sexta-feira, 12 de julho de 2013

Deo Gratis



Deo Gratis!
Deo Gratis! Hoje ou nos dias que correm posso considerar-me um homem privilegiado! E, de facto, sou-o mesmo! Face à conjectura socioeconómica que nos avassala, posso sem renitência alguma dizer: Eu sou um português e um cidadão do mundo rico e um homem privilegiado. Apesar de o amanhã só a Deus pertencer.
Parece que já oiço o clamor das vozes que se levantam a perguntar: como posso eu afirmar semelhante obscenidade e porquê. Por isso, e sem mais delongas, passo a revelar o meu ponto de vista, enquanto observador atento de uma realidade mundial e da nova ordem que ela já pressupõe e que vigorará até se esvaziar de conteúdo por abstrusa e inoperante.
Alguém duvidará ainda que a vida, tal como nós a conhecemos até hoje ou melhor até aos finais da primeira década do século XXI, não voltará a resplandecer e a florescer nas próximas décadas? Penso que a resposta é evidente: Não! Claro que não, ninguém duvida! Só um tolo, um néscio, perante todos os factos, e pior, as evidências encerradas nos mesmos, acreditará que vamos refulgir de novo, qual Fénix renascida. Vamos, isso sim, fazer uma longa travessia do deserto sem oásis à vista onde mitigar a sede e a fome e rodeados por uma praga imensa de gafanhotos, que contrariamente à apologética crença dos povos que o habitam, não irão ser uma bênção antes sim uma catástrofe, e assistir de bancada à derrocada de um sistema político a que chamamos, qual eufemismo, de democracia e à banca rota ou falência do mesmo por abjecto, ineficaz, inoperante e esofágico, logo tendencialmente suicida.
Acreditem ou não a democracia está decumbente, decussada e prestes a assumir-se como defunta, apenas lhe restando suspirar o último estertor e a consequente emissão da respectiva certidão de óbito; et voilà passé composé.
Resta-nos agora que se erga, pujante, rejubilante, plena de juventude, força e vontade, uma Nova Ordem Mundial, assente em movimentos cívicos ordenados e organizados, que destrone uma classe política asquerosa, decrépita, exaurida, hipócrita, corrupta, clientelista, desacreditada, por mérito próprio, provinda na sua grande maioria da Opus Dei ou da Maçonaria, desprovida de ideais e vendida em leilão – quem dá mais, quem dá mais, um, dois e… e… três, rematado! - aos interesses económicos e/ou a outros de aspecto mais obscuro e que por inerência mais tenebrosos; porque isto de se viver ou querer viver bem com Deus e com Sátiro tem mais que se lhe diga.
Senão vejamos o exemplo, o laboratório de ensaio da cidadania, que foi e é a Islândia, onde a cidadania se opôs e depôs a classe política por falência de ideais, incompetência, ineficiência, inoperância, impotência, incapacidade de entendimento e opacidade. E daí mal não adveio, antes pelo contrário, a Islândia é hoje um estado em franca ascensão, onde o progresso é palavra de ordem e o retrocesso é verbo conjugado no passado.        
Provavelmente o povo da Islândia não estaria tanto político dependente ou melhor não teria uma adicção política como a que existe na nossa Europa, principalmente nos países da Zona Med, em que a cidadania da cunha criou a cultura do “Dominador” e do “Submisso” ou aquele que dá o que quer, quando quer e da forma que quer e o que recebe e obedece de imediato e cegamente sem levantar qualquer oposição, porque se não é-lhe imposto o castigo, que pode vir das mais variegadas e inopinadas formas, desde o assédio moral, à perseguição, à exclusão, à maledicência, à agressão quer física quer psicológica, irrogar por recordação e, in extremis, o recurso, desapiedado e impudico, ao fantasma do desemprego, rol de acções que nada têm de írrito, mas sim, plenas de opacidade no seu objecto, gerando um pavor sistémico, um pânico sem par e levando a uma e uma só consequência: A prostração do sujeito; objectivo cumprido sem objecções por parte do oponente, long live democracia.
Dizia eu que sou um português e um cidadão do mundo rico e um homem privilegiado e de facto sou-o! Tenho o privilégio de: ter emprego (digo emprego e não trabalho pois contrariamente às correntes por aí vigentes não consigo vislumbrar a diferença entre uma coisa e outra apesar de querem associar emprego a alguém que recebe um salário opíparo e nada faz e trabalho a quem muito faz e pouco aufere de remuneração; entendimentos, por outro lado por existirem Centros de Emprego e Formação Profissional ou subsídio de desemprego e não Centros de Trabalho e Formação Profissional e subsídios de desentrabalho) com remuneração mensal atempada, ter casa própria, bem inestimável nos tempos que correm, com tudo que daí sobrevém, ter viatura automóvel para me deslocar em todos os casos, ter mulher (empregada), filhos e uma família estável e coesa q.b., ter saúde ou o quanto baste dela e garantia pública e particular de saúde para mim para os meus, que também o sopro de Deus os bafejou, não ter dividas monetárias de espécie alguma, salvaguardo aqui as de índole moral, ético e social que sempre as temos, é salutar que as reconheçamos, que sejamos reconhecidos para quem o devemos, sem no entanto sentir a necessidade de ser simpático quando isso não se revele impróprio, ou seja gratidão para quem a deva e mereça e urbanidade para um conjunto mais lato que se desenvolve e move no meu entorno e por fim auferir, eu e a minha mulher, de salário que nos obsequiem de conforto, de algumas extravagâncias e ainda de certos, poucos, requintes.
Por todos estes motivos e muitos mais que não vem ao caso aqui escalpelizar, a Deus dou Graças; Deo Gratis, pois na verdade não tenho do que me queixar, contudo e ainda assim, rogo a Deus, pelo futuro dos meus filhos, para que a ablepsia, a ganância e a inclemência sem limites dos Homens ou a uma classe específica de Homens, não lhes vede, mas contudo, legue um mundo onde seja possível, agradável e desejável viver. Legado este que antevejo com uma ingente apreensão, consternação e cepticismo, porém assumo-me como um fideísta convicto e tenho fé, fé em Deus e num Homem que intente no continuum do genoma que o caracteriza, mais que não seja por puro instinto de sobrevivência e conservação natural da espécie.
Ouço decorrentemente, quer nos meios de comunicação quer no dia a dia, não porque não tenham razão de esquadrinhar e recordar o passado, de reivindicar um melhor presente e especular sobre o futuro do futuro, muito boa gente a queixar-se que sua vida mudou drasticamente e que irá ainda mudar mais, reconheço pertinência e até que o goro de expectativas sobre direitos adquiridos seja bastante inconveniente, frustrante até mesmo exasperante, todavia reconheço também que todos nós vamos ter que aprender e apreender a viver outra vida, talvez de pendor mais vívido, dando importância ao relevante e renunciando ao extravagante, que não aquela que vivíamos, que como atrás fiz questão de referir “… a vida, tal como nós a conhecemos até hoje ou melhor até aos finais da primeira década do século XXI, não voltará a resplandecer e a florescer nas próximas décadas…”, ou seja, o modus vivendi bem como o mudus operandi vai ter que ser reequacionado, revisto, reavaliado e ponderado sob um sistema base de prioridades: as imediatas, as de curto e médio prazo e as de longo prazo, se não também as que serão relegadas para um nunca mais eram, isto é, as escapadelas de fim-de-semana, as férias, as viagens e um inumerável e inarrável número de requintes e extravagâncias supérfluos, vão ter que ser cuidadosa e criteriosamente planeadas quer no tempo quer no espaço. As palavras-chave no futuro são: racionalização e ponderação.
Outro leque há, e convém que aqui fique bem patente, que não comporta mais sacrifícios pois o seu sacrifício há muito já o deixou de ser para passar a ser um suplício diário uma vez que as palavras racionalização e ponderação deixaram de ter significado fora do seu léxico, foram substituídas pelas palavras como: desespero, impotência, descrédito e outras mais que comportam muito menos eufemismo. Não queria falar muito destas faixas sociais, que abrangem e atingiram todas ou quase todas as classes sociais, à excepção da política que sempre que findos os relevantes serviços prestados à pátria, têm sempre a aguardar um lugar ao sol e/ou uma choruda reforma por tão escasso espaço de tempo das suas vidas, não porque não mereçam todo o meu respeito e consideração, mas porque não quero incorrer em desrespeito pela sua condição.        
Eu ouço-os e penso: Será que não pensam que poderiam estar bem pior – desempregados, com encargos ingentes às costas; família, casa, automóveis, créditos de pequeno consumo, incomportáveis, logo na eminência de tudo perder e pior ainda, sós, sem uma muleta onde apoiar o seu já muito titubeante avanço na vida e o seu corpo alquebrado. Será que não enxergam o mundo e seu entorno, o que se passa nas redondezas, na porta ao lado, onde pode morar a pobreza, recolhida, escondida e envergonhada. Estes para quem o mundo se reduz ao seu ínfimo umbigo, viram ou desviam o olhar da realidade cruel que grassa à sua volta e tecem juízos de valor sem conhecimento de causa para justificarem o seu comportamento, as suas atitudes, sua indiferença, quando poderiam eles sim serem a roda motriz da diferença, a diferença para melhor, o passo para a alimentação, ainda que ténue, de um mais esperança. Triste esta realidade, perversa mesmo! Todavia factual e mais extensa do que se pensa.
São estes ainda que pensam convictamente que deve ser o estado social a suportar estes encargos na sua totalidade, reservo aqui as minhas dúvidas, não porque não ache que assim o deva ser, mas primeiro porque grande parte desta pobreza é acanhada, não se revela, não anda de mão estendida, logo não reivindica os direitos sociais que se lhe assistem, contrariamente a uma alegada pobreza, que mendicante, estende a sua mão tentacular e literalmente arrebanha tudo o que está ao seu alcance, independentemente de se lhe assistir ou não o direito, estas sanguessugas do sistema abocanham e sugam os parcos recursos que são disponibilizados para estes fins, iludindo com as mais sórdidas manobras as largas teias do sistema que conhecem como ninguém. Em segundo lugar porque os nossos governantes ou aqueles que dizem que nos governam mas que ao cabo e ao resto, temos vindo a verificar, que mais nos desgovernam e mais se governam; "É uma  infelicidade  da época, que os doidos guiem os cegos." - William Shakespeare,
gritam e proclamam em Programas Eleitorais mais que duvidosos e até de índole indecorosa, que logo que o partido ou coligações são governo, são transformados ou sofrem as devidas adaptações em Programa de Governo e que muitas, para não dizer todas, as vezes são completamente deturpados, descontextualizados, perdendo assim as nuances e as singularidades das bandeiras que tão orgulhosamente ergueram. Daqui surge e ergue-se uma importância, uma responsabilidade que cabe a cada um de nós: O combate efectivo às situações de injustiça social e de marginalização que crescem dia após dia e ocasionadas por uma multiplicidade de factores impositivos, quer no plano individual, quer no plano das I.P.S.S.s ou das O.N.G.s e outras; ajuda humanitária precisa-se! Urgentemente! Vamos esquecer um pouco o nosso umbigo e estender uma mão fraterna, vamos fazer a diferença e derrubar a barreira da indiferença. Vamos criar uma linha de vida para acabar com esta cadeia horrenda, brutal e desumana de desesperança, fome, doença e morte.
Todos os dias, ao levantar-me, dou o meu Graças a Deus, e alquando rezo, por a minha situação e da minha família se manter estável, e, vou vivendo os meus dias num: dia atrás do outro, como se o dia de hoje fosse o último, não o último da minha vida, mas sim o último da minha condição de privilegiado e de quem ainda pode fazer algo pelo próximo, ambas nas mãos de Deus, que ao Homem dotou de livre arbítrio para que delas faça uso ou desuso.  
Quero acabar este apelo, este grito de alerta, como o comecei, dando Graças a Deus, um Graças a Deus mais abrangente, e apelando, sem querer ser demasiado lato e virado um pouco ao nosso pequeno umbigo, que no futuro o futuro do nosso país venha a ter um futuro, e que os nossos filhos outrossim, e que possamos viver em biosincrasia neste mundo pleno de idiossincrasias.          
Deo Gratis.


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