quarta-feira, 20 de julho de 2011

Caminhante

Só Deus sabe caminhante...
Caminhante!... Quem te disse a ti que não há caminho?...
Abre o espírito, dá largas à imaginação, flutua, rodopia sobre ti, entrega-te ao mundo, liberta-te e olha!... Olha os trilhos indeléveis nas montanhas, desertos, florestas e vales, as esteiras sulcadas nos mares e o relance de um olhar...
Segue o sopro do vento, guia da asa no ar, persegue um sentimento, o fascínio de um olhar, quem te disse a ti caminhante que não há mais gaivotas no mar, sol para iluminar e um olhar terno e amigo para abrigar.
Caminhante... pára para olhar... abre o coração para amar ou será a tua vida para errar? Albatroz perdido sobre os sete mares...
Tudo passa tudo fica, é bem certo caminhante, mas onde ficas tu caminhante? Na rua crivada de gente, num trilho solitário, na onda do mar, na profundeza de um olhar? Quem és tu caminhante? O que procuras? Para onde vás?
Passo a passo, moldas a tua imagem à imagem da tua vontade, caminhas sem certezas mas com um objectivo bem determinado, olhando em frente na procura incessante de um “eu” perdido na bruma, que te chama insistentemente, obrigando-te a caminhar e caminhar, mesmo quando os teus pés doridos e mutilados te pedem desesperadamente que pares, tu insistes nessa busca louca de algo etéreo e distante, que se assemelha a uma melodia esvoaçante, perfurando-te os tímpanos docemente, e chama e chama...
É o rouxinol que canta, encantando; forma doce de chamar... anda, anda caminhante, mais um passo e passo a passo o trinado continua a chamar, tão perto e tão longe, o pio indistinto que ecoa no teu coração caminhante, não permitindo que voltes o teu olhar para trás e criando-te a ilusão que não há caminho que o caminho se faz a andar... porém caminhante, o rouxinol, em terra, tal como a sereia no mar, guia-te ao engano, caminhante caminhas por caminhar...
Onde vás caminhante? O teu “eu” quer descansar.
Pára e escuta caminhante, ouve a voz do poeta, liberta a alma, eleva o espírito, e quando bem lá no alto, olha para dentro do teu “ser”, cristaliza-te no cerne desse enorme âmago e percorre a estrada da tua história até encontrares a fenda que te dará acesso ao futuro, gritando-te caminhante, que hoje há caminho, tortuoso talvez, mas caminho, trilho, esteira, imaginação ou quiçá uma duna em mutação.
Passo a passo, verso a verso, canção em canção, saltas no espaço poeta, forjando na bigorna o aço de que é feita a ilusão. Poeta, verso a verso, dá a tua mão, rasga o caminho desfaz esta ilusão, sossega o menino, reza uma oração. O caminhante sucumbiu, quedou-se exausto, sem glória, à tua mão. 

tÓ mAnÉ       

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