segunda-feira, 24 de março de 2014

Crónicas FDS da Laura - Registo XXI

A minha manhã de sábado não diferiu grandemente da do sábado anterior, nem sempre é fácil fazer diferente daquilo que é quase igual, quase mecânico e puramente funcional – uma rotina quase obrigatória; no coments. Apenas apareceu por aqui o primo André, que anda cada vez mais monco ou macambúzio, preparado para asilar por cá durante o fim-de-semana. Topa-se à légua, acho que até cheira, mas isso é o que eu acho. No período da tarde, enquanto o meu papá lindo, ficou a dormir furiosamente ou a fazer de que. Eu e a mamã fomos ajudar a avó Ilda a fazer a limpeza anual da casa, que ocorre sempre nos finais do mês corrente; já cheira a tia Aida, ao tio Fausto e cambada a fim. Depois das limpezas, e a sugestão do meu pai, a mãe encheu a piscina insuflável de água quente, aproveitando a água que se encontra ao sol no interior das longas mangueiras que se destinam à rega de uns escassos metros quadrados de um semi-jardim e a uma mão cheia de árvores. O que foi o máximo como devem calcular. Na noite fomos jantar a Salir a casa da tia Rosário. Claro está, que levámos a avó Aurita, nem poderia deixar de ser! E o emplastro e ou pendura do primo André. Depois do jantar eles foram ao Restaurante Churrasqueira o Papagaio Dourado beber café, descafeinado, etc… e eu que fui a reboque, aproveitei a onda e bebi uma aguinha fresquinha. Seguidamente; estava a decorrer uma festa em Salir – Salir do Tempo 2013 – Festival de Artes Medievais - razão pela qual a tia nos convidou para jantar, é uma forreta de jantares e almoços, fomos comprar os bilhetes para entrar na festa, coisa que achei assim meio parva senão parva de um todo mesmo. Homessa ter que pagar para ir a umas lojas que nem lojas eram e onde se tinha que comprar tudo a peso de ouro, acham que isto faz sentido? Pois eu não achei nada bem! Para provar o crime fiquei com o bilhete do meu pai, pois eu ainda não pago, menos-mal! E que rezava mais ou menos assim: Salir do Tempo 2013 – Festival de Artes Medievais; 14 de Junho; 3 euros; n.º 0250.
Já na festa; para festa aquilo era tudo muito tosco, mas eu achei o máximo. O pai comprou-me uma flauta de madeira, genuína, colorida e que até permite afinação, coisa que não sei o que é mas por certo irei aprender, tal como aprenderei a tocar o instrumento. A flauta veio a revelar-se uma compra fantástica, uma vez que serviu de elemento aglutinador da família, pois eu não parava de tirar notas estridentes, fífias, do já mais que cansado instrumento, não só ele, o instrumento, como todas as outras pessoas que me rodeavam e também das cercanias. Acontece que sou persistente e não queria que ninguém se perdesse. Ficar sozinha naquele mar de gente era das últimas coisas que eu desejaria. Para além da flauta o pai comprou umas gomas caseiras de tamanho XXL, tal como o vendedor, e dos mais variegados sabores. Eram sublimes ou até mais que isso: Idílicas. Rua a rua, tendinha em tendinha; agora já sei que se chamavam tendinhas às benditas das lojas que nem lojas eram, olho nisto e naquilo e entre abundantes sopradelas na flauta, acabámos por desembocar num terreiro onde eu descobri, sabem o quê?... Sim, eu sou boazinha e conto-vos: Primeiramente uns burricos de ar triste, e por certo fartos de ali estarem presos e sem privacidade alguma, que, e não era eu se assim não fosse, quis alimentar com umas folhas de amendoeira que, compulsivamente, obriguei o meu pai a apanhar ali próximo. Depois e farta de burros; quer duns quer doutros, fui ver os cavalos, bem mais inteligentes e vistosos, aqui limitei-me a uma tímida festinha no focinho – só para agradar ao meu pai; o bicho não me parecia de confiança. Dos cavalos passámos para as aves de rapina ou rapaces onde vi falcões, águias, corujas e até um bufo real. No trajecto entre as rapaces e o já almejado camelo, encontrei alguns dos futuros candidatos a executivos municipais, com os quais o pai e a mãe perderam alguns preciosos minutos, não me deixando espaço para observar convenientemente o nobre animal, pois o cansaço começou a apossar-se de mim ao ponto de eu já não fazer grande discernimento entre as coisas. Assim, cai no embrutecimento do corpo e no regozijo de alma. O colo da mãe foi o meu leito até à chegada ao carro. Sendo que a abertura da pestana só ocorreu na manhã seguinte. Olhem só como eu estava cansada… Ufa!... Mas não pensem vocês que a noite se ficou ou findou pela minha entrada em inconsciência e entrega denegada ao marafado do João-Pestana pois muito vos tenho ainda para relatar, por ouvir dizer e por um sem número e um sem calar de protestos, entre os mais mansos, outros mais veementes e outros ainda a roçar a obscenidade, de tudo rebolou pelos meus ouvidos ou melhor dizendo pelas minhas delicadas e lindas orelhinhas. Ora então vamos lá ao que interessa. Quando os meus papás chegaram ao carro bonito, que ficou estacionado; bem estacionado, nisso o meu pai é muito cuidadoso e refere sempre, com uma certa graça, que cada vez que faz asneira parece que anda com um policia ou um GNR às costas, catrapus ou “catrapumba” nunca falha é multa certa, quando não mais qualquer coisita a compor o ramalhete, no parque de estacionamento particular da tia Rosário e dos outros moradores, repararam logo que o acesso ao parque estava semi-bloqueado, aliás a tia, ela teve que regressar a casa, já tinha dito ao meu pai que não ia ser fácil sair pois estava um SUV a estorvar a saída, só que aqui estorvar era um realíssimo eufemismo, de facto o que tínhamos era um OB ou um TAMPAX, tamanho Max, a obstruir a saída. Era meia-noite e picos quando chegámos, a tia tinha feito a incursão a casa pelas vinte e duas e tal e o “estrabeco” ou o empecilho já lá estava: Preto em sua cor, pomposo na matricula 49-EF-27, majestoso de nome Hyundai e no modelo orgulhoso SantaFe; deveria antes o modelo se designar de BoaFe ou Respecter ou de um nome nesta linha, poderia ser que o comportamento do dono fosse na linha da designação do modelo, pois sendo SantaFe, o dono teve uma fezada santa ou, quiçá, uma santa fezada de que chegaria primeiro e, em tempo, de não bloquear uma mão cheia e mais alguns veículos que estavam, devidamente, estacionados no parque de estacionamento interior. Enfim de boas intenções está o inferno cheio ou mesmo a abarrotar, pois parece que não houve lugar para este senhor, pois se Deus é grande o Diabo, esse, consegue ser ainda maior, acho eu… mas a isto já lá iremos ou chegaremos. Puxando do maço ou da garrafa da paciência; o meu pai que não é muito pródigo neste capítulo, o pai (que não fuma e pouco bebe) acendeu ou bebeu uns bons e longos tragos de tão preciosa virtude, mas tudo tem limite e, os limites do meu pai, apesar de largamente alongados, esticados e até espremidos, atingiram o seu ponto de rotura; paciência também tem paciência, não acham?... Ainda de humor brando mas já sem paciência, o meu pai contactou a GNR solicitando os bons ofícios da autoridade no sentido de obviarem a situação. Situação, esta, que ocorreu pela uma e pouco da manhã – já era domingo e eu dormia no colinho da mamã, isto podia lá ser. O tempo corria pela noite. O bendito do SantaFe, arrogante, não se mexia um centímetro que fosse, apesar da vizinhança que ia chegando da festa, fosse ficando por ali a mandar “bitaites” e “cuscando” e, até, mesmo aguardando pelo desenrolar da situação. Cada um tinha o seu palpite e havia até quem conhecesse o “charuto”. Segundo telefonema para a GNR, já passava da uma e meia da madrugada. A boa fé do meu pai estava mesmo naquela linha que separa o tolerável do intolerável. Reiterou o pedido de auxilio, explicou que eu estava mal deitada e que havia hora que meia que ali estava sitiado. A resposta foi a mesma da primeira vez ou seja que estavam muito ocupados mas que já estavam ao corrente da situação. Um obrigado sem mais foi a resposta do meu pai. Traduzindo: Mal vai a pata. A tia Rosário, que tinha ficado na festa com a prima Sofia, pois nós só não ficámos por causa da minha queda “no embrutecimento do corpo e no regozijo de alma”, regressou a casa às duas e tal da manhã. Assim que chegou, perguntou de imediato: Ainda estão aí? Como se não fosse mais que óbvio, daaaaa… e continuou… Passei agora pela GNR, estão na entrada ou saída, pois tinha ambas as funções, mesmo junto às tasquinhas… Entretanto, já o meu pai tinha efectuado o terceiro telefonema para o posto da GNR, de onde o informaram que a informação que tinham era que a situação se encontrava resolvida. Resposta que deixou o meu pai de cabeça perdida, de estribeiras desconcertadas e o resto que lhe restava aquela hora já tardia e, que respondeu o que devia e o que e não deveria. Enfim se eu estivesse acordada não tinha permitido semelhante desacato. Perante semelhante informação montou-se nas sapatilhas e foi acarear os GNRs de serviço. E, aqui sim, pelo que ouvi e não se esqueçam que estou a contar por ouvir dizer, a situação mudou de figura e começou a desembrulhar-se, após alguns contactos via rádio da GNR. Alguns minutos depois chegou uma senhora “dona do carro”, escoltada no Land Rover da GNR. Pediu algumas, tímidas, desculpas e deu poucas justificações, assim como: Que estavam nas tasquinhas e que o tempo voa, lá-la-rá-lá-lá… Calculo que o meu pai e o resto da assistência, que metendo a GNR, já era mais que muita, não fizeram juízo de valores alguns… calculo… eu estava a dormir não se esqueçam. Inobstante a chegada da senhora o problema permaneceu, porém o ângulo de abordagem ao mesmo era outro: A senhora não estava apta a retirar o SantaFe do local onde supostamente ou alegadamente o colocou. Sei lá é como se o raio do “animal” tivesse vida própria e se tivesse alojado num outro sítio que não o de origem contra tudo e todos, inclusive a vontade da sua “dona” e agora esta tivesse perdido o controlo da “besta” e, dali, nem para a frente nem para trás. Estávamos num obstinado impasse. Obra de Deus ou do Sátiro, vá-se lá a saber. Enquanto o Land Rover de patrulha da GNR abandonava o local, solícito e bastante prestativo, anuiu ao pedido de socorro da senhora “dona” do “animal indomável” um elemento da GNR, o que é caso nunca visto pois se algo corre mal é sempre o elemento das forças da ordem a assumir a responsabilidade pelo ocorrido, normal sim é chamarem o reboque e rebocarem quem mal “poisou”, que chamando a si as rédeas de bicho tão rebelde, o acabou por domar, deitando mão a uma ajudinha preciosa do meu pai, que à custa de uma manobra de marcha a trás arriscada; se fosse eu não tinha facilitado nada, depois de tanto esperar mais um pouco já não era relevante, lá facilitou a colocação do cabresto no Minotauro e a respectiva manobra de “desentope” o que não deveria ter entupido, colocando a “cavalgadura mitológica” na via principal e em posição de investida. Nem combinado diz o povo. Manobra feita, agente fora do monstro horrendo, e eis que chega de novo o Land Rover de patrulha da GNR. Desta vez o escoltado era outro, o marido da senhora; deve ter mandado a guarda avançada para caso a coisa estivesse muito azeda, que saiu do Land Rover e enfiou-se, altivo mas depressinha e de fininho, no SUV preto e ala que se faz tarde. Desculpas, viram-nas? Assim nós. E, assim, o Minotauro, investiu bufando, para lugar incerto. Retaliação por parte da autoridade, o que era natural, em casos similares, ninguém as viu. Acham isto normal?... ou será compadrio ou conhecimento? ou foi para não atrasar mais o meu sono que não chegou a ser perturbado no meio deste reboliço todo. Os factos ficaram por apurar, apesar de o assunto merecer mais um pouco de atenção ou mesmo a sua denúncia. Passou por esta graças à cobardia do homem que despiu as calças e vestiu a saia e que mandou a mulher de calças vestida, no papel de batedora ou observadora avançada. Apesar de tudo e, graças à perspicácia e memória da minha prima, que nada lhe escapa, nem nada lhe passa ao lado e, logo reconheceu o meliante das tascas quando este abandonou o veículo da patrulha, exclamando: É o dono da loja FOKUS FASHION STORE em Loulé! Facto comprovado na segunda-feira posterior pelo meu pai: Apesar de poupar aqui as identidades dos “senhores” deixo o endereço e nome da loja que é, por mero acaso, a representante da marca TIFFOSI: A FOKUS FASHION STORE, Loja 1, Edifício Central, LJ2, AV.ª José da Costa Mealha, 8100-501 Loulé. Neste anda que desanda e não anda mas acabou por desandar eram duas horas, trinta e cinco minutos e uns pozinhos de segundos da manhã quando abandonámos o palco desta trágico comédia e tirámos o azimute de Loulé, onde deixámos a avó Aurita, e seguidamente de Vale da Rosa onde finalmente os meus pais, o primo André e eu, é bem certo, tivemos o direito ao mais que merecido descanso. Domingo. Abençoado domingo. Todos dormimos até tarde, até eu a madrugadora nata, cedi aos encantos de Morfeu. Entre isto e aquilo foi fogo em pasto seco enquanto a manhã ardeu, foi um vento que a soprou forte para longe… O meu pai foi ao Modelo às compras, sempre as compras, começo a achar que isto é uma vida de compras. Teremos que comprar tudo? Acho que sim!... Na volta engajou a avó Aurita, para ajudar a fazer umas cavalinhas limadas; o pai adora peixinho limado, da sardinha ao carapau, passando pela boga e até a cavala, nada lhe escapa neste apetite sui generis. Para além das cavalinhas, feitas primorosamente pela avozinha, ainda a minha mãe fez umas sardinhas albardadas. Muitos eram os comensais e os últimos acabavam de chegar: A tia Rosário e a prima Sofia, e foi aqui que começou toda a história que atrás vos disse que ouvi contar ou falar acerca de… Após o almoço, houve tempo para a brincadeira e ver uns bonequinhos, antes de me arranjar ou pôr bonita para ir ver o recital onde a prima actuou, e que por isso foi logo de rota batida para Loulé assim que terminou de almoçar, e que teve lugar no Cineteatro Louletano e, onde participaram os alunos da escola onde ela está a estudar música a ENSINARTE, que fica na Rua Geraldino Brites, na Expansão Sul; o papá e a mamã, antes de eu nascer, faz muitos anos, já lá moraram e a escolinha fica mesmo ao lado do prédio onde eles viveram. Logo que a prima actuou foi um ai até o Morfeu me embalar de novo em seus longos, fortes e doces braços. Foi um sono curto mas retemperador, apenas durou até ao final do evento. Após a audição, tive direito a prémio. Um prémio de bom comportamento. Fui comer com a mamã; o meu pai não quis ir ao recital apanhar seca; palavras dele não minhas, um geladinho à Flor de Loulé. Porém, aí, entornei o caldo todo ou pior deixei o caldo azedar e como, pois o meu comportamento tornou-se inaceitável e voltei a ter direito a prémio. Desta vez, o prémio, veio sob uma forma mais amarga, sob a forma de castigo: Interdição dos bonecos para o resto do dia. E, o cura castigos, foi o cair no sono; dormir para esquecer. Sem mais. A marafada da pena. tÓ mAnÉ (in Laura Solange dixit) - 2013.07.(13,14)

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