A subjugação do
outro sempre foi objecto de ambição adido à condição humana; aqui nesta breve
reflexão não vamos entrar noutro âmbito que não o de ser humano.
O poder enquanto
antítese de humildade, arroga-se ao direito de exercer um domínio efectivo e, com
ele, da obrigação do jugo se dotar.
Dir-se-ia que é sintomático
do tecido social ou mesmo viral, enquanto transversal a todos os pequenos e
grandes poderes que apesar de minúsculos submetem ao seu domínio, critério e a
seu bel-prazer, maiorias, fazendo-as querer, urdindo uma ilusão apoteótica, que
o poder reside nelas e não na efectividade do poder.
O poder não conhece pudor nem justiça, apenas
a obsessão por mais e mais poder.
A transmissão do
poder é extremamente violenta para o transmissor e uma apoteose para o receptor
ou sucessor ou o novo detentor. É quase como um estropiar uma parte de um para
implantar no outro, fazendo dele um hipotético ser superior. É como uma
recepção de vida para um e uma entrega da mesma, às mãos do sucessor, pelo
outro.
O poder é
solitário, logo egoísta, desconfiado, patético e ausente. Não se lhe conhecem
amigos, reconhecem-lhe oportunistas que orbitam em seu torno, tal e qual um
electrão orbita, aleatoriamente, em torno do seu núcleo, tentando resgatar à
sua avareza crónica algumas vitualhas, algumas parcas migalhas que, aquele,
usando de um crivo de malha estreita mas, dotada a cada realidade, peneira e
espalha com um critério assertivo e pragmático e sempre em troca da “gota de sangue” que alimente a sua
voracidade de vampiro a vinte e quatro horas.
O poder
encerra-se entorno do seu medo e do medo que inflige, escondendo-se atrás de si
mesmo e da áurea tenebrosa que emana, num ideal de sombra, penumbra e
crepúsculo, que cultiva cuidadosamente, em campos obscuros, onde medram e são
colhidos ao sabor da ocasião os dividendos da ocultação da planta do fruto da
informação.
Informação é
poder! E informação recôndita é a força suprema do poder, é a roda motriz da
engrenagem que faz a máquina quebrar a inércia e entrar em movimento
uniformemente acelerado, desacelerado ou simplesmente uniforme em acordo com a
conveniência e a conjecturara em gerência; algumas vezes, poucas, queda-se
inerte, estudando a matriz e o vector de actuação. Esta é a forma de poder, menos
conhecida, mas a mais perigosa. Denominada de: Poder Inteligente.
O poder é cego,
porém os cinco sentidos restantes; ambição, tacto, olfacto, paladar e audição,
estão e são apuradíssimos, requintados no seu uso e abuso. Nada acontece que
não chegue através destas vias sensoriais. E, apesar de cego, o poder tem
olhos, miríades deles, que revolitam em torno dele e estão disseminados e proliferam
de lés a lés, quer na sua área de interferência quer fora dela. Desvirtuando, impregnando,
fedendo, cuspindo e soprando a informação ao poder que a irá digerir em seu
interesse próprio. Guardando-a para si ou libertando-a, através de flatos de
odor putrefacto, na teia onde as aranhas se apoderarão dela, urdindo-a a seu
discricionário e tenebroso prazer.
Esta rede ou
teia, ainda que rudimentar em alguns casos e extremamente complexa noutros, de
informação mantém o poder actualizado, informado e documentado de tudo o que
gira em torno - fora e dentro - da sua esfera de influência, tornando-o, desta
forma, quase omnisciente e omnipresente; um semi-deus.
O exercício do
poder assemelha-se à transmissão, disseminação de uma pandemia, cresce
exponencialmente com a assumpção do mesmo e com o tempo de exercício efectivo
da prerrogativa.
O povo diz e Deus
guarda-lhe a razão: Se queres ver um
pobre soberbo dá-lhe a chave de um palheiro. Quer isto dizer que o
exercício do poder é tanto mais efectivo e feroz quanto a condição social dos
ancestrais dos executores, independendo da sua ascensão ou não no tecido social,
ou seja, quanto mais baixo é o extracto social donde provêem os executores mais
eloquente, apertado e estreito o exercício da pertinência se revela.
O poder tem uma
memória eidética pelo que nada no seu entorno lhe escapa, é uma esponja de
absorção milagrosa de informação, todavia, uma armadilha fatal para os seus
oponentes, quer no campo da batalha pelo poder em si quer no cobro de
dividendos e favores.
Enquanto viral,
instala-se, aloja-se no hospedeiro e, estupidamente, bebe-lhe a vida, seca-o,
suga-o até extinguir a fonte geracional. Aí, procura avidamente um novo
hospedeiro ou simplesmente aquieta-se à míngua, enfraquecendo e definhando, à
medida que a fonte geradora do nutriente liofiliza, o alicerce desmorona ou a
sua vida fenece.
Contudo, atenção,
que na realidade, o poder não morre, fica apenas latente, hiberna, aguardando,
pacientemente, por circunstâncias favoráveis que o acordem e o libertem desta
letargia, deste sono e o tragam à vida e ao sonho: O sonho eterno de ser poder.
A configuração
suprema, idílica até, de exercício do poder é o poder manipular ou deter ou
decidir a vida de alguém ou duma extensa comunidade, que pode ser tão extensa
quanto se possa imaginar: Uma galáxia por exemplo. É o poder de decidir quem
vive ou morre, de quem é subjugado ou permanece livre, de quem prospera ou
definha, de quem pode ou não seja o que for. Este é o poder que mais se
assemelha ao Poder de Deus e, aquele que a humanidade mais almeja, mais luta
para lograr atingir numa combate desleal e desumano pelo direito à posse do
instrumento mais abstruso do mundo: A justiça do Poder pelo Poder.
O querer poder
ser tal e qual Deus, todavia, aberrantemente, encerrado na pele de um
Sátiro.
tÓ mAnÉ Editions
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