quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O Pescador



Sento-me, só.
E, só assim, me quero
À mesa, para almoçar
Após, solicitada, a devida permissão.
Ainda só, abri o bloco de notas
Reli as últimas notações
Recordei com emoção
Passagens nelas rasgadas.
Agora, olhando nestas páginas amareladas
Nada me ocorre que as preencha
Apenas o ruído de fundo, ululando
Apela à atenção.
São os clientes do costume
Salvo a mesa do lado esquerdo
Onde, o moribundo, executivo Edil
Dispara os últimos cartuchos
Tentando criar a confusão
Trazem, apensos, a eles, a imprensa
(escrita, fotográfica e audiovisual)
Para além de certa escol
(despropositada a meu ver)
Ou já a fizeram ou estão para a fazer
Assim reza o povo na sua endémica sabedoria.
Justificações fora de época; póstumas
Actuação, bizarra, pouco natural.
Duas filas de mesas, em frente, à minha esquerda,
Está sentada uma mulata vistosa
Devorando uma garfada de alface
Enquanto, apuro as espinhas da salada de bacalhau
Veste de azul forte, elegante
Volteia o cabelo, desfrisado, com a mão
Olha a sala, estuda intranquila, o impacto do gesto
Insegura da sua irreflectida actuação.
Na fila da frente, as mesas,
Detêm a seguinte ocupação:
Ao centro, liberais são as profissões
(engenheiros, advogados, entre outros figurões)
À esquerda, magistrados e funcionários da justiça
À direita, o Magnifico Reitor da Universidade Local.
Do funcionário público, ao turista até ao povo em geral
Todos, este acolhedor e humilde espaço, alberga
Com o mesmo despretensioso cerimonial.
Simpatia, amabilidade, eficiência, rapidez e…
Boa mesa, com certeza!... Apanágio imaculado
De tão provecto e ilustre espaço comercial.  
De política se fala, de justiça, de futebol,…
E, até, de “tricas e licas” da sociedade local
De tudo ou quase tudo afinal.
Espaço sui generis este
Ímpar, sem termo e sem rival
Que alberga todos, por excelência, e sem igual
Erguendo uma democracia isomórfica
À do nosso país, desigual; Deo Gratis
Todos comem, todos bebem, todos pagam
Do rei ao plebeu à elite de varal
Não há Sino, não à GOL, não há Opus que aqui Dei
Vil metal aqui faltar não pode
Regra da casa com excepção a confirmar.
Denoto, com apreensão, a ausência do Fernando
O comandante desta escuna, deste barco descomunal.
O Pescador,
O Congregador,
O Negociador,
O Facilitador,
Afinal.
Este espaço não é o mesmo
Sem seu toque, sem a sua magia magistral. 
Tudo isto ocorre num dia
Em tudo menos normal
Um navio sem comandante
É tudo, excepto natural.

tÓ mAnÉ

Sem comentários:

Enviar um comentário