segunda-feira, 24 de março de 2014

Crónicas FDS da Laura - Registo XX

Se pensam que fiquei miserável da minha vidinha por não me terem levado convosco, tirem o cavalinho da chuva. E bem que podem estar roidinhos de remorsos que eu não dou meio tostão furado por isso. A resposta ao vosso dilema é: Não! Não me importei nada, pevide, que me tivessem abandonado em casa com a avó Ilda. Fiquem desde já avisados que até gostei!... Bem-feita! Lá-la-rá-lá,… brrrrr… (mostro-vos a língua só porque é feio, tal como vocês dizem…). Afinal porque carga de água haveria eu de querer ir a Quarteira? O que iria eu fazer ao dentista; à da Dra. Patsy Del Gatto, se os meus dentinhos estão impecáveis, não me dizem?... Querem mesmo que eu vá apanhar uma valente seca e passar o tempo todo a ouvir: Está quieta Laura, porta-te bem Laura Solange e recriminações quejandas, enquanto a minha mãe está escarrapachada, de boca aberta, fazendo higiene oral, mudando bráquetes ortodônticos, colocando arames e elásticos ou então, por opção (im)própria, ir com o meu pai beber um cafezinho de água, enquanto ele bebe um café verdadeiro, ao Snack Bar Kapa Negra e ficar ali especada a vê-lo escrever no bloco preto de bolso umas “diarreias mentais”, enquanto o tempo, que desta vez teimaria em não passar, desse tempo ao regresso da minha mãe, para que depois fosse-mos ao mercado comprar umas sardinhas, pois estamos no tempo delas, para assar – eu até não sou fã de sardinhas assadas – para logo depois rumarmos à Dona Ana shop, para comprarmos tomates cor-de-rosa e similares? Não, não estava nessa decididamente. Quando eles chegaram, e digo eles pois estou de mau feitio, com eles, cada um no seu veículo, ela no Nissan Patrol GR e ele no Peugeot 308 SW, pois assim, também, o foram, já eu tinha almoçado. Ahah, safei-me das sardinhas assadas! Mas confesso que foi por um triz. Ao vê-los chegar, um a um, fui adoçando o meu mau feitio de acordo com os regressos. Primeiro chegou a minha mãe que trouxe a avó Aurita a reboque, tal como um brinde. Veio almoçar connosco – os meus pais fazem o que podem para lhe quebrar e aliviar a monotonia da solidão, inerente a quem vive só, que a assola desde que o avô Monteiro foi murar para a estrelinha. Pouco depois foi a vez do meu paizinho chegar. Todavia a visita foi de médico. Foi chegar e abalar, quase acto contínuo, não fora a mudança de roupa relâmpago que efectuou e ala que se faz tarde. Facto que me deixou curiosa por tão despropositado, (in)corrente, incomum e quase nunca visto. Assim, e para matar esta danada da curiosidade que não é fatal apenas para o gato, a gazela, etc… recorri aos doutos saberes da mãezinha, indagando: Onde vai o papá? Ao que a minha mãe, fazendo um gesto de livre assentimento, respondeu: Vai almoçar com os amigos da tertúlia de sexta-feira e o Sr. Dr. Mendes Bota, ilustre deputado da Assembleia da República e ao serviço da nação, que é um amigo do papá da política e desde sempre. Vão falar de política pela certa. Não perdes nada, deixa lá!... A minha tarde foi um pouco para o poucochinho. Limitei-me a cirandar por casa e a ver, ocasionalmente, os meus bonecos – já repararam que evolui? Já não digo “menecos”. Pois é, cresci!... Enrolo, traz enrolo e, no meio de tanto enrolo, o dia foi escorrendo de um vaso para o outro na ampulheta, esgotando-se sem que nada de excepcional e notável fosse condigno de aqui assinalar que não a informação extemporânea de que a avó Aurita iria ser nossa hóspede por mais um dia, pois o dia treze espreitava e com ele as saudades, a solidão e o desespero da dor e lembrança, cavam-lhe a alma mais profundamente e com mais veemência; o avô Monteiro foi morar para a estrelinha no dia treze de Dezembro de 2011, partiu logo pela manhã sem dizer adeus a ninguém. Não foi culpa do avozinho, mas sim do raio de luz que o transportou. Até parece que estava cheio de pressa. Quando tenho saudades do avô vou até à vastidão do meu pátio, à noite, olho para a estrelinha onde ele mora e, na quietude e no silêncio parece que o ouço dizer que me adora. O avô Monteiro gosta muito de mim e, eu também, gosto muito dele. Perdida nestes pensamentos deixo que a hora de planar no mundo dos sonhos se entranhe de mansinho. Levito em torno de mim e de uma orbe ficcional até cair no mais profundo dos abismos siderais, o sono dos meus sonhos. Acordei estremunhada e ainda semi pairando entre os dois mundos e acreditem ou não o domingo entrava soalheiro e convidativo através das janelas do meu quarto. Reabri os olhos, encarei-o de frente, sorri e gritei: Bom dia domingo. Escarranchados na cela de domingo, houve que planear como iríamos domar o bicho. Acontece que as ideias sobre como domar tão ilustre animal eram quase nulas e a inspiração não estava a ajudar népia. Reduzidos ao nosso parco leque de ideias, tivemo-nos que nos contentar com uma mais que rotineira ida a Quarteira beatch. Esporámos o bicho e eis-nos, num ápice, puxando as rédeas ao animal e gritando ióooooo para que este parqueasse sem causar danos na cocheira privada do apartamento da avó Aurita mesmo junto à praia. Desmontámos. E, sem mais delongas rumámos ao apartamento, a avó Aurita estava deserta para ver o estado geral, bem como, os mais que prováveis danos causados pelo mano Pedro e os seus capangas. Porém, contrariando tudo e todos, tudo estava menos-mal, excepto uma ou outra mais abusada, em termos de arrumação e limpeza, o que era mais que espectável – a idade não perdoa e a do mano não é excepção!... Depois de recomendarmos veemente à avó que não se metesse em trabalhos de arrumação e limpezas. Nós, os três mosqueteiros, fomos abancar na praia de Loulé mesmo defronte à casa da avó. O vento levante teima em perdurar, nem sei como o pai não quis ir à pesca, até estou a estranhar, mas ainda bem. Adoro praia com o meu pai. É sempre uma aventura nova. A temperatura rondava os 40ºC e o mar não estava para afoitezas, parecia um urso bravo, bruto e enraivecido. Razão pela qual o meu banho se limitou pela babuja da rebentação das ondas, mas ainda assim foi óptimo. A água estava excelente; quentinha, quentinha, um verdadeiro caldinho. Que mais poderia eu querer se querer tudo é imoral. Na hora do calor infernal, no pino do sol, demos por terminada a estadia na praia e dirigimo-nos para o chuveiro, na parte exterior do prédio onde a avó o AP, numa de retirar o sal às carcaças e na pré preparação para o almoço no restaurante. Fomos todos em carreirinha, tipo formigas, a passo lentíssimo – a avó não pode andar nem muito, nem depressa - pela marginal fora até à Taberna do Peixe, local onde decorreu o repasto. Ao meu pai não lhe agradou de todo o almoço. Reclamou que se fartou com o dono do restaurante, até já metia miséria. Quando fica mal servido ou acha que fica o meu pai não facilita e diz-me sempre: Filha! Quando pagamos temos o direito e o dever de exigir, sempre que as coisas não estão do nosso agrado. Após o almoço e as reclamações a avó demonstrou vontade de ir conhecer o Sr. Lidl de Quarteira que numa primeira impressão julguei que era um fulano qualquer mas que ao cabo e ao resto não passava de um Continente pequenino, um supermercado de quase tudo. Visitado que foi o Sr. Lidl seguimos directamente para Vilamoura. Até parece que tirámos o dia para uma visita ao património da avó. Pois é, a avó é detentora de um AP nos Apartamentos Turísticos Mar-Bel Sol, um condomínio fechado que tem duas piscinas, uma para os grandes e outra para os pequenos – contrariamente à casa da Joana – e um apoio de churrasqueira mini. Para além disso, ainda tem um relvado fantástico, um jardim à volta e vários pinheiros mansos muito altos que fazem uma sombra maravilhosa, até apetece nos dias de calor abrasador. Feito o reconhecimento exterior passámos ao interior. Elevador. Botão do 3º piso. Afloramento ao piso. Chave à porta e, irritação das irritações, a chave não cumpriu a sua função primordial: Abrir a porta do apartamento. Mas que grande melão este. Face aos percalços tivemos que nos cingir ao perímetro exterior e à zona das piscinas que tinha os portões abertos. Não sei se por estar a decorrer a festa de aniversário de uma menina chamada Beatriz, a quem todos chamavam de Bea, se por efectivamente sempre o estar. A Bea é neta do Sr. Ribeiro e da Dona Rosa, casal “amigo” do meu pai e da avó. Foi graças ao Sr. Ribeiro, que gere o condomínio e é detentor de uma chave mestra, que amavelmente cedeu ao meu pai, que conheci o AP da avó. Um AP é um AP e o que eu queria mesmo era ir para a piscina e, assim foi. Concedi a mim própria, com o consentimento dos papás, uma tal sova de piscina que fiquei de rastos, de quatro, assim por dizer… Comemos e bebemos à pala ou à conta ou à “borlix”, do aniversário da Bea; nós e os outros todos que lá estavam e olhem que eram bem muitos. Findo o lanche, fui de imediato tomar uma “chuveirada” de água quentinha ali mesmo ao lado nos balneários das piscinas. Vesti uns trapitos e rumámos ao Sítio de Vale da Rosa, home sweet home. Foi algures entre Vilamoura e casa, mais próximo de Vilamoura que de casa, que o fenómeno do “apagão” teve lugar. Tudo se turvou e para dizer a verdade só voltou a clarear na manhã seguinte; foi dormir a sono solto, pudera estava estafadíssima: Praia e piscina, imaginem… tÓ mAnÉ (in Laura Solange dixit) - 2013.07.(07,08)

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