sexta-feira, 22 de julho de 2011

Relevâncias…


A história faz-se a cada passo; ao momento, escreve-se, no tempo e ao tempo, e reescreve-se quando oportuno ou necessário; usuário até e/ou quando conveniente, o mesmo (in)facto, dependendo do narrador; historiador, deriva no tempo, no espaço e por si só, relembra-se na sua correlatividade; mutável?... imutável?... reincidente na memória colectiva de um povo, que de memória em memória, de boca em boca e de livro em livro, tem sido e será irremediavelmente relembrada, redita e reescrita por aqueles que, na qualidade de vencedores, a retomaram a seu belo prazer, e… os vencidos? Sim os vencidos que estória têm?... Quais a memórias, as bocas e os livros?... e quais as palavras que recordam todos aqueles que estoicamente tombaram e agonizaram, lavando os campos de batalha; sejam eles quais forem, com o seu sangue e as suas lágrimas, ardentes, que queimaram irremediavelmente, no seu soluço mudo, a estória; aquela que ninguém quer ou interessa lembrar, almejando mesmo olvidar esse soluço, porque mudo, retumba nos tímpanos dos anais do tempo, projectando o sonho que nos leva, através de um estreito e escorregadio corredor, ao mundo dos “sem mundo”; dos “sem história”.
E por falar em história… onde ficou o sorriso dos que morreram ou agonizaram sem glória, sem eira nem beira?... e as lágrimas de sangue, criando rios vermelhos e lamacentos, qual lava de escorrência em vulcão, derramadas pelas viúvas e pelos filhos órfãos (que antes de o ser já o eram, assim o predisse a (i)moralidade da vida), pois a guerra, independente da sua génese, moraliza os (in)costumes, lavando, numa enxurrada diluviana, o mundo de todos aqueles, que por moralizados ou induzidos ao engano, respeitam as regras, que qualquer guerra digna desse nome vitupera, e arrogante despoja de ser quem quer ser algo mais que um número, uma não alma, um coração cheio de uma vontade de querer e fazer o bem neste jogo denominado de “mal”. E esses?... e a sua estória?... e o seu mundo que, afinal, não chegou a ser ou simplesmente, diafanamente, se perdeu na memória dos que a não têm os “sem memória”; onde estão eles?... Sim esses de quem ninguém fala onnnnnnnnnnnnnde estão eles??????????????????????????...
Gritem por eles!... procurem-nos, tragam-nos à luz e à memória colectiva do mundo, relembrem-nos, deixem que os seus lamentos silenciosos, contem essas (in)estórias, para que de uma vez por todas, possam repousar em paz… paz na alma; paz ao mundo.
Que brilhem os restos de quem ninguém foi, todavia o mundo a esses tudo deve; deve o dever de ser, deve o ser realmente mundo; Eles são o que este mundo é ou, por outro lado, são o que o mundo os deixou ser?…
Ao abrir o meu pensamento ao mundo que me rodeia, dei por mim fechado nesta enorme ratoeira, com este punho cerrado apertando-me o coração, espremendo-o, sem que de lá caia uma pequena; ínfima, gota de sangue ou advenha um vislumbre de arrependimento de uma vida que vivo paralelamente, entrecortando pontualmente como uma encruzilhada a margem de “ser gente”, o divino mundo das gentes a enorme orbe que pairando paradoxalmente gira, tocando-me indelevelmente, quando assim não seria suposto, arrepiando-me até ao tutano, como que quebrando-me os ossos e com eles a vontade de abraçar o mundo que inexoravelmente se afasta de mim libertando-me dos outros, do seu jugo, todavia não do seu verdugo que me consome… que me importa, afinal, sou eu ou apenas o eu que me deixam ser?...
Ao abrir o meu pensamento ao mundo surgiu-me a seguinte pergunta:     
O meu mundo deixa-me ser eu?...
Hoje vi, digo muitíssimo bem vi, uma menina com cinco talvez seis anos, quiçá, deitada no meio de um passeio de betão; na avenida, junto ao poste de um semáforo, embrulhada num bocado de nada… e chovia, chovia, … não passariam das quinze horas, meio mundo parou naquela luz vermelha, será que alguém realmente viu a pequena, fica a dúvida, e se viu quem se importou, será que alguém realmente se importou?…
Como atrás referi não passariam das quinze horas, vinha de um almoço de “nababo”, eu e os outros… será que alguém, durante os escassos dezassete segundos em que surge o verde, se lembrou que a menina não via uma côdea de pão sabe Deus há quanto tempo… eu lembrei-me… rolou-me uma lágrima pela face que depressa procurei ocultar, porém alguém viu e de imediato perguntou: o que é que tu tens? depressa, muito depressa respondi: entrou-me algo para o olho, não é nada, a hipocrisia e a cobardia venceram mais uma vez… como é duro reconhecermo-nos naquilo que pensamos não ser!...
O meu mundo deixa-me ser eu!... eu  é que não deixo o mundo ser meu!…

tÓ mAnÉ

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