quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Nylon



Nylon
De nylon preto
Eram as meias, luzentes,
De rebosilho, negro,
Enfatizando a linha harmoniosa 
Das longas, esbeltas e torneadas pernas
Envoltas neste ténue véu de mistério sombrio
Que a cada movimento ondulante
Escravo, da seda, escarlate, do vestido
Bafejando quentes e insondáveis segredos
Na superfície, macia, da pele lisa e morna
Que o envolve, que o acaricia.
Assediando-a!
Arrepiando-a!
Arremessando-a!
De promessas, de prazeres incontáveis
A cada passo que na noite fria, troa
Ecoando na calçada portuguesa da rua
Elevasse numa leve brisa que, ofegante, sopra
Pela rua, despida, solitária, nua de gente.
Vai só, segura de si, não vacila, segue em frente
Segue onde e ao que vai
Sem ligar ao que prossegue
Olhos postos no caminho
Esquece o roçagar, entre as pernas, do nylon
E, a cada passo, sente
Húmida de expectativa a vontade de chegar
Vontade que o corpo trespassa,
E, a cada número, que para trás deixa
Apressa e troca, titubeante, o passo.
Vinte e seis, gritam-lhe os olhos
Estaca. Gira em torno do eixo da volúpia.
Uma a uma, lentamente,
O nylon da meia estica
Ajeita a jaqueta, preta,
Verifica, mentalmente a compostura
Tudo está perfeito.
Avança.
(décimo oitavo frente)
Prime o botão mágico, suavemente
Não há resposta…
Inquietasse!
Sustem o fôlego, num compasso de espera
Prime de novo, agora, mais veemente
Aguarda, impaciente…
Clack! Estala, seco,
O trinque da fechadura da porta. 


tÓ mAnÉ   Style

Sem comentários:

Enviar um comentário