segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Crónicas FDS da Laura - Registo XIV


Olá rabinos e rabinas! Portaram-se mal este fim-de-semana?... Quero eu dizer mal à maneira dos papás, sob o seu ponto de vista irreal das coisas, mas bem ao nosso entendimento das realidades mundanas. Sim, uáuuuuu… Fixe pestinhas! Eu também fiz a minha parte, ahahahahah… Boa!
Ora vamos lá às minhas viagens versos aventuras de FDS que começaram mais ou menos como os outros com a cambiante que, desta vez, fiquei ostracizada em casa com a minha avó Ilda enquanto os meus pais foram laurear a pevide ou badalar o queijo, conforme o caso e o sexo, para a “vila”; a mamã estava carregada de pressa, tal e qual uma burra carregada tem de chegar a casa para descarregar a carga, e como quase sempre, também, era tarde. Face a estas continências eu é que acabei por pagar a factura, ora bolas!... Mas se eles pensaram que fiquei aborrecida, enganaram-se redondamente. Ficar em casa com a avozinha é farrobodó à tripa-forra, vai ser tudo à farta, só vou fazer o que me der na veneta, pois a avó não tem voto na matéria. Aqui no meu reino quem reina sou eu, isto quando não estão aí os meus pais, óbvio, não?...
Arre que já não era sem tempo. Finalmente os passeantes chegaram, apanharam-se de perna solta e aproveitaram.
Farta, até ao miolo, de fazer o que me apetecia, e com as saudades já a apertar, fiquei mais contente que uma pega sem rabo, quando eles, os papás, chegaram. O meu pequeno mundo estava de novo refeito.
Roídinha de morte pela curiosidade – a curiosidade é que apanha o gato – e depois dos abracinhos e beijinhos de convenção, logo desatei a “estramela” e as perguntas choveram a cântaros rolando em catadupa pela cascata que era a minha boca escancarada pela infame bisbilhotice.
- Onde foram?...
- O que fizeram?...
- Compraram o quê?...
E, por aí fora, num sem número, que mais parecia um interrogatório da Policia Judiciária. Todavia as respostas eram parcas e rolavam a conta-gotas, gota após gota muito pausadamente para o afogueamento da minha curiosidade, plim, plim, plim,… uma gota aqui, enquanto o pai colocava o sal no peixe, e mais umas perguntas: Que peixe é esse pai?... Onde o apanhas-te?...
- Filha o pai não foi à pesca, comprou no mercado e chama-se peixe-espada. Olha! Vês, tem a forma de uma espada e é reluzente como ela.
- Pois é pai! A espada de um rei ou de um príncipe?...
Mais uma gota acolá, enquanto a mãe abria umas caixinhas e tirava de lá umas maquinetas estranhas e totalmente desconhecidas, pelo menos, para minha pessoa.
- O que é isso mãe?...
- São electrodomésticos que a mãe precisava.
- Onde compraste mãe, onde compraste?...
- Comprei na Worten, enquanto o teu pai foi ao Modelo e não me azucrinava a cabeça, aproveitando a oportunidade de uma campanha de tudo a um euro por mês. Assim, como podes ver comprei: Este ferro de passar a ferro, para substituir o outro que está velhinho e necessita de reparação, este aspirador portátil, os nossos carros por dentro estão um nojo e o teu pai não quer saber disso para nada, aliás até tem ódio a quem queira, assim não vai ter mais desculpas esfarrapadas, e esta aqui é uma panela especial, permite fazer comida quase sem gordura, chamada de Actifry, para obviar ao colesterol do teu pai que anda sempre a trezentos à hora e, ele, é um guloso de primeira, não por doces, mas por coisas que não deve.
Descobri ainda que as aventuras extravasaram o mercado, o Modelo e a Worten, pois não contentes com, ainda foram à da Dona Ana. Não é que eu não tivesse desconfiado mas saber, bem saber não sabia. Porém, o local da ingestão do café, esse ficou no segredo dos Deuses, aí o mistério prevaleceu.
 E assim a informação foi chegando num gota a gota irritante mas precioso, pois a minha quadrilhice foi ficando saciada e até mesmo satisfeita.
Enquanto a mãe arrumou a tralha que compraram o pai tratou do peixe e pô-lo a assar e a avó Aurita, sim eles trouxeram a avó Aurita para o almoço, tratou da salada de tomate cor-de-rosa, das batatinhas com pele e do pão, a minha avó corta o pão em fatias muito fininhas, gosto tanto delas assim, o pão fica com um sabor diferente.
Também neste gota a gota o almoço foi ultimado, pela primeira vez comi, e gostei muito, peixe-espada grelhado, uma experiência nova e enriquecedora para o meu palato e o meu saber.   
Depois de almoço cada qual foi governar vida à sua maneira: Eu fui para o sofá ver os meus bonecos, a minha avó e a mãe foram tratar da tacharia e o meu pai, para além de ir dar os restos de comida ao Syd, que é um comilão, foi preparar as ferramentas para depois ir tratar do que restava do mato bravio que ainda invadia o caminho de acesso à nossa querida casinha.
Quando voltou de tão agreste tarefa, vim a saber que teve a preciosa ajuda do Eduardinho, que tem uma moradia mais acima, no caminho principal, e que é pai da Pipinha. Lembram-se dela? Aquela menina simpática que me ajudou a nadar na piscina no aniversário da Joana, pois é ela! Não a vejo desde aí. É assim a vida!...   
Após arrumarem a cozinha a avó e a mãe vieram para a sala descansar um pouquito e, por consequência, foram obrigadas a ver os meus bonecos (vou poupar-vos aos meus bonecos e etc e tal que vocês estão carecas de saber do que gasta a casa e relatar apenas alguns episódios mais relevantes) pois eu estava de feitiozinho.
Às tantas para as quantas durante a tarde a brigada do reumático constituída pela avó Ilda e a tia Vitalina fizeram o seu show up e a conversa – blá, blá, blá,… - de adultos começou, tendo como intervenientes principais as avós e a tia. Como o interesse, para mim, era pouco, desliguei, dei uma de off, assim como a mãe que sorrateiramente se refugiou no escritório a trabalhar na malfadada da tese de mestrado. Arre que não se vê o fundo ao poço.
No final restou: Conversa e quadrilhice de velhas e as minhas brincadeiras, ambas tendo como painel de fundo a policromia da televisão e a paisagem alcançada para além dos vidros das janelas.   
No final da tarde, tal como chegaram “em bando”, assim se deu a revoada ou a debandada da avó Ilda e da tia Vitalina. Mais pareciam um bando de estorninhos: Assim que uma revoa a outra segue-lhe de imediato as asas. Coisa inédita e nunca vista. Mas, falava eu do final da tarde, quando me perdi nesta divagação aérea, esquecendo o essencial, o mote da menção e que é o seguinte: A minha mãe convidou-me, porque sabe que eu gosto, para a acompanhar no mais que badalado enchimento de garrafões de cinco litros, como também para o subsequente trabalho de alimentar a bicharada, coisa que já é do vosso conhecimento e com a qual não vos vou maçar com pormenores. Há, no entanto, aqui que gerar uma pequena ressalva para correcção de imprecisões e de hiatos temporais, em prol da verdade suprema, e que é esta: No seu segundo ataque roça mato ao caminho – o primeiro teve lugar no fim-de-semana anterior - o meu pai, após tratar das ferramentas não perpetrou de imediato o ataque ao roça mato como atrás pode ter sido dado a atender ou ficado implícito. Não! Primeiro, nas suas calmas nervosas, deu um pulinho a Loulé, adivinhem para quê? Claro, acertaram! Cafezinho, cafezinho e a sua querida leitura, estes sim não podiam esperar, quanto ao mato, isso está quieto ó mau… Agora já mudou de amante. Anda às voltas com um livreco de fraca figura, magrinho, fininho que não tem nada a ver com os calhamaços com que costuma andar acompanhado, tão pouco com os temas que aborda. Este chama-se A Imperfeição do Amor e é da autoria de um alentejano de Beja – a minha avó Aurita também é uma alentejana de Beja, será por isso?... – o Joaquim Mestre.
Tratada que foi a bicharada recolhemos a casa. E, assim, iniciámos, no que restava da tarde, um processo de déjà vu em replay do dia a dia, do quotidiano lá de casa: Os cães, os banhos, o jantar e como não poderia deixar de ser, excepto quando estou a pensar na vida, os meus bonecos seguidos da estória e pestaninha para que te quero.
Apenas uma nota de rodapé para vos contar que a avó Aurita dormiu em nossa casa. Vai passar o fim-de-semana connosco por certo.
Eis-nos em pleno domingo que acordou, para o lado do meu paizinho, mal disposto e sombrio. Porquê? Porque ele está cheio de febre e muito doentinho. Só quer chá e comprimidos para as dores, não sei onde são as ditas, e, para além disso não se quer levantar, o que não faz nada o seu estilo, apesar de gostar de ficar até tarde na cama, o que é sinal efectivo que a coisa está brava. Imaginem que nem sequer me quer ao pé dele, diz que é para não me passar gérmenes. Ele não quer que eu fique doente mas eu queria tanto ir dar-lhe um beijinho para o animar, está mesmo muito murchinho, por isso não o vou aborrecer muito com as minhas peripécias.
A manhã foi como todas as outras manhãs, a única cambiante foi o aparecimento do primo André para almoçar, de vez em quando dá-lhe na veneta e aparece sem dar cavaco a ninguém, qual será o dia que terá que comer os dentes à falta de melhor.
O almoço ficou a cargo da avó Aurita que confeccionou um belo de um arroz de cabidela de galinha caseira, das nossas, aquelas que vos falei que ajudava a tratar, e que o meu pai e a avó Ilda matam (o meu pai nunca me deixou assistir à matança do bicharoco. Porém prometeu-me que era para o ano, eu queria muito ver, pois sei que a galinha não vem do supermercado ou do talho mas sim das capoeiras e que, para além disso, é um bicho vivo que tem que ser morto antes que nós a possamos trincar) e que estava guardada na arca congeladora aguardando a sua oportunidade.                  
Depois do almoço as coisas não mudaram muito. O meu pai na cama, a minha mãe a trabalhar na tese de mestrado, a avó Aurita a ver os bonecos dela, o primo André e eu estivemos a brincar com o computador dele pois o nosso estava nas grifas da mãe.
A meio da tarde chegaram as duas da vida airada ou poderei dizer da revoada: A avó Ilda e a tia Vitalina, vieram carregadas de ovos – as galinhas põem ovos – as galinhas e as outras aves e alguns répteis também - lembrem-se para depois não dizerem que não vos contei – e logo a minha mãe, que estava desertinha por uma pausa, aproveitou o ensejo para fazer um bolo para o lanche.
Às tantas, lá para o final da tarde, o primo André pediu à mãe para o ir levar a Loulé – assim vem assim se vai, é o estilo dele! – ao que a mãe respondeu: O teu tio está doente e eu tenho que tratar dos cães, porque não vás a pé? É um instantinho homem! A pé?... Retrucou o primo muito escandalizado e meio mortificado só de pensar na ideia. Sim, a pé, qual é o problema, ainda é dia alto, reforçou a mãe a ideia. E, foi aqui que eu resolvi intervir e disse: Mãe o primo André é um malandro, um preguiçoso não quer andar a pé, só quer andar de carro. E, com esta saída, o André meteu a viola no saco ou o mesmo será dizer o computador na mala e telefonou ao pai a gritar: Aqui d’el rei quem me acode.
O laró continuou, o meu pai não se levantou, a mãe dos cães tratou e a avó Aurita a dormir cá ficou.
Como prometi não vou maçar mais o meu paizinho que há muito já não tem ouvidos para mim e mal consegue abrir os olhos.
Tchau cambada! Beijinhos dos meus.
  
 tÓ mAnÉ   (in Laura Solange dixit) - 2013.05.(25,26)

Sem comentários:

Enviar um comentário