quarta-feira, 17 de julho de 2013

Crónicas FDS da Laura – Registo V



Trim-trim, trim-trim…
- Está lá…
- Sim, é a Laura!...
- Eu sei claro…
- Não, não me esqueci, vou-a escrever!...
- Tchau.
Oops… Já começaram as reclamações por andar atrasada com as minhas crónicas. Não fazia ideia de ter tantos leitores. Obrigada!
Devo esclarecer que a culpa não é minha mas sim do meu papá que anda armado em calão e, também, porque tem andado atarefado lá com as coisas dele, que devem ser muito importantes, pois passa horas fechado no escritório às voltas com o computador.
Na verdade encontro-me ansiosa e também receosa por recomeçar, apesar de ter feito umas notitas ou cábulas, pois muita coisa irá por certo ficar esquecida ou por dizer ou menos bem relatada ou até mesmo ferida de algumas imprecisões. Todavia, e alfim, o importante mesmo é escrever ou descrever as coisas boas e más que me ou nos aconteceram.
Sexta-feira a minha mãe foi buscar-me à escolinha e depois fomos para o Parque Municipal brincar, quero dizer eu brinquei e a minha mãe andava atrás de mim, feita polícia (daqueles que põem as multas quando se não põe o “ticket” no tablier do carro) e, por acaso, até estava trajada de azul. Vigilante chamava-me, amiudamente, à atenção para certos perigos e pormenores, aliados àqueles “aparelhómetros” fixes: escorregas, baloiços, balancés de mola, cordas que mais parecem teias de aranha, passadiços, varões, etc…
Até existe, no parque infantil, um repuxo que hoje em dia todos chamam de bebedouro e que, antigamente era usado para dar água aos animais, enquanto o pastor bebia nas fontes, bicas, poços; acho que voltámos ao estatuto de animal mesmo, basta que vejamos o comportamento de quem nos manda ou diz que o faz.
Tem também um chão muito fixe e bonito, vermelho, molinho, porém quando caímos ficamos com a pele queimada e muitas tampas de caixas em ferro que quando caímos em cima delas podemos fazer um dói-dói na cabeça, é perigoso, não acham?
Outra coisa que não percebi é porquê que as casas de banho junto ao parque infantil não têm aparelhos sanitários para crianças, pelo menos uma sanita e um lavatório, quer para os meninos quer para as meninas. Será que os Srs. que fizeram os ”mnecos”, quero dizer os desenhos ou os projectos, só se lembraram dos grandes, porque são grandes, será, será?...
Constatei estes factos por experiência própria, o primeiro quando aterrei sobre o tapete de agregado emborrachado, queimando as minhas mãos, o outro quando inadvertidamente caí sobre uma tampa de ferro e esfolei o joelho, mas como sou uma menina muito forte não chorei nem nada, e por último quando, aflitinha, fui à casa de banho das meninas, e bolas! Não fora a minha querida mamã tinha feito um xixi nas cuecas, pois as sanitas eram desadequadas à minha condição de criança com três aninhos, o mesmo se poderá dizer dos lavatórios, ai, ai, ai,… vamos lá a mudar isto, afinal no parque infantil, e tal como refere o nome, existem muitas crianças, acompanhadas de adultos é certo mas crianças e nós crianças somos pequenas e pequeninas…   
Deixando para trás estes pequenos reparos devo dizer que: adoro parques infantis! São um mundo de diversão e descoberta, de erro e tentativa, de frustrações e vitórias, enfim um mundo que nos faz crescer mais saudáveis e criativos onde cada corrida é um amigo, onde cada escorregadela é um sorriso, onde cada baloiçada é um grito efusivo de alegria, onde cada pausa para descansar é um carinho, onde a rebeldia é premiada por mais uns longos minutos de permanência no campo de batalha, onde eu sou ao mesmo tempo a princesa e a guerreira, até que a mamã volte de novo à carga com o: vamos Laura que já se faz tarde.
Finalmente os argumentos acabam e o inevitável acontece, a mamã agarra-me ao colo e, sob contestação, eu ainda peço, esperançosa, uma vez mais: só mais um bocadinho, mas já não cola. E, aí, em desespero de causa lanço mão do meu último argumento do meu último recurso e choro. É sempre assim, irremediavelmente, que terminam as visitas ao parque infantil: em grossas lágrimas e veementes protestos.
Aqui vou eu direitinha ao carro, mais aborrecida que um peru em véspera de consoada, para logo de seguida ser presa à cadeirinha e a minha mãe tirar o azimute a casa. Não é justo eu queria ficar só mais um bocadinho ou melhor até ser noite, não era pedir muito para quem está a crescer como eu.
Chegada a casa, ainda amuada, mas já conformada, deu-se início ao ritual de fim de tarde, com uma ligeira diferença ou nuance, hoje é a mamã que está a tratar dos cães. Calçada de galochas e carregando o balde dos torrões lá vai a mamã em direcção ao canil… e eu, bem eu também quero ir, era o que mais faltava eu não ir, eu já sou grande e quero ver os meus cães; eles são lindos, não vou mais falar deles porque já conhecem as peças de artilharia aqui das minhas crónicas de FDS. Guerra armada, pois claro! A minha mãe não quer que eu vá. Tem medo que eu caia ou que os cães me façam cair. Que eu me aleije: já não chegou o parque, diz ela, com ar de poucos amigos. Por fim lá se salvou a honra do convento com a chegada da tia Vitalina que me pegou na mão e me livrou de todos os perigos do mundo e me consolou ou expiou a frustração que se acumulou com o crispar do diálogo. 
Esquecida; eu esqueço rapidamente, da situação e sem guardar qualquer tipo de rancor, desatei de novo na brincadeira e quando a mãezinha voltou atirei-me nos seus braços louca de contentamento e aos beijinhos. Adoro a minha mãezinha querida.
Enquanto a mãe estava no canil e os cães, loucos, corriam por todo o lado, felizes por uns momentos de liberdade ainda que efémera, aconteceu algo muito estranho e que eu não entendi muito bem apesar de ter provocado a risota geral. Foi assim: O Goya saltou para cima da Lucy a vá da dar ao rabo, “zunga, zunga, zunga”,… deitando para fora, assim como a mãe faz com o batom, uma enorme pilinha (a avó Ilda é que disse que era a pilinha dele) vermelha arroxeada. Estão a rir?... Haviam de ver. Aposto que também ficariam admirados. O Goya é pequenino e com aquela coisa enorme, pendente, a rojar pelo chão, arfando e babando, olhem que até fiquei a pensar que ele estava doente. Vejam bem que a Lucy até lhe rosnou, mordeu e fugiu. Pela certa a coisa era séria e perigosa ou pelo menos nessa qualidade o entendeu a cadelinha e ela não é parva nenhuma, não. 
Incidentes esquecidos e retoma da vida na sua plena normalidade: Banho, jantar, “mnecos” e compartimento da penumbra e esquecimento. Será que, como disse Shakespeare “Somos feitos da mesma matéria que os sonhos”?...  
A manhã de sábado foi madrugadora, nasceu cedo. Gosto de acordar cedinho, fica mais tempo para a brincadeira e para os “mnecos”. A mãe levanta-se sempre comigo, já do meu pai não posso dizer o mesmo. Mas hoje foi diferente. Não é que o maroto se levantou cedo outra vez. Mas eu sei porquê: Vai para as benditas aulas de pintura. Sempre quero ver se tem jeito para a arte dos pincéis e da tinta. Hoje supostamente vão acabar os garatujos. Aleluia! Estou farta de ficar os sábados de manhã em casa. A fazer de tudo e de nada e de tudo um pouco e a ver sobretudo “mnecos”. Quando o tempo já vai de praia, está um colorzinho fixe, isto é um desperdício, não acham?... Bem, vamos lá ver o que é que a fruta vai render, diz o povo.    
Não é que eu não aprecie ficar em casa com a minha mãe mas nem tanto ao mar nem tanto à terra. Variar é o conduto da vida, dá-lhe aquele gostinho a aventura e faz o coração bater mais forte e rápido.
Ora vamos lá ver o que nos reserva a tarde, até porque nesta lufa-lufa o tempo voou e o papá já apareceu por aqui ou seja chegou e a hora de almoço também. Hoje o almoço é fora, na casa da avó Aurita, eheheheheh… estavam a pensar que era nalgum restaurante fino?... Pois enganaram-se ou eu enganei-os. Vamos comer choupas grelhadas - choupa é um peixe, por sinal óptimo, para quem não souber -com os devidos acompanhamentos e a fatídica sopa, esta nunca ou quase nunca falha.
Para nos refazermos da trabalheira que é almoçar fomos fazer uma folguinha quase colectiva, quase porque a minha avó foi tratar dos destroços do almoço. É um trabalho sujo, eu sei, mas alguém teria que o fazer. Sobrou para a dona da casa.     
Descansados os guerreiros do “marfanço” e digerido o objecto do cansaço, urgia dar um destino à pandilha e este foi de consenso e unânime. Um saltinho à praia vinha mesmo a calhar. O tempo ajudava e pedia e o corpo exigia. Logo não houve como dizer que não, até se configuraria de apostasia.  
Na praia. Oh! Na praia. Mas que maravilha. Esplendorosa, fantástica, soberba, magnifica, etc e tal…
A água mais parecia sopa. O mar estava calmo e convidativo apesar da pequena ondulação que o animava de um movimento lento, harmónico e indolente e que compelia ao “splash”, a um par de braçadas e à brincadeira do chapinha-chapinha.
Construímos uma piscina gigante, fazendo um paredão em areia molhada e em forma de ferradura para possibilitar a entrada da água lateralmente, aproveitado o subir da maré, mas impedindo a sua saída. Foi mesmo divertido e bastante pedagógico. Aprendi geometria e estruturas, o funcionamento hidráulico do refluxo do mar e o estado da maré propício à construção e consequente enchimento do dique. Realizámos uma verdadeira obra de engenharia de barragens, onde executámos as mais finas e requintadas tropelias e brincadeiras.
Porém, ainda que muito bom, tudo tem um fim. O mar encheu em demasia, apossou-se da nossa represa e destruiu-a, acabando com o sonho e a brincadeira. Todavia, o final da tarde já se avizinhava, e com ele resolvemos recolher a trouxa, não sem antes “colher-mos” umas fotografias artísticas, de um ângulo absurdo, que o meu pai inventou, mas que se revelaram espectaculares. Não, não. Não vos vou contar o segredo. Talvez vos mostre, só talvez…
Deixámos a praia, com muito pesar meu, e parámos no apoio de praia poente, para refrescar ideias e garganta. Seguidamente fomos lavar o corpo e a alma à casa de Quarteira da avó Aurita, donde partimos para o jantar na Pizzaria Mammamia, na companhia da tia Rosário, da prima Sofia Miguel e do tio Mário que já estavam lá em casa quando chegámos. E como muitos fazem uma companhia lá fomos nós.
Não sou muito adepta de pizza pelo que comi uma sopa de legumes fabulosa, enquanto o resto da matula se repastou com pão de alho e pizza, intercalados por umas valentes imperiais e Coca-Cola para a prima. Eu bebi água.
Chegada a hora da conta e da divisão da mesma, foi pagar e cada um fez-se à vida. Em comum, restou, o espaço entre a Pizzaria e a casa da avó.        
Cansada. Adormeci quase de imediato. E, para dizer a verdade completa, foi uma directa.
O domingo revelou-se mais relaxado que o sábado. Todavia, a manhã já entradota na sua provecta idade, foi ocupada pela “cafézada” no Tertúlia Café e o irremediável momento de leitura do meu pai, este é quase como a Bíblia “sagrado”. Findo este fomos fazer uma quase também irrevogável visita aos cavalos, desta vez é o meu momento que, deslocados para estes lados, também se pode aferir enquanto “sagrado”.
O tempo é um comilão desmedido de segundos, de minutos e até de horas e aquele que passa já não volta para trás e corre inexoravelmente para a hora de dar ao corta palha ou ao serrote. Contudo, resta-nos uma incumbência a cumprir pelo caminho de regresso, nos entremeios. O primo André espera-nos, enquanto comensal, em sua casa. Nós somos a sua boleia para o almoço e o almoço é em “casa nostra”, é assim como “mi casa su casa” apesar do almoço ter um menu assim para o italiano: Sopa de abóbora com espinafres e massa fusilis de variegados sabores e cores acompanhada por peito de peru cortado aos bocadinhos-bocadinhos, isto é, mesmo pequeninos, com molho de natas. Como vêm coisa simples.
A restante tarde foi pacífica e descansada. Entre as brincadeiras com o primo e os meus país, restou tempo suficiente para uma bela duma folguinha, para descansar a beleza, e estragar o euromilhões do sono nocturno que teimava em não se conciliar com a minha electricidade acumulada, que só se dissipa sob a forma de energia despendida. Causando o desespero dos meus país que queriam descansar e bater com a pestana no mundo do faz de conta que conta mas afinal não conta porque geralmente ninguém se lembra ao acordar.   


tÓ mAnÉ   (in Laura Solange dixit) - 2012.07.(06,07 e 08)

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