quinta-feira, 21 de julho de 2011

O destino dos destinos…

Seis da manhã, o primeiro raio de sol incide sobre o negro maciço do basalto que pintalgado de uma massa ondulante barulhenta e ansiosa, prepara naquela gélida manhã a grande aventura, que é atravessar o oceano; a grande migração.
Os Albatrozes reuniram-se ao nascer do dia para discutir qual o rumo a tomar pois o inevitável já era decisão ancestral, o rumo a decisão a tomar!...
Para atravessar a linha que os levaria à sobrevivência reuniu o grande conselho, formado pelos mais velhos migradores, a discussão, acalorada pelos raios abertos do sol, subia de tom, por detrás de uma nuvem. O mais velho dos migradores, Algafa, gritava que o rumo a seguir passava pela deriva dos cardumes de arenques que naquela altura do ano seguiam para o mesmo destino.
Grande parte dos membros do conselho, velhos lobos dos mares concordaram com o caminho proposto, era uma rota segura e conhecida pela maioria do bando.
No entanto, logo outras vozes se levantaram gritando que era um caminho longo e cansativo, não permitindo aproveitar as correntes ascendentes do vento que facilitariam a navegabilidade das suas das suas grandes asas, evitando esforços suplementares e permitindo alcançar o destino final em boas condições físicas.
Apesar dos velhos lobos-do-mar se arreigarem firmemente às velhas crenças alguns, vacilaram, e de uma forma ponderada questionaram os velhos hábitos, perguntando:
Será que economizaremos esforços? Será que não valerá a pena? porque não tentar?...
Alfafa, senhor de grande conhecimento, prenunciou-se: Velhos amigos e companheiros de grandes jornadas... parai um pouco, pensai que independentemente da decisão tomada, cada um de nós depende de todos os outros, e todos os outros dependem de cada um de nós... pelo que nos devemos juntar em volta do conhecimento e da sabedoria que os tempos nos têm vindo a transmitir, pelo que devemos analisar...
A resistência e a persistência dos ancestrais hábitos eleva-se num grito colossal:
- Sempre assim foi e assim há-de ser!...
Não vejo porque questionam o que milénios de história, escritos no alto desta  falésia  e que ano após ano nos levou a bom porto, retorquiu Algafa.
- Maasss… Atrevem-se os mais novos a dizer timidamente... no ano passado nós, que seguimos a rota dos ventos chegamos um dia mais cedo, menos cansados, menos magros e preparados para a pesca, enquanto que vós, os sábios senhores de todo o conhecimento pousaram nos Galápagos, deitaram, descansaram rotos do tempo e da alma.
O conselho dividiu-se em dois grandes grupos, o da rota do peixe liderada por Algafa, e o da rota do vento, apadrinhada pelos mais jovens.
O dia avança sobre o maciço rochoso, o vento sopra gélido e a populaça aguarda impaciente, esperando que o conselho decida as suas vidas, a noite já chega, a decisão urge, pois ao abrir da lua cheia o primeiro par de asas rumará ao destino dos destinos, enquanto isto o conselho discute, a rota dos ventos avança no marcador, a sua popularidade aumenta entre os membros, entre gritos e desacatos, o conselho “digladia-se” em busca de uma decisão final; Alvino paciente, apaziguador e pacificador procura dirigir as facções pelejantes no sentido de uma decisão. 
Algafa, firme na sua posição bate as patas no rochedo, pois de tanto gritar já se encontra rouco e algo afónico, não conseguindo projectar a sua voz aos presentes; a voz da discórdia…
O maciço arrefece, o mar bate mais forte, soprado pelo vento do cair da noite, a espuma da rebentação lambe a populaça que já abre as suas longas asas, num espreguiçar, entediado, manifesto de profunda irritação, provocada pela espera prolongada.
Caí a noite, o silencio do conselho, traz o entendimento de que a decisão final está tomada.
A rota dos ventos, vence!… Todavia, um velho e experiente membro do conselho manifesta o seu protesto, porém vencido pela maioria e para não cair no ridículo acaba por concordar com o líder, que já auscultou todos os membros, trata-se de  Algafa, que apesar de relutante, continua a pensar  que se trata de uma rota suicida, a vontade de continuar no grupo  e o medo é mais forte; os áureos tempos da juventude já voaram...
Apesar dos ventos ascendentes não se mostrarem favoráveis à migração, contrariamente ao que é habitual nesta época do ano, todos confiaram na mudança; ordem natural das coisas…
O representante do conselho, Alvino, grita forte para a multidão: - Elevem-se, seguimos a rota do vento.
... Mas decorridos poucos dias de viagem o cansaço era visível. O vento que no ano anterior tinha soprado a favor parecia que este ano teimava em não colaborar. Passaram-se três semanas e supostamente a costa deveria assomar por detrás daquele oceano gélido, negro e imenso; nada...

Exausta, a onda branca flutuante, sem chance de arrepiar caminho, negra de consciência e arrependimento; olha Algafa, que com um olhar pesaroso e reprovador, a faz sentir, o temor de não alcançar o destino dos destinos...
O dia cai, o céu enegrece o vento sopra... e o breu da noite trará consigo um novo amanhecer.

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A rota dos ventos, vence! Todavia um membro do conselho, vencido e relegado, abre as asas do desânimo, projectando-se falésia ao mar; só parte.
Algafa, parte só. Segue a rota do peixe.
O representante do conselho grita para a multidão: - Elevem-se, seguimos a rota do vento.
Alguém, timidamente, ergue a voz indagando: - E Algafa?
Algafa segue só, segue para a morte, returque Alvino. 
 
Quem prefere este final?


tÓ mAnÉ

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