sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Testamento

Quando eu morrer
Quero ser cremado
Quero que fechem a igreja ou na capela
Não quero velório
Não quero lá ninguém
Não quero missa solene nem qualquer outra cerimónia
Quero estar só comigo e com Deus
Não quero nem choros nem lamúrias
Quero, antes, arroubes de felicidade e fantasias
Afinal fui desta para a melhor.
Só, quero chorar e confessar os meus pecados a Deus
Pedir-lhe desculpa pelas minhas incertezas e ausências
Políticos, indesejáveis e todos aqueles que desprezo por execráveis
E, também, aqueles que abomino por natureza 
Expulsem-nos das minhas exéquias; jurem!
Aliás, não quero ninguém, no passeio de ida e volta ao forno crematório
Só irei como só voltarei
(no caixão irá o meu invólucro, no pote de cinzas virão as minhas cinzas)
(a minha alma, o meu ser, ficará a velar por vós, pois por mais não tenho quem)
Quero que espalhem as minhas cinzas pelos locais que irei referenciar
Quero que sejas tu Maria
Tu e os meus filhos
Assim te informo e assim o desejo.

E, tal como o poeta Mário de Sá Carneiro escreveu no seu poema intitulado “Fim”
A um morto nada se recusa

Depois quero que espalhem as minhas cinzas por quatro locais; No mar, junto à ponta do molho de bombordo, na Ilha de Tavira, por causa da pesca e por causa dos tempos felizes que lá passei; nas serranias dos Revezes, local de preferência das minhas caçadas; e no rio Mondego, junto à ponte velha, local onde, quando em desespero e só, chorava lágrimas que caíam ao rio... e me lavavam a alma; no Sítio do Vale da Telha em Aljezur; junto ao local onde irão jazer as cinzas do meu pai e da minha mãe, pois lá eles foram felizes e eu com eles também.
Nada de mim deixem nesta terra pois, excluindo-os a vós, ela nada me deu.

tÓ mAnÉ   Style&Editions


Sem comentários:

Enviar um comentário