O que é a
sensatez?...
Pergunta que
reiteradamente me assola, me assalta o consciente e até o inconsciente quando
com ela sonho. Por vezes quando acompanhado ou até em tertúlias improvisadas,
sopro-a! E, aguardo por respostas, mas elas tardam ou não chegam mesmo, morrem
asfixiadas nas gargantas ou calam-se emudecidas em largos períodos de silêncio.
Alguns olham-me e, tartamudeando, timidamente respondem, outros, porém, mais
modestos, encolhem os ombros e outros tantos ou mais com sobranceria e alarde
vomitam teorias mais ou menos estrambólicas, consoante as suas egocêntricas
imaginações o ditam.
Oiço-os quer nos
seus silêncios quer nas suas palavras comedidas ou de bazófias cheias, mas acho
que ninguém tem razão, nenhum deles sabe o que diz, falam por falar.
Incoerência nos gestos e nas palavras é tudo o que encontro. Certezas, essas,
nem perto nem longe, as vislumbro. Sim, eu pergunto porque não sei o que é a
sensatez. Daí eu cavar a pergunta até me doerem as palavras, até me secar o
epitélio da mucosa bucal, até remover uma resposta no deserto das consciências,
até encontrar um oásis que me mitigue a sede do meu desconhecimento, até que me
satisfaça esta minha necessidade incontida de saber.
Será que a
sensatez tem medida? Terá termo de comparação? Sentir-se-á em cada sentir
diferente? Cultiva-se? Será de bom senso ou de senso comum? Interferirá com a
razão? Interferirá com os outros? Será apenas uma prevalência teimosa do ser?
Teria um sem fim
de perguntas a formular e um sem número de respostas ecoariam no meu consciente
e reverberariam no meu inconsciente sem que, no entanto, alguma me lograsse
agradar, me sossegasse o espírito que em revolito viaja dentro de mim sem
alcançar retentriz.
Dizem alguns que
chega com o amadurecimento do ser, outros, todavia que é inata, adamítica,
outros ainda que se recria dia a dia, cumulando, como um dínamo armazena energia,
pura dimanação. Nada nem ninguém me demove. Se a sensatez existe, abandonou-me
em tenra idade ou nunca em mim habitou ou, ainda, talvez Deus não me tenha
bafejado com semelhante artefacto ou bênção. Sou órfão de sensatez! Não me
sinto nem obrigado nem compelido a ela, e, caso ela exista, não quero ser seu
escravo!
Irrita-me!
Irrita-me solenemente essa alegada sensatez e o uso que dela fazem ou tentam
fazer, pois sou contumaz nos actos irreflectidos. Imponderado, sim! Quase
sempre!... Inconsequente, não! Nunca!... Insensato, sim! Talvez… E sim outra
vez…
Tenho a convicção
profunda de que para se ser humano não é condição sine qua non ser-se sensato, basta ser-se humano e ter humanidade. Estou
cansado daqueles que sob a capa da sensatez; se é que ela existe mesmo, são de
uma desumanidade sem igual, incontornavelmente atroz.
Hoje, olhando
para trás, mais velho, mais lúcido, afirmo orgulhosamente que fui e sou muito
mais humano que sensato. Comi e como o pão que o Diabo amassou mas não me
rendi, nem me vendi à sensatez, Comprei antes humanidade, carradas dela; se eu
fosse sensato mentiria com todos os dentes que tenho. Assim, insensato, não minto,
para ser exacto e não fugir à verdade se é que ela não é mais um paradigma
perdido no léxico, será que posso verbalizar o que penso?
Estou a ouvi-los,
calem-se! Eu respondo: Sim, claro! É possível a miscigenação da sensatez com a
humanidade, mas só em pequenas doses de ambas e ainda assim devo dizer que se
trata de um cocktail, explosivo, para
incautos; efabulação e verborreia.
O que é sensato
para mim, na grande maioria das vezes, não o é para os outros. Senão vejamos: Num hospital, sofrendo atrozmente,
encontra-se internado um indivíduo em fase terminal… Humano: Concessão de morte
assistida medicamente. Sensato: Deixar prolongar a agonia até que a morte resolva
aparecer. Coabitação entre humanidade e sensatez: Administrar cuidados
paliativos e subsequente morte com dignidade.
Vão-me dizer que,
esta, é uma solução equilibrada, de compromisso. Sim, talvez!... Porém nem se criou
humanidade nem prevaleceu a sensatez, mas sim um ente estranho entre o sim e o
não um “nim”, com o qual plenamente
discordo. Se o tal individuo fosse eu ou um familiar muito, muito próximo ou,
ainda, um amigo, amigo. Pessoalmente preferiria que fossem humanos; Ser humano
não significa ser dono do conhecimento e da verdade absoluta, mas tão-só agir
pleno de consciência no acto que se pratica.
A sensatez
insulta-me a inteligência, sensatos são os animais eu… eu quero mais, quero ser
humano e insensato!... Assim, não se me assistem obrigações para com a
sensatez, tenho-as sim para com o universo, o mundo e a humanidade, mas nunca
para com os Homens!
Para eles,
Homens, basta e é mais que suficiente que eu seja humano, neste mundo desumano
rendido e vendido, hipocritamente, à sensatez.
tÓ mAnÉ Style
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