quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Crónicas FDS da Laura - Registo XI



Bommmmm dia malta! Ora cá estou eu: A Brisa Contínua, aquela que elimina toda e qualquer má disposição e todo e qualquer mau feitio. Bom dia, bom dia…
Hoje é dia, é dia de ir ao mercado com os meus papás, logo daí se intui, o que é bom de ver, que é sábaaaaadooooo!... Ah! Ah! Ah!...
E por ser sábado, já estou vestida a rigor, já bebi o meu leitinho com “xócolate” e já estou em posição de arranque, para que logo que troe o tiro de partida, gritar pronto e, arrancar; partida, largada e fugida….
Eis que soa o “pum” e cá vamos nós sem mais delongas a toda a velocidade para Loulé. Prontos a enfrentar “a loucura do dia a dia”, tal e qual como no antiquíssimo anúncio ou reclame televisivo do Royco - Cup-a-Soup, que não cheguei a conhecer mas que o meu pai se refere sempre como: É do caneco.
Loulé ao sábado é uma aventura surreal em formato 3D e world new dimention. Estacionar é uma aventura. Andar nas ruas é uma aventura. Beber a bica é uma aventura. O mercado e o mercadinho, superam a aventura, raiam mesmo o limite do desporto radical. Loulé ao sábado é com emoção total.
Ainda assim, adoro Loulé aos sábados de manhã; à tarde já nem parece uma cidade real mas sim um pólo exótico fantasma, e sobretudo os “pequenos voos” no atravessamento das passadeiras ou “zebras” como lhe chamam na minha escolinha e, a que o meu pai se refere pomposamente como: A intermitência branca e preta que quebra a monotonia do asfalto, para ceder passagem à policromia do quotidiano.
Sim eu ouvi! Calma, esperem. Nunca ouviram dizer que as cadelas apressadas parem os cachorros cegos? Ora então vamos lá à explicação de “pequenos voos”. “Pequenos voos” não passam de uma expressão que criei para designar a passagem ou travessia das “zebras” que executo pelo ar, suspensa pelos pulsos, agarrados por cada um dos meus progenitores, “voando, quase literalmente”, de bordadura em bordadura do passeio, sobre um oceano de pequenas sereias brancas e tenebrosos monstros cinzentos. Como podem imaginar trata-se de um “pequeno voo” quer espacial quer de imaginação; da realidade ao sonho, com aterragem, numa nova realidade. Tudo se passa como se numa história de princesas, príncipes, bruxas e feiticeiros estivesse imbuída. O meu “pequeno voo” é o meu pequeno sonho, é a minha aventura no interior da história, é afinal tudo o que eu quiser no interlúdio entre descolar e o aterrar. Perceberam?...
Hoje, estacionar, foi particularmente fácil, o que é uma raridade – o meu pai a chegar e um carro a sair – a isto se chama, vulgarmente, ter o cu virado para a lua, ou, pelo menos foi assim que o meu pai rotulou a ocorrência.
De balsa na mão a minha mãe comandava a procissão. Até parecia o prior em dia de romaria, gritando ordens, avulso, ao sacristão, papel encarnado pelo meu pai e por mim, já agora.
Após a encomenda, em tom jovial, do pão na lojinha da Dona Ana.
– Bom dia! Dois pães mal cozidos por favor.
- Sim senhor, vão descansados.
- Obrigado Dona Ana. Até já…
Manobra que não passa de um mero espreitar para o interior da loja, onde a Dona Ana está, imponente, junto à caixa registadora, e num continuar viagem rumo à mais que desejada bica matinal. Sim! Porque a esta hora o meu pai já está mais que destemido para ir beber o café. Como ele diz: A máquina precisa de começar a raciocinar ou pôr a máquina em funcionamento regular.
Assim a próxima estação de paragem obrigatória efectua-se na Loulé Pizza para cumprir dois desígnios: Primeiro: Beber o fatídico café. Segundo: Elaborar a estratégia de ataque ou assalto ou saque ao mercado.
De “pequeno voo” em “pequeno voo”, de corrida em corrida, de repreensão em repreensão lá conseguimos aportar a bom porto ou mesmo será dizer ao mercado. Adoro o mercado é mesmo fixe! O chão é escorregadio, o que propicia as minhas tropelias e traquinices e algumas quedas feias, também. Por vezes, apesar de toda a minha diversão, vêm-me à cabeça ou apanho-me a pensar no seguinte: Quem lhe lembrou colocar este chão é, no mínimo, um “imbecilóide” qualquer. Porquê? Não acredito… ainda perguntam? Vocês já viram ou sentiram o quanto é escorregadio o maldito do ladrilho? E quando está molhado, o que em alguns locais, é quase sempre? Não querendo augurar um mau futuro, acho que ainda se vão partir ali muitos ossinhos. No entanto, ainda estão em tempo de mudar. Sim eu sei que vão acabar com o meu barato mas em prol do bem comum prescindo dessa mordomia. Ah! Depois não venham dizer que não avisei.
Feitas as compras (o meu pai comprou uma cabeça de pargo, outra vez! Arre cabeça outra vez! Acho, ou melhor, no meio das “rabajunices”, ouvi dizer que quer fazer sopa de peixe. Eu gosto de sopa de peixe. Eu gosto menhãm, menhãm, mehãmmmmm… sopinha de peixe…
Mercado destronado, revirámos ao local de origem ou partida ou mais ou menos, quero dizer à loja de conveniência da Dona Ana, sim porque se a Dona Ana não tem, só mesmo no Apolónia. Quero eu dizer com isto que: Fomos abastecer de legumes e afins, incluindo o queijinho branco, o requeijão e a chouricinha, à loja multivalente da Dona Ana “ a Gordicha”.
Paga! Disse o pai para a mãe e ela puxou dos galões e, pagou! (acho que não de muito agrado mas teve que engolir a bucha a seco).
O que, na realidade, me surpreendeu, no dia de hoje, foi a definição do rumo que o meu pai traçou em termos rodoviários. Apesar de ter seguido o trajecto normal para casa, a usual viragem à esquerda no local apropriado, pareceu ficar esquecida. Porém, ainda pensei que tivesse, por algum motivo particularmente especial, optado pela segunda via de acesso. Espanto meu quando de novo a viragem à esquerda não se voltou a consumar. Mas, na minha credulidade de menina, pensei que seguiríamos pela terceira alternativa. Pensamento e expectativa gorado e logo abandonado. Afinal o objectivo primevo dos meus pais prendia-se com a casa da avó Aurita, o que correspondeu a uma cambiante de uso e costume de quase 180º. Daí toda a minha surpresa e espanto.
Vamos a casa da avó, perguntei.
Sim querida, respondeu a minha mamã. Acrescentando: Hoje almoçamos à da avó.
Diz o Diabo que há hora da comida aparece sempre mais um, pois desta vez o Diabo estava redondamente enganado. Não foi um, nem dois, foram três; o tio Mário, a tia Rosário e a prima Sofia. Facto que me deixou radiante. Pudera, ficou logo a pairar no ar o que era mais que expectável: Brincadeira acrescida, dobros de brincadeira e loucura.
Almoço almoçado e o “maranhal” foi em procissão beber um “cafélito” à Flor de Loulé - a clássica – aquela por trás da praça de táxis. Após suprido e aniquilado o vício, fomos cumprir uma estação de penitência ao Parque Municipal.
Uíiiiii… e não é que tinha levado uma bola vermelha ou encarnada, como queiram, pois que até penso que é a mesma coisa, que veio mesmo a calhar, às vezes até parece que tenho dotes premonitórios ou alguém adivinha as minhas mais recônditas intenções.
Entre chutos e pontapés fui angariando adeptos, claque e até mesmo novos jogadores. Os meus pais fizeram parte integrante do time albergando os três papéis e ainda lhes sobrou tempo para exercer a função de árbitros, isto sempre que a asneira atingia a consistência de grossa.
Nestes termos e contexto o sol foi girando devagar no céu, tal como eu girei na terra em alguns aparelhos de brincar que estavam ali à disposição do freguês. Sempre debaixo do olhar atento da minha mãezinha. Enquanto o meu pai assistia a alguns dos jogos do Torneio de Rugby de Sete (eles são todos uns brutamontes, grandes, fortes e correm mais atrás da bola, que de facto não o é ou se é tem cá um feitiozinho especial e estranho, também; parece um ovo das minhas gansas, pintado às cores, que o Sr. Goya  - lembram-se do Goya? Eu já falei dele mas, para os mais esquecidos ou para aqueles que ainda não eram meus amigos, fica aqui uma pincelada de memória ou uma apresentação em conformidade com a especificidade do caso: Goya "O Galanteador" é o meu cão de casa, ou seja, vive connosco na cozinha… sei lá uma coisa mais ou menos assim, e que agora já não está felpudo e encaracolado porque foi tosquiado; parece um cão a pilhas ou melhor movido a energia nuclear, porque não há pilha que dure assim, tão pouco a Duracell).
De tanto girar o sol iniciou um processo de escorregamento na linha do horizonte, as horas foram escorregando com ele e, nós, enquanto parte integrante do processo, iniciámos o, inexorável, procedimento de regresso à “palhota” pois o que era uma prova da evidência, depressa passou a facto provado e consumado.                       
Em casa cumpriram-se as regras da casa. Tomei banho, estava dois graus acima de bacorinha. Jantei. Vi uma pagela de bonecos. E a hora da Cinderela está mesmo aí a chegar. Ouvi a história da praxe e voei até domingo de manhã, directa, sem passar pela casa de partida e sem receber os €2000 (dois mil euros).
Domingo 05 de Maio de 2013. Dia da mãe. Dia de todos os beijinhos, beijinhos só para a mãezinha; também dei “unzinho” ao paizinho para ele não ficar triste e com ciúmes.       
Descobri uma coisa curiosa com o dia da mãe e que reza assim: A minha mãe tem uma mãe, a avó Ilda, o meu pai também tem uma mãe, a avó Aurita, e eu tenho uma mãe, a minha mãe, a Maria João, não é tão giro?... Acho que todos temos uma mãe, acho?!...
E por falar na minha mãe, lembrei-me que fiz, na escolinha, umas prendinhas para ela e, que amanhã; estou danadinha para que chegue amanhã, na festinha que vamos fazer em homenagens a todas as mães, lhas irei entregar e, mais… que agora nem vos sei contar. Amanhã logo se verá, okey? 
O meu pai está na cozinha agarrado aos tachos, às panelas e instrumentos complementares e afins.  Está a adiantar o almoço para logo. Acontece que, por ser dia da mãe, o almoço vai ter lugar em casa da Avó Aurita, a mãe do papá. Porém como a avó também é a mãe da tia Rosário, também vão estar presentes no almoço a família Sebastião, ou seja, o tio Mário Sebastião, a tia Rosário e a prima Sofia Sebastião que também tem uma mãe: a tia Rosário que não é Sebastião mas pertence à família Sebastião (o que eu não entendo lá muito bem mas pronto, quem precisa de entender tudo?...). Parece confuso e é-o! No fundo o que pretendo dizer-vos é que vai haver festarola e brincadeira XXL, a simples presença da prima é já um garante disso.
Estava eu a dizer-vos que o meu pai andava alrededor (agora também falo espanhol, aprendi com os bonecos do Manny Mãozinhas e as suas ferramentas) dos tachos e panelas mas agora com a companhia ou a ajuda da minha mãe, ela tem uma panela nova e muito especial, chama-lhe Bimby e o meu pai, por sua vez, apelida-a de Bimba “a sopeira”, onde ela cozinha quase tudo. Desta vez coube-lhe a sobremesa, uma vez que o meu pai está a fazer a bendita da sopa de peixe (ele é um chato na cozinha, leva duas vidas para fazer qualquer coisita, porém é perfeitinho. Não se pode ter tudo ou de tudo).  
Cozinhados finalizados. Cozinha arrumada – mais ou menos. Matula banhada, vestida, calçada, arranjada e perfumada e… bem, eu ia dizer: Lá vamos nós para a casa da avó Aurita mas, não foi bem assim… e porquê? Pois é… porque o meu pai ainda lhe surgiu, sabe Deus de onde, a ideia peregrina de ir apanhar um bouquet ou buquê (à francesa ou à portuguesa fica ao gosto do freguês) de rosas do nosso quintal para oferecer à avó. Aceita-se! Afinal é a mãe dele.
Agora sim! Demos corda aos sapatos ou melhor demos uma volta para o lado direito, na ignição, à chave do carro e vrummmmm…
Trim-trim-trimmmmm… Depois de algum estralejar no intercomunicador, logo a porta do prédio se abriu. Corri a chamar o elevador. Terceiro andar esquerdo e trimmmmm de novo. Um leve estalido e, eis que a porta do apartamento da avó se escancarou.
Olá avó Aurita! Bons diaaaaasssss… Estas foram as minhas saudações ao chegar (eu gosto bué da avó). E, sem aguardar resposta logo indaguei: E a prima? Ao que a avó, benevolente respondeu: Está a chegar querida. Agora onde está o meu beijinho. Beijei e abracei a avozinha, apesar do revés provocado pela ausência da priminha, que depressa me passou tal como depressa a prima também chegou. E, assim, toda a classe de tropelias e travessuras se iniciou.
Antes que o Diabo tivesse tempo para esfregar os olhos já a hora da “lambeta” retinia no relógio de badalo que a avó tem pendurado na parede do corredor. A verdade é que eu já sentia um ratinho a roer na barriguinha e não havia meio de pôr o dente na sopa ou como quem diz a colher na sopa de peixe do meu pai (ele é um “cozigenheiro”); Estava uma delícia. Comi dois discos.
Enquanto a família almoçava, a família leva sempre muito tempo a almoçar – é mais o tempo que falam do que aquele que comem – fui ver os bonecos da casa da avó; são diferentes dos da nossa casa.    
Terminada a lauta refeição, pois face ao tempo de ingestão assim me pareceu, e tarefas a ela inerentes, arrumar a túrgia e etc… Tocou a sineta para o café e, aí sim, há sempre pressa em organizar a excursão rumo à Flor de Loulé – a clássica – onde a malta abancou e satisfez o vício.
Café morto, café posto! Parque… Aqui vamos nós – eu, a prima, o pai e o tio Mário – uma vez que a mãe e a tia Rosário foram de rota batida para casa da avó. Tinham a incumbência de dar o pontapé de saída na empreitada dos preparativos para o meu aniversário.
Já embrenhados no frondoso e luxurioso parque, foi um ver se te avias de diabruras. Ajudada pela prima e, o pai, a fazer de lobo mau, a fantasia tornou-se apoteótica, um desassossego infernal.
Todavia o marechal de campo tempo foi inclemente na sua cavalgada desenfreada para poente. Contudo, só abandonámos as trincheiras quando se deixou de ouvir o troar dos cascos e a simbiose cavalo cavaleiro não passava de um ponto no infinito. Aí rendemos a guarda.
O jantar chegou, já tarde, a nossa casa. Com ele chegou também a avó Ilda que é a mãe da minha mãe e que sendo dia da mãe também teve direito a festa. Afinal como mãe da minha mãe e minha avó, festa fazia todo o sentido, não acham?...
No final do jantar houve bolo e tudo. A festa, porém, não se alargou pela noite dentro, apesar de já não ser nada cedo, assim me diziam as minhas pesadas pestanas que teimavam em pestanear e pestanear. Estavam tão pesadas que mal podia com elas.
A cama não tardou a chamar-me, ou seja, piscava-me o olho e atrevida seduzia-me, até que não lhe pude resistir mais e me entreguei em seus doces e mornos braços.
Nessa noite sonhei que o dia da mãe para mim era o dia seguinte… Adoro-te mamã… Zzzzzzz…
  

tÓ mAnÉ   (in Laura Solange dixit) - 2013.05.(04,05)

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