segunda-feira, 15 de julho de 2013

Retalho/retrato de tempo (sábado de um ano qualquer)



É sábado, sábado, mesmo ao fim da tarde, o crepúsculo não tardará, de um dia seis de Junho de um ano qualquer; irrelevante!... porquanto, irremediavelmente, a noite irá chegar e, com ela, uma brisa fresca que levanta do silêncio, profundo, provindo da desunião causada pela interferência do lapso, único, de espaço e tempo que medeia a luz do breu; intervalo no qual se perde a noção entre o bem e o mal, nesga intemporal, que separa a luz natural da luz artificial, repondo, de novo, o equilíbrio, instável, existente entre a estucada certeira e o primeiro pingo, rubro, de sangue que aflora à camisa, branca, imaculada, à nódoa, escarlate, que alastra, ao baixar dos olhos para o local nefasto, ao esgar de espanto explodindo na face, ao dobrar dos joelhos, ao perder as forças, ao desfalecer, à queda facial descontrolada, à derradeira golfada de ar, ao olhar vítreo baço, ao fechar dos olhos, ao último estertor, ao abandono último e, alfim, ao do corpo a alma deixar ao se elevar, desprendida, em negra áurea, aí o crepúsculo tornou-se noite, entregou-se, rendeu-se, à luz cega do luar.
Hoje, sábado, dia seis de Junho de um ano qualquer; irrelevante!... amanhã o dia, ao ténue e tíbido romper da aurora, voltará, inexoravelmente, a raiar.

tÓ mAné   Editions

Sem comentários:

Enviar um comentário