quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Vinte cêntimos


Aguarda expectante
Na bicicleta sentado
Que termine a conversa
Entre deus e o diabo.
Impaciente do vício
Estende a mão mendicante
Suplicando por uma moeda
Dois pares de olhos viram-se!
Acutilantes observam
Um mais duro e soberbo
Dá as costas na resposta
Outro mais contrito
Deita a mão canhota ao bolso
Retira seis moedas
Dentre elas, uma escolhe  
Vinte cêntimos.
É para o vinho logo pensa
Esta alma caridosa
Mas… vinte cêntimos para a droga?...
Vinte cêntimos são tão pouco
Não chega nem para o pó nem para a nódoa
Não dá risco, não dá gole
Na narina, no pelo, presa não fica
Na camisa não se nota
Tão pouco para, inconsciente, de borco cair.
Avaro, ruge o cérebro, altaneiro
E, a mão, independente, volta ao bolso
Nela brilha mais um níquel
E, na face do pedinte, um sorriso escaninho
É um euro ou cem cêntimos
Que tilintam junto aos vinte
Já compõe o ramalhete.
Agradece e, pausadamente, retirasse
Buscando mais uma alma caridosa
Pedalando com o seu pé coxo.
Seguindo o titubeante trajecto
Logo o piedoso pensa:
Ora aqui… ora ali… o pecúlio vai crescendo.
Vinte cêntimos…
Até para a água é pouco.   
Compadecido sorri e sorrindo faz o seu caminho.

tÓ mAnÉ   Style

Sem comentários:

Enviar um comentário