segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Crónicas FDS da Laura – Registo XII


Este fim-de-semana vai ser especialmente para mim, apesar de hoje sábado ter ficado um pouco à parte ou melhor ostracizaram-me na ida às compras de sábado de manhã.
Assim, entretive-me a brincar com os meus brinquedos, passe a redundância, enquanto a avó Ilda, sentada no sofá e tal e qual uma coruja na torre sineira, me observava mais ou menos atenta conforme o caso o requeria; adoro ficar em casa com a avó! Ela permite-me certos devaneios que me estão vedados pelas regras da casa, ou seja, faço tudo o que me dá na real veneta e na tola também.
Emmeios os papás foram ao mercado (cheios de pressa e como referi nem pensaram em me levar – eu sou um empecilho para a velocidade das compras) ultimar as compras para a minha festinha de amanhã. Como já vos referi, ao de leve e sem data anunciada, no fim-de-semana passado, amanhã é o meu aniversário – faço quatro anitos e já vou ser grande – e vai haver festa; fiesta como diz o Manny Mãozinhas y sus herramientas.
Pois, como vos disse, esta manhã estou à perna quase solta e vou pintar a manta à minha maneira, não me chame eu Laura Solange. A avó deixa e, eu aproveito, claro!...   
Hoje é também um dia especial! Sabem porquê? Não sabem claro, vocês nunca sabem, daí ter de vos contar sempre. Ora então vamos lá: Hoje chega o meu tio padrinho Miguel, irmão do meu pai, e a tia Bleca, que na verdade se chama Isabel mas, todos a apelidam de Bleca (este assunto já foi explicado pelo que vos vou poupar a mais detalhes).
Vêm cá almoçar ademais as avós, o primo André “ o “lingrinhas ou trinca espinhas” e o meu mano Pedro, que está grande, forte e um língua de trapo – só fala de ginásio e de gajas, como se isso fossem assuntos do meu interesse, até enjoa!...
A primeira a almoçar fui eu, aliás sou-o quase sempre. E, hoje até antes que os papás chegassem. Estava esfaimada, Santo Deus.
A sopinha de legumes, claro! Porque é claro (a minha mãe não dispensa a sopinha), os carapaus alimados à algarvia, que o meu pai fez ontem com a ajuda da avó Ilda, as batatinhas cozidas com pele e a frutinha, tudo isto aliado ao jeitinho e à paciência que a avó tem para me dar comida, soube-me quem nem ginjas. Acreditem que até fiquei “harpando” e meio “ensampada”.   
Assim que chegaram, os meus pais, não tiveram mãos a medir. Porém, não perderam a oportunidade de “lamber a cria”, que seu eu, pois claro! Beijinhos, abracinhos e festinhas foi um vê se te avias; fiquei tão contente! 
Na véspera, sexta-feira, o meu pai tinha comprado carapaus para assar e para alimar, bem como, um pargo mulato (por causa dos esquisitos do André e do Pedro, respectivamente, o meu primo e o meu mano velho, e respeitando os respectivos graus de esquisitice na ordenação por nominal) também para decorar as brasas.
Após a lambedura e na sequência e cumprimento da hierarquia “pantagruélica”, o meu pai, começou pela salgadura dos malogrados “nadadores”, coitados! Depois e acto imediato, começou a fazer uma sopa de peixe, versão light – mais caldosa, menos peixe e massa reduzida mas com o mesmo tempero e esmero - com os  restos, devidamente tratados e conservados, da cabeça do pargo; o pai gosta muito de cabeça de peixe cozida e já agora eu e a minha mãe, também) que tinham sobrado da antevéspera.
Ora imaginem lá qual foi a ementa do almoço…
Entradas: Queijinho branco, chouricinha e carapaus alimados à algarvia;
Sopa: Sopa de peixe com massa cotovelinho;
Prato principal: Carapaus e pargo mulato grelhados, batatinhas com pele e salada de tomate cor-de-rosa;
Sobremesa: Fruta da época e arroz-doce;
Tudo isto regado com vinho branco, icetea de manga e água. No final a cereja no topo do bolo: Café.
Findo o repasto. Tralha lavada e arrumada. Cada um foi ganhar a vida para o seu lado: O padrinho e a tia Bleca foram para Quarteira dar ar ao apartamento, o pai, a mãe e a avó Aurita continuaram com os preparativos para a festa do meu aniversário, o André foi namorar com o computador e o Pedro, esse, foi sabe Deus ou o diabo onde… Ah! Falta a avó Ilda que foi bater a sua sorninha, a folga – ela não pode passar sem a sua folguinha, diz que é por causa do “carregum” que lhe fica na cabeça se não a fizer.
Ao fim da tarde o tio Miguel chegou com uma carrada de artefactos e, conjuntamente, com o pai estiveram a montar o bebedouro automático dos cães, os cães bebem e o bebedouro volta a encher-se sozinho. É grande artimanha. E, eu, claro, estive a ajudar. É pá tinham tantas ferramentas, mais que o Danny Mãozinhas.
E, neste anda que desanda, fez-se tarde num instantinho. Contudo, ainda me sobrou tempo para ir ajudar o meu pai a tratar dos cães. O canil estava impossível de mal cheiroso, havia cocó de cão espalhado por tudo o que era sítio, púuuuuu… mas eu não já não me importo, a força do hábito – que não faz o monge, obviamente – ajudou-me a ganhar o estômago necessário a estas operações de cosmética diária. E sabem que mais? Até gosto!
As coisas na nossa casa funcionam tal qual como se puxa por um fio, que se solta metro a metro com jeitinho para que não se enlear, isto quer dizer que: Vêm uma de cada vez e a seu devido tempo, seguindo uma cronologia ordenada; uma sucessão sucessiva que termina no deitar, intercala no dormir, e se inicia pela manhã, com cada coisa no seu tempo e no seu lugar.
Assim, depois dos cães vem o banho e depois do banho o jantar – desta vez o número de comensais foi mais reduzido ou melhor, pensando bem, não foi nada, apenas houve um troca de nomes, no lugar do mano ficou o tio Aníbal, o irmão da mãe e pai do André.
Pratos, talheres, copos e guardanapos na mesa e, o jantar está armado. Sentam-se os intervenientes e começa a dança das terrinas e das travessas.
Eu e o pai “alimbazamo-nos” com o que restou da sopa de peixe; estava mais gostosa que ao almoçou, refinou o tempero e melhorou o paladar. Os restantes afinfaram-lhe na sopa de legumes. Seguidamente todos comemos peitos de pato com molho de papaia e arroz basmati que vieram directamente de Oeiras e que tinha sobrado, sobrado não! foi feito já acrescentado, para uma festa, bolas já estou a meter as patas, em tempo iremos falar na festa de quarta-feira à noite, que o padrinho organizou na casa de Oeiras, lá na “linha” como eles, os da “linha”, para lá dizem, pois sabiam que a mamã não iria ter tempo para jantaradas e mariquices a fim, uma vez que estava, como anteriormente vos disse, com o tempo todo ocupado na preparação da minha festa de aniversário no dia seguinte. Assim a ideia de trazer jantar para o pessoal foi fantástica e apropriada, plena de bom senso. Ainda comemos uns perceves que um amigo, o Zé Espírito Santo, do padrinho e do pai trouxe de Vila do Bispo para o padrinho, ele costuma ir apanhá-los; disseram-me que é muito perigoso. A sobremesa constou de morangos passados pelo chocolate quente e pop cakes de bolo de Nesquick, ambas as iguarias espetadas em palitos gigantes.
Chegados aqui e, agora sim, vou falar-vos da festa ou melhor jantar festa de quarta-feira passada, que decorreu na casa do padrinho em Oeiras. Da qual na realidade quase nada sei, que não que, na quarta-feira 08 de Maio o padrinho fez 53 primaveras e decidiu compartilhá-las com os seus amigos lá de cima os da “linha” oferecendo um jantarinho à malta. E é tudo!
A noite foi escorrendo vagarosa e sorrateiramente por entre os nossos dedos. Os “hóspedes” foram, aos poucos, acenando com a mão ou distribuindo beijinhos de boa noite, enquanto o meu cansaço, tenazmente, me ia abraçando, até me envolver por completo, como se de um manto imenso de Joões Pestana se tratasse.
Extenuada e embriagada pelo efeito do aperto do cansaço, ainda ouvi o meu pai dizer-me: Olha filha! A avó Aurita vai dormir contigo no teu quartinho… na verdade fiquei sem saber se era uma realidade ou se já sonhava. Fiquei a saber que foi uma realidade quando vi a avó a cirandar pelo quarto, em pijama, na manhã seguinte, manhã de 12 de Maio do ano da graça de 2013, dia do meu quarto aniversário.
Bom dia mundo! Estou tão feliz! Acordei cedo e muito, muito bem disposta, afinal hoje o dia é todo meu. Hoje é dia de festa, hoje é dia dos amigos, hoje é dia de presentes e, hoje a princesa, a fada, a bruxa e a rainha sou eu!  
Durante toda a manhã, em nossa casa, foi um afã, uma lufa-lufa. Andava tudo numa fona. A mãe, a avó Aurita e até o meu pai, que a minha mãe sugeriu que fosse ao supermercado, pois já andava stressado, comprar massa folhada fresca e que ele, apesar de ter apontado o recado, correu três supermercados: O Modelo, o Continente e o Pingo Doce, procurando por massa tenra fresca – nem leu o papelinho por certo – que não encontrou, acabando por comprar uma enormidade de massa filó que, claro, não cumpria os objectivos. O que lhe custou, logo que regressou a casa, uma correcção de orelhas por parte da minha mãe: Não basta o tempo que levas-te e ainda trazes uma coisa que não me serve para nada. Homens! Ela estava apopléctica com ele, e uma produção de efeito de elástico – vaivém – para trocar o disparate que efectuou assolou o meu pai, põeingue-tõingue; isto, é segredo: O meu pai comprou dois pacotes da ditosa massa filó no Continente e outros dois no Pingo Doce, logo, como é bom de ver, teve que se deslocar a dois locais para remediar a tragédia. Logrou safar-se e trazer dois pacotes da bendita da massa folhada tenra, menos-mal.
Nesta azáfama, entre rissóis, pastéis de carne e sei lá que mais, a hora de almoço acabou mesmo por chegar e, com ela, o tio padrinho Miguel, a tia Bleca e um pouquito mais tarde o primo André.
Por ordem cronológica todos me foram dando os parabéns ao longo da manhã e aliado a eles as prendinhas porque tanto ansiava e que desembrulhei num assédio de ansiedade. Desilusão, eu sonhava com brinquedos, muitos brinquedos e queria-os tanto. Todavia o grosso da coluna foi roupa, óooooo… paciência, não é por isso que vai morrer o cágado e eu também sou assim um pouco vaidosa pelo que roupa também me assenta bem no goto.
O almoço foram os restos do jantar, não houve vagar para mais, e umas gambinhas frescas da costa que o meu pai tinha comprado na véspera para fazer uma boquinha nas entradas da festinha.
Mas que rápido rola o tempo, mais rápido que o trabalho que há para fazer. E era muito, podem crer. Enquanto dava uma preciosa ajuda ao meu pai na feitura de uma sangria de vinho branco (não entendo porque lhe hão-de chamar sangria, ainda se o vinho fosse tinto… o meu pai chamou-lhe de “caldo fresco”), foram chegando os convidados e os meus amigos o Francisco e o mano, o Bernardo e o Guilherme, a Joana e a prima Sofia, com os respectivos papás.
O meu bolo de aniversário veio pelas mãos e concebido pelas mãos da mãe do Francisco, a Suzi, ela é muito prendada nestas coisas, mas o tema fui eu que escolhi. O meu bolo estava lindo ou melhor lindíssimo, tinha uma estátua da Mia abraçada ao Onchao, o unicórnio do chifre dourado, da série do Canal Panda “Os Mundos de Mia”; vidro na TV quando e enquanto está a ser exibida, assentes numa cobertura de um verde lindíssimo.
Adorei! Obrigada Suzi és uma verdadeira artista.  
A arraia miúda, isto é, nós os pequerruchos semi-grandes, devorámos tudo enquanto o Diabo esfrega um olho e depois, depois foi facturar na brincadeira e nas asneiras, que só o são para os grandes, ambas se multiplicavam ou cresciam em progressão geométrica conforme a ocasião, mas foi tão bom! Foi o máximo!...  
Os grandes, os adultos, aqueles que passam a vida a dizer-nos: está quieta, não faças isso, porta-te bem, não vás para aí, etc,… percebem? Fiz-me entender? Sentaram-se na rua da minha casa e comeram, e beberam, olhem, foi um fartar vilanagem. E mais não digo.
Há sempre coisas chatas no meio de tanta coisa boa e aqui não houve excepção. O meu tio padrinho teve que pôr o pé à estrada logo a seguir ao almoço, tão cedo… ainda nem os convidados tinham chegado. O dever chamava lá para os lados de Oeiras. Pelo que ouvi tinha coisas para resolver em casa; obras de remodelação em que anda metido.
Aproveitando o imenso bulício e disfarçadamente o vilão do tempo foi passando de mansinho, enganando-nos com o seu ar de bonzinho – ele é um cínico. E, assim, como que um estalar de dedos chegou a hora do grande sopro às velas e o estrondoso uivar dos parabéns, cada um canta como lhe apetece e cada qual para o seu lado, o rebentar das garrafas de espumante, os tchins, tchins, o partir e comer do bolo (eu mordi uma velinha e pedi um desejo que não vou revelar senão não se realiza). Tudo como manda a sapatilha ou a cartilha para o caso tanto faz.
Um a um, ou família a família, os convidados foram abandonando o cenário do crime de devassa gastronómica. Até que, quase sem darmos por isso, num repente ficámos sozinhos. O silêncio apossou-se do espaço, ao longe as vinte e três badaladas soavam, no torreão da igreja, solitárias na noite, chamando discretamente eu recato e ao descanso.
Cada pálpebra pesava-me como uma pedra de calçada. Vestiram-me o pijama e zus catrapus cama. Hoje, que já quase é amanhã, não houve história.
Alegações finais, já em tempo de descontos:
- Adorei a minha festinha, porém tenho dois reparos a fazer:
i) Eram mais os amigos dos papás que os meus;
ii) O meu pai não abriu as garrafas de champagne français, esqueceu-se de as colocar no frigorifico, para brindarem à minha saúde.
Espero que para o ano a festinha seja constituída com mais amigos e que façam estalar as rolhas do champagne français, em vez do espumante português.
Obrigada papaizinhos queridos!...
E, nos braços de Morfeu me abandonei…    
  
tÓ mAnÉ   (in Laura Solange dixit) - 2013.05.(11,12)

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