Bommmmm dia
malta! Ora cá estou eu: A Brisa Contínua,
aquela que elimina toda e qualquer má disposição e todo e qualquer mau feitio.
Bom dia, bom dia…
Hoje é dia, é dia
de ir ao mercado com os meus papás, logo daí se intui, o que é bom de ver, que
é sábaaaaadooooo!... Ah! Ah! Ah!...
E por ser sábado,
já estou vestida a rigor, já bebi o meu leitinho com “xócolate” e já estou em
posição de arranque, para que logo que troe o tiro de partida, gritar pronto e,
arrancar; partida, largada e fugida….
Eis que soa o “pum”
e cá vamos nós sem mais delongas a toda a velocidade para Loulé. Prontos a
enfrentar “a loucura do dia a dia”,
tal e qual como no antiquíssimo anúncio ou reclame televisivo do Royco -
Cup-a-Soup, que não cheguei a conhecer mas que o meu pai se refere sempre como:
É do caneco.
Loulé ao sábado é
uma aventura surreal em formato 3D e world new
dimention. Estacionar é uma aventura. Andar nas ruas é uma aventura. Beber a
bica é uma aventura. O mercado e o mercadinho, superam a aventura, raiam mesmo
o limite do desporto radical. Loulé ao sábado é com emoção total.
Ainda assim, adoro
Loulé aos sábados de manhã; à tarde já nem parece uma cidade real mas sim um
pólo exótico fantasma, e sobretudo os “pequenos voos” no atravessamento das
passadeiras ou “zebras” como lhe chamam na minha escolinha e, a que o meu pai
se refere pomposamente como: A intermitência branca e
preta que quebra a monotonia do asfalto, para ceder passagem à policromia do
quotidiano.
Sim eu ouvi! Calma, esperem. Nunca ouviram dizer que as cadelas
apressadas parem os cachorros cegos? Ora então vamos lá à explicação de
“pequenos voos”. “Pequenos voos” não passam de uma expressão que criei para
designar a passagem ou travessia das “zebras” que executo pelo ar, suspensa
pelos pulsos, agarrados por cada um dos meus progenitores, “voando, quase
literalmente”, de bordadura em bordadura do passeio, sobre um oceano de pequenas
sereias brancas e tenebrosos monstros cinzentos. Como podem imaginar trata-se
de um “pequeno voo” quer espacial quer de imaginação; da realidade ao sonho, com
aterragem, numa nova realidade. Tudo se passa como se numa história de
princesas, príncipes, bruxas e feiticeiros estivesse imbuída. O meu “pequeno
voo” é o meu pequeno sonho, é a minha aventura no interior da história, é
afinal tudo o que eu quiser no interlúdio entre descolar e o aterrar.
Perceberam?...
Hoje, estacionar,
foi particularmente fácil, o que é uma raridade – o meu pai a chegar e um carro
a sair – a isto se chama, vulgarmente, ter o cu virado para a lua, ou, pelo
menos foi assim que o meu pai rotulou a ocorrência.
De balsa na mão a
minha mãe comandava a procissão. Até parecia o prior em dia de romaria,
gritando ordens, avulso, ao sacristão, papel encarnado pelo meu pai e por mim,
já agora.
Após a encomenda,
em tom jovial, do pão na lojinha da Dona Ana.
– Bom dia! Dois
pães mal cozidos por favor.
- Sim senhor, vão
descansados.
- Obrigado Dona
Ana. Até já…
Manobra que não
passa de um mero espreitar para o interior da loja, onde a Dona Ana está,
imponente, junto à caixa registadora, e num continuar viagem rumo à mais que
desejada bica matinal. Sim! Porque a esta hora o meu pai já está mais que
destemido para ir beber o café. Como ele diz: A máquina precisa de começar a
raciocinar ou pôr a máquina em funcionamento regular.
Assim a próxima
estação de paragem obrigatória efectua-se na Loulé Pizza para cumprir dois
desígnios: Primeiro: Beber o fatídico café. Segundo: Elaborar a estratégia de
ataque ou assalto ou saque ao mercado.
De “pequeno voo”
em “pequeno voo”, de corrida em corrida, de repreensão em repreensão lá
conseguimos aportar a bom porto ou mesmo será dizer ao mercado. Adoro o mercado
é mesmo fixe! O chão é escorregadio, o que propicia as minhas tropelias e
traquinices e algumas quedas feias, também. Por vezes, apesar de toda a minha
diversão, vêm-me à cabeça ou apanho-me a pensar no seguinte: Quem lhe lembrou
colocar este chão é, no mínimo, um “imbecilóide” qualquer. Porquê? Não
acredito… ainda perguntam? Vocês já viram ou sentiram o quanto é escorregadio o
maldito do ladrilho? E quando está molhado, o que em alguns locais, é quase
sempre? Não querendo augurar um mau futuro, acho que ainda se vão partir ali
muitos ossinhos. No entanto, ainda estão em tempo de mudar. Sim eu sei que vão
acabar com o meu barato mas em prol do bem comum prescindo dessa mordomia. Ah!
Depois não venham dizer que não avisei.
Feitas as compras
(o meu pai comprou uma cabeça de pargo, outra vez! Arre cabeça outra vez! Acho,
ou melhor, no meio das “rabajunices”, ouvi dizer que quer fazer sopa de peixe.
Eu gosto de sopa de peixe. Eu gosto menhãm, menhãm, mehãmmmmm… sopinha de
peixe…
Mercado
destronado, revirámos ao local de origem ou partida ou mais ou menos, quero
dizer à loja de conveniência da Dona Ana, sim porque se a Dona Ana não tem, só
mesmo no Apolónia. Quero eu dizer com isto que: Fomos abastecer de legumes e
afins, incluindo o queijinho branco, o requeijão e a chouricinha, à loja
multivalente da Dona Ana “ a Gordicha”.
Paga! Disse o pai
para a mãe e ela puxou dos galões e, pagou! (acho que não de muito agrado mas
teve que engolir a bucha a seco).
O que, na
realidade, me surpreendeu, no dia de hoje, foi a definição do rumo que o meu
pai traçou em termos rodoviários. Apesar de ter seguido o trajecto normal para
casa, a usual viragem à esquerda no local apropriado, pareceu ficar esquecida.
Porém, ainda pensei que tivesse, por algum motivo particularmente especial,
optado pela segunda via de acesso. Espanto meu quando de novo a viragem à
esquerda não se voltou a consumar. Mas, na minha credulidade de menina, pensei
que seguiríamos pela terceira alternativa. Pensamento e expectativa gorado e
logo abandonado. Afinal o objectivo primevo dos meus pais prendia-se com a casa
da avó Aurita, o que correspondeu a uma cambiante de uso e costume de quase
180º. Daí toda a minha surpresa e espanto.
Vamos a casa da
avó, perguntei.
Sim querida,
respondeu a minha mamã. Acrescentando: Hoje almoçamos à da avó.
Diz o Diabo que
há hora da comida aparece sempre mais um, pois desta vez o Diabo estava
redondamente enganado. Não foi um, nem dois, foram três; o tio Mário, a tia
Rosário e a prima Sofia. Facto que me deixou radiante. Pudera, ficou logo a
pairar no ar o que era mais que expectável: Brincadeira acrescida, dobros de brincadeira
e loucura.
Almoço almoçado e
o “maranhal” foi em procissão beber um “cafélito” à Flor de Loulé - a clássica
– aquela por trás da praça de táxis. Após suprido e aniquilado o vício, fomos
cumprir uma estação de penitência ao Parque Municipal.
Uíiiiii… e não é
que tinha levado uma bola vermelha ou encarnada, como queiram, pois que até
penso que é a mesma coisa, que veio mesmo a calhar, às vezes até parece que
tenho dotes premonitórios ou alguém adivinha as minhas mais recônditas
intenções.
Entre chutos e
pontapés fui angariando adeptos, claque e até mesmo novos jogadores. Os meus
pais fizeram parte integrante do time
albergando os três papéis e ainda lhes sobrou tempo para exercer a função de
árbitros, isto sempre que a asneira atingia a consistência de grossa.
Nestes termos e
contexto o sol foi girando devagar no céu, tal como eu girei na terra em alguns
aparelhos de brincar que estavam ali à disposição do freguês. Sempre debaixo do
olhar atento da minha mãezinha. Enquanto o meu pai assistia a alguns dos jogos
do Torneio de Rugby de Sete (eles são todos uns brutamontes, grandes, fortes e
correm mais atrás da bola, que de facto não o é ou se é tem cá um feitiozinho
especial e estranho, também; parece um ovo das minhas gansas, pintado às cores,
que o Sr. Goya - lembram-se do Goya? Eu
já falei dele mas, para os mais esquecidos ou para aqueles que ainda não eram
meus amigos, fica aqui uma pincelada de memória ou uma apresentação em
conformidade com a especificidade do caso: Goya "O Galanteador" é o
meu cão de casa, ou seja, vive connosco na cozinha… sei lá uma coisa mais ou
menos assim, e que agora já não está felpudo e encaracolado porque foi
tosquiado; parece um cão a pilhas ou melhor movido a energia nuclear, porque
não há pilha que dure assim, tão pouco a Duracell).
De tanto girar o
sol iniciou um processo de escorregamento na linha do horizonte, as horas foram
escorregando com ele e, nós, enquanto parte integrante do processo, iniciámos
o, inexorável, procedimento de regresso à “palhota” pois o que era uma prova da
evidência, depressa passou a facto provado e consumado.
Em casa
cumpriram-se as regras da casa. Tomei banho, estava dois graus acima de
bacorinha. Jantei. Vi uma pagela de bonecos. E a hora da Cinderela está mesmo
aí a chegar. Ouvi a história da praxe e voei até domingo de manhã, directa, sem
passar pela casa de partida e sem receber os €2000 (dois mil euros).
Domingo 05 de
Maio de 2013. Dia da mãe. Dia de todos os beijinhos, beijinhos só para a
mãezinha; também dei “unzinho” ao paizinho para ele não ficar triste e com
ciúmes.
Descobri uma
coisa curiosa com o dia da mãe e que reza assim: A minha mãe tem uma mãe, a avó
Ilda, o meu pai também tem uma mãe, a avó Aurita, e eu tenho uma mãe, a minha
mãe, a Maria João, não é tão giro?... Acho que todos temos uma mãe, acho?!...
E por falar na
minha mãe, lembrei-me que fiz, na escolinha, umas prendinhas para ela e, que
amanhã; estou danadinha para que chegue amanhã, na festinha que vamos fazer em
homenagens a todas as mães, lhas irei entregar e, mais… que agora nem vos sei
contar. Amanhã logo se verá, okey?
O meu pai está na
cozinha agarrado aos tachos, às panelas e instrumentos complementares e afins. Está a adiantar o almoço para logo. Acontece
que, por ser dia da mãe, o almoço vai ter lugar em casa da Avó Aurita, a mãe do
papá. Porém como a avó também é a mãe da tia Rosário, também vão estar
presentes no almoço a família Sebastião, ou seja, o tio Mário Sebastião, a tia
Rosário e a prima Sofia Sebastião que também tem uma mãe: a tia Rosário que não
é Sebastião mas pertence à família Sebastião (o que eu não entendo lá muito bem
mas pronto, quem precisa de entender tudo?...). Parece confuso e é-o! No fundo
o que pretendo dizer-vos é que vai haver festarola e brincadeira XXL, a simples
presença da prima é já um garante disso.
Estava eu a
dizer-vos que o meu pai andava alrededor
(agora também falo espanhol, aprendi com os bonecos do Manny Mãozinhas e as
suas ferramentas) dos tachos e panelas mas agora com a companhia ou a ajuda da
minha mãe, ela tem uma panela nova e muito especial, chama-lhe Bimby e o meu
pai, por sua vez, apelida-a de Bimba “a sopeira”, onde ela cozinha quase tudo.
Desta vez coube-lhe a sobremesa, uma vez que o meu pai está a fazer a bendita
da sopa de peixe (ele é um chato na cozinha, leva duas vidas para fazer
qualquer coisita, porém é perfeitinho. Não se pode ter tudo ou de tudo).
Cozinhados
finalizados. Cozinha arrumada – mais ou menos. Matula banhada, vestida,
calçada, arranjada e perfumada e… bem, eu ia dizer: Lá vamos nós para a casa da
avó Aurita mas, não foi bem assim… e porquê? Pois é… porque o meu pai ainda lhe
surgiu, sabe Deus de onde, a ideia peregrina de ir apanhar um bouquet ou buquê (à francesa ou à
portuguesa fica ao gosto do freguês) de rosas do nosso quintal para oferecer à
avó. Aceita-se! Afinal é a mãe dele.
Agora sim! Demos
corda aos sapatos ou melhor demos uma volta para o lado direito, na ignição, à
chave do carro e vrummmmm…
Trim-trim-trimmmmm…
Depois de algum estralejar no intercomunicador, logo a porta do prédio se
abriu. Corri a chamar o elevador. Terceiro andar esquerdo e trimmmmm de novo.
Um leve estalido e, eis que a porta do apartamento da avó se escancarou.
Olá avó Aurita!
Bons diaaaaasssss… Estas foram as minhas saudações ao chegar (eu gosto bué da
avó). E, sem aguardar resposta logo indaguei: E a prima? Ao que a avó,
benevolente respondeu: Está a chegar querida. Agora onde está o meu beijinho.
Beijei e abracei a avozinha, apesar do revés provocado pela ausência da
priminha, que depressa me passou tal como depressa a prima também chegou. E,
assim, toda a classe de tropelias e travessuras se iniciou.
Antes que o Diabo
tivesse tempo para esfregar os olhos já a hora da “lambeta” retinia no relógio
de badalo que a avó tem pendurado na parede do corredor. A verdade é que eu já
sentia um ratinho a roer na barriguinha e não havia meio de pôr o dente na sopa
ou como quem diz a colher na sopa de peixe do meu pai (ele é um
“cozigenheiro”); Estava uma delícia. Comi dois discos.
Enquanto a
família almoçava, a família leva sempre muito tempo a almoçar – é mais o tempo
que falam do que aquele que comem – fui ver os bonecos da casa da avó; são
diferentes dos da nossa casa.
Terminada a lauta
refeição, pois face ao tempo de ingestão assim me pareceu, e tarefas a ela inerentes,
arrumar a túrgia e etc… Tocou a sineta para o café e, aí sim, há sempre pressa
em organizar a excursão rumo à Flor de Loulé – a clássica – onde a malta
abancou e satisfez o vício.
Café morto, café
posto! Parque… Aqui vamos nós – eu, a prima, o pai e o tio Mário – uma vez que
a mãe e a tia Rosário foram de rota batida para casa da avó. Tinham a
incumbência de dar o pontapé de saída na empreitada dos preparativos para o meu
aniversário.
Já embrenhados no
frondoso e luxurioso parque, foi um ver se te avias de diabruras. Ajudada pela
prima e, o pai, a fazer de lobo mau, a fantasia tornou-se apoteótica, um
desassossego infernal.
Todavia o
marechal de campo tempo foi inclemente na sua cavalgada desenfreada para
poente. Contudo, só abandonámos as trincheiras quando se deixou de ouvir o
troar dos cascos e a simbiose cavalo cavaleiro não passava de um ponto no
infinito. Aí rendemos a guarda.
O jantar chegou,
já tarde, a nossa casa. Com ele chegou também a avó Ilda que é a mãe da minha
mãe e que sendo dia da mãe também teve direito a festa. Afinal como mãe da
minha mãe e minha avó, festa fazia todo o sentido, não acham?...
No final do
jantar houve bolo e tudo. A festa, porém, não se alargou pela noite dentro,
apesar de já não ser nada cedo, assim me diziam as minhas pesadas pestanas que
teimavam em pestanear e pestanear. Estavam tão pesadas que mal podia com elas.
A cama não tardou
a chamar-me, ou seja, piscava-me o olho e atrevida seduzia-me, até que não lhe
pude resistir mais e me entreguei em seus doces e mornos braços.
Nessa noite
sonhei que o dia da mãe para mim era o dia seguinte… Adoro-te mamã… Zzzzzzz…
tÓ mAnÉ (in
Laura Solange dixit) - 2013.05.(04,05)
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