Quando eu morrer
Quero ser cremado
Quero que fechem
a igreja ou na capela
Não quero velório
Não quero lá
ninguém
Não quero missa
solene nem qualquer outra cerimónia
Quero estar só
comigo e com Deus
Não quero nem
choros nem lamúrias
Quero, antes, arroubes
de felicidade e fantasias
Afinal fui desta
para a melhor.
Só, quero chorar e
confessar os meus pecados a Deus
Pedir-lhe
desculpa pelas minhas incertezas e ausências
Políticos,
indesejáveis e todos aqueles que desprezo por execráveis
E, também,
aqueles que abomino por natureza
Expulsem-nos das minhas
exéquias; jurem!
Aliás, não quero
ninguém, no passeio de ida e volta ao forno crematório
Só irei como só
voltarei
(no caixão irá o
meu invólucro, no pote de cinzas virão as minhas cinzas)
(a minha alma, o
meu ser, ficará a velar por vós, pois por mais não tenho quem)
Quero que
espalhem as minhas cinzas pelos locais que irei referenciar
Quero que sejas
tu Maria
Tu e os meus
filhos
Assim te informo
e assim o desejo.
E, tal como o
poeta Mário de Sá Carneiro escreveu no seu poema intitulado “Fim”
“A um morto nada se recusa”
Depois quero que
espalhem as minhas cinzas por quatro locais; No mar, junto à ponta do molho de
bombordo, na Ilha de Tavira, por causa da pesca e por causa dos tempos felizes
que lá passei; nas serranias dos Revezes, local de preferência das minhas
caçadas; e no rio Mondego, junto à ponte velha, local onde, quando em desespero
e só, chorava lágrimas que caíam ao rio... e me lavavam a alma; no Sítio do
Vale da Telha em Aljezur; junto ao local onde irão jazer as cinzas do meu pai e
da minha mãe, pois lá eles foram felizes e eu com eles também.
Nada de mim
deixem nesta terra pois, excluindo-os a vós, ela nada me deu.
tÓ mAnÉ Style&Editions
Sem comentários:
Enviar um comentário