Dificilmente uma
aparição de um anjo traz dependurada a si a iluminação do nosso céu. Nem sempre
a felicidade rebenta, assim, espontânea, no nosso coração e, está há distância
de um “click de mouse”, talvez por
exigirmos em demasia daqueles que de nós mais próximos estão ou que nos rodeiam
e, que por isso, perdem o brilho, o seu encanto e a sua magia, predicados que,
por neles encerrados, não se encontram, efectivamente, perdidos mas sim por nós
desvalorizamos, por uso ou desuso. Hoje o brilho, o encanto e a magia ou aquilo
que lhe queiramos chamar ou pensamos que o são, estão à distância de um “click de mouse”, vogam, ao nosso bizarro
conceito, livres nas redes sociais e páginas, sites de encontros imediatistas, nos quais nós desconhecemos quem
pensamos conhecer, ou deliberadamente nos induzimos ou conduzirmos ao engano,
não por o queremos mas sim por conveniente.
Procuramos
amizades e amores virtuais, inventivos, liberais, fáceis e inconsequentes, sem
virtudes ou pecados, frutos podres de uma árvore, decrépita, a árvore de todas
as ilusões. E, preferidos, por proibidos, por desconhecidos, por apetecidos,
porém todos frutos de vaidades que não temos mas que almejamos, de pessoas que
não somos mas desejamos ser, no fundo frutos de um caleidoscópio social
emergente de uma forma não despiciente de ser.
Esta árvore,
seca, que gera no seguimento da flor frutos já putrefactos, cresce-nos os
corações de uma pretensa sensação de acolhimento, de importância e até de
preenchimento dos vazios que nos assolam as noites e quantas vezes os dias,
também, todos eles precários, transitórios que tal como nascem assim fenecem:
repentinamente; árvore das respostas fáceis às perguntas difíceis que a vida
nos propõem no seu exame de fim de um percurso e inicio de novo rumo, assim o
ditam as leis: o ciclo tem quem iniciar e encerrar antes que um novo se
reinicie.
Não quero
generalizar! Nem estou a generalizar! Daí o “ Um anjo no meu céu”.
Olá anjo meu!
Mentira que eu
criei só para mim.
Mentira porque
acredito nela.
Mentira porque a
isolei de todas as verdades da minha vida.
Mentira porque de
facto nasceu e cresceu assim, mentira.
Mentira por
ausência de uma verdade absoluta.
Mentira por eu,
frequentemente, a sonhar como uma verdade sempre presente.
Mentira por não
poder ser verdade mas por o ser, inexoravelmente, também.
Mentira por
consequente e mentira porque todas as mentiras são, talvez tão-só, as mais
puras verdades.
E, tudo isto, á
distância de um “click de mouse”,
distância essa que se sobrepõe a oceanos, a continentes e quiçá, um dia, a
universos e galáxias inteiros. Daí a criação de uma nova palavra no léxico da
modernidade, uma palavra moderna, nova no seu conteúdo, na sua acepção, todavia
antiga na sua diáspora, no seu périplo, para a história do Homem no seu
percurso natural: internauta.
Devo confessar,
chegados aqui, que sou um internauta medíocre e retardado, um autentico tecla 3
(DEF), falando uma linguística mais jovem que a minha e alusiva às novas
tecnologias, nomeadamente, à da comunicação telefónica sem fios, a linguagem do
teclado dos telemóveis, os mais antigos, claro, a geração ante “touchables”, em que o uso das redes
sociais tipo facebook, netlog, skype, entre muitas outras, para mim, só se abriram, incompletamente,
de há meia dúzia de anos a esta parte; um leigo! Onde o essencial se revela
como uma vitória e não como uma derrota, como muitos dos “experts” meus conhecidos me rotulam: os meios informáticos e tu são
uma, e uma só, incompatibilidade.
Mas que feliz que
eu estou, meu anjo, pelo pouco que sei, pois foi esse pouco que nos
apresentou!...
Lembro-me
nitidamente, como se fosse hoje, como nos conhecemos. E, quando o recordo ainda sinto aquele arrepio gostoso,
pela espinhal medula acima, que se eleva ao longo do pescoço, como se de um
beijo cálido se tratasse e, que irradia pelo meu corpo, chamando-me ao irreal,
ao confuso, ao virtual, aquele, que se sente tal e qual o fosse… real!...
Eu, sonhador de
palavras e jardins suspensos, tu, perdida nas ilusões e mergulhada nas desilusões.
Não tínhamos como nos encontrarmos que não fosse a vicissitude ou na virtuosidade
da virtualidade. Foi a música que nos uniu, e com ela as palavras, e com as
palavras o desentendimento, e com o desentendimento a música, que, por fim, nos
trouxe ao entendimento dos actos e das palavras, aquelas que navegam nas letras
que associadas ao som e ao privilégio da imagem, nos fizeram compreender os
pontos de inserção dosa nossos pequenos grandes mundos.
E, assim,
deste-me um tu ao qual eu acrescentei um eu, o meu eu. Não somos uno, sei-o
bem, somos a distância existente entre dois “clicks de mouse” ou de dois “keyboards”
e tão intermitentes quanto um néon na noite escura; umas vezes eu sou a imagem
e tu a obsidiana, noutras invertemos os papéis, tu a imagem eu a obsidiana, que
são as nossas vidas.
De palavra em
palavra de vídeo clip em vídeo clip cimentámos esta amizade, cheia de
percalços, este amor distante, solitário, esta vontade de sermos um só no calor
da paixão, esta tesão de nós.
Hoje, quase
próximos, quanto um abraço, quase tão próximos que o teu halo acende em mim o
desejo que em mim reside, inerte, ou quase tão próximos que o simples roçar, ao
“click de mouse”, tu fazes as vezes
da lixa da caixa e eu a do pau de fósforo, nesta biosincrasia que é a vida
encerrada numa caixa de fósforos, ou seja eu encerrado em ti, naquela caixinha
de encantos mil e tu, por vontade própria abres-te, e eu saio para ti, e tu,
delicada e insinuante, entregas-te, roçando-te, esfregando-te, sovando-te,
dando-te à fricção, provocando em mim uma reacção química sem igual, uma
comburência daquela cabeça vermelhona, originando uma chama que me consome a
madeira numa paixão escaldante, fulgurosa, e rápida, acendendo desejos
incontáveis, enrouquecendo a minha voz, que te implora que te abras para mim,
uma vez que dentro de ti me deténs, me encarceras, deixando que a minha chama
ateie o cigarro que libidinoso e preguiçoso da tua boca pende, aguardando,
silenciosa e ansiosamente, o momento em que a primeiríssima emanação de fumo
exale, aliviando a solidão e a carência de calor que em si não encerra, mas
que, todavia, de fonte autónoma depende.
Fuma, pensativa,
meu anjo.
Fuma,
contemplativa, não apresses o morrão, não apagues a acendalha.
Goza entre cada
fumaça, ou trago, ou passa o prazer que no teu corpo se deleita e, quando
chegada a beata, aspira o fumo devagar, pois aí o calor já queima e, perto,
muito perto, está, abrasiva, a implosão do amor, depois, com meiguice, esmaga
no cinzeiro o que resta, com cuidado, vai ser a minha alma que calcas, saciada,
satisfeita, completa, feita em cinza, é bem certo. Aí, amarrotada, refugiada no
filtro, aguarda paciente uma nova oportunidade, o reacender da volúpia, que no
maço dos vinte se resguarda.
Poderei dizer,
sem faltar à verdade e seguindo a metáfora empregada, que cada vez que roço por
ti perco a cabeça. E, também, que: É assim que começa a história.
tÓ mAnÉ Editions
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