Há, muitos, muitos anos uma amiga minha que me era muito querida ofereceu-me um livro em branco para eu escrever o que pensava e também para deixar em paz as toalhas de papel dos restaurantes, bares, snacks bar, et caetera... Saíamos juntos quando Deus queria, perdíamo-nos do mundo, embrenhávamos em nós e de quando em vez fazíamos amor (quando abusávamos das cervejas) ou como ela dizia, voltando-se para mim despropositadamente, assim muito enxuta: "vamos quecar meu bichinho-de-conta"... de facto era impossível resistir-lhe, aqueles olhos de cachorrinha meiga moviam o mundo que ela tocava... Nunca fomos mais nada que amigos!
No dia que faleceu, choveu muito, tal como no dia que a deu ao mundo "aquilo que ela mais amava" e aquilo que tão nova, lhe tiraram, e assim também o foi quando na terra a deitaram; chovia, chovia que chovia...
Chorei muito nesse dia e nos subsequentes; agora estou a escrever e as lágrimas, passados que foram estes anos todos, ainda me caem sobre o teclado... é duro voltar a ver aqueles olhos...
Não! Nunca a amei! Compreendíamo-nos muito bem, quase não era necessário falar, mas gostei muito dela, éramos face esquerda e direita...
Conhecemo-nos ocasionalmente, na Praça da República (Coimbra), quando pousamos os olhos uns nos outros o mundo como que parou... Olá eu sou a Géninha!... Fiquei mudo, paralisado e ela insistiu "Olá eu sou a Géninha!... e tu como te chamas? eu sou o Tó...
É como se deus não visse a alma dos Homens; assim a terra gira na ignorância incólume ao sofrimento e leda em sua estultice…
Esqueçam, estava a dizer que comecei a escrever no livro branco e a ilustrar o que escrevia e por aí adiante, foi só o passar do tempo e as ideias a saírem para o papel ou qualquer outra coisa...
Eu escrevo, eu esboço, eu pinto, eu desenho, eu esculpo, eu amo criar!... Ainda te lembras de mim?... Pois eu, felizmente, não te esqueci! E, muitas vezes escrevo, escrevo para ti…
Hoje estavas nos meus braços e lá te deitaste para dormir e o tempo levou o teu acordar e os olhos não mais os abristes… faz amanhã um segundo chovia, chovia que chovia…
PS: Olha apesar de tudo, contínuo sem conseguir resistir a uma boa toalha de mesa de papel, quer para desenhar quer para escrever...
tÓ mAnÉ
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