segunda-feira, 24 de março de 2014

Crónicas FDS da Laura - Registo XIX

Erguer e despachar vite vite foi o lema desta manhã de sábado. Soprava, abafado, de sueste o vento. Vento levante, como frequentemente o povo lhe chama, tal como, o mesmo povo, também diz que de Espanha nem bom vento nem bom casamento. E, quando sopra de levante, o vento, o meu pai não condescende. Pesca e Ilha de Tavira são as pérolas dos seus olhos, as meninas das suas vistas, é como que uma paixão celeste, uma ordem de Deus, um desprendimento geral provocado pelo calor intenso e abafado, quase sufocante que o insufla deste desejo insano, deixando-o prenhe de um desconcerto abissal. Fica impermeável a palavras e actos, a tudo e todos, apenas luzem fulgurantemente os dois buracos da alma todo o resto é infernalmente maquinal parece regido pela robótica e por aqueles dois faróis, intensos, virados ao mundo. Não há termos para discussão ou negociação, sua mente entrou em falência plena de democracia e, nestes três ou quatro dias, graças a Deus e não aos espanhóis ou magrebinos, quem manda em nostra casa, indiscutivelmente, é o pai. Como ele afirma, com ou sem graça: São os dias da minha democracia pois, quem manda sou eu! Nesses dias a monotonia instala-se e os trajectos são sempre os mesmos: A ida: Vale da Rosa – Patacão - Tavira- Quatro Águas - Ilha de Tavira. No cais a família fissura, eu e a mãe vamos direitinhas para a praia do cais, a sul, na praia do mar, este revolto e bravio atira-se como um cão raivoso a quem quer que lhe faça face, a bandeira está vermelha e, na água ou melhor nas ondas, só os surfistas e os “muribuggers” ou patos como vulgo são designados, se atrevem e com a devida autorização pois, o perigo espreita a cada lambidela de onda. O meu pai segue para o lado oposto do cais, para nascente, dando-nos as costas depois de nos beijar e aconselhar cuidado. Ainda lhe gritamos boa pesca e cuidado com o mar mas, acho que já não nos ouve pois, nem se volta para trás. Vai, como que hipnotizado pelo grande mago Levante, de mochila às costas, canas de pesca e xalavar ao ombro, e dependurado na mão direita o balde. Segue directamente para a testa do molhe de estibordo, aquele do farol vermelho, que separa a praia da boca da barra. Segue para a sua pesca. Não vos vou cansar com a descrição exaustiva dos meus mergulhos e peripécias de praia. Apenas, e por ser merecedor de registo, vos vou dar um lamiré de como a água estava quentinha, óptima mesmo, e do calor que fazia, um calor digno de qualquer inferno, seja ele onde for. Na minha boa fé, pois ainda sou criança, pensei que ainda teria oportunidade de dizer adeus até que agente se veja ao meu tio padrinho Miguel e à tia Bleca, porém, quando cheguei já eles tinham deixado o adeus à Ilha para trás e rumado à sua casinha, lá na linha, a poente da capital das sete colinas. Foi por uma questão de minutos ou meias hora, quiçá, que o encontro se desencontrou, o que me deixou muito triste… por minutos também. Contrariamente ao meu pai que comeu uma bucha constituída pelo produto interno da celebérrima lata de conserva de atum em posta e em azeite, pois não quer em óleo vegetal, dividida por dois pães de água, incluindo o azeite que, no acto da dentada, solenemente deixa que lhe escorra pelo queixo e limpa na parte inferior da Tshirt e, não vale a pena chamar-lhe à atenção pela falta de asseio da atitude pois ele logo retruca: Estou na pesca, não estou num hotel cinco estrelas ou menos! Nós, as meninas lindas, fomos almoçar ao restaurante, e para não quebrar o feitiço, voltámos ao Pavilhão da Ilha. Comemos moderadamente, não que estivéssemos tristes pela refeição simplória do pai mas sim para que a digestão fosse leve pois o calor e a água tipo”sopa” esperavam-nos. Assim, uma qualquer sopinha de vegetais e uns bifezinhos de peru grelhados, a dividir por duas marmanjas, fizeram a vaza. Tenho uma surpresa para vos contar. Adivinhem quem apareceu, já no final da parca refeição, no restaurante?... Vá lá um esforcinho mais… puxem lá por essas tolinhas… conseguiram?... Pelas vossas carinhas já vi que não. Vou-vos revelar então o mistério, tararammmmm… O Martim Cabaço e os seus papás! Ora, esta agradável, ocasional e surpreendente ocorrência, teve que culminar em brincadeira. É que nem poderia deixar de ser. Se não, incorreríamos em sacrilégio. Enquanto trocava umas breves e circunstanciais palavras com os pais do Martim, a mamã, pediu e pagou a conta. Assim, leve de bolso, depois de pagar o leve repasto, encaminhámo-nos todos para o parque defronte ao parque de campismo onde, claro está, iniciámos, ao de leve, o leve processo digestivo, pois ainda que leve tivesse sido o repasto, convinha guardar as devidas precauções. Findou a brincadeira e com ela a digestão. Juntámos a trupe e, pelo passadiço de betão, dirigimo-nos em direcção à praia do mar. Na segunda bifurcação do passadiço as famílias separaram-se, nós para poente eles para nascente, conforme as predilecções e necessidades de cada uma; as famílias são mesmo assim, senão não o eram, famílias. Depois dos goodbyes até mais ver, cada agregado seguiu o seu caminho. Nós fomos para junto do molhe onde o meu pai estava à pesca – estávamos mesmo achegar e, acto contínuo, até pareceu propositado, ele estava a pescar um belo dum peixe – e o Martim e os pais, ficaram mesmo em frente do passadiço de madeira. Assentámos os arraiais e fomos de imediato ver o meu pai e mais importante, de momento, a pescaria, é bem certo, para que se diga a verdade ou não se falte à mentira. Ó pá! A coisa estava a correr bem, o balde estava cheio de peixe e, mediante semelhante aparato quase, digo quase entenda-se, delirei e extasiei ao ver tantos, variados e grandes peixes. Decidi ali e logo que queria ser pescadora! Não foi muito o tempo que estivemos sobre o paredão da barra. O meu pai correu-nos à má fila, e com razão, dizendo: Isto aqui está muito perigoso. Está muito mar, não tarda as ondas estão a lamber o cimento que reveste o paredão. De facto ele estava pleno de razão. Ainda não tínhamos posto o pé na areia da praia e já uma onda varria o chão de cimento do molhe. Haviam de ver como o mar estava bravo e bruto, contudo muito bonito, e como cheirava a maresia, hummmmm… Ah! Mais uma coisa que quase me esquecia. O pai caiu e fez um dói-dói na nádega direita ou no pouco que lhe resta de glúteo. Eu aconselhei-o a ter mais cuidado, não acham que fiz bem?... Na praia, já com um pezinho na areia macia e quente, deram-me os ardores e a ideia, irreprimível e irresistível, de uma banhoca assaltou-me avassaladoramente, não tinha como a afrentar, as minhas armas eram demasiado ligeiras e de curto alcance para fazerem face ao apelo da água do mar tipo “caldo” e ao calor abrasador que se fazia sentir. Vencida e rendida às evidências e à minha insistência a minha mãe acedeu na condição da banhoca se realizar na babuja das ondas e sob apertada vigilância que para mim soube a apertada e pegajosa vigilância tão curta era a rédea concedida aos meus rebolanços e tentativas de mergulhos. Assim estive até começar a bater castanholas com os dentes. Aí a minha mãe pôs termo à aventura com um simples mas autoritário: Laura Solange já chega. Mesmo ao cair do pano e numa operação rotineira, todavia impulsiva; a lavagem do meu baldinho de fazer castelos na areia, a mãe, incauta, deixou encharcar as nossas farpelinhas e bugigangas de praia. Uma onda mais atrevida resolveu extravasar os limites, alambazar-se no comprimento de expansão e, zás-catrapaz, aliviou os seus maus féis sobre o local onde serenos jaziam, semi arrumados, os nossos haveres; menos-mal que eu já tinha envergado a minha Tshirt ou, como queiram, a tee shirt – obras do acaso e dos imprevistos. Resolvidas as imprevisibilidades e eis que aparece o meu pai, nem combinado, sorridente da silva, de túrgia de pesca às costas e, mais importante ainda, o peixinho todo amanhado como é seu apanágio. Nem parou. Limitou-se a um aceno de cabeça de “está no ir” e, sem termo para desobediência, botámos os pés ao caminho. Durante este fizemos, de vez em quando, umas paragens técnicas para alívio das costas do papá que como ele vai frisando “já não tenho, nem idade, nem costas, nem força para isto”, sendo que a última foi por minha imposição e exigência. Apeteceu-me desmedidamente comer um gelado, só que isto dos apetites fulgurantes e os gelados tem mais que se lhe diga, às vezes tornam-se voláteis, uma vez que o requisito de escolha não coincide com o sonho da vontade ou a vontade sonhada. Daí o ter que limitar o sabor pretendido ao stock disponível ao momento da vontade e, o que começa num gosto, num ápice passa a desgosto, chocolate não seria a minha primeira escolha bagth… mas era o que estava disponível. Chocolate?! Pois que seja… e hallelujah, poderia não haver nenhum depois daquele, que ainda o é, dia infernal. O meu pai vinha carregado que nem um jerico; quem é que o mandou pescar tantos peixes e grandes, e já não tinha paciência para tanta paragem nem tão pouco exigências requintadas. Não vejo a hora de chegar ao cais e o gafanhoto, que era eu, ainda saltando sabor acima sabor abaixo, dizia o meu pai meio para o alterado para a minha mãe. A volta: Ilha de Tavira - Quatro Águas - Tavira - Vale da Rosa. Quando chegámos ao cais estava uma fila, uma bicha – é assim que o meu pai diz – enorme, porém a espera não foi muita, o trajecto é curto e andam dois barcos água acima água abaixo, independe da maré depende apenas do barco que cumpre o trajecto. Atraca um, zarpa outro e assim sucessivamente numa sucessão sucessiva de atracagens e zarpadas. E, assim, logo embarcámos e desembarcámos, no meio de um mar de gente e de uma panóplia interminável e indescritível de bagunças consumíveis e não consumíveis, provenientes de uma ilha. Chegada à carrinha, alterei os meus apetites fisiológicos. Apeteceu-me fazer um xixi de cadeirinha, aquele que, neste caso a minha mãe – poderia ter sido o meu pai - depois de me retirar o fato-de-banho, nos segura pela dobra das pernas e tchhhhh… cá vai disto e, uma cascata, uma estradinha, sinuosa, de xixi escorrendo pela ladeirinha… é tão giro! No caminho para casa abri um parêntesis na realidade e coloquei-me do lado de dentro… foi uma soneca e peras. Retemperante. Cumpri a viagem a de fio a pavio sem descolar do mundo da fantasia, foi como um holograma de mim viajando dentro de um eu presente, contudo ausente da dimensão vívida. Claro que tive que cair no mundo, tal como uma mosca cai no prato da sopa, inconveniente mas inevitável, o jantar estava quase pronto e a hora do banho era já! Jantámos, como não poderia deixar de ser, peixinho grelhado no carvão só para desobedecer aos gajos da A.S.A.E., como diz o meu pai desatando às gargalhadas. Graças ao meu anterior estado de imortalidade irreal retemperante, ainda tive coragem para ver um “chochezito” dos meus incontornáveis bonecos. Todavia estava mesmo rotinha do estrafego do dia e, sem mais delongas, enfiei o trombil na cama e… Óooooo… Não quero finalizar o dia sem fazer uma pequena ressalva, um retorno no tempo, um voltar ao passado. Assim, façamos um flash back até à praia do mar, até à altura que eu questionei a minha mãe sobre um assunto que já à algum tempo me andava a atormentar as ideias. - Mãe, quem é a mãe do mano Pedro? E quem é o pai? - A mãe do teu irmão chama-se Beldora Segundo e o pai, filha, é o teu papá. Quanto à mãe fiquei esclarecida, apesar de não conhecer a senhora mas… que o pai do mano seja o meu papá é que fez com que a porca torcesse o rabo ou o mesmo é dizer: revoltou-me o miolinho todo. Fiquei baralhada… Como é que pode ser, como é que é possível que o meu paizinho querido seja também o pai do mano?... Bem, acho que são coisas de adultos e acho também que as vou deixar para outras núpcias. Assunto morto, assunto enterrado. O dia do Senhor teria sido muito atípico não fora: O acaso da minha prima Sofia, a tia Rosário, o primo André e as avós Aurita e Ilda terem dado uma de aparição inesperada e espontânea, por convite expresso, para o almoço, que, inesperadamente, consistiu numa valente assada de peixe, apanhado pelo meu pai na véspera, acompanhado por sopas de água ou gaspacho à algarvia. E o acaso da queda do vento levante que reteve o meu pai em casa, caso contrário: Eu quero ir para a ilha. Pela manhã é que canta o galo, assim o povo o diz, neste caso outro galo ou melhor outra galinha cantou, mas foi a meio da manhã. A minha mãe mandou, quer dizer, ordenou, na sua voz de general sem estrelas, ao meu pai que fosse ao Continente fazer compras de última hora para um almoço combinado em cima da hora. O que, estranhamente, ele acatou de bom feitio e sem resmungar nem resfolegar, assim numa de “é só pedires que aqui se satisfazem todos os teus desejos”. Demorou que demorou e quando por fim chegou, cerca da 1:00 p.m., trazia naquela carinha laroca um sorriso de “manhoso satisfeito” e dependurados nas mãos meia dúzia, bem contada, de sacos bem recheados; não sei por que caminhos enviesados e azinhagas andou, mas que chegou contentinho e tarde chegou. E, assim, aos poucos e atrasados, foram chegando os comensais. Após o meu pai chegar, foi a vez da minha tia Rosário, a prima Sofia e a avó Aurita terem arribado – as mulheres são como as rolas, andam sempre aos bandos. Estava eu a ver os meus bonecos muito descansada quando a minha mãe aparece, disparada, sala adentro, remordendo entre dentes. Olhou para mim com um olhar vazio de quem não sabe bem o que quer ou procura. Fixou o olhar no telefone fixo mas que é móvel e, ainda remordendo, um a um foi introduzindo os números desejados, soprando entre dentes: Que a avó Ilda é uma “deslembrada”, sabe que preciso de ajuda e ainda não apareceu, bolas que até parece que não sabe das horas. - Está… Dona Ilda, onde é que você anda? Não sabe que eu preciso de ajuda?... - … Vá lá, venha para cá, estão as sopas de água para fazer. Você não vê as horas?... - … E, tal como ligou assim cortou a ligação à máquina infernal. Deu-me as costas e saiu sem me ligar corneta. O que será que avó disse, cogitei... Deixei os meus bonequinhos e segui na sua peugada. É que, para além de estar curiosa para saber da avó, ainda estava com uma larica daquelas e interessava-me saber se o almoço estava atrasado. E, foi deste modo, que descobri que a mamã estava derredor do barbecue na tentativa, acho que bem sucedida, de o acender. Fiquei basbaque pois era coisa nunca vista nesta casa; assar peixe no artefacto pirotécnico. Pelos vistos o evento era importante ou ia haver festa grossa. Só assim se justificava a inauguração daquilo que até ao momento não passava de um mono apanhador de lixo. Emmeios o meu pai seleccionava, escalava e salgava o peixe que iria ser objecto de submissão ao carvão incandescente e à subsequente degustação e deglutição. Valeu a pena a espera, pois foi uma almoçarada e uma festança à antiga portuguesa. Uáuuuuu… Depois de almoço, e cumprindo uma boa parte da tarde e para gáudio de todos, cada um fez o que lhe aprouve ou melhor dizendo o que na real gana lhe deu ou mesmo na veneta de cada qual, excepto na minha que, de uma maneira ou de outra, alguém está sempre de olho em mim condicionando-me a liberdade total. Não que eu pretenda a licenciosidade mas um pouco menos de trela era bem vinda. Assim, e sem seguir uma linha ordeira de pensamento, começo pela minha priminha, o meu priminho, a minha tiazinha e “euînha” que estivemos entretidos, numa promiscuidade de roça roça e do esfrega esfrega dedos, com o novo brinquedo da mãe, o “Tablet”, que o meu pai lhe ofereceu, acho que para ver se se livra da lufa-lufa do Tó “prá qui” e Tó “pra li”, pelo aniversário – quadragésimo sexto (digo isto assim para que não se assemelhe a um número e não deixe de ser um pseudo eufemismo). Ela, a Sra. minha mãe, não que quer eu bufe isto, portanto shuiiiii… O meu pai foi descansar, se não me falha a minha tenra memória, parece-me tê-lo ouvido dizer que passou mal a noite e o resto da trupe, que se resumiu à avó Aurita e a mãe, pois a avó Ilda que deu “às de Vila Diogo” para a sua casinha, com o escopo de em pleno, sem interrupções nem atropelões, se dedicar à sua folga de sempre (não pode passar sem… ai tenho um “carregum” na minha cabeça, diz ela, quando não…), dedicou-se a variadas, por muitas, tarefas domésticas. Ao cair da tarde… aiiiii uiaaaaa… este é o grito supremo da tarde a cair, a minha mãe decidiu encher a minha piscina de bolas, insuflável, de água quente que o sol aqueceu, e bem, no interior da mangueira e, aí começou o estardalhaço. Prima dentro e eu fora, eu dentro e prima fora, ambas dentro, ambas fora, a água a já mais fora do que dentro e, assim uma hora e tal passou quase num ingente minuto irreal. Enregeladas, fomos compungidas a mudar de pego e da piscina, fria, na rua passámos para o jacúzi, quente, em casa, para um exuberante, fantástico e aconchegante banho de espuma, com reportagem quer fotográfica quer vídeo documental. Vou adicionar a reportagem fotográfica para melhor ilustrar as palavras pois estas não chegam para descrever as nossas aventuras. No interlúdio piscina - jacuzzi – posso escrever de duas maneiras mas apenas se pronuncia de uma, não é giro?... – chegou o tio Mário, sabe Deus de onde, mas não se juntou à pandilha, foi directamente para a sala, onde estava o meu pai – levantou-se da cama e deitou-se no sofá para descansar da folga. Isto é que é qualidade de vida! – e ali ficaram, os marmanjos , a ver os “futebóis”. E, assim, neste escarcéu monumental para não dizer descomunal, se foi deixando cair, aos tropeções, a cortina ao dia e erguendo, aos solavancos, o véu da noite e, quando no céu já algumas estrelas tremeluziam, tocou a sineta para a “lambeta”. E, por que sou umas mãos largas, vou-vos dar um cheirinho da ementa: Franguinho, da nossa colheita, em molho de tomate, executado de forma magistral pela avó Aurita. Peixe “à moda do meu pai” que é óptimo – uma espécie de caldeirada sem tomate e feito em cru, isto é, sem estrugido (refogado, aqui à moda da parvónia); o meu tio é alérgico a tudo o que tem pena, incluindo espanador. A avó Ilda cozinhou uns belos duns caracolitos que a outra avó, a Aurita, tinha trazido já limpinhos e lavadinhos. Iniciámos o repasto pelos caracóis com pão torrado com manteiga e, só depois vieram, em simultâneo, para a mesa o frango e o peixe. Aí, cada qual safou-se como pode ou lhe apeteceu, excepto a avó Ilda, que de “embirrão”, não quis jantar connosco – ela e a avó Aurita fazem faísca e até curto-circuito no tocante aos cozinhados, é caso para se dizer: Parecem duas crianças. Neste embrulho foi um ai até que o jantar tocasse à porta. Tempo quente. Vento ausente. Jantar na rua à luz das estrelas e outras, claro! Tinha-mos que ver algo por pouco que fosse. Quer o jantar, quer a noite, quer o ambience da envolvente, estavam mágicos, fantásticos, o que fez as delícias dos mais reticentes e dos mais exigentes. Foi de arromba! Aos poucos a turba foi dando à sola, não sem antes dar o seu patrocínio à arrumação global. Até que chegou o momento do “só nós”, da solidão a três partilhada e, com ele a fase de reflexão, curta, do ante Vale de Lençóis. Alguém um dia falou assim: “Um sorriso enriquece quem o recebe, sem empobrecer quem o oferece” e, um outro alguém, mencionou: “ Um minuto de tristeza, são 60 segundos de alegria perdida…”, e foi com um sorriso estampado nos rostos que desejámos boa noite a cada um de nós e a cada um dos outros. E, sorrindo ainda, desejo-vos uma boa noite a todos. Agora um pouco de surf fora da onda… Como é do conhecimento geral, este fim-de-semana foi palco de um evento que já vem fazendo parte das celebrações festivas do nosso amado concelho: O Festival Med ou o Festival do Fumo como algumas más-línguas já o vêm a apelidar. Gostaria imenso de vos poder fazer um relato da efeméride mas infelizmente, mas que chatice, pode ser que para o ano e já mais entradota na idade, não posso. Não fui lá!... Todavia, e face à reprogramação temporal do referido festival, posso-vos dar um cheirinho, excepto dos concertos, de ante Med, ou seja, da quinta-feira à noite, incorrendo em falta no contexto destes FDSs. Ora então vamo-nos a ele, ao cheirinho. Na quinta-feira à noite fui jantar ao restaurante “O Pescador”, acompanhada dos meus pais e de uns primos distantes e digo distantes por dois motivos: O geracional e o geográfico, pois ambos são afastados (primeiro porque o grau de parentesco anda no quarto grau, segundo porque vivem no Brasil). Passo às apresentações: O Manolito, como é conhecido, a Cristina, sua mulher e o Vítor, filho de ambos. São todos muito simpáticos e afáveis. Gostei deles! O jantar foi muito animado e, para meu contentamento adicional, teve lugar na esplanada, a noite estava magnifica, para satisfação minha, pois pude andar de perna solta por ali a cabriolar. O Manolito fez questão em pagar o jantar e ainda nos ofereceram uma prendinha a cada um de nós. No final do jantar fomos para o interior do Mercado Municipal onde ia ocorrer a apresentação, seguida de actuação, do rancho folclórico de São Sebastião, bem como, um concerto dado pela Banda Filarmónica “Os Artistas de Minerva”. O ambiente estava pesado, o calor era muito, as cadeiras não tinham grande qualidade, o pessoal tinha jantado e estavam pesados e as cadeiras cederam nas pernas e rabo no chão com grande aparato seguido de uma galhofa geral imensa, nem sei porquê alguém poder-se-ia aleijar… Findas as actuações, seguimos rumo à zona histórica e suas ruas e travessas onde estavam, desde já, montadas as “barraquinhas” dos vendedores ambulantes e as portas abertas dos bares e restaurantes improvisados para o evento. Pelo que vi o Festival Med 2013 vai ser pleno de música, cores e sabores. Achei o máximo. Os primos seguiam viagem para Lisboa no dia seguinte logo pela madrugada, pelo que demos por encerrado o passeio com o giro pelo hiper cromático centro histórico. Na sexta-feira, após o jantar, ainda nos atrevemos a dar um saltito até Loulé para matar a curiosidade e dar um rabo de olho às modas pois o adiantado da hora não se compadecia com uma entrada no Med; €12.50 (doze euros e meio) pax era muito pilim para eu ir exercer o meu direito ao sono… Ainda assim diverti-me imenso. Poderei mesmo dizer, sem faltar à verdade, que enchi a pancinha de brincar com a Catarina. Quem é a Catarina? Bem, a Catarina é uma menina, levada da breca de travessa, que eu conheci nos bancos novos em frente à Câmara Municipal. Ela era totalmente atrevidota o que dizia tudo comigo, fizemos imediatamente pendant em francês e pandã em português. Bom, acho que já estou a abusar da vossa caganita, por isso vou fechar a enciclopédia deste FDS. Tchau, boa noite e beijinhos muito docinhos. A “estramela” tagarela. Reportagem fotográfica:
A piscina, a prima, o Goya e eu… “começou a loucura…” Continuação da loucura…
O jacúzi, eu e a prima… banho de espuma com máscara desta… e a loucura continuou…
Eu, a pose e o início do descanso… tÓ mAnÉ (in Laura Solange dixit) - 2013.06.(29,30)

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