segunda-feira, 24 de março de 2014

A imponderação do inconsequente

Será que um inconsequente pondera os seus actos e decisões? Será?... Será que pondera as consequências, o impacto e o impacte, na vida alheia, das suas irreflexões? Será?... Será que lhe é indiferente a sujeição a que obriga quando imponderadamente decide por si só? Será?... Será a arrogância da ignorância? Será?... Assusta-me pensar na imponderação! Aterroriza-me a impiedade dos inconsequentes! A simples possibilidade de reflectir, sem leviandade, na imponderação e nos inconsequentes arrepia-me! Arrepia-me até aos ossos! Sobretudo, por bem saber, que a imponderação dos inconsequentes é analisada até à ultima das consequências – ponderam inclusive o imponderável – pois a inconsequência dos inconsequentes é medida, cuidadosamente, para evitar a não afectação da mesma aos actos praticados e às decisões tomadas pelo actor material da imponderação ponderada à exaustão. Assim, o inconsequente de si vincula as inconsequências a outrem, marginalizando-se das imponderações perpetradas. Existindo, portanto, numa vivência longínqua da efectivação da acção. Distanciando-se, prudentemente, da realidade substantiva da consequência. Viaja na proporção inversa da razão causa efeito. Volatiliza-se, sublima-se, imaterializa-se, ao momento, conforme as necessidades factuais produzidas pelo efeito causado. Neste mundo de imprevisibilidades capacitaram-se e dotaram-se de meios de inversão e subversão do acto, da decisão, da atitude e até da palavra, remetendo-os ao âmbito da imprecisão ou arremetendo-a em ombros alheios. Não carregam substância, nem detêm substrato. Caminham leves e desenraizados. Esgueiram-se! Navegando entre uma indefinição perpétua do verbo e o consequente imponderável. Para eles a culpa é sempre abstracta e nunca adjectiva – foi uma questão de semântica, foi uma questão de leitura, o objecto do verbo foi descontextualizado, subvertido, pelo que irremediavelmente perdido no contexto da sua inserção,… Na verdade quem se atreveria a pensar o que é impensável?... Ou ponderar no que é imponderável?... Ou ainda questionar o que é inquestionável?... Ou mais dizer o que é inefável?... No mínimo seria apodado de atrevido ou audaz e no limite ascenderia até ao limiar superior da loucura. Contudo, a resposta é assaz simples: O inconsequente! E porquê? Porque, o inconsequente, por impoluto e avisado, por inimputável e impunível e pelo uso exímio das qualidades suso referidas, que, para os mais desatentos, volto aqui a dar realce, por as querer inesquecíveis: Volatilidade, sublimidade e imaterialidade. Afinal quem se atreve a punir um louco em seu perfeito estado de saúde mental?!... A medicina não atesta e a justiça não ousa!... E, desta forma ligeira, entre as gotas da chuva, no meio duma saraivada, o inconsequente, passa incólume, enquanto as consciências desarmadas de tão portentosas ferramentas, ficam encharcadas até aos ossos, vitimadas pelo objecto, pela matriz, pelo vector da imponderação pérfida e sórdida dos inconsequentes. Todavia, louco é aquele que no seu perfeito juízo dá aval e crédito a tamanho prejuízo. Aquele que lega e delega, por sufrágio universal, semelhante responsabilidade à criatura boçal; imponderação consequente por quase todos vista enquanto um processo ou uma causa natural: A democratização do poder desmedido da besta colossal. tÓ mAnÉ Editions

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