quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Crónicas FDS da Laura – Registo XIII


E porque hoje é sábado e porque sabe Deus ou o Sátiro porquê, todos acordámos cedo, coisa rara e quase nunca vista no feitiozinho do meu pai que nestas coisas, do levantar só mesmo por levantar, é mais bera que a ferrugem. Todavia, e porque hoje é sábado o meu pai deu-me a alegria de acordar e levantar-se cedo, o que nem sempre são sinónimo, o acordar e o levantar nem sempre coincidem na pessoa do meu pai, pois existe uma fase intermédia que por vezes dura que dura, é a fase da “preguicite aguda” de colchão.
E, talvez por hoje ser sábado, o sábado foi diferente do usual, do costumeiro. Todos sem excepção se despacharam depressa, não houveram torpores matinais ou outros pruridos, sem agitações, bulícios ou reclamações de última hora ou despropositadas. De facto foi um ai enquanto não estávamos e estávamos a transpor o portão, as guardas do sacro santo lar, e nos encaminhámos a tout la vitesse para a Parvónia City.   
Chegados à Parvónia City, não se cumpriu a profecia de costume, o meu papá rumou para o desconhecido, para outro local que não useiro. Calculem que fomos beber o café à Pasteleria-Padaria Reis do Pão, inédito não acham? Desculpem, não ouvi bem… Não, não esse junto ao Marufo’s Bar que a agora se chama de Xavier Bar, é aquele que fica na praceta atrás da Escola EB1 Horta de Santo António, próximo do supermercado Modelo. Esclarecidos?... Continuando para bingo. Para além dos cafés o meu pai ainda comprou, sim porque o café também se compra, o pão e uns bolinhos apetitosos de torresmos, coisa que eu não sei bem o que é mas que tem um aspecto gorduroso e comem-se – o malvado, de vez em quando, esquece-se do colesterol.
Da Pasteleria-Padaria fomos para um gabinete de estética Valentina Hairstlylis, mesmo ali ao lado, a minha mãe queria lavar, cortar e pentear a trunfa. Trabalho que se revelou árduo e demorado; espera a vez, lava, corta e não corta, seca, penteia e dá-lhe o jeito e forma adequada ao gosto da criteriosa da mamã, foi um rabo que deu água pela barba para esfolar (o que levou menos tempo foi o acto de pagar). O meu pai, claro, entregou as moças e rapou-se a mil à hora para a pastelaria, dizendo: Vou ler um bocadinho. E pernas para que vos quero.
A cabeleireira ou melhor o gabinete de estética era todo XPTO (abreviação da palavra grega XPISTOS – Cristo), hoje utilizada em português em contexto irónico, por "sofisticado" ou "de qualidade", frequentemente reforçada com o adjectivo "todo"), isto segundo as divagações do meu pai que gosta de coisas intrincadas. O Gabinete de Estética era todo um “ai não me toques” e, claro está ou como é bom de ver, não me contive sem dar um pouco do meu cunho pessoal a tão raffinée e requintado estabelecimento, quer ao nível do espaço como no que concerne ao padrão de comportamento: Estive no meu melhor! Podem crer.
Levado pela curiosidade ou pela impertinência da espera ou ainda pelas gajinhas jeitosas que lá estavam; o meu pai cheira gajas a quilómetros, o meu pai regressou e, aí, foi a bagunça total. Brincámos ao “lobo mau” (que é sempre o papel encarnado pelo pai eu sou a eterna fugitiva), ele tem um aspecto feroz mas, não tanto como um par de pernas, longas, torneadas e esguias, enfiadas numas meias de vidro pretas, que lá estavam, sentadas no final delas, que quando nos olhavam do alto da sua sobranceria, mais que ocasionalmente, e com um ar reprovador, assim como que chispando um pensamento: Tal pai tal filha. Gajas!... ao esconde-esconde e ao apanha que é ladrão (quase atropelei as pernas estilizadas e por um triz não abri um foguete nas meias; bem-feita! Estavam mesmo a merece-lo.)
Face ao panorama de mau estar generalizado, aos trejeitos da minha mãe e ao incómodo revelado pelas faces rubicundas das gajinhas, o meu pai viu-se na contingência, antes que fosse convidado a sair por indecente e má figura ou, neste caso em particular, mau comportamento, de agarrar em mim, Laura Solange, no seu orgulho machucado e no lencinho de chupar e bater em retirada com o pelotão rumo à Pastelaria - Padaria.
Ir à Pastelaria-Padaria só com o meu pai é sempre uma incógnita, uma mini aventura, não tão mini como a saia das pernas, que mais parecia um máxi cinto, mas mini; uma “aventurinha”, formato bebé. O homem, desculpa paizinho! Sabe sempre o que eu gosto, o que quero ou me apetece. Desta vez escolheu uma bebida fresquinha que eu nunca tinha visto, como se isso fosse possível, eu com quatro anos não conhecia aquela bebida. Vinha muito bem acomodada dentro de um saquinho de papel prata, colorido, que trás agarrada a ele, dentro de um celofane, uma palhinha comprida e fininha, cor de laranja, para facilitar o consumo do refrigerante e, chama-se: Capri-Sonne, e apresenta um leque de sabores variado, que me foi dado a escolher. Escolhi o sabor: Safari Fruits. Uáuuuuu estava deliciosa!       
O meu pai optou por um sumo Compal sabor Manga Laranja e um bolo, uma torta como lhe chamou, com um recheio tipo… qualquer coisa, rsrsrsrsrs… eu nem quis provar. Todavia bebi-lhe o sumo quase todo. Pudera, após tanta arruaça, estava sedenta, diria mesmo quase liofilizada.
Inclusos na liberdade da praceta e abertos de corpo e de espírito ao arrabalde, encetámos uma brincadeira de correrias tontas, num abaixo e num acima, que deixou o meu pai extenuado ou cansou-se depressa desta brincadeira, pondo-lhe um ponto final parágrafo, e rumámos ao gabinete de estética onde a mãe tinha ficado órfã de nós.   
As pernas ainda lá permaneciam, altivas, agora sentadas com o seu final na cadeira das penteaduras. Desta vez o meu pai recomendou-me compostura e não estava a brincar, via-se e ouvia-se muito bem. Assim, e sem mais permeios, tive que sossegar a “cartaxinha”. De qualquer modo, a mãe, estava quase despachada, mais duas tesouradas, uma “secadela” e umas escovadelas… et voilá… comme il faut!
Paga que foi a “multa” o caminho do mercado estava no azimute; ir a um gabinete de estética é caro, bolas!
No mercado, está no nome e na cara, fazem-se compras mas não só: Regateiam-se preços, pavoneiam-se corpos e trajes, ouvem-se as quadrilheiras, visita-se e tiram-se fotografias e fazem-se filmagens, ou apenas se deambula imbuídos na policromia e na cacofonia deslumbrante do espaço; usufrui-se do ambiente fervilhante que nos rodeia. Contudo, fazer compras é o objecto primevo e, assim, começaram, aos poucos, a emprenhar a balsa os produtos criteriosamente seleccionados, como: pão caseiro, tomates cor-de-rosa, cebolas novas, cenouras, carne, peixe, caracóis, pêssegos (de mais que nove e a balsa quase que paria, prenhe em demasia de tanta coisa que trazia…).
Quem muito bebe muito… adivinhem, sim, isso mesmo, foi essa a relação causa efeito.
- Papá, papá a Laura tem xixi. Depressa, depressa que estou aflitinha. Ai, ai, ai,…
- Vá anda daí antes que haja desgraça.
- Eu aguento papá, eu aguento.
Agarrando-me pela mão, o meu pai, levou-me em direcção não das sentinas públicas mas sim ao Snack Bar Cais de Loulé, uma vez que segundo ele, os sanitários públicos do mercado estão que nem cão pode lá ir; as pessoas, quero dizer certas pessoas que não o são, só pode, não passam de umas selvagens, umas porcas, umas… sei lá, nem me lembro de um qualitativo apropriado para as classificar. Bolas, nem percebem que estes e outros equipamentos públicos também são para elas. E fiquemos por aqui, pois muito mais teria a dizer.
Tarde é a palavra apropriada para definir o fim destas operações especiais, muito tarde. Pudera com tanta manobra de diversão o ataque final: O almoço, começar. Face às contingências vimo-nos na obrigação de irmos almoçar fora, almoçar em casa estava fora de questão, nada estava feito.
Bem dito melhor feito. Eis-nos sentados à da “Preta” designação, não pejorativa ou jocosa nem tão pouco de conteúdo xenófobo, pela qual vulgarmente é conhecida a churrasqueira Angolana. Não! Não é que a proprietária seja negra ou preta, pois ela é mais galão ou melhor, como mulher, assenta-lhe melhor meia-de-leite como designação da tez, mas sim porque as paredes do estabelecimento ostentam duas telas de meio corpo de negras tribais de fartos seios e mamilos proeminentes, expostos à luz do dia, ou melhor falando, sem “pára-quedas”.              
O almoço foi agradável e bem servido. Comi uma sopa de caldo verde e ajudei os meus pais nas espetadas de salmão e gambas, na salada não toquei mas as batatinhas fritas foram objecto da minha gula. Hummmmm delícia!
Como me portei que nem uma valente no final da refeição tive direito a gelado “O fantasma da Angolana”, ditos do meu pai enquanto ambos bebiam o incontornável café. 
Finalizado o repasto, foi pagar (reclamando a inclusão do couvert na conta – o meu pai é um reclamador de profissão) e bute, que se faz mais que tarde, para casa, pois as compras no carro estavam ao sol e podiam estragar-se, o que não convinha nada.
A minha mãe, que anda sem vagar nenhum, pois aquela da tese de mestrado não tem meio de ver terra, tal e qual a Nau Catrineta, nem ajudou a descarregar e a arrumar as compras. Enfiou-se, qual coelho em toca, no escritório; agora casou com o computador, diz o pai, que, amavelmente foi brincar comigo às casinhas; queria-me calada e satisfeita, é o que é!..., numa casinha/tenda que pertenceu em tempos à minha prima Sofia e que, há algum tempo, atravessou serra e barrocal e pousou em minha casa, logo passou a minha pertença. Brincámos a dormir, a acordar, aos almoços (apesar de termos acabado de almoçar; foi o reforço) e até às escondidas e às espias (eu era a 008). A diversão durou até ao anúncio solene do meu pai: Já me doem as costas filha, temos que pensar noutra coisa, de facto o espaço era exíguo e o meu pai é assim para o grandote mas magrinho.
Terminada a brincadeira. Arrumado o estojo. Fui sentar-me no sofá, que o papá, às vezes, pomposamente chama de maple com o meu lencinho de chupar e vá de bonecada, entretenha que me manteve ocupada uma boa parte da tarde.
Ao cair da tarde, aiiiiii… (este foi o som que a tarde fez ao cair, ouviram?... eheheheheh…) fui convidada pelo paizinho para uma jornada de apanha de chícharos. Porém declinei o convite, aquilo era o mato desgraçado! E, acontece que já tinha uma alternativa na manga, logo eu para me perder (ponto sem nó não faz o meu feitio). Aproveitei o largar do choco, não por muito tempo não fossem os ovos gorar, da minha mãe para ir com ela encher os garrafões nos bidões para depois ir dar água às gansas, aos patos, às galinhas e, finalmente, aos pintos. Apre tanta bicharada! Estou desconfiada, olhando nos olhos da mãe, que anda ali um franganote a pedir batatas…      
Este é um trabalho difícil e pesado, pois não só se têm que encher os garrafões    (5 litros) como se têm que transportar dois a dois até ao galinheiro que dista pelo menos uns bons cinquenta metros dos bidões. E, olhem que foram mais de vinte garrafões, ufa!...
Cansada de tanta água e aproveitando o ensejo da chegada da avó Ilda, imaginem a reclamar que necessitava de água – água outra vez Deus meu – para fazer os farelos para a bicharada, pois segundo ela: Quando chega aquela horinha e eles não comem, até vão a parvos, nunca vi igual, “espavilhei-me” atrás dela no fito de a ajudar. Tenho que aprender, quero saber de tudo.
Operações adidas à bichara resolvidas e eis que chega o meu pai, ou melhor um monte ondulante, verde, e ambulante de vegetação, com um molho descomunal de rama de chícharos à cabeça, que o cobria de baixo acima, parecia uma santola carregada de algas. Calculem que arrancou as plantas dos chícharos pela raiz, mas não se assustem pois eu fiquei a saber que é mesmo assim que se faz. Primeiro arrancam-se as plantas e só depois é que se “desbugam” ou descascam as vagens.  
Rolando aqui, saltando ali, chegou a hora de debandar ou da revoada do monte da avó Ilda, das tias Vitalina e Maria que agora não se quer levantar da cama, isto é que vai aqui uma açorda, tal como diz o compadre Cassildo na televisão.  
A ida à casa da avó terminou com uma corrida, à laia da séria mas na brincadeira, até ao nosso feudo. Ganhei, claro! Os cotas já não têm pedalada para mim.
Casa, tarde, cães são uma sequência lógica de acontecimentos cronológicos, quero eu dizer que ainda tive tempo para ajudar o meu pai a tratar da canzoada. No canil fiz uma birra indecente, uma verdadeira vergonha. Na verdade o papá zangou-se comigo porque eu fiquei de personalidade forte e não obedeci, nem acatei a ordem de: Está aqui sentada e quieta, oh pá, a inquietude está-me arreigada aos ossos, está-me no sangue, não fosse eu filha do meu pai.
Passado o arrufo e depois da minha mãe “galinha” aparecer para se certificar ou inteirar dos acontecimentos que causaram semelhante desacate, lá fui ao colo dela para casa e logo de seguida para a barrela; estava imunda, diga-se, depois de tantas e diversas actividades.
O meu pai, logo que chegou de tratar os cães, parecia que trazia uma bichinina ou um foguete agarrado ao fundo das costas, entrou em casa logo anunciando à cabeça, para que não se suscitassem dúvidas de qualquer ordem ou razão: tenho que me despachar, pois quero ir ao cinema e não quero chegar atrasado.
Qual é o filme? Perguntou-lhe a minha mãe de sus.
The Great Gatsby. Acrescentando ainda: Com o Leonardo DiCaprio. Baseado e adaptado de um livro de 1925 de F. Scott Fitzgerald’s com o mesmo título.
Quando for grande quero ser como o meu pai: Ir todas as semanas ao cinema. Esta foi a primeira emoção que se me cravou no íntimo, tal como um cravo se crava no casco de uma cavalgadura, apesar de não ter muito a ver foi o que se me grudou no pensamento.
Foi como fumo. Assim falou, assim se despachou e assim se esfumou, com falta de ar ou por um ar que lhe deu. Malamente veio dar um beijinho nas mulheres cá de casa. Arre que o homem estava como um sarilho de diabinhos dançando zumba dentro de uma fogueira.         
E, nós mulheres? Perguntam vocês e bem. Pois, nós mulheres em casa, compulsivamente em casa. Oh justiça onde andas?...
Jantámos, em casa! Sentámo-nos no sofá, em casa! Vimos televisão, em casa! Enquanto, ele, o meliante, se sovava no cinema. Que inveja!
Quando terminou a série Huntik e os seus titãs lendários, fomos para a cama, em casa! E, assim, em casa ficámos até que o Sr. se dignasse a chegar. A nossa vingança foi dormir a sono solto. Bem-feita!   
Olhem meninos, por hoje é tudo, pois isto já é um fartote daqueles e amanhã, se Deus assim o quiser, também é dia. Boa noite e um sono aconchegadinho. Até amanhã simpáticos!...   
Voltei! Fresquinha da Silva, após uma noite “fantabulástica” de sono. Bom diaaaaa mundo!... e um “espantástico” domingo!... Eu sou assim pródiga no desejar.
E, para começar bem o dia nada melhor que um “agarranço” ao ecrã mágico e aos meus queridos bonecos. Desligueiiiii para o mundo…
O meu pai acordou bem disposto, deve ter sido do cinema. E, antes até de tomar o pequeno-almoço, para dar graxa ao cágado, foi tirar um Nespresso Arpeggio para a mamã tomar, e, vejam só, inédito, antes de se evaporar para Loulé para tomar café (gosta de sair para ir tomar a bica), para onde seguiu acompanhado pela sua nova amante: A Imperfeição do Amor, por quem anda agora perdido de amores literários.
Não pensem que foi assim sem mais nem menos. Na mochila da consciência levava os deveres a cumprir; eu ouvi as incumbências de que ficou acometido pela minha mãe. E, por falar da minha mãe e de amantes, logo que bebeu o café e estipulou as tarefas a realizar pelo meu pai, foi direitinha para o computador. Aiiiii… e eu… coitada de mim. Solta!… ihihihihih…
O tempo é um impostor! Passa de fininho e quando damos por ele já é tarde. Foi num ápice que caiu na hora do caldeirão ou na hora da “lambeta” como diz a avó Ilda.
O meu manjar passou por uma carne moída embrulhada com ovo, assim uma espécie de ovoleta (não faço ideia porque lhe hão-de chamar omeleta, não faz sentido, não é feita com OMO mas sim ovos e não lava mais branco fica antes amarelada) mas mais simplificada, acompanhada por uma soberba salada de tomate cor-de-rosa e a bendita da sopa, pois claro!...
Ao chegar da “vila” o meu pai não lhe cabia uma pena no “foufeiro” de tão satisfeito que vinha, é que vinha mesmo, mesmo “satisfeitinho”. Sabem porquê? A princípio também não me apercebi do porquê mas depois logo vislumbrei a tramóia, deixem que vos conte: Ele comprou, no Continente, uma melancia enorme, XXL, fora de época e uma planta de jardim, muito exótica, que tinha cachos de flores púrpuras, muito aveludadas, em forma de crista de galo, isto com o escopo de oferecer à mamã, não deve andar a pintar boa. Tudo isto cheira a esturro.
Com o papá e as compras, da “vila”, ainda veio a avó Aurita, à hora da refeição o diabo traz sempre mais um, isto dizia o povo quando a fome grassava pelo mundo e como virá, se já não o não faz agora, a grassar, tal vão os tempos - maltinha preparem as enxadas, pois vão fazer mais falta do que vocês possam imaginar.
Adoro a Avó Aurita e, como tal, fui até junto do carro para recebe-la com pompa e circunstância ou seja efusivamente aos abraços e beijinhos.
Dizia-me, fazia já algum tempinho, a minha barriguinha que eram mais que horas de almoçar e, como o almoço estava prontinho a cair na mesa, “zás-catrapaz”, também nós caímos na mesa e desatámos a dar ao serrote: Quiche tipo “Lorraine” e salada dos celebérrimos tomates cor-de-rosa com rebentos frescos de soja, destes gostei mas da quiche “benhaque-benhaque” foi prová-la e cuspi-la. Odiei-a! O famoso queijo da Ilha, com que foi concebida, é horrível! Que me perdoem os azorianos ou açorianos, dependendo do nome que chamam à rapace que cognominou as ilhas; azor ou açor. Sabem gosto sempre de provar, temos que ter um espírito aberto, porém nem sempre acho delicioso por vezes também acho execrável. É a vida!...       
Durante o almoço, mas não almoçou – desta vez o Diabo enganou-se ou enganaram-no. Só mesmo a avó Ilda para enganar o Diabo – apareceu, como por milagre, a supradita avó Ilda e com ela iniciou-se um processo de tagarelada que continuou, inexoravelmente, após o almoço; Os grandes, os adultos adoram dar ao “linguete”, assim o diz a avó Ilda e, assim, finalmente descobri a quem saio: A eles.
Longo ia o tempo do almoço já finado quando o meu pai levantou o fim das pernas da cadeira e abandonou a mesa dizendo: Vou trocar de roupa para ir cortar o mato que bordeja o caminho. Acrescentando ainda: Está indecente e, mal se consegue passar sem arranhar o carro todo. Dito isto deu corda aos sapatos e lá se predispôs à ingente tarefa.     
Desta vez não tive apetites de ir com o meu pai. Sorte a minha. Não fora o fastio teria chegado como ele: Todo suado e afogueado, “chiça” safei-me desta e de boa! Ainda bem que fiquei em casa a brincar com a avó Aurita e dando cabo da caganita à minha mãe.
Chegou e embarcou, nem parou para descansar.
Maria! Gritou e gritando ainda: Vou tratar dos cães! Mais parecia um matusalém de galochas e chapéu de abas largas. Farta de mulheres e de casa, agora também quis ir. Corri para ele a gritar: Papá, papá também quero ir.
E, assim, lá fomos nós cantando e rindo, não como no Hino da Mocidade Portuguesa, mas de alegria e felicidade mesmo - pulando e cantando - em direcção ao canil.
Agora é que a porca troce o rabo. Porquê perguntam vocês e bem! Ai porquê… ai, ai, ai,… Então não é que enquanto tratávamos dos cães me assaltou ou assolou a ideia louca, não fora ela nem faria menção a esta tarefa vezeira e useira e mais que recalcada nestes relatos de FDS, de desatar a beber água da vasilha da Kika, a nossa cadelinha, fazendo da minha mãozinha uma espécie de cocharro.
Oh meu Deus! Quando o meu pai viu, ai, ai, ai,… zangou-se mas, coisa estranha, estava a zangar-se e a rir ao mesmo tempo, situação que me deixou muito confusa, perplexa mesmo, pois não é nada do seu feitio este comportamento, ele quando se zanga, zanga-se.
Quando parou este desplante, esta risota indecente da minha pessoa e na minha cara, olhou para mim com aquele olhar doce e disse-me: Olha filha, são defesas que ganhas, que o mal não seja pior, e voltou a rir-se, para depois reactivar de novo a conversa: O que vale, filha, é que o pai acabou mesmo agora de lavar a “penica” e de enche-la com aguinha limpa.
E, assim, de mãos dadas, rindo de nós próprios e do episódio caricato de que fomos os únicos os protagonistas, regressámos a casa, cumprida que estava a nossa missão.
Em casa. Na cozinha, estavam as minhas avós. A avó Ilda estava ocupada a cozinhar os caracóis; elas não podem cozinhar juntas, fazem faísca e dá sempre molho, percebem? E a avó Aurita comentava com ela a relação das mulheres modernas com a cozinha, os tachos, as panelas, as frigideiras e afins. Ao que avó Ilda, muito despachada e enxuta, retrucou: Elas querem é dar uma na pita e outra na fita, claro, respondeu a avó Aurita, dizendo: Uma na caixa outra na racha. Fiquei sem perceber e, mesmo que quisesse, foram-me cortadas as vazas pela minha mãe: Filha está na hora do banho, vamos lá.     
O banho hoje foi especial. Tive direito a secção fotográfica e a uma filmagem em padrão de mini metragem. Nada de escandaloso, atenção! Oh mentes pecaminosas!...
Apesar da realização artística o banho decorreu à velocidade da luz de relâmpago; todos estavam ansiosos e desejosos de afinfar nos caracóis. Até a avó Aurita ficou para alegrar o pitéu e participar no jantar, o que não é muito usual, pois quer ir sempre para casa cedinho.
O jantar:
- Caracóis com pão torrado com manteiga;
- Sopa de lentilhas à moda da avó Ilda;
- Lasanha à moda da minha mãe;
- Fruta da época e bolo mármore com nozes.
Sabem, quando cheguei do banho, vi a avó Aurita a arranjar carapaus para alimar e, logo fui fazendo juízos de valor: Caracóis e carapaus alimados não pegam nada, mas…, porém não tinha visto a minha mãe fazer a lasanha, andava entretida com o meu pai lá para a banda dos cães. Afinal, e na a verdade os factos revelaram-se outros: Os carapaus iriam ser o almoço de amanhã do pai, da mãe e da avó Aurita  e, os carapaus alimados salgam-se na antevéspera ou na ante antevéspera, conforme o gosto do freguês, cozem-se e temperam-se na véspera e comem-se nos dias seguintes.
Aiiiii… já estou cansada e farta de tanto contar as coisas para o meu pai as escrever e, acho, que ele também já lhe vai faltando a paciência, pois já não está de boa cara, nem sei como ele aguenta tanta tagarelice.
- Está quase papá, digo-lhe com um sorriso encorajador.
Abreviando: Depois de jantar o meu paizinho foi levar a avó Aurita a Loulé, a casa dela. Quando ele chegou, trouxe com ele, a hora da minha “estoriazinha” e, com ela chegou, inexoravelmente, o óozinho.
Boa noite “rabalões” e “rabalonas”. 
  
tÓ mAnÉ   (in Laura Solange dixit) - 2013.05.(18,19)

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Crónicas FDS da Laura – Registo XII


Este fim-de-semana vai ser especialmente para mim, apesar de hoje sábado ter ficado um pouco à parte ou melhor ostracizaram-me na ida às compras de sábado de manhã.
Assim, entretive-me a brincar com os meus brinquedos, passe a redundância, enquanto a avó Ilda, sentada no sofá e tal e qual uma coruja na torre sineira, me observava mais ou menos atenta conforme o caso o requeria; adoro ficar em casa com a avó! Ela permite-me certos devaneios que me estão vedados pelas regras da casa, ou seja, faço tudo o que me dá na real veneta e na tola também.
Emmeios os papás foram ao mercado (cheios de pressa e como referi nem pensaram em me levar – eu sou um empecilho para a velocidade das compras) ultimar as compras para a minha festinha de amanhã. Como já vos referi, ao de leve e sem data anunciada, no fim-de-semana passado, amanhã é o meu aniversário – faço quatro anitos e já vou ser grande – e vai haver festa; fiesta como diz o Manny Mãozinhas y sus herramientas.
Pois, como vos disse, esta manhã estou à perna quase solta e vou pintar a manta à minha maneira, não me chame eu Laura Solange. A avó deixa e, eu aproveito, claro!...   
Hoje é também um dia especial! Sabem porquê? Não sabem claro, vocês nunca sabem, daí ter de vos contar sempre. Ora então vamos lá: Hoje chega o meu tio padrinho Miguel, irmão do meu pai, e a tia Bleca, que na verdade se chama Isabel mas, todos a apelidam de Bleca (este assunto já foi explicado pelo que vos vou poupar a mais detalhes).
Vêm cá almoçar ademais as avós, o primo André “ o “lingrinhas ou trinca espinhas” e o meu mano Pedro, que está grande, forte e um língua de trapo – só fala de ginásio e de gajas, como se isso fossem assuntos do meu interesse, até enjoa!...
A primeira a almoçar fui eu, aliás sou-o quase sempre. E, hoje até antes que os papás chegassem. Estava esfaimada, Santo Deus.
A sopinha de legumes, claro! Porque é claro (a minha mãe não dispensa a sopinha), os carapaus alimados à algarvia, que o meu pai fez ontem com a ajuda da avó Ilda, as batatinhas cozidas com pele e a frutinha, tudo isto aliado ao jeitinho e à paciência que a avó tem para me dar comida, soube-me quem nem ginjas. Acreditem que até fiquei “harpando” e meio “ensampada”.   
Assim que chegaram, os meus pais, não tiveram mãos a medir. Porém, não perderam a oportunidade de “lamber a cria”, que seu eu, pois claro! Beijinhos, abracinhos e festinhas foi um vê se te avias; fiquei tão contente! 
Na véspera, sexta-feira, o meu pai tinha comprado carapaus para assar e para alimar, bem como, um pargo mulato (por causa dos esquisitos do André e do Pedro, respectivamente, o meu primo e o meu mano velho, e respeitando os respectivos graus de esquisitice na ordenação por nominal) também para decorar as brasas.
Após a lambedura e na sequência e cumprimento da hierarquia “pantagruélica”, o meu pai, começou pela salgadura dos malogrados “nadadores”, coitados! Depois e acto imediato, começou a fazer uma sopa de peixe, versão light – mais caldosa, menos peixe e massa reduzida mas com o mesmo tempero e esmero - com os  restos, devidamente tratados e conservados, da cabeça do pargo; o pai gosta muito de cabeça de peixe cozida e já agora eu e a minha mãe, também) que tinham sobrado da antevéspera.
Ora imaginem lá qual foi a ementa do almoço…
Entradas: Queijinho branco, chouricinha e carapaus alimados à algarvia;
Sopa: Sopa de peixe com massa cotovelinho;
Prato principal: Carapaus e pargo mulato grelhados, batatinhas com pele e salada de tomate cor-de-rosa;
Sobremesa: Fruta da época e arroz-doce;
Tudo isto regado com vinho branco, icetea de manga e água. No final a cereja no topo do bolo: Café.
Findo o repasto. Tralha lavada e arrumada. Cada um foi ganhar a vida para o seu lado: O padrinho e a tia Bleca foram para Quarteira dar ar ao apartamento, o pai, a mãe e a avó Aurita continuaram com os preparativos para a festa do meu aniversário, o André foi namorar com o computador e o Pedro, esse, foi sabe Deus ou o diabo onde… Ah! Falta a avó Ilda que foi bater a sua sorninha, a folga – ela não pode passar sem a sua folguinha, diz que é por causa do “carregum” que lhe fica na cabeça se não a fizer.
Ao fim da tarde o tio Miguel chegou com uma carrada de artefactos e, conjuntamente, com o pai estiveram a montar o bebedouro automático dos cães, os cães bebem e o bebedouro volta a encher-se sozinho. É grande artimanha. E, eu, claro, estive a ajudar. É pá tinham tantas ferramentas, mais que o Danny Mãozinhas.
E, neste anda que desanda, fez-se tarde num instantinho. Contudo, ainda me sobrou tempo para ir ajudar o meu pai a tratar dos cães. O canil estava impossível de mal cheiroso, havia cocó de cão espalhado por tudo o que era sítio, púuuuuu… mas eu não já não me importo, a força do hábito – que não faz o monge, obviamente – ajudou-me a ganhar o estômago necessário a estas operações de cosmética diária. E sabem que mais? Até gosto!
As coisas na nossa casa funcionam tal qual como se puxa por um fio, que se solta metro a metro com jeitinho para que não se enlear, isto quer dizer que: Vêm uma de cada vez e a seu devido tempo, seguindo uma cronologia ordenada; uma sucessão sucessiva que termina no deitar, intercala no dormir, e se inicia pela manhã, com cada coisa no seu tempo e no seu lugar.
Assim, depois dos cães vem o banho e depois do banho o jantar – desta vez o número de comensais foi mais reduzido ou melhor, pensando bem, não foi nada, apenas houve um troca de nomes, no lugar do mano ficou o tio Aníbal, o irmão da mãe e pai do André.
Pratos, talheres, copos e guardanapos na mesa e, o jantar está armado. Sentam-se os intervenientes e começa a dança das terrinas e das travessas.
Eu e o pai “alimbazamo-nos” com o que restou da sopa de peixe; estava mais gostosa que ao almoçou, refinou o tempero e melhorou o paladar. Os restantes afinfaram-lhe na sopa de legumes. Seguidamente todos comemos peitos de pato com molho de papaia e arroz basmati que vieram directamente de Oeiras e que tinha sobrado, sobrado não! foi feito já acrescentado, para uma festa, bolas já estou a meter as patas, em tempo iremos falar na festa de quarta-feira à noite, que o padrinho organizou na casa de Oeiras, lá na “linha” como eles, os da “linha”, para lá dizem, pois sabiam que a mamã não iria ter tempo para jantaradas e mariquices a fim, uma vez que estava, como anteriormente vos disse, com o tempo todo ocupado na preparação da minha festa de aniversário no dia seguinte. Assim a ideia de trazer jantar para o pessoal foi fantástica e apropriada, plena de bom senso. Ainda comemos uns perceves que um amigo, o Zé Espírito Santo, do padrinho e do pai trouxe de Vila do Bispo para o padrinho, ele costuma ir apanhá-los; disseram-me que é muito perigoso. A sobremesa constou de morangos passados pelo chocolate quente e pop cakes de bolo de Nesquick, ambas as iguarias espetadas em palitos gigantes.
Chegados aqui e, agora sim, vou falar-vos da festa ou melhor jantar festa de quarta-feira passada, que decorreu na casa do padrinho em Oeiras. Da qual na realidade quase nada sei, que não que, na quarta-feira 08 de Maio o padrinho fez 53 primaveras e decidiu compartilhá-las com os seus amigos lá de cima os da “linha” oferecendo um jantarinho à malta. E é tudo!
A noite foi escorrendo vagarosa e sorrateiramente por entre os nossos dedos. Os “hóspedes” foram, aos poucos, acenando com a mão ou distribuindo beijinhos de boa noite, enquanto o meu cansaço, tenazmente, me ia abraçando, até me envolver por completo, como se de um manto imenso de Joões Pestana se tratasse.
Extenuada e embriagada pelo efeito do aperto do cansaço, ainda ouvi o meu pai dizer-me: Olha filha! A avó Aurita vai dormir contigo no teu quartinho… na verdade fiquei sem saber se era uma realidade ou se já sonhava. Fiquei a saber que foi uma realidade quando vi a avó a cirandar pelo quarto, em pijama, na manhã seguinte, manhã de 12 de Maio do ano da graça de 2013, dia do meu quarto aniversário.
Bom dia mundo! Estou tão feliz! Acordei cedo e muito, muito bem disposta, afinal hoje o dia é todo meu. Hoje é dia de festa, hoje é dia dos amigos, hoje é dia de presentes e, hoje a princesa, a fada, a bruxa e a rainha sou eu!  
Durante toda a manhã, em nossa casa, foi um afã, uma lufa-lufa. Andava tudo numa fona. A mãe, a avó Aurita e até o meu pai, que a minha mãe sugeriu que fosse ao supermercado, pois já andava stressado, comprar massa folhada fresca e que ele, apesar de ter apontado o recado, correu três supermercados: O Modelo, o Continente e o Pingo Doce, procurando por massa tenra fresca – nem leu o papelinho por certo – que não encontrou, acabando por comprar uma enormidade de massa filó que, claro, não cumpria os objectivos. O que lhe custou, logo que regressou a casa, uma correcção de orelhas por parte da minha mãe: Não basta o tempo que levas-te e ainda trazes uma coisa que não me serve para nada. Homens! Ela estava apopléctica com ele, e uma produção de efeito de elástico – vaivém – para trocar o disparate que efectuou assolou o meu pai, põeingue-tõingue; isto, é segredo: O meu pai comprou dois pacotes da ditosa massa filó no Continente e outros dois no Pingo Doce, logo, como é bom de ver, teve que se deslocar a dois locais para remediar a tragédia. Logrou safar-se e trazer dois pacotes da bendita da massa folhada tenra, menos-mal.
Nesta azáfama, entre rissóis, pastéis de carne e sei lá que mais, a hora de almoço acabou mesmo por chegar e, com ela, o tio padrinho Miguel, a tia Bleca e um pouquito mais tarde o primo André.
Por ordem cronológica todos me foram dando os parabéns ao longo da manhã e aliado a eles as prendinhas porque tanto ansiava e que desembrulhei num assédio de ansiedade. Desilusão, eu sonhava com brinquedos, muitos brinquedos e queria-os tanto. Todavia o grosso da coluna foi roupa, óooooo… paciência, não é por isso que vai morrer o cágado e eu também sou assim um pouco vaidosa pelo que roupa também me assenta bem no goto.
O almoço foram os restos do jantar, não houve vagar para mais, e umas gambinhas frescas da costa que o meu pai tinha comprado na véspera para fazer uma boquinha nas entradas da festinha.
Mas que rápido rola o tempo, mais rápido que o trabalho que há para fazer. E era muito, podem crer. Enquanto dava uma preciosa ajuda ao meu pai na feitura de uma sangria de vinho branco (não entendo porque lhe hão-de chamar sangria, ainda se o vinho fosse tinto… o meu pai chamou-lhe de “caldo fresco”), foram chegando os convidados e os meus amigos o Francisco e o mano, o Bernardo e o Guilherme, a Joana e a prima Sofia, com os respectivos papás.
O meu bolo de aniversário veio pelas mãos e concebido pelas mãos da mãe do Francisco, a Suzi, ela é muito prendada nestas coisas, mas o tema fui eu que escolhi. O meu bolo estava lindo ou melhor lindíssimo, tinha uma estátua da Mia abraçada ao Onchao, o unicórnio do chifre dourado, da série do Canal Panda “Os Mundos de Mia”; vidro na TV quando e enquanto está a ser exibida, assentes numa cobertura de um verde lindíssimo.
Adorei! Obrigada Suzi és uma verdadeira artista.  
A arraia miúda, isto é, nós os pequerruchos semi-grandes, devorámos tudo enquanto o Diabo esfrega um olho e depois, depois foi facturar na brincadeira e nas asneiras, que só o são para os grandes, ambas se multiplicavam ou cresciam em progressão geométrica conforme a ocasião, mas foi tão bom! Foi o máximo!...  
Os grandes, os adultos, aqueles que passam a vida a dizer-nos: está quieta, não faças isso, porta-te bem, não vás para aí, etc,… percebem? Fiz-me entender? Sentaram-se na rua da minha casa e comeram, e beberam, olhem, foi um fartar vilanagem. E mais não digo.
Há sempre coisas chatas no meio de tanta coisa boa e aqui não houve excepção. O meu tio padrinho teve que pôr o pé à estrada logo a seguir ao almoço, tão cedo… ainda nem os convidados tinham chegado. O dever chamava lá para os lados de Oeiras. Pelo que ouvi tinha coisas para resolver em casa; obras de remodelação em que anda metido.
Aproveitando o imenso bulício e disfarçadamente o vilão do tempo foi passando de mansinho, enganando-nos com o seu ar de bonzinho – ele é um cínico. E, assim, como que um estalar de dedos chegou a hora do grande sopro às velas e o estrondoso uivar dos parabéns, cada um canta como lhe apetece e cada qual para o seu lado, o rebentar das garrafas de espumante, os tchins, tchins, o partir e comer do bolo (eu mordi uma velinha e pedi um desejo que não vou revelar senão não se realiza). Tudo como manda a sapatilha ou a cartilha para o caso tanto faz.
Um a um, ou família a família, os convidados foram abandonando o cenário do crime de devassa gastronómica. Até que, quase sem darmos por isso, num repente ficámos sozinhos. O silêncio apossou-se do espaço, ao longe as vinte e três badaladas soavam, no torreão da igreja, solitárias na noite, chamando discretamente eu recato e ao descanso.
Cada pálpebra pesava-me como uma pedra de calçada. Vestiram-me o pijama e zus catrapus cama. Hoje, que já quase é amanhã, não houve história.
Alegações finais, já em tempo de descontos:
- Adorei a minha festinha, porém tenho dois reparos a fazer:
i) Eram mais os amigos dos papás que os meus;
ii) O meu pai não abriu as garrafas de champagne français, esqueceu-se de as colocar no frigorifico, para brindarem à minha saúde.
Espero que para o ano a festinha seja constituída com mais amigos e que façam estalar as rolhas do champagne français, em vez do espumante português.
Obrigada papaizinhos queridos!...
E, nos braços de Morfeu me abandonei…    
  
tÓ mAnÉ   (in Laura Solange dixit) - 2013.05.(11,12)

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Crónicas FDS da Laura - Registo XI



Bommmmm dia malta! Ora cá estou eu: A Brisa Contínua, aquela que elimina toda e qualquer má disposição e todo e qualquer mau feitio. Bom dia, bom dia…
Hoje é dia, é dia de ir ao mercado com os meus papás, logo daí se intui, o que é bom de ver, que é sábaaaaadooooo!... Ah! Ah! Ah!...
E por ser sábado, já estou vestida a rigor, já bebi o meu leitinho com “xócolate” e já estou em posição de arranque, para que logo que troe o tiro de partida, gritar pronto e, arrancar; partida, largada e fugida….
Eis que soa o “pum” e cá vamos nós sem mais delongas a toda a velocidade para Loulé. Prontos a enfrentar “a loucura do dia a dia”, tal e qual como no antiquíssimo anúncio ou reclame televisivo do Royco - Cup-a-Soup, que não cheguei a conhecer mas que o meu pai se refere sempre como: É do caneco.
Loulé ao sábado é uma aventura surreal em formato 3D e world new dimention. Estacionar é uma aventura. Andar nas ruas é uma aventura. Beber a bica é uma aventura. O mercado e o mercadinho, superam a aventura, raiam mesmo o limite do desporto radical. Loulé ao sábado é com emoção total.
Ainda assim, adoro Loulé aos sábados de manhã; à tarde já nem parece uma cidade real mas sim um pólo exótico fantasma, e sobretudo os “pequenos voos” no atravessamento das passadeiras ou “zebras” como lhe chamam na minha escolinha e, a que o meu pai se refere pomposamente como: A intermitência branca e preta que quebra a monotonia do asfalto, para ceder passagem à policromia do quotidiano.
Sim eu ouvi! Calma, esperem. Nunca ouviram dizer que as cadelas apressadas parem os cachorros cegos? Ora então vamos lá à explicação de “pequenos voos”. “Pequenos voos” não passam de uma expressão que criei para designar a passagem ou travessia das “zebras” que executo pelo ar, suspensa pelos pulsos, agarrados por cada um dos meus progenitores, “voando, quase literalmente”, de bordadura em bordadura do passeio, sobre um oceano de pequenas sereias brancas e tenebrosos monstros cinzentos. Como podem imaginar trata-se de um “pequeno voo” quer espacial quer de imaginação; da realidade ao sonho, com aterragem, numa nova realidade. Tudo se passa como se numa história de princesas, príncipes, bruxas e feiticeiros estivesse imbuída. O meu “pequeno voo” é o meu pequeno sonho, é a minha aventura no interior da história, é afinal tudo o que eu quiser no interlúdio entre descolar e o aterrar. Perceberam?...
Hoje, estacionar, foi particularmente fácil, o que é uma raridade – o meu pai a chegar e um carro a sair – a isto se chama, vulgarmente, ter o cu virado para a lua, ou, pelo menos foi assim que o meu pai rotulou a ocorrência.
De balsa na mão a minha mãe comandava a procissão. Até parecia o prior em dia de romaria, gritando ordens, avulso, ao sacristão, papel encarnado pelo meu pai e por mim, já agora.
Após a encomenda, em tom jovial, do pão na lojinha da Dona Ana.
– Bom dia! Dois pães mal cozidos por favor.
- Sim senhor, vão descansados.
- Obrigado Dona Ana. Até já…
Manobra que não passa de um mero espreitar para o interior da loja, onde a Dona Ana está, imponente, junto à caixa registadora, e num continuar viagem rumo à mais que desejada bica matinal. Sim! Porque a esta hora o meu pai já está mais que destemido para ir beber o café. Como ele diz: A máquina precisa de começar a raciocinar ou pôr a máquina em funcionamento regular.
Assim a próxima estação de paragem obrigatória efectua-se na Loulé Pizza para cumprir dois desígnios: Primeiro: Beber o fatídico café. Segundo: Elaborar a estratégia de ataque ou assalto ou saque ao mercado.
De “pequeno voo” em “pequeno voo”, de corrida em corrida, de repreensão em repreensão lá conseguimos aportar a bom porto ou mesmo será dizer ao mercado. Adoro o mercado é mesmo fixe! O chão é escorregadio, o que propicia as minhas tropelias e traquinices e algumas quedas feias, também. Por vezes, apesar de toda a minha diversão, vêm-me à cabeça ou apanho-me a pensar no seguinte: Quem lhe lembrou colocar este chão é, no mínimo, um “imbecilóide” qualquer. Porquê? Não acredito… ainda perguntam? Vocês já viram ou sentiram o quanto é escorregadio o maldito do ladrilho? E quando está molhado, o que em alguns locais, é quase sempre? Não querendo augurar um mau futuro, acho que ainda se vão partir ali muitos ossinhos. No entanto, ainda estão em tempo de mudar. Sim eu sei que vão acabar com o meu barato mas em prol do bem comum prescindo dessa mordomia. Ah! Depois não venham dizer que não avisei.
Feitas as compras (o meu pai comprou uma cabeça de pargo, outra vez! Arre cabeça outra vez! Acho, ou melhor, no meio das “rabajunices”, ouvi dizer que quer fazer sopa de peixe. Eu gosto de sopa de peixe. Eu gosto menhãm, menhãm, mehãmmmmm… sopinha de peixe…
Mercado destronado, revirámos ao local de origem ou partida ou mais ou menos, quero dizer à loja de conveniência da Dona Ana, sim porque se a Dona Ana não tem, só mesmo no Apolónia. Quero eu dizer com isto que: Fomos abastecer de legumes e afins, incluindo o queijinho branco, o requeijão e a chouricinha, à loja multivalente da Dona Ana “ a Gordicha”.
Paga! Disse o pai para a mãe e ela puxou dos galões e, pagou! (acho que não de muito agrado mas teve que engolir a bucha a seco).
O que, na realidade, me surpreendeu, no dia de hoje, foi a definição do rumo que o meu pai traçou em termos rodoviários. Apesar de ter seguido o trajecto normal para casa, a usual viragem à esquerda no local apropriado, pareceu ficar esquecida. Porém, ainda pensei que tivesse, por algum motivo particularmente especial, optado pela segunda via de acesso. Espanto meu quando de novo a viragem à esquerda não se voltou a consumar. Mas, na minha credulidade de menina, pensei que seguiríamos pela terceira alternativa. Pensamento e expectativa gorado e logo abandonado. Afinal o objectivo primevo dos meus pais prendia-se com a casa da avó Aurita, o que correspondeu a uma cambiante de uso e costume de quase 180º. Daí toda a minha surpresa e espanto.
Vamos a casa da avó, perguntei.
Sim querida, respondeu a minha mamã. Acrescentando: Hoje almoçamos à da avó.
Diz o Diabo que há hora da comida aparece sempre mais um, pois desta vez o Diabo estava redondamente enganado. Não foi um, nem dois, foram três; o tio Mário, a tia Rosário e a prima Sofia. Facto que me deixou radiante. Pudera, ficou logo a pairar no ar o que era mais que expectável: Brincadeira acrescida, dobros de brincadeira e loucura.
Almoço almoçado e o “maranhal” foi em procissão beber um “cafélito” à Flor de Loulé - a clássica – aquela por trás da praça de táxis. Após suprido e aniquilado o vício, fomos cumprir uma estação de penitência ao Parque Municipal.
Uíiiiii… e não é que tinha levado uma bola vermelha ou encarnada, como queiram, pois que até penso que é a mesma coisa, que veio mesmo a calhar, às vezes até parece que tenho dotes premonitórios ou alguém adivinha as minhas mais recônditas intenções.
Entre chutos e pontapés fui angariando adeptos, claque e até mesmo novos jogadores. Os meus pais fizeram parte integrante do time albergando os três papéis e ainda lhes sobrou tempo para exercer a função de árbitros, isto sempre que a asneira atingia a consistência de grossa.
Nestes termos e contexto o sol foi girando devagar no céu, tal como eu girei na terra em alguns aparelhos de brincar que estavam ali à disposição do freguês. Sempre debaixo do olhar atento da minha mãezinha. Enquanto o meu pai assistia a alguns dos jogos do Torneio de Rugby de Sete (eles são todos uns brutamontes, grandes, fortes e correm mais atrás da bola, que de facto não o é ou se é tem cá um feitiozinho especial e estranho, também; parece um ovo das minhas gansas, pintado às cores, que o Sr. Goya  - lembram-se do Goya? Eu já falei dele mas, para os mais esquecidos ou para aqueles que ainda não eram meus amigos, fica aqui uma pincelada de memória ou uma apresentação em conformidade com a especificidade do caso: Goya "O Galanteador" é o meu cão de casa, ou seja, vive connosco na cozinha… sei lá uma coisa mais ou menos assim, e que agora já não está felpudo e encaracolado porque foi tosquiado; parece um cão a pilhas ou melhor movido a energia nuclear, porque não há pilha que dure assim, tão pouco a Duracell).
De tanto girar o sol iniciou um processo de escorregamento na linha do horizonte, as horas foram escorregando com ele e, nós, enquanto parte integrante do processo, iniciámos o, inexorável, procedimento de regresso à “palhota” pois o que era uma prova da evidência, depressa passou a facto provado e consumado.                       
Em casa cumpriram-se as regras da casa. Tomei banho, estava dois graus acima de bacorinha. Jantei. Vi uma pagela de bonecos. E a hora da Cinderela está mesmo aí a chegar. Ouvi a história da praxe e voei até domingo de manhã, directa, sem passar pela casa de partida e sem receber os €2000 (dois mil euros).
Domingo 05 de Maio de 2013. Dia da mãe. Dia de todos os beijinhos, beijinhos só para a mãezinha; também dei “unzinho” ao paizinho para ele não ficar triste e com ciúmes.       
Descobri uma coisa curiosa com o dia da mãe e que reza assim: A minha mãe tem uma mãe, a avó Ilda, o meu pai também tem uma mãe, a avó Aurita, e eu tenho uma mãe, a minha mãe, a Maria João, não é tão giro?... Acho que todos temos uma mãe, acho?!...
E por falar na minha mãe, lembrei-me que fiz, na escolinha, umas prendinhas para ela e, que amanhã; estou danadinha para que chegue amanhã, na festinha que vamos fazer em homenagens a todas as mães, lhas irei entregar e, mais… que agora nem vos sei contar. Amanhã logo se verá, okey? 
O meu pai está na cozinha agarrado aos tachos, às panelas e instrumentos complementares e afins.  Está a adiantar o almoço para logo. Acontece que, por ser dia da mãe, o almoço vai ter lugar em casa da Avó Aurita, a mãe do papá. Porém como a avó também é a mãe da tia Rosário, também vão estar presentes no almoço a família Sebastião, ou seja, o tio Mário Sebastião, a tia Rosário e a prima Sofia Sebastião que também tem uma mãe: a tia Rosário que não é Sebastião mas pertence à família Sebastião (o que eu não entendo lá muito bem mas pronto, quem precisa de entender tudo?...). Parece confuso e é-o! No fundo o que pretendo dizer-vos é que vai haver festarola e brincadeira XXL, a simples presença da prima é já um garante disso.
Estava eu a dizer-vos que o meu pai andava alrededor (agora também falo espanhol, aprendi com os bonecos do Manny Mãozinhas e as suas ferramentas) dos tachos e panelas mas agora com a companhia ou a ajuda da minha mãe, ela tem uma panela nova e muito especial, chama-lhe Bimby e o meu pai, por sua vez, apelida-a de Bimba “a sopeira”, onde ela cozinha quase tudo. Desta vez coube-lhe a sobremesa, uma vez que o meu pai está a fazer a bendita da sopa de peixe (ele é um chato na cozinha, leva duas vidas para fazer qualquer coisita, porém é perfeitinho. Não se pode ter tudo ou de tudo).  
Cozinhados finalizados. Cozinha arrumada – mais ou menos. Matula banhada, vestida, calçada, arranjada e perfumada e… bem, eu ia dizer: Lá vamos nós para a casa da avó Aurita mas, não foi bem assim… e porquê? Pois é… porque o meu pai ainda lhe surgiu, sabe Deus de onde, a ideia peregrina de ir apanhar um bouquet ou buquê (à francesa ou à portuguesa fica ao gosto do freguês) de rosas do nosso quintal para oferecer à avó. Aceita-se! Afinal é a mãe dele.
Agora sim! Demos corda aos sapatos ou melhor demos uma volta para o lado direito, na ignição, à chave do carro e vrummmmm…
Trim-trim-trimmmmm… Depois de algum estralejar no intercomunicador, logo a porta do prédio se abriu. Corri a chamar o elevador. Terceiro andar esquerdo e trimmmmm de novo. Um leve estalido e, eis que a porta do apartamento da avó se escancarou.
Olá avó Aurita! Bons diaaaaasssss… Estas foram as minhas saudações ao chegar (eu gosto bué da avó). E, sem aguardar resposta logo indaguei: E a prima? Ao que a avó, benevolente respondeu: Está a chegar querida. Agora onde está o meu beijinho. Beijei e abracei a avozinha, apesar do revés provocado pela ausência da priminha, que depressa me passou tal como depressa a prima também chegou. E, assim, toda a classe de tropelias e travessuras se iniciou.
Antes que o Diabo tivesse tempo para esfregar os olhos já a hora da “lambeta” retinia no relógio de badalo que a avó tem pendurado na parede do corredor. A verdade é que eu já sentia um ratinho a roer na barriguinha e não havia meio de pôr o dente na sopa ou como quem diz a colher na sopa de peixe do meu pai (ele é um “cozigenheiro”); Estava uma delícia. Comi dois discos.
Enquanto a família almoçava, a família leva sempre muito tempo a almoçar – é mais o tempo que falam do que aquele que comem – fui ver os bonecos da casa da avó; são diferentes dos da nossa casa.    
Terminada a lauta refeição, pois face ao tempo de ingestão assim me pareceu, e tarefas a ela inerentes, arrumar a túrgia e etc… Tocou a sineta para o café e, aí sim, há sempre pressa em organizar a excursão rumo à Flor de Loulé – a clássica – onde a malta abancou e satisfez o vício.
Café morto, café posto! Parque… Aqui vamos nós – eu, a prima, o pai e o tio Mário – uma vez que a mãe e a tia Rosário foram de rota batida para casa da avó. Tinham a incumbência de dar o pontapé de saída na empreitada dos preparativos para o meu aniversário.
Já embrenhados no frondoso e luxurioso parque, foi um ver se te avias de diabruras. Ajudada pela prima e, o pai, a fazer de lobo mau, a fantasia tornou-se apoteótica, um desassossego infernal.
Todavia o marechal de campo tempo foi inclemente na sua cavalgada desenfreada para poente. Contudo, só abandonámos as trincheiras quando se deixou de ouvir o troar dos cascos e a simbiose cavalo cavaleiro não passava de um ponto no infinito. Aí rendemos a guarda.
O jantar chegou, já tarde, a nossa casa. Com ele chegou também a avó Ilda que é a mãe da minha mãe e que sendo dia da mãe também teve direito a festa. Afinal como mãe da minha mãe e minha avó, festa fazia todo o sentido, não acham?...
No final do jantar houve bolo e tudo. A festa, porém, não se alargou pela noite dentro, apesar de já não ser nada cedo, assim me diziam as minhas pesadas pestanas que teimavam em pestanear e pestanear. Estavam tão pesadas que mal podia com elas.
A cama não tardou a chamar-me, ou seja, piscava-me o olho e atrevida seduzia-me, até que não lhe pude resistir mais e me entreguei em seus doces e mornos braços.
Nessa noite sonhei que o dia da mãe para mim era o dia seguinte… Adoro-te mamã… Zzzzzzz…
  

tÓ mAnÉ   (in Laura Solange dixit) - 2013.05.(04,05)

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O Pescador



Sento-me, só.
E, só assim, me quero
À mesa, para almoçar
Após, solicitada, a devida permissão.
Ainda só, abri o bloco de notas
Reli as últimas notações
Recordei com emoção
Passagens nelas rasgadas.
Agora, olhando nestas páginas amareladas
Nada me ocorre que as preencha
Apenas o ruído de fundo, ululando
Apela à atenção.
São os clientes do costume
Salvo a mesa do lado esquerdo
Onde, o moribundo, executivo Edil
Dispara os últimos cartuchos
Tentando criar a confusão
Trazem, apensos, a eles, a imprensa
(escrita, fotográfica e audiovisual)
Para além de certa escol
(despropositada a meu ver)
Ou já a fizeram ou estão para a fazer
Assim reza o povo na sua endémica sabedoria.
Justificações fora de época; póstumas
Actuação, bizarra, pouco natural.
Duas filas de mesas, em frente, à minha esquerda,
Está sentada uma mulata vistosa
Devorando uma garfada de alface
Enquanto, apuro as espinhas da salada de bacalhau
Veste de azul forte, elegante
Volteia o cabelo, desfrisado, com a mão
Olha a sala, estuda intranquila, o impacto do gesto
Insegura da sua irreflectida actuação.
Na fila da frente, as mesas,
Detêm a seguinte ocupação:
Ao centro, liberais são as profissões
(engenheiros, advogados, entre outros figurões)
À esquerda, magistrados e funcionários da justiça
À direita, o Magnifico Reitor da Universidade Local.
Do funcionário público, ao turista até ao povo em geral
Todos, este acolhedor e humilde espaço, alberga
Com o mesmo despretensioso cerimonial.
Simpatia, amabilidade, eficiência, rapidez e…
Boa mesa, com certeza!... Apanágio imaculado
De tão provecto e ilustre espaço comercial.  
De política se fala, de justiça, de futebol,…
E, até, de “tricas e licas” da sociedade local
De tudo ou quase tudo afinal.
Espaço sui generis este
Ímpar, sem termo e sem rival
Que alberga todos, por excelência, e sem igual
Erguendo uma democracia isomórfica
À do nosso país, desigual; Deo Gratis
Todos comem, todos bebem, todos pagam
Do rei ao plebeu à elite de varal
Não há Sino, não à GOL, não há Opus que aqui Dei
Vil metal aqui faltar não pode
Regra da casa com excepção a confirmar.
Denoto, com apreensão, a ausência do Fernando
O comandante desta escuna, deste barco descomunal.
O Pescador,
O Congregador,
O Negociador,
O Facilitador,
Afinal.
Este espaço não é o mesmo
Sem seu toque, sem a sua magia magistral. 
Tudo isto ocorre num dia
Em tudo menos normal
Um navio sem comandante
É tudo, excepto natural.

tÓ mAnÉ