segunda-feira, 15 de julho de 2013

Crónicas FDS da Laura – Registo II



Olá amigos!
Aqui estou eu de novo para descrever o meu fim-de-semana.
Assim sendo, ora vamos lá…
No sábado, hum deixa ver… fácil! Passei a manhã em casa com a minha mamã, fartámo-nos de brincar, brincámos a tanta coisa que já nem me lembro mas isso também não é nariz de santo.
Desta vez o meu pai, só para me contrariar, levantou-se cedo, eu ainda estava a cozer batatas-doces, foi para um “workshop” (olhem só este palavrão que eu aprendi, não é grande mas é coisa difícil de dizer) de pintura a óleo, disse-me a mamã quando eu perguntei pelo meu paizinho. Vejam só o canastrão, agora, tem a mania que é artista mas a culpa é da minha mamãzinha que o inscreveu nessa bendita coisa de… ai nem vou dizer o palavrão, enrolasse-me na língua. O certo é que não fora a brincadeira e a reinação tinha-nos pregado uma seca daquelas, a mim e à mamã, e não contente por nos ter abandonado, ainda teve o descaramento de aparecer em casa às duas e meia da tarde. Não acham isto pouca-vergonha?... Eu acho! E pior, imaginem, eu desertinha para sair de casa, dar de frosques, que comeu uma bucha qualquer e se deitou ou melhor esparramou ou espalhou, sei lá, pelo sofá fora e toma lá que já almoçaste, dormiu até às seis e meia da tarde; a pintura deve ser uma coisa muito cansativa, não acham? Com a desculpa mais que esfarrapada de que andou a dormir mal e pouco durante toda a semana – que será que anda a fazer quando vai para a cama? Deita-se à mesma hora do que eu... Tenho que investigar este mistério, não concordam comigo?
 Depois de se levantar, o meu pai, ficou logo gafo de pressa, quis ir ao Continente comprar aguarás para lavar os pincéis e a paleta, quase não me ligou nenhuma, grande lata esta, hem! Não serei eu mais importante que essa mariquice? Fiz beicinho e pronto, amuei!...
Pois é, e assim, como devem calcular, lá fui eu de reboque para o Continente, que chatice… o que vale ou melhor a sorte dos meus papás é que eu depressa desato a mulinha e fico bem disposta. Nada como uma voltinha no “porche” do Continente para me fazer feliz e radiante. E assim foi, parece que adivinham, serão bruxos, será?; aqui estava eu prontinha para a aguarás ou para mais específica ser ou para não faltar à verdade ou ainda para melhor dizer, para todas as traquitanas que resolveram comprar, têm sempre falta de tanta coisa. Esta é só mais uma, entre muitas, coisas que eu não consigo entender: “só precisavam de aguarás e, para não se enganarem ou para que não falte nada mesmo quando não faz mesmo falta, quase não me deixaram espaço para conduzir o bólide”. Vejam só, o meu pai que só compra vinho tinto, desta vez comprou uma caixa (das grandes) de minis “Sagres” e toma para o veículo, acham isto normal?... Espero, sinceramente, um dia vir a entender os adultos; são tão complicados que até complicam o que é fácil!
Depois de milhentas tropelias; eu sou uma rabalona, e de corredor em corredor do Continente, deu-me a vontade, o mesmo será dizer soltou-se-me a tripa, quando estávamos mesmo a chegar à caixa e… lá teve que ser… papáaaaa tenho cocó, gosto de oferecer estes presentinhos ao meu pai, ele tem jeitinho para desembrulhar “as caixinhas”. Sabem o que o meu paizinho me disse? Não! Pois vou contar-vos: filhota a única vantagem destes teus ímpetos é que, assim, quem vai pagar a multa é a tua mãe. Outra que eu ainda não percebi ou entendi… o tempo háde-me ensinar ou explicar, espero eu… o tempo é justo nestas coisas.
Carro carregado. Hora da partida. Adeus Continente.
Já tinha uma larica que não aguentava e, na verdade, já era bastante tarde, também; já é noite pai, disse!
Bem, de qualquer forma já íamos a caminho de casa o que àquela hora tinha um significado óbvio, o ritual de vós já sobejamente conhecido ir-se-ia iniciar. Para não ser redundante ou melhor melga vou escusar-me ou poupar-vos de o ditar para o meu pai o escrever, apenas aqui abro um pequeno parêntesis para referir que o meu pai não me deixou ajudá-lo a lavar os pincéis e a paleta. Fiquei uma fera, nada me consolava, e foi caso para isso (o meu paizinho querido a fazer-me uma obra destas). Olhem só o desplante do marmelo, eu, que quero aprender tudo e foi-me vedado ou sonegado o direito, mais que justo, ao conhecimento e à informação. Acham justo?... bem que me parecia, a mim também não!
Hoje, quer dizer, no domingo levantei-me toda empolgada e espevitada; sim, eu sei, esqueci-me de vos contar, mas conto agora. Na véspera, sábado, o meu pai disse-me que íamos à praia, que íamos andar de “vaporette” (assim chama o meu pai ao barco que faz a travessia entre as Quatro Águas e a Ilha de Tavira e vice-versa) e que, para além disso, que íamos ver o meu tio e padrinho Miguel e a minha tia Bleca, na verdade ou na realidade ela não se chama Bleca mas sim Isabel (Bleca porquê? Eu explico: porque ela fica muito escurinha quando se põe a tostar ao sol), que raramente vejo, pois vivem em Oeiras; malta fina é outra coisa ou outra loiça, percebem?...
Bem, estava eu a dizer que me levantei toda empolgada e espevitada, pelas referidas e mais que razoáveis razões, e estava uma melga, zum-zum para aqui, zum-zum para ali, à volta dos meus papás; despacha-te pai, despacha-te mãe, quando é que vamos para a praia, ainda não comeram, vamos, etc… escuso de dizer que me “espavilhei” num farelo ou o mesmo é dizer enquanto o diabo esfrega um olho.
Finalmente despachados.
Fomos outra vez no carro “bonito”, eu bem que reclamei que queria ir no carro “grande” mas não tinha “zigolina”, ó pá! eu gosto tanto do carro “grande”. Novidade, ou quase novidade, foi de bom grado que me escarranchei na minha cadeirinha, sem fazer drama ou comédia; tchau cães, gritei…
Durante o decorrer da viajem fiquei a saber ou melhor intui que tínhamos mais uma paragem obrigatória, pois o meu pai ligou para a avó Aurita e pediu-lhe para descer, mas não teve importância nenhuma nem perturbou a jornada, pois a casa da avó fica de caminho e não perdemos tempo algum, diria mesmo que foi uma rapidinha.
Avó a bordo e lá fomos nós.
Mas óoooo o meu pai parou na bomba de “zigolina”, mas que chatice. Ora a moenga, eu, nem queria acreditar. Não é que foram beber café, os dois, papá e mamã; bolas nunca mais é, pensei!...
Enfim rumámos para a praia. Upíiiii… praia lá vou eu, pensei.
A viagem até à praia foi um desassossego, no mínimo entediante. Ufa, nunca mais chegávamos. Levei o santo tempo a perguntar ao meu pai: falta muito, falta muito ainda, quando é que chegamos, etc…
Alfim chegámos. Já estava impaciente. Arre, tanto tempo para chegar à praia, quando vamos para Quarteira é logo ali, atrevi-me a pensar.
Parámos junto à entrada do cais, saímos e tirámos ou descarregámos a “túrgia” do carro ou melhor tiraram ou descarregaram que eu não mexi uma palha. Não faltavam babuchas à porta do senhor prior, homessa, eu sou pequenina.
De repente ouvi o meu paizinho dizer à mamã: fiquem aqui, compra os bilhetes, de ida e volta, para o barco que eu vou estacionar a vasilha e já volto. Claro está que eu também quis ir com o meu paizinho (não pode andar por saí solto, era o que mais faltava)… pai, paizinho também quero ir contigo mas ele disse-me logo que não, contudo não me deixei intimidar e voltei à carga, aí o meu pai olhou-me com aqueles olhos de “não insistas” (fica tão feio e mau) que achei por bem calar-me ou botar a viola ao saco o que é a mesma coisa e fui agarrar-me, em protesto, à barra da saia da minha mamãzinha querida, não fosse o leite ou outra coisa qualquer azedar.
Sabem que mais? Adorei andar de barco “o vaporette”, é tão giro, faz um fresquinho tão bom. Imaginem que o meu paizinho me levou lá para cima; o barco tem três níveis um abaixo da linha de água e dois acima é como se fosse cave, rés-do-chão e primeiro andar, sentou-se num banco de pau e pôs-me ao colinho. Dali via tudinho; a ria, a Ilha, o Arraial Ferreira Neto (antiga sede da armação de tunídeos e fábrica conserveira e actualmente o Hotel Albacora – Vila Galé) e ambos os cais) e estava rodeada de espanhóis (quando chegámos também chegou uma excursão de espanhóis) que cantavam e batiam palmas que nem doidos, estavam divertidíssimos.
 Imediatamente à ancoragem dirigimo-nos sem mais delongas para a casa, arrendada, onde estavam e estão o meu padrinho e a minha tia a passar férias, eles já estavam esperando por nós, via-se logo pois estavam já impacientes; não disse olá nem dei beijinhos a ninguém, estava cheia de vergonha nos meus olhinhos.
E, sem mais demoras, para além dos cumprimentos dos adultos, graças a Deus estavam todos desejando ir para a praia e não falaram muito como de costume, estava cá uma brasa, fomos para a praia da ria mesmo junto ao cais (havia pouca areia pois a maré estava quase cheia). Aí sim!!!... Depois de pôr o creme protector solar, foi boda aos pobres, dei beijinhos, falei pelos “catramelos”, brinquei com toda a gente quer na água, que estava gelada, até partia ossos, mas eu não me importei (adoro água e se for praia então é loucura), quer na areia, ao sol, à sombra, onde quer que fosse o importante mesmo era viver intensamente o momento.
E, assim, neste folguedo, se fez tarde e horas de almoço. Sorte a nossa de o meu padrinho ser um homem precavido e ter marcado uma mesa no restaurante Corsário da Ilha e mais encomendou logo a ementa; sardinhada. Gostei! 
Depois de almoço fomos todos para casa do padrinho descansar um pouquito, estava a precisar depois de tanta agitação. Desconfio que fiz uma folguinha pois pouco depois o meu pai disse que eram horas de regressar, ele falou, lembro-me, que queria ver os “futebóis”.
O regresso correu como uma manobra de sentido inverso e assim nos vimos de novo em casa.
Quanto ao resto vocês já sabem foi como todos os dias, não seja a vida uma sucessão sucessiva de acontecimentos, detalhes, factos e evidências que, muitas vezes, se repetem ou se conjugam ou se assemelham em ajustamento com o tempo, por quotidianos.
Ah! o meu pai foi ver os “futebóis” dele para o quarto do mano Pedro, para eu poder ver os meus “mnecos” e quando desceu vinha todo contente, até bebeu uma cervejinha.
É tudo amigos, até para a semana.

tÓ mAnÉ  Editions  (in Laura solange dixit) – 2012.06.(16 e17)  

Sem comentários:

Enviar um comentário