Deo Gratis!
Deo Gratis! Hoje ou nos dias que correm posso
considerar-me um homem privilegiado! E, de facto, sou-o mesmo! Face à
conjectura socioeconómica que nos avassala, posso sem renitência alguma dizer:
Eu sou um português e um cidadão do mundo rico e um homem privilegiado. Apesar
de o amanhã só a Deus pertencer.
Parece que já
oiço o clamor das vozes que se levantam a perguntar: como posso eu afirmar
semelhante obscenidade e porquê. Por isso, e sem mais delongas, passo a revelar
o meu ponto de vista, enquanto observador atento de uma realidade mundial e da
nova ordem que ela já pressupõe e que vigorará até se esvaziar de conteúdo por
abstrusa e inoperante.
Alguém duvidará
ainda que a vida, tal como nós a conhecemos até hoje ou melhor até aos finais
da primeira década do século XXI, não voltará a resplandecer e a florescer nas
próximas décadas? Penso que a resposta é evidente: Não! Claro que não, ninguém
duvida! Só um tolo, um néscio, perante todos os factos, e pior, as evidências
encerradas nos mesmos, acreditará que vamos refulgir de novo, qual Fénix
renascida. Vamos, isso sim, fazer uma longa travessia do deserto sem oásis à
vista onde mitigar a sede e a fome e rodeados por uma praga imensa de
gafanhotos, que contrariamente à apologética crença dos povos que o habitam,
não irão ser uma bênção antes sim uma catástrofe, e assistir de bancada à derrocada
de um sistema político a que chamamos, qual eufemismo, de democracia e à banca
rota ou falência do mesmo por abjecto, ineficaz, inoperante e esofágico, logo
tendencialmente suicida.
Acreditem ou não
a democracia está decumbente, decussada e prestes a assumir-se como defunta,
apenas lhe restando suspirar o último estertor e a consequente emissão da
respectiva certidão de óbito; et voilà
passé composé.
Resta-nos agora
que se erga, pujante, rejubilante, plena de juventude, força e vontade, uma
Nova Ordem Mundial, assente em movimentos cívicos ordenados e organizados, que
destrone uma classe política asquerosa, decrépita, exaurida, hipócrita, corrupta,
clientelista, desacreditada, por mérito próprio, provinda na sua grande maioria
da Opus Dei ou da Maçonaria, desprovida de ideais e
vendida em leilão – quem dá mais, quem dá mais, um, dois e… e… três, rematado!
- aos interesses económicos e/ou a outros de aspecto mais obscuro e que por
inerência mais tenebrosos; porque isto de se viver ou querer viver bem com Deus
e com Sátiro tem mais que se lhe diga.
Senão vejamos o
exemplo, o laboratório de ensaio da cidadania, que foi e é a Islândia, onde a
cidadania se opôs e depôs a classe política por falência de ideais,
incompetência, ineficiência, inoperância, impotência, incapacidade de entendimento
e opacidade. E daí mal não adveio, antes pelo contrário, a Islândia é hoje um
estado em franca ascensão, onde o progresso é palavra de ordem e o retrocesso é
verbo conjugado no passado.
Provavelmente o
povo da Islândia não estaria tanto político dependente ou melhor não teria uma
adicção política como a que existe na nossa Europa, principalmente nos países da
Zona Med, em que a cidadania da cunha
criou a cultura do “Dominador” e do “Submisso” ou aquele que dá o que quer, quando
quer e da forma que quer e o que recebe e obedece de imediato e cegamente sem
levantar qualquer oposição, porque se não é-lhe imposto o castigo, que pode vir
das mais variegadas e inopinadas formas, desde o assédio moral, à perseguição,
à exclusão, à maledicência, à agressão quer física quer psicológica, irrogar
por recordação e, in extremis, o
recurso, desapiedado e impudico, ao fantasma do desemprego, rol de acções que
nada têm de írrito, mas sim, plenas de opacidade no seu objecto, gerando um
pavor sistémico, um pânico sem par e levando a uma e uma só consequência: A prostração
do sujeito; objectivo cumprido sem objecções por parte do oponente, long live democracia.
Dizia eu que sou
um português e um cidadão do mundo rico e um homem privilegiado e de facto
sou-o! Tenho o privilégio de: ter emprego (digo emprego e não trabalho pois
contrariamente às correntes por aí vigentes não consigo vislumbrar a diferença
entre uma coisa e outra apesar de querem associar emprego a alguém que recebe
um salário opíparo e nada faz e trabalho a quem muito faz e pouco aufere de
remuneração; entendimentos, por outro lado por existirem Centros de Emprego e
Formação Profissional ou subsídio de desemprego e não Centros de Trabalho e
Formação Profissional e subsídios de desentrabalho) com remuneração mensal
atempada, ter casa própria, bem inestimável nos tempos que correm, com tudo que
daí sobrevém, ter viatura automóvel para me deslocar em todos os casos, ter
mulher (empregada), filhos e uma família estável e coesa q.b., ter saúde ou o
quanto baste dela e garantia pública e particular de saúde para mim para os
meus, que também o sopro de Deus os bafejou, não ter dividas monetárias de espécie
alguma, salvaguardo aqui as de índole moral, ético e social que sempre as
temos, é salutar que as reconheçamos, que sejamos reconhecidos para quem o
devemos, sem no entanto sentir a necessidade de ser simpático quando isso não
se revele impróprio, ou seja gratidão para quem a deva e mereça e urbanidade
para um conjunto mais lato que se desenvolve e move no meu entorno e por fim
auferir, eu e a minha mulher, de salário que nos obsequiem de conforto, de
algumas extravagâncias e ainda de certos, poucos, requintes.
Por todos estes
motivos e muitos mais que não vem ao caso aqui escalpelizar, a Deus dou Graças;
Deo Gratis, pois na verdade não tenho
do que me queixar, contudo e ainda assim, rogo a Deus,
pelo futuro dos meus filhos, para que a ablepsia, a ganância e a inclemência
sem limites dos Homens ou a uma classe específica de Homens, não lhes vede, mas
contudo, legue um mundo onde seja possível, agradável e desejável viver. Legado
este que antevejo com uma ingente apreensão, consternação e cepticismo, porém
assumo-me como um fideísta convicto e tenho fé, fé em Deus e num Homem que intente
no continuum do genoma que o caracteriza, mais que não seja por puro instinto
de sobrevivência e conservação natural da espécie.
Ouço decorrentemente,
quer nos meios de comunicação quer no dia a dia, não porque não tenham razão de
esquadrinhar e recordar o passado, de reivindicar um melhor presente e
especular sobre o futuro do futuro, muito boa gente a queixar-se que sua vida
mudou drasticamente e que irá ainda mudar mais, reconheço pertinência e até que
o goro de expectativas sobre direitos adquiridos seja bastante inconveniente, frustrante
até mesmo exasperante, todavia reconheço também que todos nós vamos ter que
aprender e apreender a viver outra vida, talvez de pendor mais vívido, dando
importância ao relevante e renunciando ao extravagante, que não aquela que
vivíamos, que como atrás fiz questão de referir “… a vida, tal como nós a conhecemos até hoje ou melhor até aos finais
da primeira década do século XXI, não voltará a resplandecer e a florescer nas
próximas décadas…”, ou seja, o modus
vivendi bem como o mudus operandi
vai ter que ser reequacionado, revisto, reavaliado e ponderado sob um sistema
base de prioridades: as imediatas, as de curto e médio prazo e as de longo
prazo, se não também as que serão relegadas para um nunca mais eram, isto é, as
escapadelas de fim-de-semana, as férias, as viagens e um inumerável e inarrável
número de requintes e extravagâncias supérfluos, vão ter que ser cuidadosa e
criteriosamente planeadas quer no tempo quer no espaço. As palavras-chave no
futuro são: racionalização e ponderação.
Outro leque há, e
convém que aqui fique bem patente, que não comporta mais sacrifícios pois o seu
sacrifício há muito já o deixou de ser para passar a ser um suplício diário uma
vez que as palavras racionalização e ponderação deixaram de ter significado
fora do seu léxico, foram substituídas pelas palavras como: desespero,
impotência, descrédito e outras mais que comportam muito menos eufemismo. Não
queria falar muito destas faixas sociais, que abrangem e atingiram todas ou
quase todas as classes sociais, à excepção da política que sempre que findos os
relevantes serviços prestados à pátria, têm sempre a aguardar um lugar ao sol
e/ou uma choruda reforma por tão escasso espaço de tempo das suas vidas, não
porque não mereçam todo o meu respeito e consideração, mas porque não quero
incorrer em desrespeito pela sua condição.
Eu ouço-os e
penso: Será que não pensam que poderiam estar bem pior – desempregados, com
encargos ingentes às costas; família, casa, automóveis, créditos de pequeno
consumo, incomportáveis, logo na eminência de tudo perder e pior ainda, sós,
sem uma muleta onde apoiar o seu já muito titubeante avanço na vida e o seu
corpo alquebrado. Será que não enxergam o mundo e seu entorno, o que se passa
nas redondezas, na porta ao lado, onde pode morar a pobreza, recolhida,
escondida e envergonhada. Estes para quem o mundo se reduz ao seu ínfimo
umbigo, viram ou desviam o olhar da realidade cruel que grassa à sua volta e
tecem juízos de valor sem conhecimento de causa para justificarem o seu
comportamento, as suas atitudes, sua indiferença, quando poderiam eles sim
serem a roda motriz da diferença, a diferença para melhor, o passo para a
alimentação, ainda que ténue, de um mais esperança. Triste esta realidade,
perversa mesmo! Todavia factual e mais extensa do que se pensa.
São estes ainda
que pensam convictamente que deve ser o estado social a suportar estes encargos
na sua totalidade, reservo aqui as minhas dúvidas, não porque não ache que
assim o deva ser, mas primeiro porque grande parte desta pobreza é acanhada,
não se revela, não anda de mão estendida, logo não reivindica os direitos sociais
que se lhe assistem, contrariamente a uma alegada pobreza, que mendicante, estende
a sua mão tentacular e literalmente arrebanha tudo o que está ao seu alcance,
independentemente de se lhe assistir ou não o direito, estas sanguessugas do
sistema abocanham e sugam os parcos recursos que são disponibilizados para
estes fins, iludindo com as mais sórdidas manobras as largas teias do sistema
que conhecem como ninguém. Em segundo lugar porque os nossos governantes ou
aqueles que dizem que nos governam mas que ao cabo e ao resto, temos vindo a
verificar, que mais nos desgovernam e mais se governam; "É uma infelicidade da época, que os doidos guiem os cegos."
- William Shakespeare,
gritam e
proclamam em Programas
Eleitorais mais que duvidosos e até de índole indecorosa, que
logo que o partido ou coligações são governo, são transformados ou sofrem as
devidas adaptações em Programa de Governo e que muitas, para não dizer todas,
as vezes são completamente deturpados, descontextualizados, perdendo assim as
nuances e as singularidades das bandeiras que tão orgulhosamente ergueram. Daqui
surge e ergue-se uma importância, uma responsabilidade que cabe a cada um de
nós: O combate efectivo às situações de injustiça social e de marginalização
que crescem dia após dia e ocasionadas por uma multiplicidade de factores
impositivos, quer no plano individual, quer no plano das I.P.S.S.s ou das
O.N.G.s e outras; ajuda humanitária precisa-se! Urgentemente! Vamos esquecer um
pouco o nosso umbigo e estender uma mão fraterna, vamos fazer a diferença e
derrubar a barreira da indiferença. Vamos criar uma linha de vida para acabar
com esta cadeia horrenda, brutal e desumana de desesperança, fome, doença e
morte.
Todos os dias, ao
levantar-me, dou o meu Graças a Deus, e alquando rezo, por a minha situação e
da minha família se manter estável, e, vou vivendo os meus dias num: dia atrás
do outro, como se o dia de hoje fosse o último, não o último da minha vida, mas
sim o último da minha condição de privilegiado e de quem ainda pode fazer algo
pelo próximo, ambas nas mãos de Deus, que ao Homem dotou de livre arbítrio para
que delas faça uso ou desuso.
Quero acabar este
apelo, este grito de alerta, como o comecei, dando Graças a Deus, um Graças a
Deus mais abrangente, e apelando, sem querer ser demasiado lato e virado um
pouco ao nosso pequeno umbigo, que no futuro o futuro do nosso país venha a ter
um futuro, e que os nossos filhos outrossim, e que possamos viver em
biosincrasia neste mundo pleno de idiossincrasias.
Deo Gratis.
tÓ mAnÉ Editions
Sem comentários:
Enviar um comentário