domingo, 14 de julho de 2013

A ranhura da nesga

Não, não! Eu não te engano, como também não me engano a mim mesmo, faz anos que o engano é uma parte de mim. A minha vida não deixa margens para dúvidas ou erros, tu conhece-la bem; a saúde, as dores, o medo, tu e a nossa filha e o trabalho ou aquele que não faço mas me impõe a obrigação.
Se não fosse a nossa filha, deixava esta vida, deixava os medicamentos e deixava-te metade do que tenho e, com a outra largava pelo mundo fora, bebia até perder a consciência, escrevia até me doer o último reduto do pensamento e cair exausto sobre o vómito do que bebi e escrevi, pois nenhuma seria a diferença.
E por falar em diferença, de quando em quando ou de quando em vez, e quando fosse atacado pela vertiginosa tesão, irresistível, de uma mulher, faria o que marcaria a diferença, contrataria os serviços de uma prostituta ou de uma mulher a soldo, coisa que até hoje nunca fiz ou pelo menos abstraídos e subtraídos os favores prestados, por aquelas que assim se não dizem, talvez bem mais e melhor cobrados o foram.
E, assim, de charco em charco, acabaria os meus dias ou aqueles que me restassem, bem mais rápido, mas de certo com um sorriso entre lábios entrecortado e quiçá tivesse encontrado nele a mísera verdade de ter sido o que perdi; ser feliz!
Mas por vos amar não me posso amar a mim e neste mar sem sentido nem fim vou vogando umas vezes mal outras assim-assim.  


tÓ mAnÉ   Editions

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