Pouco passava das
12:45 horas do dia 22 de Março de 2013 quando trespassei a porta principal do
restaurante “O Pescador”, localizado na Rua José Fernandes Guerreiro - excelso
Presidente da Câmara Municipal e poeta desta, então vila, e, que num elogio
fúnebre a um amigo, assim reza a história, usa das seguintes palavras: Vida! Oh! O que é a vida? Oceano de luta,
eira de trabalho! -, paralela à fachada poente do Mercado Municipal.
Ao entrar
deparei-me com duas coisas que de imediato me prenderam a atenção. A primeira,
motivo principal que me trouxe ao local, foi o jogo de futebol, para o
apuramento para o Mundial 2014, entre Israel e Portugal, que iria decorrer em Tel Avive e com início
marcado para as 14:45 horas locais e 12:45 horas de Lisboa, e que já tinha
iniciado. Quando entrei já o marcador ou o “score”
havia funcionado e a favor de Portugal ou para nós portugueses, patenteado em
ambos os televisores existentes nas paredes laterais do estabelecimento.
A segunda foi a
constituição multi-pessoal, o elenco, a escol, da mesa, mesmo frontal ao meu
nariz no plano da minha visão, onde almoçavam, conviviam e, nos intervalos,
deitavam um rabo de olho aos LCDs dependurados nas paredes da “baiuca”, para
darem o seu apoio incondicional à Selecção e tecendo alguns comentários de “treinador de bancada”.
Seis eram os
amigos e colegas de trabalho e trabalhos que em amena cavaqueira lá se
dispunham harmonicamente, bebericando um tinto ou umas cervejolas e trincando
uns "hors d'oeuvre", e que
amavelmente me convidaram para lhes fazer companhia, juntando-me à pândega para
acrescer o número à pandilha. E, por isso, e pelo convívio agradável e salutar,
e por muito mais que tudo isso, deixo aqui o meu benfazejo bem hajam e um
obrigado desobrigado e profundamente sentido.
Dentre estes,
estava aquele que outrem denominava de “o homem possuído”, abra--se aqui um
parêntesis para referir que o nome dos convivas não é relevante nem tão pouco
pertinente para o normal desenrolar da história ou relato, portanto não vão
haver nomes, apenas nominações designativas e identificativas, para que não se
perca o fio à meada.
Entretanto, e
para desapontamento geral, os israelitas violavam as nossas redes e o empate no
jogo surgia, o que diga-se só servia para empatar os objectivos da Selecção e
nos deixar furibundos e desapontados com o comportamento desportivo dos nossos “craques”.
Assim que a
primeira dose unipessoal chegou ou aflorou ao guardanapo, canelado, gigante, de
papel a que, recorrendo a um descomunal eufemismo, chamamos de toalha de mesa,
evento que ocorreu após o despejo compulsivo de uma garrafa de tinto de
qualidade, no mínimo “quase duvidosa” e digo quase por se tratar de um
recipiente de vidro, esverdeado, devidamente rotulado, rolhado a cortiça e
encarapuçado a plástico semi-rígido e tudo, ao invés de um tambor
paralelepipédico, forrado a folha de papel prata, munido duma torneira e bica
de plástico, prenhe de um líquido “cor de vinho” a que ironicamente ou
incautamente, quiçá, lhe chamam, da proveniência da cor, ou seja, para os mais
inexperientes ou paladares de requinte dúbio, de vinho tinto ou “tintol” (pois
assim sempre se lhe aproveita a cor e só), todavia sem se saber ao certo o que
na realidade o é ou se o é, e o “debulhar” do queijo fresco, manteiga, azeitonas
e o indispensável pão, entradas dignas de príncipes ou principescas, tendo em
conta a singularidade da populaça alvo e do objecto primeiro da casa em
questão, faltou o mel mas isso, tem perdão, e para tão peculiar reunião e tão
insigne plateia de comensais; personagens dignas do “Príncipe” de Maquiavel, e
peculiares pela sua singularidade e face à divergência que os une nesta
desunião de facto.
Peixe assado.
Besugos e carapaus, para o homem de vermelho e branco, riscado, pitéu adquirido
pelo próprio no mercado mesmo em frente, como aqui já foi referido. A dose,
essa, generosa, muito generosa mesmo, não fosse ela objecto de aquisição
própria, acompanhada das inquestionáveis batatas cozidas e salada montanheira.
Ora, e aqui
começa a moenga!...
O homem possuído,
que ao meu lado direito, o lugar ocupava, aguilhoa, por picardia, o homem
riscado.
- Isso é que é
peixe? Aludiu. Acrescendo ainda para azedar a conversa: Peixe é peixe de posta,
peixe nobre, corvina, pargo, cherne, são exemplos.
E, eis que chega,
interrompendo a verborreia, a nobre sarda. Escalada, grelhada, que antes o
homem possuído, convencera o homem azul a, do cardápio, eleger.
E, daqui resulta
o cognome, pois, picado, acirrado e ferido no seu conceito de dignidade, o
homem listrado, indignadíssimo, retruca.
- Este homem está
possuído! Essa sarda, para não lhe chamar cavala, tem três dias de congelada,
já está no mínimo podre.
Procurando, deste
modo, introduzir um elemento de discórdia e a celeuma no palco que entrona o
cenário de corte tão heterogenia e até exógena na proveniência.
E voltando-se
repentinamente para o homem azul questiona.
- Como é possível
que te tenhas deixado endrominar por este gajo? Não vês que está possuído?...
O homem azul
perplexo, surpreendido por ter sido chamado, tão ignobilmente, ao diálogo ou ao
solilóquio, balbo, tartamudeia algo incompreensível, como é bom de compreender
e compreensível face à situação em que se vê de sus, inextrincavelmente,
envolvido e para não perder o sentido do correcto e admissível. Quer-se deixado só, fora deste duelo verbal
acintoso, para ele descabido, fora de contexto pessoal, confuso; o que é uma
sarda afinal?..., e, no qual, não deseja tomar partido quanto mais o inteiro,
mas, também, não quer partir a métrica da tergiversação, cortar o veio do tinto
que copiosamente orla as bordas dos copos, se assim possível o fosse. Acredita
que sim, despeja dois goles, generosos, pela garganta. Pousa o copo. Olha os
litigantes. Ganha coragem tinta. Aclara a voz, pigarreia e fala para dizer.
- Está óptima a
cavala, quero dizer a sarda ou lá o que quer que seja…
Silêncio. Apenas
se ouve o painel de fundo das vozes transversais à mesa. A vida vívida do
estabelecimento.
Ahahahahah… estoira
a gargalhada, a mesa, na forma dos seus ocupantes, rejubila. Vermelho o homem
azul refugia-se no silêncio da gafe e no desbridar da sarda. Enquanto o homem
riscado sorri escarninho e o homem possuído esboça um esgar tímido e fugaz de
algo entre um arroto interrompido e um sorriso.
Entre parada e
resposta o debate ou combate, deixa de o ser e volta a sê-lo, alastra à
audiência, enche e vaza copos, perde-se, encontra-se, entre palavras que do
assunto já divergem. Abrem-se para novos horizontes. Diluem-se e refugiam-se no
passado, no presente e auguram o futuro. Vogam ao sabor das iguarias da saudade
e, saudosas falam de passado e, impertinentes, vomitam, regurgitam o presente e
desesperançadas gritam e pugnam por um futuro.
Será que a
esperança vive entre os comparsas?... Morrerá a esperança casada ou solteira?...
Ainda brilha nos
olhos um sorriso, será a esperança que resta no fundo do copo do tinto, que por
retinto não permite ler as cartas do futuro, iludindo assim a desesperança que
vive nos corações?...
Emmeios, a bola
rola; 3-1 para os donos da casa. Até a bola parece jogar contra o nosso futuro.
Parece arrependida por nos ter, de início, concedido a lei da vantagem. Entram
em campo, novamente, os “treinadores de
bancada”, sopram estratégias, mais ou menos ousadas, mais ou menos
fundamentadas. Tudo não passa de um enigma intrincado. A esperança dos 3 pontos
ou mesmo de um só mingua, tal e qual o futuro que nos bate à porta dia a dia. A
incerteza paira e, assim futebol e país, nas mesmas águas, revoltas, navegam,
tal e qual a Nau Catrineta.
Ele está possuído,
o homem está possuído! Este é o remoque da prosápia. Volta vai, volta vem e
ei-lo, o homem riscado, a soltar as vespas, a assolar os cães, a incendiar o
recinto. O homem está possuído!
Farto de tanta
possessão o homem do pano de cozinha resolve interferir. Regressa ao passado
tal e qual um Michael J. Fox, todavia
não procura evitar um casamento, prefere recorrer a um divórcio. Invoca o
passado. Chama-o entre um carinho e uma malícia. Evoca uma recordação. Lembra,
aleivoso, os anos que o homem possuído, passou de rosto voltado para a parede,
ou assim a tal foi “obrigado” e, matreiro, ainda refere que ainda assim nada
aprendeu. Caçoa todos sabem. A história é velha e, por todos sobejamente
conhecida, procura assim instigar o espírito combativo do homem possuído.
Ai, cabe-me a
defesa, interfiro, por culpado. Advogo em causa própria. Protejo o réu do
promotor público e, cuspo, fingindo-me ofendido, um: Mais aprendeu ele num par
de anos que aqueloutro, o ante confluência das águas ou “o rapadinho”, numa
década muito bem medida. Parágrafo!... Pois para bom entendedor metade da
metade do quarto da palavra é mais que suficiente.
Entre a sobremesa
e o café mais foram os galhardetes trocados, que de tão prolixos e de
semelhante quantidade até logrei esquecê-los ou por conveniente ou por falta de
lembrança ou desprendimento do objecto rematado. Contudo, não tem porquê
recordar, pois importante, importante, não é o conteúdo nem a forma, mas sim um
global geral da recordação, a efectividade do contacto, o momento difuso mas
que nos presenteia com laivos límpidos de consciência presente do encontro, do
convívio e do sabor do sermos, por momentos uma equipa coesa na dispersão,
voluntária ou involuntária, de cada qual.
E, por falar de
equipa, o resultado do jogou mudou e, apesar de desfavorável; 3-2, a esperança voltou,
estagnou e até morreu. O tempo de jogo e o tempo de almoço está prestes a
esgotar. É o tempo que entremeia dois ais… e, nesta agonia há os que sim, há os
que não e até os que talvez… Estranho e desconcertante este chamamento à irrelevância
não isenta de conteúdo, todavia relevante o suficiente para cada um guardar o
que sente, resguardando a si o sentimento…
É chegada a hora
das espirituosas ou dos digestivos, já tragadas ao acaso e sem preceito.
Engolidas a repique do relógio de ponto. Relógio que ilógico não pára e, salvo
eu, ninguém intenta no atraso. Impera o medo ou a convicção, pouco me importa.
Por mim, sou como sou e, os outros como são. Cada um é como cada qual e ninguém é como evidentemente, cito.
Um a um, os
repastados, pagam a conta, que no “O Pescador” é aquela conta. Nem com o cair
do pano a picardia entre o homem riscado e o homem possuído terminou. A conta
deu azo a nova celeuma. E, no fim, com peixe ou sem ele, €10.00 pelo pecado ou
pelo bocado, terminaram com as incertezas e as disputas, que, cá para mim, não
se diz porque é feio.
Até quando um
navio está a afundar, no seu abandono, a hierarquia tem que ser respeitada:
Primeiro são os ratos, seguem-se-lhes os passageiros, entre eles, primazia às
crianças e mulheres, só depois são os homens, em seguimento a tripulação,
marinheiros, subalternos e graduados e, por fim o comandante.
Volte face no resultado;
3-3, empata a nossa Selecção em cima do apito final. Mais uma vez ficámos
dependurados, só muda o nome – Azerbaijão.
Alfim, sobrei eu,
um subalterno… só, com os destroços; até o comandante zarpou… Melhor um que
nada. Melhor uma porta aberta que uma fechada.
Hoje joga de novo
a selecção e, eu só, no restaurante “O Pescador”, sentado recordo com saudade,
um convívio, amigável, saudável, salutar, impertinente, irreverente, onde a
abertura de espírito e a palavra fluente, sem peias nem meias, conduziu os
pensamentos, que livres por momentos, nos ensinaram, a todos, o que é voltar a
ser “GENTE”.
Obrigado! Caros
amigos.
Não é com
frequência que se lembram de mim e muito menos que me chamam ao convívio, voltando
a fazer parte de uma parte de que fui parte.
Bem hajam.
tÓ mAnÉ Editions
Pouco passava das
12:45 horas do dia 22 de Março de 2013 quando trespassei a porta principal do
restaurante “O Pescador”, localizado na Rua José Fernandes Guerreiro - excelso
Presidente da Câmara Municipal e poeta desta, então vila, e, que num elogio
fúnebre a um amigo, assim reza a história, usa das seguintes palavras: Vida! Oh! O que é a vida? Oceano de luta,
eira de trabalho! -, paralela à fachada poente do Mercado Municipal.
Ao entrar
deparei-me com duas coisas que de imediato me prenderam a atenção. A primeira,
motivo principal que me trouxe ao local, foi o jogo de futebol, para o
apuramento para o Mundial 2014, entre Israel e Portugal, que iria decorrer em Tel Avive e com início
marcado para as 14:45 horas locais e 12:45 horas de Lisboa, e que já tinha
iniciado. Quando entrei já o marcador ou o “score”
havia funcionado e a favor de Portugal ou para nós portugueses, patenteado em
ambos os televisores existentes nas paredes laterais do estabelecimento.
A segunda foi a
constituição multi-pessoal, o elenco, a escol, da mesa, mesmo frontal ao meu
nariz no plano da minha visão, onde almoçavam, conviviam e, nos intervalos,
deitavam um rabo de olho aos LCDs dependurados nas paredes da “baiuca”, para
darem o seu apoio incondicional à Selecção e tecendo alguns comentários de “treinador de bancada”.
Seis eram os
amigos e colegas de trabalho e trabalhos que em amena cavaqueira lá se
dispunham harmonicamente, bebericando um tinto ou umas cervejolas e trincando
uns "hors d'oeuvre", e que
amavelmente me convidaram para lhes fazer companhia, juntando-me à pândega para
acrescer o número à pandilha. E, por isso, e pelo convívio agradável e salutar,
e por muito mais que tudo isso, deixo aqui o meu benfazejo bem hajam e um
obrigado desobrigado e profundamente sentido.
Dentre estes,
estava aquele que outrem denominava de “o homem possuído”, abra--se aqui um
parêntesis para referir que o nome dos convivas não é relevante nem tão pouco
pertinente para o normal desenrolar da história ou relato, portanto não vão
haver nomes, apenas nominações designativas e identificativas, para que não se
perca o fio à meada.
Entretanto, e
para desapontamento geral, os israelitas violavam as nossas redes e o empate no
jogo surgia, o que diga-se só servia para empatar os objectivos da Selecção e
nos deixar furibundos e desapontados com o comportamento desportivo dos nossos “craques”.
Assim que a
primeira dose unipessoal chegou ou aflorou ao guardanapo, canelado, gigante, de
papel a que, recorrendo a um descomunal eufemismo, chamamos de toalha de mesa,
evento que ocorreu após o despejo compulsivo de uma garrafa de tinto de
qualidade, no mínimo “quase duvidosa” e digo quase por se tratar de um
recipiente de vidro, esverdeado, devidamente rotulado, rolhado a cortiça e
encarapuçado a plástico semi-rígido e tudo, ao invés de um tambor
paralelepipédico, forrado a folha de papel prata, munido duma torneira e bica
de plástico, prenhe de um líquido “cor de vinho” a que ironicamente ou
incautamente, quiçá, lhe chamam, da proveniência da cor, ou seja, para os mais
inexperientes ou paladares de requinte dúbio, de vinho tinto ou “tintol” (pois
assim sempre se lhe aproveita a cor e só), todavia sem se saber ao certo o que
na realidade o é ou se o é, e o “debulhar” do queijo fresco, manteiga, azeitonas
e o indispensável pão, entradas dignas de príncipes ou principescas, tendo em
conta a singularidade da populaça alvo e do objecto primeiro da casa em
questão, faltou o mel mas isso, tem perdão, e para tão peculiar reunião e tão
insigne plateia de comensais; personagens dignas do “Príncipe” de Maquiavel, e
peculiares pela sua singularidade e face à divergência que os une nesta
desunião de facto.
Peixe assado.
Besugos e carapaus, para o homem de vermelho e branco, riscado, pitéu adquirido
pelo próprio no mercado mesmo em frente, como aqui já foi referido. A dose,
essa, generosa, muito generosa mesmo, não fosse ela objecto de aquisição
própria, acompanhada das inquestionáveis batatas cozidas e salada montanheira.
Ora, e aqui
começa a moenga!...
O homem possuído,
que ao meu lado direito, o lugar ocupava, aguilhoa, por picardia, o homem
riscado.
- Isso é que é
peixe? Aludiu. Acrescendo ainda para azedar a conversa: Peixe é peixe de posta,
peixe nobre, corvina, pargo, cherne, são exemplos.
E, eis que chega,
interrompendo a verborreia, a nobre sarda. Escalada, grelhada, que antes o
homem possuído, convencera o homem azul a, do cardápio, eleger.
E, daqui resulta
o cognome, pois, picado, acirrado e ferido no seu conceito de dignidade, o
homem listrado, indignadíssimo, retruca.
- Este homem está
possuído! Essa sarda, para não lhe chamar cavala, tem três dias de congelada,
já está no mínimo podre.
Procurando, deste
modo, introduzir um elemento de discórdia e a celeuma no palco que entrona o
cenário de corte tão heterogenia e até exógena na proveniência.
E voltando-se
repentinamente para o homem azul questiona.
- Como é possível
que te tenhas deixado endrominar por este gajo? Não vês que está possuído?...
O homem azul
perplexo, surpreendido por ter sido chamado, tão ignobilmente, ao diálogo ou ao
solilóquio, balbo, tartamudeia algo incompreensível, como é bom de compreender
e compreensível face à situação em que se vê de sus, inextrincavelmente,
envolvido e para não perder o sentido do correcto e admissível. Quer-se deixado só, fora deste duelo verbal
acintoso, para ele descabido, fora de contexto pessoal, confuso; o que é uma
sarda afinal?..., e, no qual, não deseja tomar partido quanto mais o inteiro,
mas, também, não quer partir a métrica da tergiversação, cortar o veio do tinto
que copiosamente orla as bordas dos copos, se assim possível o fosse. Acredita
que sim, despeja dois goles, generosos, pela garganta. Pousa o copo. Olha os
litigantes. Ganha coragem tinta. Aclara a voz, pigarreia e fala para dizer.
- Está óptima a
cavala, quero dizer a sarda ou lá o que quer que seja…
Silêncio. Apenas
se ouve o painel de fundo das vozes transversais à mesa. A vida vívida do
estabelecimento.
Ahahahahah… estoira
a gargalhada, a mesa, na forma dos seus ocupantes, rejubila. Vermelho o homem
azul refugia-se no silêncio da gafe e no desbridar da sarda. Enquanto o homem
riscado sorri escarninho e o homem possuído esboça um esgar tímido e fugaz de
algo entre um arroto interrompido e um sorriso.
Entre parada e
resposta o debate ou combate, deixa de o ser e volta a sê-lo, alastra à
audiência, enche e vaza copos, perde-se, encontra-se, entre palavras que do
assunto já divergem. Abrem-se para novos horizontes. Diluem-se e refugiam-se no
passado, no presente e auguram o futuro. Vogam ao sabor das iguarias da saudade
e, saudosas falam de passado e, impertinentes, vomitam, regurgitam o presente e
desesperançadas gritam e pugnam por um futuro.
Será que a
esperança vive entre os comparsas?... Morrerá a esperança casada ou solteira?...
Ainda brilha nos
olhos um sorriso, será a esperança que resta no fundo do copo do tinto, que por
retinto não permite ler as cartas do futuro, iludindo assim a desesperança que
vive nos corações?...
Emmeios, a bola
rola; 3-1 para os donos da casa. Até a bola parece jogar contra o nosso futuro.
Parece arrependida por nos ter, de início, concedido a lei da vantagem. Entram
em campo, novamente, os “treinadores de
bancada”, sopram estratégias, mais ou menos ousadas, mais ou menos
fundamentadas. Tudo não passa de um enigma intrincado. A esperança dos 3 pontos
ou mesmo de um só mingua, tal e qual o futuro que nos bate à porta dia a dia. A
incerteza paira e, assim futebol e país, nas mesmas águas, revoltas, navegam,
tal e qual a Nau Catrineta.
Ele está possuído,
o homem está possuído! Este é o remoque da prosápia. Volta vai, volta vem e
ei-lo, o homem riscado, a soltar as vespas, a assolar os cães, a incendiar o
recinto. O homem está possuído!
Farto de tanta
possessão o homem do pano de cozinha resolve interferir. Regressa ao passado
tal e qual um Michael J. Fox, todavia
não procura evitar um casamento, prefere recorrer a um divórcio. Invoca o
passado. Chama-o entre um carinho e uma malícia. Evoca uma recordação. Lembra,
aleivoso, os anos que o homem possuído, passou de rosto voltado para a parede,
ou assim a tal foi “obrigado” e, matreiro, ainda refere que ainda assim nada
aprendeu. Caçoa todos sabem. A história é velha e, por todos sobejamente
conhecida, procura assim instigar o espírito combativo do homem possuído.
Ai, cabe-me a
defesa, interfiro, por culpado. Advogo em causa própria. Protejo o réu do
promotor público e, cuspo, fingindo-me ofendido, um: Mais aprendeu ele num par
de anos que aqueloutro, o ante confluência das águas ou “o rapadinho”, numa
década muito bem medida. Parágrafo!... Pois para bom entendedor metade da
metade do quarto da palavra é mais que suficiente.
Entre a sobremesa
e o café mais foram os galhardetes trocados, que de tão prolixos e de
semelhante quantidade até logrei esquecê-los ou por conveniente ou por falta de
lembrança ou desprendimento do objecto rematado. Contudo, não tem porquê
recordar, pois importante, importante, não é o conteúdo nem a forma, mas sim um
global geral da recordação, a efectividade do contacto, o momento difuso mas
que nos presenteia com laivos límpidos de consciência presente do encontro, do
convívio e do sabor do sermos, por momentos uma equipa coesa na dispersão,
voluntária ou involuntária, de cada qual.
E, por falar de
equipa, o resultado do jogou mudou e, apesar de desfavorável; 3-2, a esperança voltou,
estagnou e até morreu. O tempo de jogo e o tempo de almoço está prestes a
esgotar. É o tempo que entremeia dois ais… e, nesta agonia há os que sim, há os
que não e até os que talvez… Estranho e desconcertante este chamamento à irrelevância
não isenta de conteúdo, todavia relevante o suficiente para cada um guardar o
que sente, resguardando a si o sentimento…
É chegada a hora
das espirituosas ou dos digestivos, já tragadas ao acaso e sem preceito.
Engolidas a repique do relógio de ponto. Relógio que ilógico não pára e, salvo
eu, ninguém intenta no atraso. Impera o medo ou a convicção, pouco me importa.
Por mim, sou como sou e, os outros como são. Cada um é como cada qual e ninguém é como evidentemente, cito.
Um a um, os
repastados, pagam a conta, que no “O Pescador” é aquela conta. Nem com o cair
do pano a picardia entre o homem riscado e o homem possuído terminou. A conta
deu azo a nova celeuma. E, no fim, com peixe ou sem ele, €10.00 pelo pecado ou
pelo bocado, terminaram com as incertezas e as disputas, que, cá para mim, não
se diz porque é feio.
Até quando um
navio está a afundar, no seu abandono, a hierarquia tem que ser respeitada:
Primeiro são os ratos, seguem-se-lhes os passageiros, entre eles, primazia às
crianças e mulheres, só depois são os homens, em seguimento a tripulação,
marinheiros, subalternos e graduados e, por fim o comandante.
Volte face no resultado;
3-3, empata a nossa Selecção em cima do apito final. Mais uma vez ficámos
dependurados, só muda o nome – Azerbaijão.
Alfim, sobrei eu,
um subalterno… só, com os destroços; até o comandante zarpou… Melhor um que
nada. Melhor uma porta aberta que uma fechada.
Hoje joga de novo
a selecção e, eu só, no restaurante “O Pescador”, sentado recordo com saudade,
um convívio, amigável, saudável, salutar, impertinente, irreverente, onde a
abertura de espírito e a palavra fluente, sem peias nem meias, conduziu os
pensamentos, que livres por momentos, nos ensinaram, a todos, o que é voltar a
ser “GENTE”.
Obrigado! Caros
amigos.
Não é com
frequência que se lembram de mim e muito menos que me chamam ao convívio, voltando
a fazer parte de uma parte de que fui parte.
Bem hajam.
tÓ mAnÉ Editions
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