segunda-feira, 15 de julho de 2013

Crónicas FDS da Laura – Registo I



No sábado, como de meu jeito e uso, levantei-me cedo, gosto de me levantar cedinho para beber o meu leitinho com chocolate e ver os “mnecos”; o canal Panda. Também, como é usual, a minha mãe levantou-se quando a chamei; mãeeeeeeeeee…, e o meu pai ficou a fazer moenga na cama; sornando acordado.
Mais tarde, depois do meu pai se levantar e tomar o pequeno-almoço, fomo–nos pôr todos catitas, com perfume e tudo, e bute para a “vila” pois Loulé nunca há-de ser uma cidade por mais que assim lhe queiram chamar; o bom povo nunca o irá deixar (lembrem-se que eu vivo no campo).
Assim, e depois de me despedir de todos os meus cães e avó e tias-avós e etc (que aqui não vem a talhe de foice)..., rumámos à vila, estacionámos o carro “bonito” na garagem do edifício onde está sediado o IEFP. Levantámos de seguida ferro e, de azimute apontado, ao Mercado Municipal, sem no entanto deixar de parar no caminho no Café Havanesa, onde pela primeira vez me trouxeram uma chávena de garoto com pacote de açúcar e colher, cheia de água morna, chamando-lhe de café; hão-de pensar que sou parva, não fora o meu pai deitar-lhe uma colherzita de café de verdade eu não teria bebido nada, assim foi toda!... 
Seguidamente retomámos o caminho e agora sim chegámos finalmente ao Mercado para fazer as compras de parte da semana; fruta, legumes, batatas, pão, carne peixe… eu sei lá, tanta coisa, o meu pai ficou carregado que nem um jumento e a minha mãe não se ficou a rir, não.
Hoje, volvidos que foram um par de dias sobre o fim-de-semana, e que estou a escrever com o meu papá o que fiz durante o fim-de-semana (trabalho para a escolinha), lembro-me que almocei em casa da avó Aurita, garoupas da pedra ou ganoupas, grelhadas com batatas cozidas e salada de tomate, pão das Ferrenhas fresquinho; pão caseiro cozido em forno de lenha, sopa de legumes e frutinha, hummmm… tão bom. Para além da minha avó, do meu papá, da minha mamã e eu, claro! E caso inédito, quase nunca visto, o Pedro; o meu mano, desnaturado, que ousou dar um ar da sua graça. Gostei muito de ver o Pedro, mas quando ele me agarrou para me estrafegar, é bruto o gajo e, para além disso, anda com a mania de malhar ferro, assustei-me e desatei num choro convulsivo. É assim, nós meninas, gostamos de delicadeza.
Depois do almoço fiquei, de boa vontade (mais um acontecimento inédito), em casa da avozinha e com a avozinha – a ver “mnecos” – enquanto os meus papás e o meu mano saíram. Desconfio que foram ao supermercado, excepto o meu mano que deve ter ido dormir, estava com cara de ressaca ao almoço.
Quando os meus papás queridos voltaram, fomos para a nossa casinha, descansar, mas pouco!... Ah! Eles sempre foram ao supermercado, trouxeram a caixa do carro a abarrotar de tralha.
Ao final do dia fui ajudar o meu pai a cuidar dos cães, como quem diz soltar e limpar/lavar o cocó e o xixi e dar os torrõezinhos para eles comerem. É uma trabalheira ou uma canssadeira o que vem a dar no mesmo, sei lá… Sabem (isto é segredo, shuiiiiiiiii…) tenho oito cães, quatro machos: o Bóris, um perdigueiro português, o Max, um podendo de pelo semi-frisado castanho, o Syd, um rafeiro alentejano, enorme e malhado e o Spooky, um traçado de braco alemão com perdigueiro, e três fêmeas: a Lucy, uma rafeirinha preta e castanha, a Kuska, uma podenga malhada de amarelo e branco e a Kika, uma cadela alentejana de pastoreio de gado caprino e ovino, e vejam só está prenhe, vamos ter prol! Ah! Já me esquecia do mister Goya, o felpudo, um cão de raça estranha, de companhia, que vive connosco aqui em casa e adora jogar à bola, acho mesmo que marca melhor um penalty que o Cristiano Ronaldo; afinal tenho cinco machos, desculpa Gyoa!
Depois de tanto trabalhar fui tomar banho, estava mesmo a precisar, com o meu pai e a minha mãe; tenho uma relação muito difícil com os banhos, para entrar é uma guerra para sair são duas – a estúpida e bruta atracção pela vontade dos contrários.  
Banho logo pijama, logo jantar e de seguida sofá, agarradinha aos “lenços que mamam”, e, invariavelmente os “mnecos”, sono e até amanhã, caminha do papá e da mamã com obrigatoriedade presencial de ambos e… óó… já apaguei!
E, como hoje é sábado (da semana seguinte) e o meu pai está cansado de escrever as coisas que eu lhe conto, deixo a estória de domingo para a minha mamã linda escrever o que tenho para contar.
Deu para o torto a ideia de deixar a estória para a minha mãe escrever. Bem, como a minha mamã está com uma “guiça” do caraças, lá tive que me socorrer do meu paizinho querido de novo; não posso chegar à escolinha sem a minha história contada, não é? A Gina ia ficar uma fera!...
Socorrooooooo, papáaaaa… (shuiiiii… estou a tentar convencer de novo o meu pai a escrever o que fizemos no domingo, shuiiiii…).
Pois, no domingo hum deixa cá ver… no que diz respeito ao levantar, foi quase a mesma moenga mas para o lado do pior; o meu pai levantou-se mais tarde ainda, ando do pior!...
E, desta vez, para que as coisas corressem pior que mal, quis levar o lixo reciclado para colocar nos respectivos contentores. Eu fui ajudar, tentei quero eu dizer, mas não fui grande ajuda, os buracos daquela geringonça são muito altos; prometi ao meu pai que ia crescer rápido para o ajudar.
Depois de lixo tratado fomos todos beber a bica ao Café Tertúlia, lá em cima ao pé do Centro Hípico – prometeram-me que me levavam a ver os cavalinhos e eu estava que não me aguentava. Pediram as bicas, não percebo porque é que o meu pai uma vezes pede café e outras vezes pede bica, aquilo é tudo igual, coisas de pessoas grandes, eu acho. Como é que eu sei isto? Sei isto porque eu é que derramo o açúcar nas chávenas e mexo o café com a colher, sabem porquê que eu mexo? Para dissolver o açúcar, eheheheh… também mas não só, acima de tudo para derramar o açúcar no pires e depois escorropichar o que sobra do café nas colheres e catar o açúcar dos pires, ora esta era fácil, ahahahah… 
Desta vez o meu pai não levou, como de costume, o cartapácio  (é assim que ele lhes chama) que anda a ler - anda sempre com essas coisas até parece que tem um quisto na mão ou sei lá onde – o que é um excelente sinal; hoje não vou levar seca!... Porém, a minha mãe, resolveu comprar uma revista daquelas cor-de-rosa, quadrilhices! Coisas de gaja!... com um adicional no preço de 0.95 cêntimos por uns óculos de sol ranhosos, piores que os dos chineses, se é que não o são (acho que quer ficar meio cega).
Assim e no meio destas peripécias todas lá chegou o momento, não sem que primeiro tivesse que reclamar dos meus direitos às promessas, que são de vidro e se caem partem-se, de eu ir ver os mais que badalados cavalinhos. Fui com o meu pai. A minha mãe ficou vidrada a ver e a ler as regateirices da revista; mentiras e filmes para vender tinta cor-de-rosa, com os óculos de sol a fazerem de bandolete, o meu pai diz que ela sofre de miopia mental, homens!...
Quando, finalmente, cheguei junto aos cavalinhos fui calorosamente recebida por canifalho malhado de branco e castanho amarelado, simpático, deu-me logo uns beijinhos e saltou para cima de mim, acho que ele queria colo, coitadinho. O meu pai disse-me que era um cão de caça um epanhol não sei das quantas; não percebo nada de inglês…
Subimos, eu e o papá, o cão não quis vir, ao primeiro andar do picadeiro. As escadas eram muito empinadas e os degraus desajeitados, até parece que foram feitos por um bêbado, cada um da sua altura e no comprimento também estavam bem diferentes. Tive que pedir ajuda ao meu pai para subir. Logo que me apanhei lá em cima desatei numa correria e num alarido terrível, que lugar fixe para brincar uáuuuuu, mas o meu pai, desmancha pequenos prazeres, veio logo zangar-se comigo e dizer que ali não se podia fazer algazarra, que chatice… porém o meu papá, ele sabe muitas coisas, explicou-me que o barulho assustava os cavalinhos que estavam lá em baixo. Mostra pai, mostra pai disse impaciente. Foi então que o meu pai me levou à beirinha do guarda-peito e me mostrou uma menina que tinha um cavalinho preso pela boca e que corria à volta dela mais devagar ou mais depressa conforme ela estalava a língua e andava com uma espécie de pau, que não era em pau, estreitinho e magrinho atrás do rabo do cavalo, o meu pai disse que a menina estava a fazer volteio e que o pau que não era pau magrinho se chamava de pingalim, uma género de chicote, e que a menina estava a treinar o cavalo e a fazer exercícios de aquecimento antes de o montar, também lá andava um menino montado num cavalo, às voltas de um lado para o outro, eu achei que o cavalo ia ficar almariado (tonto para quem não é do Algarve) e ia até cair de tanto andar à roda.
Depressa me cansei de tanto ter que estar quieta. Pedi ao meu papá para nos irmos embora, pois já estava farta. De caminho nem me apeteceu, como de costume, fazer festinhas no focinho dos cavalinhos que estão nas boxes do rés-do-chão.
Voltámos para o Café Tertúlia. No percurso de volta encontrei o meu amigo Canhas, o rafeiro branco do Centro Hípico, o Canhas é um curtido, adora correr atrás dos cavalinhos e ladra, e ladra,… estou convencida que ele tem a mania que espanta cavalos. Chegados ao café, desancorámos a minha mamã à revista de sonhos e mentiras e, como era hora de almoço, fomos para casa tratar de encher as nossas pancinhas; comi que me fartei!
Depois de almoço, “siesta time”, foi cá um regabofe, cada um roncou para seu lado, o meu pai foi o campeão.
O resto do domingo foi muito para o parecido com o de sábado; tratar dos cães, banho, jantar, “mnecos” e o João Pestana entrou em acção; foi assim mais ou menos como o apagão das cegonhas, que ouvi o meu pai contar e, que aconteceu há anos que anos, na era dos dinossauros… ronronron…     
           
tÓ mAnÉ  Editions  (in Laura solange dixit) - 2012.06.(02 e 03)

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