quinta-feira, 25 de julho de 2013

Crónicas FDS da Laura – Registo VI


Olá! Olá sem mais… mais nada. Apenas olá!...
Sem mais delongas vou iniciar este meu FDS pelo fim de tarde de sexta-feira. Atribulado é a palavra exacta para o descrever, não fosse ele sexta-feira 13, aliada à palavra pressa. Pressa na ida ao parque infantil, pressa em ir para casa, pressa para tratar dos cães, pressa para tomar o banho, pressa para vestir e arranjar e por fim pressa para sair de casa; como podem ver ou ler pressa em tudo e para tudo, arre!... Odeio pressas que não as minhas, claro está.
E, tudo isto porque íamos jantar a Quarteira à Taberna do Peixe com o amigalhaço e colega do meu pai e família: O Bernardo conhecido por Bernas, o seu irmão o Guilherme cognominado de Gui – que andam lá na escolinha - e os pais deles o Tony e a Susana. Combinações de adultos e em cujas negociações eu não tive palavra ou melhor, à boa maneira portuguesa, nem fui tida nem achada.
Todavia não deixou de ser muito agradável, apesar da birra que o Gui fez, porém na idade dele; ele é criança mas uma criança ainda muito pequenina, ainda está no carrinho e não corre nem salta connosco, o que é uma chatice pois sempre era mais um para o desassossego e ajudar no granel.
Quando nós chegámos já a família Salvador tinha assentado arraias; eles são a família Salvador da mesma forma que a minha é a família Baptista, estão fundadas em cima do último nome dos pais machos, coisa que eu não entendi ainda muito bem o porquê, mas deixem que eu vou perguntar ao meu pai. Ai vou, vou.
Olhem para eles todos quietinhos e aprumadinhos, sentados na esplanada da Taberna do Peixe. Esperem que eu já vou tratar de resolver o assunto. Ora isto pode lá ser?... Vou abrir a minha bolsa exclusiva onde guardo os pozitos da desinquietação e o soluto do irrequietismo que vou lançar sobre este ambiente morno e parado, até porque o entorno é excelente para o efeito; uma rua inteira sem trânsito e montes de esplanadas e elementos de configuração similar. Uáuuuuu… cheguei e vummmmm… lança, lança pozinhos e soluto e está criado o ambiente que resvala para o descambe total, apesar de não poder cair em, ou atingir limites ou contornos de abuso generalizado. Senão a mão pesada da justiça ou aquilo que os adultos concebem enquanto tal vai-se derramar sobre nós e a brincadeira, retirando toda a graça ao requinte de um ambiente deveras favorável. À que fazer atenção à linha que separa o abuso da licenciosidade, pois à vontade não é seguramente à vontadinha, seguramente.
Neste espírito, estrito, a brincadeira cruzou a rua, os espaços, o interior do restaurante e até alguns forasteiros de ocasião que se juntaram a nós, ocasionalmente, nas indisciplinas disciplinadas ao rigor que a situação exigia, ao grau de “marauzada” admitido e de “mariolice” aceitável.
 Houve que interromper estas longas secções por algumas curtas-metragens. Entre elas destacam-se a hora do jantar em si, a hora da sobremesa ou melhor do gelado e a hora dos preparativos para a revoada geral; pequenos interlúdios de mansidão no meio de um oceano revolto e em permanente mutação; apesar das advertências pontuais e alguns “venham cá” ou “onde vão” mais ríspidos mas nada que assuste estes piratas destemidos e intrépitos.
A estafa foi de tal calibre que, até chegar a csa, foi um sacrifício. Valeu o colo do pai e da mãe, em alternância, pois já vou ficando pesadota. E, daqui a mais não me vejo obrigada…
Ainda não vos contei e isto sim é uma novidade das grandes, inédita mesmo: Fomos passar o fim-de-semana a casa da avó Aurita a Quarteira. E, o mais engraçado mas que não tem graça nenhuma é que eu só soube quando acordei no sábado, quase de madrugada. Ó pá! Até fiquei assustada, acordar assim num local desconhecido é uma sensação assustadora. E, Assim, o dia iniciou-se em gritaria e “choraminguice”; Ó mãeeeee…                 
- Sim filha! A mãe está aqui.
Corri para o outro quatro. Apesar da penumbra e da obscuridade logrei chegar sã e salva, sem acidentes de maior que não o derrube da flauta da tia Rosário, o que não é nada demais para quem tem um conhecimento muito reduzido do espaço onde voga meio à toa, que se acabou de levantar e, para quem, ainda está assim para o estremunhado e aturdido. Nota mais para esta minha acção e/ou incursão.
A manhã iniciou-se com um pequeno-almoço de mulheres; eu e a mãe. O pai ficou a fingir que roncava, o que de facto não era de todo a verdade e a realidade. O malandrão fica na cama a fazer preguiça. Acho que ele não tem disponibilidade psicológica ou pachorra para aturar mulheres, e a sua tagarelice, logo pela manhã e para não ser indelicado fica na cama fingindo que dorme ou melhor fica na cama a caçar ratos. Espera estrategicamente que abandonemos o acampamento e só depois abre as asas para o mundo, feito anjo negro ou cisne branco ou ainda pardal atrevido… Isto de homens só mesmo homens sabem… é para esquecer!... Todos os dias o filme é o mesmo, até a película, para mim que sou ainda pequenina, já está mais que gasta; colada, “recolada”, puída e queimada, qualquer dia já não passa na bobine da Super 8. 
Depois do pequeno-almoço a duas dedicámo-nos a vestir “a cueca de praia ou de banho” também conhecido como fato de banho que, depois, aparece sob a forma de variadíssimas variantes e cambiantes, aqui por casa usa-se o biquíni tradicional versão curta.
O segundo passo foi o “arrumanço” das várias componentes da “túrgia” de praia: Pára-sol, toalhas de praia, pareo (trapo de andar amarrado às mamas e também cumpre funções de toalha de praia e vá-se lá saber que mais…), cremes protectores e acessórios variegados que seria uma verdadeira seca estar aqui a enunciar semelhante panóplia.
O passo seguinte foi a excursão, de aproximadamente 100:00 metros, entre a casa da avozinha e a praia, o escolher do lugar de “estacionamento” mais propício e a montagens de arrais o que por vezes se torna numa tarefa árdua face à minha calma nervosa não me deixar estar um segundo só que seja meio quieta, o que se complica ainda mais quando se trata de me “barrar” o protector solar. Só depois ocorre a parte interessante. Aí a minha mãe passasse! A saga do creme protector, as correrias para a água e para todos os outros sítios possíveis, as construções e demolições na areia, os banhos, o não querer abandonar o recinto da “banhoca”, ainda que tremendo de frio e a bater os dentes que nem castanholas, em mãos de sevilhanas experientes, e mais um mundo de coisas que a mamã adora.     
Adentrada já ia a manhã quando o meu pai chegou todo gingão e sorridente. Pela certa já tinha bebido o seu cafezinho e, feito uma mão cheia de páginas de leitura e, mais importante sem ninguém a xingar-lhe a “bolinha”.
Estendeu calmamente a toalha na areia, despojou-se dos elementos supérfluos e, de cu para o ar, deitou-se, dizendo com um sorriso aberto, mais aberto que o pára-sol: Bom dia meus amores.   
E aí a coisa azedou.
Bom dia só se for para você, diz a mãe sarcástica e já impaciente com tantas e variadas iniciativas e intentos de eu me portar como uma linda menina mas ela assim o não entender. Quem percebe os adultos, digam-me lá?...
Sorte o meu pai estar bem disposto e lhe ter feito ouvidos de mercador. Mudou de assunto e já está.
- E que tal um banhinho filha?
Nem foi preciso dizer duas vezes, pois, não caiu em ouvidos alheios. Agarrei-me a ele aos beijinhos e lá fomos para o mar. Aí começaram as lições de natação, os mergulhos controlados, os remoinhos, os barcos a motor, as corridas e saltos nas ondas… A brincadeira estendeu-se até o meu pai achar que já estava a ficar com frio. Regressámos às toalhas. Secámo-nos. E de seguida fomos os três dar um passeio higiénico, como diz o meu pai, pela praia, quer ele dizer com isto ir ver os biquínis ou o conteúdo deles; as gajas.
Depois do agradável passeio ainda houve tempo para mais uma agradável “banhoca”, bem como uma agradável preguiça sobre a toalha para secar os bigodes à gatinha.
Concluída esta árdua, mesmo hercúlea, tarefa, levantámos “aquilo” que mais se assemelhava com um acampamento de ciganos que a uma ordinária “estação de equipamentos de apoio a banhos”, e, uma vez, que o sol já ia alto e o calor era desaconselhável para crianças da nossa idade, enviámos uns beijinhos ao mar e iniciámos o carrego do material, enfiámos as enfias e rumámos a casa.
O merecido descanso do guerreiro. Antes porém tomámos um banhito de água doce, para retirar o salgadinho e as areias remanescentes e, aí sim, jogámo-nos aos sofás como os pinguins às plataformas das massas polares.
O almoço estava preparado de véspera, salada de cantaril; o cantaril é um peixe vermelho que feito em salada parece lagosta, não é que eu tenha alguma vez comido lagosta, mas ouvi o pai dizer, bastava juntar azeite ou maionese; a gosto, acompanhado de umas cervejolas a estalar, como diz a mamã, e de aguinha fresca para mim. Uvas. Serviram de sobremesa. E desta forma findou o repasto.
Depois de almoço andei por ali a brincar mas, como na casa da avó Aurita de Quarteira não há bonecos, nem tem muitos pólos atractivos para crianças da minha idade, e como estava cansada da estafa da manhã, depressa começaram os ruidosos bocejos, porém tão depressa quanto chegaram assim se calaram quando cai no sono, aiiiii…; sou eu a cair no sono.
Quem disse que uma bela duma folguinha não faz milagres? Quem foi, quem foi?...
Acordei nova. Com uma nova energia, com uma nova vontade de ir para a praia, com uma nova vontade e um predisposição para a “gandaia”. A mesma coisa não puderam dizer os meus pais. Problema deles! Azar não dormiram a folga. Agora eu quero sair, eu quero ir para a praia brincar e tomar banho e, por enquanto quem manda aqui sou eu!
Carregados os tarecos e sob a minha liderança aqui vamos nós praia.
Já na praia o filme foi idêntico ao da manhã, com duas cambiantes: A maré estava baixa o que ajudou, em muito, a vigilância dos meus pais e as minhas brincadeiras de areia e pedras, assim como os banhos, pois o mar estava flat o que permitia que eu lá andasse sem problema de maior, apesar do meu pai estar sempre junto a mim.
Ao fim da tarde, o pai, foi comprar gelados de máquina, aqueles encaracoladinhos, de duas cores, que correspondem a dois sabores; eram de morango e chocolate e enormes, foram quase um jantar.    
Face ao ângulo de inclinação do sol no poente e à aragem fresquinha que se estava a instalar, o meu pai decidiu que já estava na hora do regresso e, sem delongas, assim foi.
Sem contestações de maior. Acho que aproveitaram o meu cansaço para me ludibriarem. Olha eu não reclamar, coisa nunca vista…
Arranjadinhos e cheirando bem, saímos de casa para jantar. A noite já caía quando entrámos no restaurante “Fernando’s Hidewayay”, uma steak house ou em português uma casa de bifes em Quarteira. O Fernando é amigo do pai e comemos uns belos duns bifes tenrinhos acompanhados de batatas fritas e arroz branco. Aqui também arranjei companhia para a “moina” só que ele caiu e aleijou-se e assim, abruptamente, como tinha começado acabou.
Sobrou tempo para uma voltinha pela Marginal de Quarteira ou Calçadão, termo importado do Brasil – Copacabana – tal como os brasileiros ou a música brasileira que animam os estabelecimentos de toda a Marginal, à excepção das barracas dos ciganos e tendeiros afins, órfãs de música mas cheias de pregões.    
Da Marginal a casa vai um salto de pardal; a casa da avozinha está separada desta pelo parque de estacionamento. O que a torna uma emoção quase toda a noite. Até porque o muro que separa o estacionamento da Marginal é denominado pelo muro das lamentações dos bêbedos, que tem como ex libris a seguinte citação: Inxignifincante parrede nã tens indeias pliticas nim coisínsima ninhuma; e lá vai mais uma na garrafa de “tintol”, seguida de novo desabafo…
Deitada sonho acordada com o dia de amanhã. Mas não por muito tempo, zzzzz…
Estava eu já escarrapachadíssima na praia, nesta linda manhã de domingo, quando apareceu a família Sebastião; mais uma vez os machos é que mandam nos nomes das famílias, no resto era o que mais faltava, ou seja, a prima Sofia, a tia Rosário e o tio Mário, facto inédito pois normalmente vai passear com a amante; a bike, por locais inefáveis e longe daqui de preferência; uma vez foi a Espanha e ganhou um presunto, a que se deverá a honra de tão insigne visita. Bem isso não interessa nada. O que interessa é que está aqui a prima e a loucura do dia a dia vai começar. Iáuuuu…
Este cenário só tem um problema: Os vigilantes aumentaram para cinco, a prima também conta, ou talvez quatro e meio, ela conta mas não tanto. Por vezes até alinha numa ou outra mais extravagante.
Fixe, fixe, fixe!... Baril, baril, baril!... Hoje tenho companhia e montes de atenção e, o tio Mário revelou-se num compincha supimpa, alinha em loucuras fixes e inventas outras ainda mais ousadas. Estou mesmo a gostar deste final de manhã na praia, tem sido um lufa-lufa e um “ufa-ufa” imparável. Mas a hora de almoço está por aí a aparecer, pelo menos assim a minha barriguinha o diz.  
E não é que eu estava gafa de razão! Curto foi o tempo entre o pensamento e a acção, um “puf”… Logo começou a arrumação em módulo de escape livre e a toda a mecha. Foi num ai que tudo ficou pronto para o pontapé de saída da zona balnear. O chuto foi dado pela prima e o resto da pandilha seguiu-a incondicionalmente.
O almoço foram os restos de ontem acrescidos de umas sobras do mesmo dia. Parece complicado mas é simples: Restos o que sobejou do almoço, todavia de uma refeição ainda não utilizada, nova, em 1.ª mão. Sobras o que havia para o almoço e não foi utilizado mas proveniente de uma refeição anterior, já utilizada, isto é em 2.ª mão. Perceberam?... Tanto faz. Associado a uma frutinha fresca.
E, não sei se por assolada pela fome, estava delicioso. Mnhã, mnhã, mnhã…
O obrigatório período de repouso, estava escondido, debaixo da toalha da mesa, que ao ser retirada me atingiu como se fosse uma lufada de ar quente, que de facto estava, e atirou comigo na cama para iniciar uma merecida siesta. Aos outros não sei o que aconteceu, pois nada me reportaram, mas o meu pai deitou-se comigo, quem vê a barba do vizinho a arder põe a dele de molho, e o ontem ainda estava bem presente, e caiu de imediato em inconsciência profunda e roncou, roncou abundantemente, literalmente falando.
Do castigo, que não o foi, à recompensa.
Após o descanso, cerrámos fileiras em direcção à praia de Loulé para mais um momento espectacular de bem estar e divertimento geral, que vou descrever em poucas palavras pois a palestra já vai longa e fastidiosa pela certa.
Eu e a prima andámos a brincar às piscinas e aos castelos de areia. A maré estava vazia e propiciava-se à constituição de matéria quer prima quer imaginativa. Também não faltaram os banhos e os mergulhos. Os adultos ajudaram nestas tarefas todas e ainda tiveram tempo para descansar e ler estendidos nas toalhas e à sombra do “sombrero”.
Passa tempo em passa tempo o tempo passou e com a sua passagem, chegou a hora de dizer o nosso adeus até à outra à praia e aos divertimentos a ela associados.
Banho para toda a gente. Banho de água quentinha e doce.
Toda a gente arranjadinha e bem cheirosa pois vamos jantar fora à Pizzaria Mamamia.
O caminho entre a casa da avozinha e a Pizzaria é sempre um mundo de aventuras e “cabriolices” e quando vem a prima… uáuuuu… é diabrura completa, nós as criancinhas somos mesmo assim e, até costumamos dizer: Brincam as crianças e os adultos assistem.
O jantar como se perspectivava foi pão de alho em massa de pizza e pizza com um apêndice de sopa de legumes para mim. Pssst… o meu pai é que teve que acabar a sopa. Ele disse que estava óptima. Regado com umas imperiais para eles, os adultos, uma Coca-Cola para a prima e um Lipton Ice Tea de manga para mim.
A noite findou com mais um passeio pelo “Calçadão”, que estava bastante animado, música, cor, um mundo de gente e rebuliço por todo o lado. E, eu ajudei na bagunça, mas com o meu toque pessoal e muito singular, que é muito meu e eu não vou aqui revelar, logo parem de “cuscar”, está bem?...
E, a bem dizer, seguiu-se a retirada estratégica para Vale da Rosa à qual apenas assisti à Parte I “ A fuga”.
A “rabalona” do lápis afiado.

tÓ mAnÉ   (in Laura Solange dixit) - 2012.07.(13,14 e 15)

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