terça-feira, 1 de outubro de 2013

O fascínio do poder

A subjugação do outro sempre foi objecto de ambição adido à condição humana; aqui nesta breve reflexão não vamos entrar noutro âmbito que não o de ser humano.
O poder enquanto antítese de humildade, arroga-se ao direito de exercer um domínio efectivo e, com ele, da obrigação do jugo se dotar.
Dir-se-ia que é sintomático do tecido social ou mesmo viral, enquanto transversal a todos os pequenos e grandes poderes que apesar de minúsculos submetem ao seu domínio, critério e a seu bel-prazer, maiorias, fazendo-as querer, urdindo uma ilusão apoteótica, que o poder reside nelas e não na efectividade do poder.
 O poder não conhece pudor nem justiça, apenas a obsessão por mais e mais poder.
A transmissão do poder é extremamente violenta para o transmissor e uma apoteose para o receptor ou sucessor ou o novo detentor. É quase como um estropiar uma parte de um para implantar no outro, fazendo dele um hipotético ser superior. É como uma recepção de vida para um e uma entrega da mesma, às mãos do sucessor, pelo outro.
O poder é solitário, logo egoísta, desconfiado, patético e ausente. Não se lhe conhecem amigos, reconhecem-lhe oportunistas que orbitam em seu torno, tal e qual um electrão orbita, aleatoriamente, em torno do seu núcleo, tentando resgatar à sua avareza crónica algumas vitualhas, algumas parcas migalhas que, aquele, usando de um crivo de malha estreita mas, dotada a cada realidade, peneira e espalha com um critério assertivo e pragmático e sempre em troca da “gota de sangue” que alimente a sua voracidade de vampiro a vinte e quatro horas.
O poder encerra-se entorno do seu medo e do medo que inflige, escondendo-se atrás de si mesmo e da áurea tenebrosa que emana, num ideal de sombra, penumbra e crepúsculo, que cultiva cuidadosamente, em campos obscuros, onde medram e são colhidos ao sabor da ocasião os dividendos da ocultação da planta do fruto da informação.
Informação é poder! E informação recôndita é a força suprema do poder, é a roda motriz da engrenagem que faz a máquina quebrar a inércia e entrar em movimento uniformemente acelerado, desacelerado ou simplesmente uniforme em acordo com a conveniência e a conjecturara em gerência; algumas vezes, poucas, queda-se inerte, estudando a matriz e o vector de actuação. Esta é a forma de poder, menos conhecida, mas a mais perigosa. Denominada de: Poder Inteligente.
O poder é cego, porém os cinco sentidos restantes; ambição, tacto, olfacto, paladar e audição, estão e são apuradíssimos, requintados no seu uso e abuso. Nada acontece que não chegue através destas vias sensoriais. E, apesar de cego, o poder tem olhos, miríades deles, que revolitam em torno dele e estão disseminados e proliferam de lés a lés, quer na sua área de interferência quer fora dela. Desvirtuando, impregnando, fedendo, cuspindo e soprando a informação ao poder que a irá digerir em seu interesse próprio. Guardando-a para si ou libertando-a, através de flatos de odor putrefacto, na teia onde as aranhas se apoderarão dela, urdindo-a a seu discricionário e tenebroso prazer.
Esta rede ou teia, ainda que rudimentar em alguns casos e extremamente complexa noutros, de informação mantém o poder actualizado, informado e documentado de tudo o que gira em torno - fora e dentro - da sua esfera de influência, tornando-o, desta forma, quase omnisciente e omnipresente; um semi-deus.   
O exercício do poder assemelha-se à transmissão, disseminação de uma pandemia, cresce exponencialmente com a assumpção do mesmo e com o tempo de exercício efectivo da prerrogativa.
O povo diz e Deus guarda-lhe a razão: Se queres ver um pobre soberbo dá-lhe a chave de um palheiro. Quer isto dizer que o exercício do poder é tanto mais efectivo e feroz quanto a condição social dos ancestrais dos executores, independendo da sua ascensão ou não no tecido social, ou seja, quanto mais baixo é o extracto social donde provêem os executores mais eloquente, apertado e estreito o exercício da pertinência se revela.
O poder tem uma memória eidética pelo que nada no seu entorno lhe escapa, é uma esponja de absorção milagrosa de informação, todavia, uma armadilha fatal para os seus oponentes, quer no campo da batalha pelo poder em si quer no cobro de dividendos e favores.
Enquanto viral, instala-se, aloja-se no hospedeiro e, estupidamente, bebe-lhe a vida, seca-o, suga-o até extinguir a fonte geracional. Aí, procura avidamente um novo hospedeiro ou simplesmente aquieta-se à míngua, enfraquecendo e definhando, à medida que a fonte geradora do nutriente liofiliza, o alicerce desmorona ou a sua vida fenece.
Contudo, atenção, que na realidade, o poder não morre, fica apenas latente, hiberna, aguardando, pacientemente, por circunstâncias favoráveis que o acordem e o libertem desta letargia, deste sono e o tragam à vida e ao sonho: O sonho eterno de ser poder.
A configuração suprema, idílica até, de exercício do poder é o poder manipular ou deter ou decidir a vida de alguém ou duma extensa comunidade, que pode ser tão extensa quanto se possa imaginar: Uma galáxia por exemplo. É o poder de decidir quem vive ou morre, de quem é subjugado ou permanece livre, de quem prospera ou definha, de quem pode ou não seja o que for. Este é o poder que mais se assemelha ao Poder de Deus e, aquele que a humanidade mais almeja, mais luta para lograr atingir numa combate desleal e desumano pelo direito à posse do instrumento mais abstruso do mundo: A justiça do Poder pelo Poder.
O querer poder ser tal e qual Deus, todavia, aberrantemente, encerrado na pele de um Sátiro. 


tÓ mAnÉ   Editions

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