sexta-feira, 12 de julho de 2013

Êxtase


Revoltas-me o cabelo
Com mãos experiente e sábias
Sopras-me ao pescoço
Palavras meigas, doces.
Agarras-me, decidida e arrebatadoramente a nuca
Estiras-me. Obrigas-me o beijo
Compeles-me ao desejo
Penetras, impudica, a alma tua em minh’ alma
Fazes-me teu. Sugas-me. Quebras-me a vontade.
Capitulo, rendo-me, entrego-me, sem reservas, a ti.
Confio. Dou-me como teu escravo de prazer, teu deleite.
Aceitas-me. Sorrindo. Congeminas, já ausente…
Enlaças-me, suavemente, os pulsos
Com fina, vermelha, organza
E, em cada tornozelo, uma cromada algema, prende
À férrea barra da macia alcova.
Usurpaste de mim os movimentos
És, agora, senhora, dona, carcereira e algoz
Cava e lavra o meu corpo,
Fazendo dele terra arável
Da sua, involuntária, paixão
Semeia-lhe a tua lascívia,
Amanha-o. Monda-o. Despovoa-o de dúvidas.  
Para que medre apenas a concupiscência
Colhe o fruto, morno,
Derramado por tua mão.
Rega-o de doce vinho
Desse mosto, almiscarado, que é só teu.
Incha-me, de novo, o desejo
Entre os lábios, carnudos, encarnados do batom            
Arde-me no fogo que teu corpo encerra
Derramando-se, languidamente, sobre meu.
Recusa-me a tua concha
Aberta, húmida, gotejante do teu querer
Ostraciza-me. Deixa-me à míngua.
Obriga-me a implorar   
Pois, já insano, de volúpia
Feiticeira, tua língua de veludo, toca-me.
Toca-me suave e cálida
Estremeço numa convulsão
Fixas-me. Incendiada. Duas brasas teus olhos são.
Semicerra-los. Cintilam ensandecidos.
Insinuas-te. Desprendes um ténue gemido.
Abandonas-te no vazio
Sonhas... dás azo à imaginação…
Inventas magias, insondáveis deleites…
Vendas-me.
A cambraia escarlate
Atiça-me os sentidos.
Amordaças-me.
O sabor, delicado, do cabedal cru
Ferve-me no sangue.
Expectante, aguardo,   
Escorregas, plena de entrega, em mim
Oiço-te o arfar crescente
Sinto o teu corpo, de amazona,
Frenético, cavalgar, pulsar em mim
Acendem-se mil estrelas,
Atiradas contra o negro do meu céu,
Quando te apertas e estremeces, forte, em mim
Enquanto eu me largo, me abandono,
Descontrolado, abundantemente, em ti.

tÓ mAnÉ   Editions

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