No sábado, como
de meu jeito e uso, levantei-me cedo, gosto de me levantar cedinho para beber o
meu leitinho com chocolate e ver os “mnecos”;
o canal Panda. Também, como é usual, a minha mãe levantou-se quando a chamei; mãeeeeeeeeee…,
e o meu pai ficou a fazer moenga na cama; sornando acordado.
Mais tarde,
depois do meu pai se levantar e tomar o pequeno-almoço, fomo–nos pôr todos
catitas, com perfume e tudo, e bute para a “vila” pois Loulé nunca há-de ser
uma cidade por mais que assim lhe queiram chamar; o bom povo nunca o irá deixar
(lembrem-se que eu vivo no campo).
Assim, e depois
de me despedir de todos os meus cães e avó e tias-avós e etc (que aqui não vem
a talhe de foice)..., rumámos à vila, estacionámos o carro “bonito” na garagem do edifício onde está
sediado o IEFP. Levantámos de seguida ferro e, de azimute apontado, ao Mercado
Municipal, sem no entanto deixar de parar no caminho no Café Havanesa, onde
pela primeira vez me trouxeram uma chávena de garoto com pacote de açúcar e
colher, cheia de água morna, chamando-lhe de café; hão-de pensar que sou parva,
não fora o meu pai deitar-lhe uma colherzita de café de verdade eu não teria
bebido nada, assim foi toda!...
Seguidamente
retomámos o caminho e agora sim chegámos finalmente ao Mercado para fazer as
compras de parte da semana; fruta, legumes, batatas, pão, carne peixe… eu sei
lá, tanta coisa, o meu pai ficou carregado que nem um jumento e a minha mãe não
se ficou a rir, não.
Hoje, volvidos
que foram um par de dias sobre o fim-de-semana, e que estou a escrever com o
meu papá o que fiz durante o fim-de-semana (trabalho para a escolinha), lembro-me
que almocei em casa da avó Aurita, garoupas da pedra ou ganoupas, grelhadas com
batatas cozidas e salada de tomate, pão das Ferrenhas fresquinho; pão caseiro
cozido em forno de lenha, sopa de legumes e frutinha, hummmm… tão bom. Para
além da minha avó, do meu papá, da minha mamã e eu, claro! E caso inédito,
quase nunca visto, o Pedro; o meu mano, desnaturado, que ousou dar um ar da sua
graça. Gostei muito de ver o Pedro, mas quando ele me agarrou para me
estrafegar, é bruto o gajo e, para além disso, anda com a mania de malhar
ferro, assustei-me e desatei num choro convulsivo. É assim, nós meninas,
gostamos de delicadeza.
Depois do almoço
fiquei, de boa vontade (mais um acontecimento inédito), em casa da avozinha e
com a avozinha – a ver “mnecos” –
enquanto os meus papás e o meu mano saíram. Desconfio que foram ao
supermercado, excepto o meu mano que deve ter ido dormir, estava com cara de
ressaca ao almoço.
Quando os meus
papás queridos voltaram, fomos para a nossa casinha, descansar, mas pouco!...
Ah! Eles sempre foram ao supermercado, trouxeram a caixa do carro a abarrotar
de tralha.
Ao final do dia
fui ajudar o meu pai a cuidar dos cães, como quem diz soltar e limpar/lavar o
cocó e o xixi e dar os torrõezinhos para eles comerem. É uma trabalheira ou uma
canssadeira o que vem a dar no mesmo,
sei lá… Sabem (isto é segredo, shuiiiiiiiii…) tenho oito cães, quatro machos: o
Bóris, um perdigueiro português, o Max, um podendo de pelo semi-frisado
castanho, o Syd, um rafeiro alentejano, enorme e malhado e o Spooky, um traçado
de braco alemão com perdigueiro, e três fêmeas: a Lucy, uma rafeirinha preta e
castanha, a Kuska, uma podenga malhada de amarelo e branco e a Kika, uma cadela
alentejana de pastoreio de gado caprino e ovino, e vejam só está prenhe, vamos
ter prol! Ah! Já me esquecia do mister Goya, o felpudo, um cão de raça estranha,
de companhia, que vive connosco aqui em casa e adora jogar à bola, acho mesmo
que marca melhor um penalty que o
Cristiano Ronaldo; afinal tenho cinco machos, desculpa Gyoa!
Depois de tanto
trabalhar fui tomar banho, estava mesmo a precisar, com o meu pai e a minha
mãe; tenho uma relação muito difícil com os banhos, para entrar é uma guerra
para sair são duas – a estúpida e bruta atracção pela vontade dos contrários.
Banho logo
pijama, logo jantar e de seguida sofá, agarradinha aos “lenços que mamam”, e,
invariavelmente os “mnecos”, sono e
até amanhã, caminha do papá e da mamã com obrigatoriedade presencial de ambos
e… óó… já apaguei!
E, como hoje é
sábado (da semana seguinte) e o meu pai está cansado de escrever as coisas que
eu lhe conto, deixo a estória de domingo para a minha mamã linda escrever o que
tenho para contar.
Deu para o torto
a ideia de deixar a estória para a minha mãe escrever. Bem, como a minha mamã
está com uma “guiça” do caraças, lá
tive que me socorrer do meu paizinho querido de novo; não posso chegar à
escolinha sem a minha história contada, não é? A Gina ia ficar uma fera!...
Socorrooooooo,
papáaaaa… (shuiiiii… estou a tentar convencer de novo o meu pai a escrever o
que fizemos no domingo, shuiiiii…).
Pois, no domingo
hum deixa cá ver… no que diz respeito ao levantar, foi quase a mesma moenga mas
para o lado do pior; o meu pai levantou-se mais tarde ainda, ando do pior!...
E, desta vez,
para que as coisas corressem pior que mal, quis levar o lixo reciclado para
colocar nos respectivos contentores. Eu fui ajudar, tentei quero eu dizer, mas
não fui grande ajuda, os buracos daquela geringonça são muito altos; prometi ao
meu pai que ia crescer rápido para o ajudar.
Depois de lixo
tratado fomos todos beber a bica ao Café Tertúlia, lá em cima ao pé do Centro
Hípico – prometeram-me que me levavam a ver os cavalinhos e eu estava que não
me aguentava. Pediram as bicas, não percebo porque é que o meu pai uma vezes
pede café e outras vezes pede bica, aquilo é tudo igual, coisas de pessoas
grandes, eu acho. Como é que eu sei isto? Sei isto porque eu é que derramo o
açúcar nas chávenas e mexo o café com a colher, sabem porquê que eu mexo? Para
dissolver o açúcar, eheheheh… também mas não só, acima de tudo para derramar o
açúcar no pires e depois escorropichar o que sobra do café nas colheres e catar
o açúcar dos pires, ora esta era fácil, ahahahah…
Desta vez o meu
pai não levou, como de costume, o cartapácio
(é assim que ele lhes chama) que anda a ler -
anda sempre com essas coisas até parece que tem um quisto na mão ou sei lá onde
– o que é um excelente sinal; hoje não vou levar seca!... Porém, a minha mãe,
resolveu comprar uma revista daquelas cor-de-rosa, quadrilhices! Coisas de
gaja!... com um adicional no preço de 0.95 cêntimos por uns óculos de sol
ranhosos, piores que os dos chineses, se é que não o são (acho que quer ficar
meio cega).
Assim e no meio
destas peripécias todas lá chegou o momento, não sem que primeiro tivesse que
reclamar dos meus direitos às promessas, que são de vidro e se caem partem-se,
de eu ir ver os mais que badalados cavalinhos. Fui com o meu pai. A minha mãe
ficou vidrada a ver e a ler as regateirices da revista; mentiras e filmes para
vender tinta cor-de-rosa, com os óculos de sol a fazerem de bandolete, o meu
pai diz que ela sofre de miopia mental, homens!...
Quando,
finalmente, cheguei junto aos cavalinhos fui calorosamente recebida por canifalho malhado de branco e castanho
amarelado, simpático, deu-me logo uns beijinhos e saltou para cima de mim, acho
que ele queria colo, coitadinho. O meu pai disse-me que era um cão de caça um epanhol não sei das quantas; não percebo
nada de inglês…
Subimos, eu e o
papá, o cão não quis vir, ao primeiro andar do picadeiro. As escadas eram muito
empinadas e os degraus desajeitados, até parece que foram feitos por um bêbado,
cada um da sua altura e no comprimento também estavam bem diferentes. Tive que
pedir ajuda ao meu pai para subir. Logo que me apanhei lá em cima desatei numa
correria e num alarido terrível, que lugar fixe para brincar uáuuuuu, mas o meu
pai, desmancha pequenos prazeres, veio logo zangar-se comigo e dizer que ali
não se podia fazer algazarra, que chatice… porém o meu papá, ele sabe muitas
coisas, explicou-me que o barulho assustava os cavalinhos que estavam lá em baixo. Mostra pai,
mostra pai disse impaciente. Foi então que o meu pai me levou à beirinha do
guarda-peito e me mostrou uma menina que tinha um cavalinho preso pela boca e
que corria à volta dela mais devagar ou mais depressa conforme ela estalava a
língua e andava com uma espécie de pau, que não era em pau, estreitinho e
magrinho atrás do rabo do cavalo, o meu pai disse que a menina estava a fazer
volteio e que o pau que não era pau magrinho se chamava de pingalim, uma género
de chicote, e que a menina estava a treinar o cavalo e a fazer exercícios de aquecimento
antes de o montar, também lá andava um menino montado num cavalo, às voltas de
um lado para o outro, eu achei que o cavalo ia ficar almariado (tonto para quem não é do Algarve) e ia até cair de tanto
andar à roda.
Depressa me
cansei de tanto ter que estar quieta. Pedi ao meu papá para nos irmos embora,
pois já estava farta. De caminho nem me apeteceu, como de costume, fazer
festinhas no focinho dos cavalinhos que estão nas boxes do rés-do-chão.
Voltámos para o
Café Tertúlia. No percurso de volta encontrei o meu amigo Canhas, o rafeiro
branco do Centro Hípico, o Canhas é um curtido, adora correr atrás dos
cavalinhos e ladra, e ladra,… estou convencida que ele tem a mania que espanta
cavalos. Chegados ao café, desancorámos a minha mamã à revista de sonhos e
mentiras e, como era hora de almoço, fomos para casa tratar de encher as nossas
pancinhas; comi que me fartei!
Depois de almoço,
“siesta time”, foi cá um regabofe,
cada um roncou para seu lado, o meu pai foi o campeão.
O resto do
domingo foi muito para o parecido com o de sábado; tratar dos cães, banho,
jantar, “mnecos” e o João Pestana
entrou em acção; foi assim mais ou menos como o apagão das cegonhas, que ouvi o
meu pai contar e, que aconteceu há anos que anos, na era dos dinossauros…
ronronron…
tÓ mAnÉ Editions (in
Laura solange dixit) - 2012.06.(02 e 03)
Sem comentários:
Enviar um comentário