sexta-feira, 26 de julho de 2013

Interlúdio (entre o chegar e o partir)



De pára-quedas, stratus, de seda pura, anil, pousei delicadamente aqui, no teu quintal. Espero, sinceramente, não ter danificado o teu relvado, aveludado, viçoso e muito bem acarinhado. Vou limitar-me a dar uma vista de olhos de pura e crua curiosidade e deixar uma leve pegada na tua vereda de saibro, recoberta com um lencinho de seda animal, vermelho, pois visto de preto, levemente, discretamente, perfumado com uma gota, subtil da mais rara fragrância do mundo. O meu perfume; odor corporal, só para te dizer que aterrei aqui, no teu quintal. Agora, desfeita que está a curiosidade, vou pedir ao vento que sopre, encha, insufle o meu pára-quedas, stratus, de ar e me impulsione no espaço. E, em voo ascendente para o mundo. Aí, já lá do alto, deixo cair uma braçada de beijos sobre o teu quintal, são todos para te agradecer a hospitalidade; podes-lhe dar um cheiro diferente, não é, nem será grave. Volto a cabeça, sigo o meu caminho mas, contudo, deixo a minha porta, feita de nada e em lugar nenhum, entreaberta, quiçá te lembres ou sintas vontade de me visitar... já vou... e agora que dum pontinho no espaço não passo digo-te adeus e desejo-te muitas felicidades, todas as do universo que percorro de lés a lés, procurando, avidamente, pelo o que a ti te desejo, que, inexplicavelmente, quando chego já, inexoravelmente, partiu... deixando a reminiscência, ténue, desse olor que, freneticamente, procuro mas todavia não logro alcançar.
Não desisto! E, procuro, procuro e procuro.

tÓ mAnÉ  Editions  (Al Andaluz) 

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