Esse teu amor ao
amor por ti que, mais não se resume, que a uma sacra mas parca esmola, dada sem
convicção ou gosto mas por obrigação, imposição quase religiosa ou legal, como
se de um indigente de mão estendida suplicasse piedosamente uma migalha, uma
vitualha e, retirasses, sub-repticiamente, uma gratificação perfumada da bolsa
que é tua, para imolares os pecados e, a nojo, com essa tua luva branca, pousasses
na suja mão do mendicante. E, sorrateiramente, antes que alguma alma de Deus, do
Diabo ou de outro purgatório semi-divino ou semi-infernal o detectasse, e de
sus partisses, guardando, contudo, um olhar para trás, na vã ambição do
reconhecimento, ou quiçá, de veres prostrada em seus olhos pedintes uma chispa de
agradecimento brilhar.
Presunção essa
tua! Apenas logras vislumbrar a catedral de lés a lés. Todavia, o mundo, esse
que olhas como se de ti fosse ou pertencesse, como se o tivesses parido por
inteiro; um filho teu e Deles, que não te pertence, nem nunca virá a
pertencer-te, por falta de humildade, bonomia e prenhe de sobranceria o relegas
à ablepsia de uma alma ínfima de atributos sensoriais.
Arrogas-te de
toda a virtude, que nos outros, para ti, de vulgo pecado não passa, assim o
fosse e serias a rainha de Sabá ou mesmo Cleópatra, que viveram da virtude dos
seus pecados, expiados nas fontes do templo de Salomão e em leite de burra,
respectivamente.
Ergue, altiva,
uma razão obsoleta e desprovida dela, a razão, como se, dela, dona o fosses,
avança, firme, segura e convicta pelo adro fronteiriço à catedral. Olha em
frente, penetra nas ruas que para ti são vida palpitante, fruto de prazer e
abundância de bens e certezas, sem que te lembres que, para outros, muitos
outros e não apenas alguns, a amargura nelas contida nasce como inexoravelmente
dia a dia de cada dia nasce.
E, passo a passo,
troando nas calçadas o baque dos teus saltos, persuadida que o mundo só a ti
pertence, vais pensando: Todos estão errados. E tu, sim tu! De salto alto,
altaneira, Senhora de ti e do mundo, e que a ti chamas e clamas toda a virtude;
a virtude das virtudes – a mais alva delas -, a cada passo que te troca o passo,
pisa-te o rosto, tal e qual, tu pisas a teu bel-prazer as pedras deste xadrez
chamado vida.
tÓ mAnÉ Editions
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