
Ovo de sol - desabrochar; sombra, que mão tu me trazes? Presa a essa luz que me fascina, perdição do meu olhar sobre um pouco de tudo, disfarçado na ignorância do pós-além, sem que, realmente, de nada veja!... Oh! Silhueta de mundo, desvenda os teus mistérios, pousa-os na palma da minha mão, perdi-me quando sobre ti derramei o meu olhar, que nublado me quitou da realidade, transferindo-me para a essência diáfana da tua perda neste romper de emoções que de mim e em mim explodiu... tÓ mAnÉ
segunda-feira, 24 de março de 2014
Apupos
Rolam, lentos, os automóveis da comitiva,
Pretos, topo de gama.
Imobilizam-se!
Abrem-se e abrem portas.
Delas, imponentes, saem, primeiro:
Seguranças e motoristas
Para só depois, verificado o perímetro,
Os ilustres assomarem,
Ostentando seus cínicos sorrisos
Que banham seus fatos escuros
Ornados de gravatas berrantes;
Línguas que vomitam, mentiras
(inverdades muito agora na gíria)
Que os escuros fatos ocultam.
Cáusticos, brilhantes e negros, os sapatos,
Cospem promessas vazias, falsas,
A cada passo e passo a passo.
Imaculadas, as camisas, no seu preceito,
Cobrem-lhes as verdades, bem escondidas,
Atrás dos seus insidiosos peitos.
Tudo é farsa!
Contudo tudo emana respeito!
E, ainda assim, e a cada momento que passa
O povo, que espera, grita, assobia, pateia.
Aproximam-se!
A segurança aperta, contudo estreia o espaço
Alguém escarra no chão o desagrado,
Invocando, também, o vernáculo palavreado.
O alarido aumenta, num crescente contínuo incontido.
Temo pela miúda.
Pois este vómito, incessante, e peçonhento
Há muito ninguém tolera
Há muito ninguém aguenta.
Agarro-lhe a mão fortemente
Puxo-a com dificuldade da multidão tumultuosa
Que se comprime, que se agiganta
Na fúria, no asco e no temor.
Fúria das “inverdades”
Asco das imprecisões
Temor das indecisões.
Desta mole massiva, mutante, ululante e enfurecida
A menina, desesperadamente, procuro libertar
Puxo, estrebucho e esbracejo,
Mas não tem o como nem como,
Ergo-a aos ombros!
O alarido, agora ensurdecedor, cresce desmesuradamente.
Oiço um estampido seco e surdo, retumbando no ar
Seguido de um silêncio amargo e plúmbeo.
Para logo, nas minhas costas, a multidão, inquieta, ressoar,
De tal forma que, por momentos, céu e terra se fracturaram,
Num só medo, num só pavor, num só pânico.
E, o risco ténue, entre a paz e a guerra, dissipou-se num nada.
Nada este que confundiu Deus, Diabo e o Homem,
E, por um momento, Terra e Céu eclipsaram-se.
Dezassete de Agosto, dezassete horas, dezassete minutos, dezassete segundos,
Do ano da graça de dois mil e dezassete, o mundo fundiu, o mundo parou… Silenciou!...
Tão longe de mim, não fosse tão perto,
Um sussurro, ininterrupto, ouvi: Pai, pai… que barulhos foram estes?...
Foram apupos, foram apupos minha filha, respondi.
Silêncio… Acatou. Na sua inocência acreditou!
Inapropriadamente o bem julguei fazer.
Mas, de sus, ouvi, histérica de indignação, a voz surda do meu “eu”,
Troar na cabeça: Trajaste-te de fato, camisa, gravata e sapatos?!...
Envergonhado, encarei a gaiata, forcei o destino e,
De olhos pregados no chão, baixinho, muito baixinho
Deixei que a verdade soprasse de mim, dura contudo livre…
É a guerra, é a guerra… minha querida filha é a guerra que vem aí.
Pai! Porque mentiste?...
Silêncio, novamente o silêncio,
(tão pesado quanto o remorso da falta)
Entre nós e o mundo em convulsão,
Só nós e o silêncio, residiram.
Porque te amo filha minha, porque te amo!...
Não voltará a acontecer.
tÓ mAnÉ Style
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