Inicio a minha crónica, algo peculiarmente, alertando-vos para o seguinte: Este fim-de-semana tem duas singularidades que o tornaram um nadinha mais acidentado e apimentado, ambas no seu sentido mais lato, que registos anteriores. A primeira, e a mais significativa e não tendo nada contra a segunda, prende-se com a chegada, do meu tio padrinho Miguel e da minha tia Bleca, este sábado, lá de Lisboa ou melhor Oeiras, de trouxa a reboque, incluindo o barco, será que é desta que vou dar uma voltinha no barco do meu padrinho?..., à Ilha de Tavira. Todos os anos, nas últimas três semanas de Junho eles arrendam uma casa, sempre a mesma, mesmo na Ilha de Tavira, ficam ilhados percebem? Para umas férias paradisíacas, onde, a pesca, a praia - quando o tempo deixa – o deleite gastronómico e o relax, estão na ordem do dia e da noite. A segunda vem dependurada ao factor tempo. Três são os dias de registo: O sábado, o domingo e a segunda-feira ferido nacional - 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, outrora o Dia de Camões, de Portugal e da Raça, epílogo este, como diz o paizinho, do antigamente, antes da Revolução dos Cravos Vermelhos ocorrida dia 25 de Abril de 1974.
Bem, feito que
está o intróito, vamos ao que interessa.
A manhã de sábado
foi um pouco mais do mesmo, ou seja, como todos os outros sábados, não fora
umas coisitas que tenho para vos bisbilhotar e que fui ouvindo por aqui e por
ali – sou muito atenta ao mundo que me rodeia, sabem?... – e nada de
interessante vos teria para relatar.
Assim, fiquei
sabendo que: Um: Vou ficar em casa com a avó Ilda e a tia Vitalina,
alternadamente, consoante o vagar – disponibilidade – das donzelas, uma vez que
o pai e a mãe têm que ir a Tunes a um tal Professor Dr. Tarass Koval (um
endireita ucraniano) para tratar do “desmontalo” das costas do papá – desde
ontem que andava à rasquinha. E, ainda que, quando voltaram, sabe Deus as
voltas que não deram e as que deram, também, já eram mais que horas da sineta ter
tocado a rancho. Como também, que o meu pai vinha “que não podia” de
“trilhadinho”. Até dava dó, acreditem. Quase não almoçou, o que não faz em nada
o seu feitio, e logo se atirou para cima do sofá, assim tipo “esborrachado”,
para de imediato desatar a dormir quem nem um lorpa, o que, também, não é de
seu génio. Dois: Fui de rota batida para a cama, acompanhada pela mamã, numa vã
tentativa de bater uma sorninha retemperadora das canseiras matinais. Ainda
passei pelas brasas, digasse de passagem! Porém, alguém decidiu, obstinadamente,
desatar a bater, contumazmente, na porta-janela do quarto, como se tivéssemos
que ir retirar alguém do cadafalso da força ou houvesse uma sangria desatada
pelo barranco abaixo ou sei lá o quê?... Por amor de Deus. Soneca ai és tão
linda mas, já te foste. A porta-janela, para evitar o seu derrube extemporâneo,
teve que ser franqueada a este “aqui me acudam” e, lá estavam plantadas, com
raízes e tudo, a avó Ilda e a tia Vitalina, plenas de novidades ou melhor
decisões, que cuspiram quase em uníssono, não fosse uma não atrapalhar a outra.
Cosidas as palavras, de uma e outra, para que a chilreada fizesse algum sentido,
aqui fica a manta de retalhos ou a serenata completa: A Cátia, a minha prima em
segunda mão, o Tomás, o marido da Cátia e por consequência o meu primo
emprestado em segunda mão e o Gustavo o filho de ambos (ele ainda é
“pichotinha”) e meu primo em terceira mão, queriam ver-me. Bolas mas logo agora
que eu estava cochichando é que lhes deu uma vontade destas sem qualquer
tempero. Ai a vida é dura.
Condescendendo e
pensando um pouco atrevo-me a fazer as afirmações seguintes: Sei que
regressaram da Ilha da Madeira, onde vivem e trabalham ou vice-versa o que é
muito diferente em termos comportamentais e de vivência do dia-a-dia, mas também
sei que, chegaram hoje e vão cá passar oito dias de férias. Mas onde é que está
a presa, meu Deus?... Oito dias. Oito longos dias. São mais que uma mão cheia
de dias e, por isso têm que ser contados com as duas mãos. Senão vejamos ou
melhor experimentemos: Um, dois,…, uma mão cheia, …, sete e oito, já entrando
na outra mão. Onde está então o afogadilho afinal?... Aiiiii, haja pachorra.
A Cátia é filha
do tio Orlando – o trinta cabelos, Barroá ou o Zeca Diabo (coisas desses
adultos pequeninos que se fartam de inventar nomes estranhos, que eu não
entendo a razão nem o porquê, pois sou pequenina grande. Eles apelidam-nas de
alcunhas. Acho que ainda vou ter que aprender o que isso é!…) – da tia Ondina e
também é irmã do Nelson, meu primo em segunda mão. Ai…, isto das famílias e dos
laços familiares é tão complicado, sabem?...
Vou-vos contar
uma coisa, um segredo. Shuiiiii… A sorte é que o meu pai não acordou, nem deu
por isso. Senão a cena ia dar em circo, ai ia, ia…
Saímos de
mansinho para não acordar a fera e bute para casa da avó Ilda onde os ilustres
nos aguardavam “estacionados”.
Os grandes, os
adultos conversaram e eu andei a laurear a pevide ou o queijo, assim vocês o
queiram, pois o Gustavo, como é muito pequenino, ainda não tem muita graça
brincar com ele, não belisca nem risca nesta história.
Quando
regressámos o papá já estava acordado ou semi-acordado, problema que resolvi em
duas palitadas, deixando-o mais que desperto: Alerta! Isto porque resolvi ou
melhor apeteceu-me, furiosamente, brincar com ele, para verificar se estava de
manhas e fitas ou realmente estava mesmo mal – às vezes ele é manhoso. E,
nestes propósitos nos mantivemos, enquanto a mãe foi tratar dos cães por falta
de vontade do papá; digo-vos que quando o meu pai não vai tratar dos cães é
porque a coisa vai mal ou a mamã lhe pede para fazer o jantar.
Animais tratados.
Mãe em casa e jantar por fazer. Houve que improvisar algo expedito para encher
as panças. Assim, recorrendo à Bimby, a mãe começou a fazer massa de pizza,
logo em subsequência: Pizza para o Jantar! Oléeeeee… Não que goste muito de
pizza mas, pelo menos, é diferente.
Devagar e
devagarinho. Foi assim que o pai se levantou do sofá, quando a mão gritou da
cozinha: Tó, queres fazer a cobertura das pizzas?
Nesta fase do
campeonato o meu pai convidou-me para o ajudar. Adoro ajudar o papá, quer na
cozinha quer noutras tarefas é sempre um mundo de cor e alegria - e só o que eu
não aprendo… - para além disso, hoje, ainda tive uma bela recompensa: Um bom
naco de salsicha, umas fatias de salame de peito de peru e meia lata de milho
cozido, hummmmm… uáuuuuu…
Trincado que foi
o jantar e, apesar de não ter comido grande coisa, pudera após tamanha
recompensa, a lengalenga do costume desencadeou-se. Porém, desta vez, foi o
cabo dos trabalhos para cair nos braços de Morfeu ou adormecer. Ele foi:
Historiazinhas, leitinho com “xicólate” – muito “xicólate”, que é assim que
gosto – e também foi a paciência da mãe que foi para o caneco. Valeu, então e
desta vez, o meu paizinho, que me aturou até o malfadado do “Pestana, aquele o
João. Não, não, não é aquele dos Hotéis” aparecer.
Aiiiii… domingo,
pois domingo…
Até que não
começou muito mal mas depressa o caldo se começou a entornar. Como assim? Pois,
ainda não tinham batido as nove no sino da Sé Catedral de Vale da Rosa e já o
telefone, o fixo, reparem que eu não disse o telelé, “ringava”. Era a avó
Aurita. Não se estava a sentir nada bem e queria que o meu pai fosse com ela ao
Centro de Saúde.
Como foi a mamã a
atender o tal de “fixo”, pois o meu papá estava, como de costume, na cama a
preguiçar, lá foi ela a correr, bzzzzzteeeee…, até ao quarto, acordar o
sornador.
- Tó, Tó,
levanta-te! Era a tua mãe, ao telefone, a dizer que precisa de ir ao Centro de
Saúde. Não está a sentir-se nada bem. Vá lá homem. Despacha-te! Pode ser coisa
séria.
Nem o ouvi
responder. Mas foi num ápice que se levantou, arranjou e “pequenalmoçou”, até
parecia que lhe tinham chegado uma acha acesa ao cu, para os menos versados em
assuntos de lenha, digo, em termos velocimétricos, que foi tudo a mil à hora e…
zummmmm Loulé, pois o alerta despoletado urgia no tempo.
O tempo foi
passando e passando e a minha preocupação aumentando. Tanto tempo e sem saber
de nada, não faz muito o meu estilo irrequieto e curioso. Ainda por cima
exilada em casa com a mamã, que passava roupa a ferro, furiosamente, sem me
ligar pevide que fosse. E, nesta inclemência de tempo, não houve bonecos que
conseguissem travar a minha inquietação, o meu desespero.
A hora de almoço
aproximava-se a passos largos quando o meu paizinho chegou com a avó Aurita a
reboque. Ufa foi um alívio, finalmente tive tempo para eliminar e expurgar a
minha inquietação. Estavam os dois ali e bem vivinhos, apesar da avó estar assim
para o lado do mal-encarado, porém ainda assim brindou-me com um amplo e terno
sorriso. Apesar de tudo, na sua cara abatida, estava estampada uma centelha
mística de alegria e contentamento por me ver. Fiquei tão contente! A avó é
mesmo supimpa!
A mamã, logo que
o pai e avó chegaram, arregaçou as mangas, puxou das ganas e disparou a fazer
uma canjinha com umas pernas, anémicas, de frango que o meu pai trouxe da
“vila”. Intui e bem que era o almoço para a avó – sou uma sabichona ou melhor
uma Eco-Sabichona apesar do eco aqui
ser descabido, pois nem no meu cérebro se deu qualquer reverberação que fosse
digna de assim ser denominada.
Após o almoço,
que nasceu tarde e a más horas, “as da vida airada” apareceram; estou a falar,
como é bom de adivinhar, da avó Ilda e da tia Vitalina, as duas “passaroas”,
que hoje ainda não tinham dado um arzinho da sua gracinha, resolveram arejar as
asinhas por estes lados.
Enquanto elas, as
gajas velhas, falavam, o meu pai, despejou-se inteirinho no sofá, a ler.
Enquanto isto, fui de rota batida, atrelada à minha mãe gritando pelos meus
bonecos, porém em vão, pois quer chiasse quer não a medida tinha que ser a
mesma, era ir e mais nada. E, neste confronto de vontades e gerações, lá nos
fomos, ambas, arranjando e despachado para uma ida ao Fórum Algarve, apalavrada
de véspera, para assistirmos a um cinema.
Terminado o make up a partida foi imediata, num
abrir e fechar de olhos diria, e aqui vamos nós rolando asfalto, primeiramente,
em direcção a Loulé, para “despejar” a avozinha, que já estava bem melhor
encarada, graças a Deus, e depois a Faro que por sinal fica na direcção de
Loulé – acho que Loulé fica em todas as direcções, pois o meu pai costuma dizer
Sotavento, Barlavento e Loulé, quando fala, empolgado, do seu querido Algarve –
e, entre Loulé e Faro está o cinema no Algarve Shopping.
Entrega feita e
zus… cinema lá vamos nós…
Estacionámos o
carro bonito no parque de estacionamento inferior, mesmo junto às escadas em
caracol (sinto um certo “cagufo” ou “meduço” em subir aquelas escadas de degraus
vazados e que tremem bué a cada passo). Quando rompi no patamar do rés-do-chão
dei de caras com um enorme, gigantesco, ingente insuflável e, logo todo o
cagaço, que as escadas possam ter provocado, se dissipou, tal e qual o vento
sopra uma nuvem negra que tapa o sol e deixa um dia radiante no seu lugar. Incrível!
Claro está, como água límpida da nascente, que, e não poderia deixar de ser de
forma alguma, e melhor ainda, ouro sobre azul, utilização à “fartazana” e à
“borlix”.
Eu quis, eu exigi
ir dar uma saltadela ou melhor dizendo uma escorregadela naquela pequena grande
maravilha. Azul, cor de laranja e amarelo o descomunal insuflável era todo
dentes para mim, amplo era o seu sorriso e o seu poder de atracção. Constituído
por uma escada de acesso à rampa da escorregadela e, estas, separadas por uma
parede de bordadura, elemento afecto à segurança dos utentes. Tudo em plástico
resistente e cheio de ar; deve ser por isso que lhe chamam de insuflável ou
aquele que se pode encher com ar ou outro gás, sabiam?... Também tinha paredes
laterais e o respectivo fundo, claro é, claro está?! Está?!...
A rampa e os
degraus vistos cá bem de baixinho eram assustadores, altos, mas atirei com os nervos
para o inferno e puxei da coragem e subi, a custo, mas subi, para depois
efectuar uma descida em modo de deslize a uma velocidade vertiginosa, foi
incrível, e foi incrível não uma vez mas duas vezes e mais se lhes seguiriam
caso tivesse tido a veleidade de me o permitirem. Simplesmente adorei!... E,
não tive medo nenhum, tal como seria espectável e patente no olhar de
desconfiança dos meus papás, daí toda a classe de incitamentos no sentido de me
encorajarem. Pois bem, não foram precisos!
Gerida que estava
a emoção mas não digerida e já estávamos a dar sebo nos cordões perfilando-os
na direcção do Jumbo onde fomos adquirir os bens primários de assistência à
sessão cinematográfica: Pipocas e águas.
A subida ao andar
superior onde o cinema se encontra alojado - ele vive lá, sabiam? E parece que
está sempre em casa – foi efectuada pelas escadas rolantes, destas eu gosto,
são uma curte! Já “esbardoirados” no piso 1, dirigimo-nos de imediato à
bilheteira para adquirir os ingressos ou bilhetes e, mais um momento de emoção,
mais uma surpresa, o filme que pretendíamos assistir, o Epic, era apenas e tão
somente exibido em 3D, o que levantou alguma celeuma, dividindo-se as opiniões
entre o ir ou não ir, não por causa do assalto ao pecúlio familiar, mas sim,
pelos benditos óculos que eu iria ter que usar.
Ao fim tudo se
compôs com um: Já que estamos aqui vamos experimentar pois daí não há-de advir
grande mal ao mundo, que o meu pai lançou para o ar e, lá vai a boa da Laura
Solange, e seus paizinhos, para a sua primeira experiência em filmes 3D;
abonando a verdade devo dizer que não correu tão lindamente como seria de
esperar ou não!?...
O Epic fala da
natureza, dos destruidores e dos protectores da mesma e, em certos momentos,
consegue ser bastante real e assustador e em 3D imaginem... o como senti o
rabinho apertadinho. Mas, aguentei firme até ao fim com algumas escaramuças
entre o quero ou não quero dar à sola daqui e o escoder da cara no peito,
aconchegadinho, da mamã.
Sabem, o filme
fez-me lembrar a minha estória no
“Livro Viajante” e de nós, os Eco-Sabichões.
People! Temos que proteger o nosso
planeta e a Mãe Natureza. Temos que ensinar os nossos filhos, quando os
tivermos, claro, a respeitá-la mais. Mais que nós, mais que os nossos pais e
muito, muito mais que os nossos avós. Vamo-nos a isso? Cabe-nos, a nós, essa
hercúlea tarefa.
O caminho para
casa espreitou logo após o términos do filme e uiiiii… Caí “desmastriada” nas
teias do sono ou seja soneca foi a palavra chave do meu regresso a casa – o
balancé e o ruído do motor a diesel do carro são fatais. E, não fora uma real
mijada, tipo Don João VI, na cama me ter despertado (chorei muito com vergonha.
Eu que até já sou uma menina grande, descuidar-me daquela maneira é humilhante)
teria passado pelo jantar e pelo resto da noite toda até que se fizesse manhã.
Assim, fiquei que nem podia e chorei que chorei, a vergonha atingiu raias de
indignação, inimagináveis, para comigo, um despautério mesmo. Bem que os meus
pais podiam dizer que: Filha não tem importância, por vezes acontece, que eu
estava inconsolável. Todavia a vida contínua e não é uma mijinha qualquer que
faz parar o relógio.
Pijama novo, logo
após a lavagem das vergonhas; digo novo com toda a propriedade da palavra, pois
a minha mãe tinha-o comprado no sábado de manhã, não sei onde mas é giríssimo e
o mais importante a estrear. Lavada e “empijamada” fui instalar-me, com o meu
papá lindo, no sofá a ver os bonecos, uma pequena recompensa pelo desconsolo de
alma que me assolou, até à chegada, pela mão da mamã, da canjinha que restou do
almoço.
Comi toda
“agalhofadinha” ao meu pai, estava tão, tão trilhadinha. Porém, logo que a
minha mais que querida mamã se espalhou sobre o outro sofá, resolvi,
imediatamente, mudar de aconchego e ir dar uns miminhos à mamã; há que
distribuir equitativamente e de modo equilibrado os afectos – a gerência dos
ciúmes diria mas não digo.
Maltinha, não irá
tardar o ponto final à conversa, a cama que já me espreita, vai-me chamar pela
certa e eu vou ceder aos seus encantos.
Beijiiiiinhosssss…
Abriu a manhã e
com ela abriu também a minha pestana. Rabujei e retoicei na cama. Levantei-me.
Mamãaaaaa chamei.
Bem, parecia que
ela estava mesmo ali atrás da porta. Foi um ai entre o chamar e a aparição.
- Bom dia
querida.
- Bom dia mãe.
Logo que a mãe
bordeou a cama agarrei-me a ela como uma lapa e começaram os beijinhos e os
abracinhos, o jogo do “tira a fralda” – ainda uso fraldinha à noite, é por
causa dos descuidinhos - e a higiene matinal. Hoje não houve lugar a bonecos. O
pequeno-almoço foi na mesa da rua, no pátio da cozinha. Não sabem como é
agradável, no campo, apanhar o fresquinho da manhã lavado pelos primeiros raios
de sol e ouvir o chilrear dos passarinhos e simultaneamente beber o meu
leitinho com muito “xicólate” e a comer torradinhas com mel, como é bom. Ah!
Isso é, é!...
Já o
pequeno-almoço ia adiantado quando o Ioan e a Maria, que está muito grávida –
sete meses; ela vai ter um menino, o Alexandru –
apareceram para nos visitar. Vocês já os conhecem, ou pelo menos aqueles de
vocês que conviveram comigo no ano passado, pois já os mencionei nas minhas
crónicas de FDS mas, para os menos atentos, os mais esquecidos e aqueles que de
facto não privaram comigo, aqui fica a informação: O Ioan e a Maria são um
casal romeno, agora nosso amigo, mas que inicialmente começaram por trabalhar
em nossa casa. Ela como conservadora de limpeza e ambiente e ele como um Zé faz-tudo
– o Ioan é muito habilidoso – que com o andar do calendário foram estreitando
os laços ao nível da confiança e da amizade. Eles são muito porreiros e eu
tenho uma predilecção muito especial pela Maria, isto é, gosto muito dela.
Enquanto o meu
pai não levantou o canastro da cama e se dignou a juntar a nós, após o seu
trato higiénico diário, que hoje incluiu o fazer ou desfazer da barba (isso eu
denotei quando ele chegou todo cheiroso à mesa do pequeno-almoço e abocanhou um
paposeco com fiambre que a mamã tinha preparado especialmente para ele), o Ioan
tomou um café e a Maria comeu uma bolachinha e trocaram duas de conversa de
encher ou de conveniência com a mamã. Mas isto não ficou por aqui, pois durante
o decorrer do repasto do meu pai; sandes de fiambre, galão caseiro, sumo de
laranja natural e café expresso da máquina da Nespresso, Um Roma, estivemos, aí
sim, em amena cavaqueira sobre a Roménia, a terra do Ioan e da Maria, os usos e
os costumes, a caça e a pesca (não poderia deixar de ser), os sonhos e as
desilusões, enfim falou-se de quase tudo, instalados principescamente na mesa
da rua, enquanto um solinho maravilhoso nos lambia e coloria a existência.
Assim como tudo
começa, assim também termina. O meu pai e o Ioan foram tratar de aspectos
relacionados com os negócios lá deles; coisas deles que a mim nada me importam
nem concernem, por isso voltei o “sim senhor” e fui brincar com a Maria que é
muito mais meiga e divertida que eles que só falam de coisas com nomes muito
estranhos como recuperadores de calor, tubos spiro ou girândolas, quem é que se
interessa por semelhantes aberrações?... Eu, seguramente, não!
E, neste
estrafego, o tempo foi rebolando e rebolando, e com tanto rebolar trouxe
agarrada a ele a hora de almoço que, inexoravelmente e insistentemente, desatou
a bater à porta, truz, truz, queria forçosamente entrar e acabou mesmo por
fazê-lo, não sem antes ter ocorrido a debandada geral; cada qual para sua casa,
até a avó Ilda, que nos entremeios tinha aparecido, não foi excepção. Restando,
alfim, os três da vida airada: Cocó, Ralheta e Facada, ou seja eu, a mãe e o
pai.
Almoçámos um
lombo de porco estufado que a mãe havia preparado emmeios. Estava de piscar o
olho e estalar a língua e chorar por mais.
Um simples
telefonema para o meu tio padrinho e o programa da tarde ficou de imediato
delineado e consistiu numa visita à Ilha de Tavira, uma visita ao meu tio
padrinho Miguel e à tia Bleca, pois, e apesar, deles terem chegado no sábado à
tarde, ainda não lhe tínhamos posto a vista ao alcance ou um ouvido na voz;
bolas nem truz nem muz, até parece que não são família… bem em frente e sem
medos.
Durante a viagem
de ida passei pelas brasas, pelo que não há pormenores, só acordei quando a
mamã me estava a retirar da cadeirinha de andar de carro.
Das Quatro Águas
para a Ilha de Tavira temos que apanhar o “vaporetto” ou seja um barco da
carreira que fede a gasóleo, contudo fico sempre extasiada com esta pequena
viagem, entre sete a dez minutos, rejubilo da alegria e não é para menos pois o
enquadramento paisagístico é paradisíaco.
No cais, no outro
lado da margem, ordenámos às pernas que nos levassem à casa onde o tio padrinho
e a tia estavam alojados. Ficam todos os anos, desde que me lembro, na mesma
época, na mesma casa e pelo mesmo espaço de tempo; três semanas, na Ilha de
Tavira. É original, não acham? Para não falar na diversidade de gosto.
O percurso do
cais à casa é bem curto, depressa foi cumprido, entre correrias e risadas e os
normais reparos à segurança por parte do pai ou da mãe consoante o grau da
minha ousadia. No final da passadeira, em lajes de betão, lá estavam eles, debaixo
de um “telheiro” ou melhor uns panais de sombreamento, verdes, defronte da
entrada principal do chalé,
escarranchados em cadeiras de braços e quase em estado de roncadeira – afinal não
era para menos, no interior daquele pequeno quintal ou pátio, confinado por
paredes, estava uma atmosfera abafada que se fartava – de cortar à facada.
Feitos que foram
os cumprimentos da praxe e alguma conversa miúda de ocasião (claro está que a
pesca ocupou o papel principal ou fez a despesa da conversa), e eis que
apareceram uns amigos de longa data do papá e do tio que, todos os anos do
mundo, montam tenda quando o parque de campismo abre e só a levantam quando o
mesmo encerra. Estou a falar do Rogério e da Zita (tal como a abelha da
Fundação), com eles também vinha uma das suas duas filhas, a Inês, que trazia,
por sua vez, a reboque as suas crias, a Catarina, que é mais ou menos da minha
idade, e o Pedro que é bebé, tem apenas dois mesitos, e se chama como o meu
mano velho, que tem quase dezanove anos, e é nadador salvador na Praia do
Cavalo Preto em Quarteira, apesar de não ter sombra de juízo. Facto que obrigou
o meu pai a estar a ralhar com ele ao telefone – deve-lhe ter entrado por um a
cem e saído pelo outro a duzentos – durante uma eternidade mais uma vida, e
etc, etc,…
Durante o período
do desanque no mano estive a brincar com a Catarina ou melhor dizendo eu passei
o tempo todo a brincar com a Catarina. Ela é um docinho! Adorei a Catarina!
Logo que terminou
o eterno telefonema para o mano, o meu pai teceu meia dúzia de comentários
azedos acerca do assunto e levantou ferro levando a reboque o tio Miguel para
darem uma passeata e com certeza para porem a conversa em dia ou simplesmente
para estarem os dois que é acontecimento raro.
Quando chegaram,
trouxeram a hora de levantar arrais com eles. E, assim, se realizou,
inexoravelmente, o percurso inverso mas, agora, menos encantador; o espectro do
regresso retira o fascínio à beleza circundante ensombrando-a com o manto da
tristeza de quem deixamos para trás. Casa, cais, barco, cais, carro, casa,
assim se cumpre a inversão da história.
Chegados a casa
(desta vez a excitação não me deixou cochilar e as perguntas caíram umas atrás
das outras – vocês sabem como sou curiosa) a moenga do dia-a-dia iniciou-se,
ritual já mais que conhecido por vós, com excepção de um pequeno detalhe, uma
pequena variante ou cambiante: O papá ofereceu-me um bombom, antes de jantar,
sem dizer nada à mamã, facto inédito, e com um gesto de cumplicidade, uáuuuuu… Bem,
não foi bem um bombom mas sim um m&m’s, azul, penut. Ao que eu agradeci e exclamei escancaradamente: Enganas-te a
mãe, lindo menino! Claro que a “cusca” da mãe não poderia ter deixado de ouvir
ou pelo menos fingir que não (afinal a conversa não era com ela) e retrucou:
Filha! Não se engana a mãe nem o pai. Botei o violino no estojo e a conversa
ficou por aqui não fosse azedar.
E, por aqui,
também vai ficar a minha crónica que mais parece já um testamento, não sei se o
Novo se o velho, pois o resto foi mais do mesmo e por vós demais que conhecido
e sabido.
Um Chi-coração
que amanhã é outro dia e ver-nos-emos se Deus assim o entender.
tÓ mAnÉ (in Laura Solange dixit) - 2013.06.(08,09,10)
Sem comentários:
Enviar um comentário