerdote de altas virtudes religiosas, correcto, disciplinado, tão popular como aplicado ao múnus do seu evangelho, …”. 

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A Travessa e a Ermida de Nossa Senhora do Pilar



A Travessa da Nossa Senhora do Pilar, deve a sua nominação ao local de culto que posteriormente aí foi edificado no século XVII; Ermida de Nossa Senhora do Pilar. Julga-se tendo em conta o sistema defensivo da época e alguns resíduos do tempo, que outrora esta via era o acesso à Porta de Faro, hoje patenteada em alto-relevo na parede norte da Ermida. Este acesso seria inicialmente perpendicular à muralha e flanqueava esta a nascente, pelo seu exterior, entre um torreão e a muralha, percorrendo esta paralelamente a sul até à referida Porta de Faro que franqueava o acesso à urbe. Este sistema providenciava um sistema de defesa acrescido e conferia um controlo das entradas e saídas de pessoas e bens. Posteriormente com a construção da Ermida; ocupando a viela existente entre o sistema torreão/muralha, esta foi rasgada no local onde se encontra a “nova Porta de Faro”, ainda hoje remanescente; Deus quando fecha uma porta na terra, abre uma janela no céu de onde irradia uma luz, que se mantém a brilhar para todo o sempre.
A Ermida de Nossa Senhora do Pilar, como atrás foi referido, foi construída no século XVII, muito posteriormente à muralha, bem como a algumas edificações erigidas no exterior desta. A Ermida ergueu-se num espaço existente entre uma casa de habitação, um torreão e a viela de acesso à Porta de Faro, a construção foi adossada a uma casa de habitação, a um arco e à muralha, na parte exterior a esta, e está localizada junto à “nova Porta de Faro”.
A Ermida é composta por uma nave única, capela-mor e sacristia.

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