sexta-feira, 22 de julho de 2011

Receios

Acendei fósforos, grito!
Está escuro, não vejo a estrada,
Não sei onde piso, não vejo nada.
Acendei fósforos, suplico!
Quero saber por onde ando,
Quem me rodeia,
Quero ver os seus rostos
Fora da penumbra,
Que esconde a hipocrisia, a mentira
E traz o medo, preso a invisível trela.
Ando perdido no breu,
Sinto aproximar-se, sem forma definida,
O corpo do mal, sem rosto,
Coberto por capa de cetim, negro;
Envolve-me, acaricia-me, sibilando-me
Ternuras ao ouvido,
Com bafo quente, denso e viscoso.
Tremo, agonizo e... angustiado
Corro sem rumo, soluçando e...
O mesmo arrastar macio
Persiste aos meus ouvidos.
Acendei fósforos, imploro!
Abro desmedidamente os olhos,
Sinto-me cego e frio, paraliso;
Mas, agora, já não corro,
Passo ante passo
Procuro um refúgio nas trevas
Da minha noite perpétua,
Esbracejando, tacteando e tropeçando,
Rasgo caminho,
Abrindo o breu que cobre meu peito.
Num frenesi louco
Revolto em vento próprio
Numa vertigem constante
Encontro amigo rosto,
De olhar brando e meigo.
É minha mãe; e, em seu colo,
Morno e sereno,
Deito a cabeça e, desprendido, descanso.
Finalmente encontrei luz.
Apagai os fósforos, murmuro!

tÓ mAnÉ

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