sexta-feira, 12 de julho de 2013

A sensatez



O que é a sensatez?...
Pergunta que reiteradamente me assola, me assalta o consciente e até o inconsciente quando com ela sonho. Por vezes quando acompanhado ou até em tertúlias improvisadas, sopro-a! E, aguardo por respostas, mas elas tardam ou não chegam mesmo, morrem asfixiadas nas gargantas ou calam-se emudecidas em largos períodos de silêncio. Alguns olham-me e, tartamudeando, timidamente respondem, outros, porém, mais modestos, encolhem os ombros e outros tantos ou mais com sobranceria e alarde vomitam teorias mais ou menos estrambólicas, consoante as suas egocêntricas imaginações o ditam.
Oiço-os quer nos seus silêncios quer nas suas palavras comedidas ou de bazófias cheias, mas acho que ninguém tem razão, nenhum deles sabe o que diz, falam por falar. Incoerência nos gestos e nas palavras é tudo o que encontro. Certezas, essas, nem perto nem longe, as vislumbro. Sim, eu pergunto porque não sei o que é a sensatez. Daí eu cavar a pergunta até me doerem as palavras, até me secar o epitélio da mucosa bucal, até remover uma resposta no deserto das consciências, até encontrar um oásis que me mitigue a sede do meu desconhecimento, até que me satisfaça esta minha necessidade incontida de saber.
Será que a sensatez tem medida? Terá termo de comparação? Sentir-se-á em cada sentir diferente? Cultiva-se? Será de bom senso ou de senso comum? Interferirá com a razão? Interferirá com os outros? Será apenas uma prevalência teimosa do ser?
Teria um sem fim de perguntas a formular e um sem número de respostas ecoariam no meu consciente e reverberariam no meu inconsciente sem que, no entanto, alguma me lograsse agradar, me sossegasse o espírito que em revolito viaja dentro de mim sem alcançar retentriz.
Dizem alguns que chega com o amadurecimento do ser, outros, todavia que é inata, adamítica, outros ainda que se recria dia a dia, cumulando, como um dínamo armazena energia, pura dimanação. Nada nem ninguém me demove. Se a sensatez existe, abandonou-me em tenra idade ou nunca em mim habitou ou, ainda, talvez Deus não me tenha bafejado com semelhante artefacto ou bênção. Sou órfão de sensatez! Não me sinto nem obrigado nem compelido a ela, e, caso ela exista, não quero ser seu escravo!    
Irrita-me! Irrita-me solenemente essa alegada sensatez e o uso que dela fazem ou tentam fazer, pois sou contumaz nos actos irreflectidos. Imponderado, sim! Quase sempre!... Inconsequente, não! Nunca!... Insensato, sim! Talvez… E sim outra vez…
Tenho a convicção profunda de que para se ser humano não é condição sine qua non ser-se sensato, basta ser-se humano e ter humanidade. Estou cansado daqueles que sob a capa da sensatez; se é que ela existe mesmo, são de uma desumanidade sem igual, incontornavelmente atroz.
Hoje, olhando para trás, mais velho, mais lúcido, afirmo orgulhosamente que fui e sou muito mais humano que sensato. Comi e como o pão que o Diabo amassou mas não me rendi, nem me vendi à sensatez, Comprei antes humanidade, carradas dela; se eu fosse sensato mentiria com todos os dentes que tenho. Assim, insensato, não minto, para ser exacto e não fugir à verdade se é que ela não é mais um paradigma perdido no léxico, será que posso verbalizar o que penso?
Estou a ouvi-los, calem-se! Eu respondo: Sim, claro! É possível a miscigenação da sensatez com a humanidade, mas só em pequenas doses de ambas e ainda assim devo dizer que se trata de um cocktail, explosivo, para incautos; efabulação e verborreia.   
O que é sensato para mim, na grande maioria das vezes, não o é para os outros.  Senão vejamos: Num hospital, sofrendo atrozmente, encontra-se internado um indivíduo em fase terminal… Humano: Concessão de morte assistida medicamente. Sensato: Deixar prolongar a agonia até que a morte resolva aparecer. Coabitação entre humanidade e sensatez: Administrar cuidados paliativos e subsequente morte com dignidade.    
Vão-me dizer que, esta, é uma solução equilibrada, de compromisso. Sim, talvez!... Porém nem se criou humanidade nem prevaleceu a sensatez, mas sim um ente estranho entre o sim e o não um “nim”, com o qual plenamente discordo. Se o tal individuo fosse eu ou um familiar muito, muito próximo ou, ainda, um amigo, amigo. Pessoalmente preferiria que fossem humanos; Ser humano não significa ser dono do conhecimento e da verdade absoluta, mas tão-só agir pleno de consciência no acto que se pratica.
A sensatez insulta-me a inteligência, sensatos são os animais eu… eu quero mais, quero ser humano e insensato!... Assim, não se me assistem obrigações para com a sensatez, tenho-as sim para com o universo, o mundo e a humanidade, mas nunca para com os Homens!
Para eles, Homens, basta e é mais que suficiente que eu seja humano, neste mundo desumano rendido e vendido, hipocritamente, à sensatez.

tÓ mAnÉ Style

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